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Apontamentos sobre ´Emicida: AmarElo – É tudo para ontem’

Enfim assisti o elogiado documentário “Emicida – AmarElo – É tudo pra ontem”, idealizado e narrado pelo próprio artista e dirigido por Fred Ouro Preto. Superou em muito minhas expectativas. Bem mais que um registro de um show específico – Emicida no Teatro Municipal de São Paulo – e da gravação do CD novo do rapper, o doc é principalmente um apanhado didático, dinâmico e criativo de toda a música negra brasileira, do samba marginalizado de Donga nos anos 1920 até chegar ao Rap e hip hop dos anos 90/2000, gênero que Emicida abraçou e expandiu.

O documentário aborda a questão da música negra brasileira fazendo um link direto com os movimentos organizados, dando destaque aos intelectuais negros. Um aspecto que me agradou muito é a abordagem de Emicida de que a luta antirracista não pode se limitar ao confronto, mas à ocupação de espaços, como é bastante registrado no histórico show no Teatro Municipal e na inclusão e prioridade de negros na plateia, muitos – como enfocado – que jamais haviam entrado naquele lugar. Socar racistas é bom, necessário e prazeroso, mas, o urgente é justamente a ocupação dos espaços físicos e simbólicos.

A narrativa do doc, repleto de animações bem sacadas e misturando com harmonia gravações de estúdio, o show no teatro, depoimentos e a história da música inserida na luta negra, não deixa o ritmo cair em 1h20 de duração que passam voando. Mais que recomendado, necessário em tempos de obscurantismo.

Porque “Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que jogou hoje”.

Escrito por Cefas Carvalho

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