gira, girão, girão
hoje acordei com a auto-estima lá em cima porém sem o menor simancol, tou me sentindo praticamente o general girão achando que tem estatura moral pra processar um enfermeiro que reclama do inferno que é enfrentar uma pandemia cercado de incompetentes em alta patente.
o lado ruim dessa soberba toda? a gente perde meio a noção das coisas, fica praticamente um prefeito de natal: achando que tem uma biografia pra sacrificar. qual o segredo do meu sucesso? simples, eu tenho raiva.
sabem, quando começou essa pandemia, muita gente precisou reaprender a lidar com os próprios sentimentos. com tanta incerteza misturada a partículas virais potencialmente letais no ar, as pessoas têm investindo numa posição mais de boas com vida, em nome da preservação da pouca saúde mental disponível no mercado. mas, na minha humilde opinião, no geral se tem negligenciado bastante o papel da raiva. afinal, pra que ser namastê, quando se pode ser namastreta?
certa feita, conversava com um amigo escritor sobre a mania que muitos têm de fazer listas, sobre os mais diversos temas e critérios, e chegamos à conclusão de que uma realmente digna de atenção e labor seria uma lista de vermes. daí, quando surgiu o convite provavelmente intempestivo e impensado do casal por trás desse empreendimento editorial para assinar uma coluna na papangu (compromisso solene o qual, por sinal, já furei mês passado), me veio logo a preocupação de como fazer humor em tempos tão sombrios.
aqui, um leitor mais cricri e provavelmente de mossoró, já meio que perdido nessa conversa sem pé nem cabeça, vai questionar: mas a papangu há muito tempo não é só uma revista de humor, os colunistas falam de quase tudo. daí eu respondo: como que vou saber se nunca li a papangu? eu sou meio como fábio faria, só tou aqui por causa de papai.
foi quando me veio o estalo das ideias e provavelmente de alguma vértebra quando levantei correndo pro notebook: eu podia aproveitar a boa vontade de vocês pra compartilhar a minha raiva. por que, olha só, se for pra fazer graça de alguma coisa num mundo merda dessa, por que não frescar com a cara de um bando de merdas que só ajudam o mundo a ficar ainda mais merda? opa, desculpem a escatologia, parecia bruno giovanni falando de ivermectina.
vamos combinar que raiva é muito melhor que ódio, qualquer dicionário vai concordar comigo. então, nas próximas colunas, ou enquanto durar o estoque, que tal nos debruçarmos sobre minha seleta lista de vermes que fuderam ainda mais com a vida de todo mundo, como se não bastasse uma pandemia mortal em franca expansão? daí o caro leitor, talvez inspirado, talvez inflamado pela iniciativa pode se animar a fazer sua própria lista de vermes, para dedicar aquela raivinha meio perdida no fundo do coração, cultivá-la com quem realmente merece. e se quiser, um dia, também compartilhá-la com o mundo, lembre-se: feito rogério marinho, eu sou todo ouvidos.