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  • EU ESTUDEI COM ALICE CARVALHO

    É isso mesmo. Eu estudei com Alice Gabrielle Affonso Carvalho – nome forte da “mulesta”! –, essa potiguar “arretada” que saiu da Coophab em Natal para brilhar por esse mundão afora. Pagamos juntos Semiótica da Comunicação com a professora Lilian Muneiro no segundo semestre de 2018. Ela no curso de Artes Visuais e eu no de Jornalismo na UFRN. Lembro-me bem daquela menina com “a sua cara de apressada”, que parecia estar constantemente atrasada para chegar ou sair de algum compromisso.

    Ela costumava sentar-se nas cadeiras mais próximas da porta. Talvez para facilitar uma “fuga” rápida tão logo a aula acabasse… ou não (risos). Eu me sentava do lado oposto da sala. É provável que ela nunca tenha me notado durante o período em que estudamos juntos. Mas estudamos juntos e eu posso provar. Só não mostro aqui a relação de alunos do sistema da UFRN porque deve ser proibido e posso acabar processado por divulgar informações sigilosas.

    Em certa ocasião, cheguei a sentir raiva de Alice ou da professora Lilian ou das duas juntas. Esclareço. Para a nota da terceira unidade a “profe” passou uma atividade com cinco questões bastante complexas, cujas respostas seriam discutidas na sala de aula.

    O tempo foi passando e, envolvido com as rotinas do trabalho, fui adiando a sua conclusão. Quando me dei conta, o prazo havia acabado e eu não tinha conseguido finalizar a atividade. Daí, que eu fui para a aula com duas questões de cinco sem resposta e, encarando de frente a minha inépcia, apresentei o trabalho incompleto. Na vez de Alice apresentar, ela falou que não tinha feito o seu por falta de tempo, ao que Lílian, tranquilamente e sem medo de ferir suscetibilidades, contemporizou: “Não tem problema. Você traz na próxima aula”. Naquela hora, pensei “lá” com os meus botões: “Menina ‘réia’ folgada”, sobre Alice e, “Pois, diga…! Diguénada…”, sobre Lilian. Mas a raiva passou logo. Não sou de guardar mágoas, apesar do 6,5.

    Aliás, falando em Semiótica, o tal do Charles Sanders Peirce (1839-1914), o pai da coisa toda, devia ter um parafuso a menos. Pense num troço pra dar um nó no juízo dos incautos que se matriculam nessa disciplina, mesmo sendo optativa. Brincadeirinha Lilian.

    Por essa época, já conhecia um pouco do trabalho de Alice Carvalho no audiovisual. Seu pioneirismo, sua teimosia, sua ousadia, seu arrojo, já deixava transparecer que ali estava nascendo uma artista com talento e capacidade criativa fora do comum. Desde então, sua carreira só deslanchou.

    O nome da minha colega de turma começou a surgir nas conversas dos churrascos de fim de semana – onde se reúnem familiares, amigos e agregados – na época de “Cangaço Novo”. Nessas cervejadas, as conversas sempre giram em torno de música, política, futebol, religião (ou a falta dela), cinema, novela, séries e “causos”. Em uma dessas reuniões “gastroetílicas”, quem já havia assistido “Cangaço Novo” (2023) comentou sobre a extraordinária atuação da atriz que interpreta Dinorah.

    Foi aí que eu falei: “É Alice. Estudou comigo”. Em meio aos risos e alguns “lá vem Túlio com suas histórias”, eu contei essa história dos meus tempos de faculdade.

    Quando soubemos que Alice Carvalho iria participar do remake de “Renascer” no papel de Joaninha, esposa de Tião Galinha, a notícia virou o assunto do dia. “Rapaz! A amiga de Túlio vai trabalhar em ‘Renascer’!”. “Vai virar uma global”. “Essa menina vai longe!”. Eu vibrei como se fosse um gol do Potiguar de Mossoró.

    Na Globo, Alice já havia feito uma participação na série “Segunda Chamada” (2019) e está na novela do Globoplay, “Guerreiros do Sol” com estreia prevista para 2025. Realmente, a menina foi longe.

    Apesar de ser um crítico contumaz das Organizações Globo e do seu poderoso império midiático, é inegável que a qualidade de suas obras na teledramaturgia é capaz de catapultar a carreira de qualquer ator ou atriz iniciante que se destaque em uma dessas produções.

    As primeiras aparições de Alice em “Renascer” foram um espanto. As cenas no manguezal, à cata de caranguejos com Irandhir Santos (Tião Galinha), já entraram para o rol das cenas memoráveis da teledramaturgia brasileira. A partir daí, sua personagem, Joana ou Joaninha, só tem crescido na trama a cada capítulo. A menina é “invocada”.

    Eis que, em um certo domingo de abril (28), estou eu no quarto assistindo futebol quando Maria, minha esposa, chega e fala: “Mô, sua amiga tá no Hulk”. E eu, que por motivos diversos – alguns bastante óbvios – não suporto Luciano Hulk, “fui obrigado” a assistir à “Dança dos Famosos” no dia em que minha colega fez parte do júri artístico da atração e foi homenageada. Emocionante.

    Sobre a “Dança dos Famosos”, preciso confessar um pequeno (ou grande?) delito: no domingo em que Lucy Alves, essa paraibana “danada” de talentosa e linda que “chega dá um ‘farnizinho’”, como a gente diz lá em Mossoró, vai se apresentar, não consigo resistir. Tenho que assistir! Finalizada a sua apresentação, volto para o futebol. No final, Maria me conta como ficou a classificação.

    Voltemos a “Renascer”. Agora em junho, as interpretações que me levaram às lágrimas – sim, sou chorão de novela, pronto, falei – foram as dos primeiros encontros de Joana com Zinha, a surpreendente baiana Samantha Jones, que confesso, não conhecia. Que coisa mais linda do mundo a potiguar Alice e a baiana Samantha contracenando! Quanta sensibilidade!

    O casal “JoanaZinha” não aconteceu na primeira versão de “Renascer”, mas tudo indica que vai emplacar nesse remake e, muito provavelmente, o casal seguirá me fazendo chorar até o último capítulo.

    Ainda sobre “Renascer”, cabem algumas críticas: que coisa mais chata, irritante e fora de contexto, os inúmeros merchans disparados aleatoriamente na cara do telespectador a cada capítulo. Um casamento foi patrocinado por uma marca de cerveja; do nada, aparece alguém tomando um refrigerante com o rótulo preenchendo toda a tela da TV; a bodega começou a vender chips de uma operadora de celular, só porque Zinha deu um de presente a Joana; e tem até um casal que só aparece em cena para falar sobre as qualidades de um modelo de carro. Outro dia, eles estavam viajando para São Paulo. Acho que nunca mais vão dar as caras na novela. Além disso, tem propaganda de banco, chocolate e tem até um remédio para dor de barriga que, vez por outra, alguém aparece para comprar na bodega que tem de tudo. Mas Alice não tem nada a ver com isso.

    PS: Alice, minha querida colega de Semiótica, qual foi sua nota da terceira unidade? Sucesso sempre!

  • “BICHOS ESCROTOS” CHAFURDAM NA LAMA GAÚCHA

    Em meio ao triste e trágico noticiário sobre a catástrofe climática que devasta o Rio Grande do Sul, somos obrigados a conviver diariamente com a enxurrada de fake news produzidas por políticos malditos da extrema-direita bolsonarista adeptos do quanto pior melhor. Não faltam também pessoas desumanas e maléficas que propagam mentiras nas redes sociais, apenas pelo vil prazer de alimentar o caos. E ainda existem os tais influencers (como essa palavra me incomoda!) do mal com seus milhões de seguidores a repercutirem farsas e maledicências.

    Um aparte: apesar de não apreciar a denominação e para não ser injusto, cabe destacar o papel dos influencers do bem no trabalho de arrecadação de donativos, de voluntariado e no combate às fake news.

    Enquanto o lado bom dos brasileiros se mobilizava em gestos e atitudes de solidariedade e auxílio aos gaúchos, deputados bolsonaristas passaram a ocupar o plenário da Câmara apenas com o propósito nefasto de produzir e divulgar boatos sobre o socorro às vítimas das enchentes. Esse festival de mau-caratismo e baixeza vem se repetindo a cada sessão legislativa e tem como protagonistas “bichos escrotos” para quem a solidariedade, a empatia, a caridade e a sororidade inexistem.

    Eis alguns exemplos de “bichos escrotos” bolsonaristas e seus discursos repulsivos amplificados diuturnamente nas redes sociais funestas:

    – Deputado Filipe Martins (PL-TO): Afirmou que caminhões com donativos estavam sendo barrados a caminho do RS por exigência de notas fiscais, o que é falso. Disse ainda que estava sendo exigida documentação de pilotos e embarcações de voluntários que atuam nos resgastes a vítimas da enchente, o que já foi exaustivamente desmentido pelo governo do RS.

    – Deputado Coronel Assis (União-MT) e Gilvan da Federal (PL-ES): Reproduziram em plenário as fake news vomitadas pelo colega Filipe Martins.

    – Deputado Paulo Bilynksyj (PL-SP): Afirmou que uma clínica médica que atendia as pessoas gratuitamente tinha sido fechada pela Vigilância Sanitária. A Secretaria Estadual de Saúde e a Vigilância Sanitária do Rio Grande do Sul rechaçaram a falsa notícia com veemência.

    – Deputado Paulo Bilynksyj (PL-SP), Deputada Caroline de Toni (PL-SC), Coronel Ulysses (União-AC) e General Girão (PL-RN): Citaram uma fala da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, fora de contexto. Os parlamentares afirmam que a ministra disse que “não é o momento” para enviar recursos para o RS. Para isso, usam o recorte de uma declaração em que a ministra diz: “Não vai faltar dinheiro para o RS. O dinheiro vai chegar no tempo certo, que não é agora, porque não tem nem o quê liberar porque nós não recebemos as demandas dos prefeitos. Eles não sabem o que pedir porque a água não baixou”.

    Os “bichos escrotos” não dão trégua em sua escalada de maldades oportunistas. Em grupos de bolsonaristas circulam mensagens e teorias estapafúrdias (quase sempre produzidas em perfis falsos), em uma reprodução fiel do modus operandi do período da pandemia da covid-19: espalhar fake news e apregoar conspirações negacionistas.

    Uma dessas teorias da conspiração garante que “o novo Plano Marshall do Brasil para o Rio Grande do Sul é uma estratégia elaborada por conspiradores e traidores da nação, com o objetivo de aproveitar-se de calamidades planejadas para desapropriar os cidadãos de suas casas, terras e propriedades”.

    Tem que ser um “bicho escroto” dos mais desprezíveis e malditos, para propagar uma aberração dessas em meio a tanto sofrimento.

    COMO AGEM OS “BICHOS ESCROTOS”

    Em 1983 eu trabalhava no Banorte (que foi mudando de nome e dono até virar Itaú) em Mossoró e a nossa agência resolveu organizar um mutirão para a arrecadação de donativos dentro da campanha Nordeste Urgente. O Nordeste atravessava um dos piores períodos de seca da história e todo o Brasil se mobilizou para ajudar o povo nordestino.

    Funcionários e funcionárias que se dispuseram a participar do mutirão e mais alguns voluntários – totalizando cerca de trinta pessoas – foram divididas em duas equipes. Por volta das 8h de um domingo, nos reunimos na sede da agência no centro da cidade e as equipes partiram em direções opostas na coleta de donativos. Cada uma a bordo de um caminhão.

    Foram quase oito horas entre caminhadas e “trepadas” no caminhão recolhendo donativos. Dinheiro, gêneros alimentícios, material de limpeza, etc. Foi emocionante ver pessoas da periferia com tão poucos recursos e fazendo questão de doar qualquer coisa que fosse possível. Em algumas casas os moradores nos ofereciam água, lanches, um cafezinho, um suco, uma fruta. A arrecadação surpreendeu a todos. Os dois caminhões ficaram abarrotados de donativos e cada equipe conseguiu encher umas duas sacolas de supermercado com cédulas e moedas.

    Por volta das 16h voltamos a nos reunir na agência do banco e outra equipe assumiu o trabalho de separar os donativos e fazer a contagem do dinheiro arrecadado. A partir daí, a distribuição dos donativos ficou a cargo de uma Loja Maçônica de Mossoró engajada na campanha.

    Cansados e estropiados pelo longo dia sob o sol escaldante de Mossoró – porém felizes pelo resultado do nosso trabalho – eu e mais uns quatro colegas de banco ainda usando a camiseta da campanha Nordeste Urgente resolvemos ir nos refrescar e por que não, celebrar o sucesso de nossa empreitada tomando umas cervejas no bar e restaurante O Sujeito.

    Assim que adentramos no ambiente – um dos mais agradáveis de Mossoró à época, situado a beira do rio – um indivíduo que estava em uma mesa logo na entrada deu uma risada e falou: “Aí! Os bacanas vieram gastar o dinheiro que pegaram dos bestas!”. Esse é um exemplo de como age um “bicho escroto”.

    E ASSIM SÃO OS “BICHOS ESCROTOS”

    Fala ChatGPT!

    “Bichos Escrotos” é uma música da banda brasileira Titãs [autores: Arnaldo Antunes, Sérgio Britto e Nando Reis] que critica comportamentos e características negativas da sociedade. A expressão “bichos escrotos” refere-se a pessoas ou elementos da sociedade que são vistos como desprezíveis, desagradáveis ou repugnantes. Na letra da música, os “bichos escrotos” são aqueles que agem de forma egoísta, corrupta, hipócrita ou destrutiva. Em suma, um “bicho escroto” pode ser definido como alguém que representa o pior lado da humanidade, seja por suas atitudes, valores ou comportamentos”.

    PS. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

  • TEM NO ALECRIM

    As bocas do fogão estavam em estado periclitante. A quantidade de furos na parte onde não deveria ter furos era quase igual à da parte que deve ter furos. Entenderam a situação? Conversando com algumas pessoas que estavam lá em casa para um almoço falei que precisava substituí-las, mas não sabia onde comprar umas novas. Uma sobrinha disse logo: “Tem no Alecrim”.

    Em outra oportunidade e ainda sobre o tema fogão comentei: “Tô vendo a hora essas grelhas se desmancharem de tão desgastadas”. Cá pra nós, que fogãozinho mais sambado esse meu! Carecendo de um novo. Dessa vez foi uma irmã, mãe daquela sobrinha, quem deu o pitaco: “Tem no Alecrim. Na principal, ao lado da parada de ônibus, numa loja que fica na esquina”. Pelo visto, mãe e filha são frequentadoras assíduas do Alecrim. O que não é o meu caso, que desde que mudei para Nova Parnamirim jamais voltei ao Alecrim. Pelos meus cálculos, lá se vão uns 15 anos. Um fato lastimável.

    Continuando na cozinha, a minha panela de pressão estava com a válvula da tampa quase partindo e como havia o risco de acidente parei de usá-la. Quem gosta de cozinhar sabe o quão desagradável é ficar com uma panela de estimação fora de combate. Falei com Maria, minha esposa, que teríamos que comprar uma nova. Na intenção de evitar um prejuízo maior, ela logo apresentou a solução: “Mostrei essa tampa a vizinha e ela disse que tem essa válvula pra vender. Mas SÓ tem no Alecrim”. Vou dizer uma coisa: quando esse tipo de informação vem reforçada por um sonoro SÓ, aí lasca tudo!

    Outro dia estava na fila do caixa do supermercado e em frente tem uma loja de roupas femininas. Na vitrine estava descrita em letras grandes uma promoção que eu confesso não entendi patavina (ai novo!): “Na compra de 2 peças ganhe 50% de desconto na segunda”. Não tinha nenhum preço em destaque. A mocinha do caixa comentou com uma cliente que passava as compras: “Quando sair daqui vou dar uma olhada nessa promoção”. A cliente de imediato aconselhou: “Vá não. No Alecrim você compra duas de qualquer dessas peças da vitrine por R$ 50,00”. Acho que ela leu os 50% como R$ 50,00, mas isso não vem ao caso. Qualquer roupa no Alecrim é mais barata.

    Eu tenho um primo que é apaixonado por carrinhos de corrida de controle remoto e outro dia precisou comprar uma peça para consertar o seu brinquedo. Pesquisou na internet e desistiu. Os preços até que eram acessíveis, porém os impostos de importação os tornavam inviáveis e ainda havia a demora para receber a encomenda. Falou sobre o seu problema com um companheiro de diversão e ouviu a solução: “Tem uma loja no Alecrim que vende. Fica na rua…. (e explicou detalhadamente como chegar no endereço)”. Em um certo sábado de manhã, lá se foi ele em busca da preciosa peça. Cabe aqui destacar que esse meu primo é completamente desorientado no trânsito. Agora imaginem o desprevenido no Alecrim, em pleno sábado dia de feira e à procura de um endereço. Com muito custo conseguiu estacionar o carro em uma rua aleatória e saiu a pé em busca da loja. Não encontrou e ainda perdeu o carro. Acabou voltando para casa de Uber e depois retornou ao Alecrim com a esposa (bem mais orientada do que ele) para recuperar o carro. Depois de várias buscas e informações desencontradas conseguiram encontrá-lo. Só não encontraram a tal loja e, por conseguinte, a peça. Não faz muito tempo perguntei a quantas andava a busca pelo almejado objeto e ele me falou que tinha dado um tempo. Estava criando coragem para convencer a esposa a ir com ele num sábado pela manhã no Alecrim.

    Em tempo: encontrei as bocas do fogão em uma lojinha na Av. Maria Lacerda em Nova Parnamirim, bairro onde moro, e a válvula da panela de pressão na internet. Comprei um kit com a válvula principal (peso do pino), a válvula de segurança e a borracha de silicone. Eu mesmo fiz as substituições e a minha inseparável panela ficou zerada e funcionando que é uma maravilha. Tenho certeza que essa minha atitude motivada apenas e tão somente pela preguiça de “ir bater no Alecrim” me fez perder dinheiro nessas compras. Afinal, no Alecrim é tudo mais barato.

    Quanto as grelhas, não encontrei em lugar algum seja físico ou virtual. Por enquanto dei uma lixada e melhoraram um pouco de aspecto. Mas ainda carecem de substituição. Qualquer dia desses crio coragem e “vou bater no Alecrim”.

    E agora “bateu” foi uma saudade danada do Alecrim. Saudade de ir à feira comprar de tudo um pouco e tomar umas lapadas de cana naquelas barracas de comidas maravilhosas preparadas em fogareiros feitos de latas de tinta ou querosene. O tira-gosto favorito era pé de frango cozido, quase desmanchando, com farofa. Uma delícia! Isso, é bom que se diga, muito antes desse manjar dos deuses tornar-se um dos símbolos trágicos do “miserê” que o foi o governo do genocida.

    Definitivamente, para um preguiçoso confesso que nem que eu, não é legal morar a 32 minutos de viagem e a 12,7 km do Alecrim. Na próxima encarnação quero nascer e morar nesse bairro tão querido, rico, tradicional e pitoresco. E que tem de tudo e mais barato.

  • “OLHA A CABELEIRA DO ZEZÉ” OU JORNALISMO CULTURAL X JORNALISMO DE ENTRETENIMENTO

    Com transmissão da TV Record, no domingo (10/03), Ituano e São Paulo faziam um jogo decisivo na última rodada da primeira fase do Campeonato Paulista. O Ituano tentava uma última cartada para evitar o rebaixamento e o São Paulo buscava uma vaga nas quartas de final, que caso não viesse seria uma tragédia de proporções titânicas.

                Pois bem. Jogo pegado, truncado, “só a vitória interessa aos dois times” destacavam esbaforidos narrador, comentarista e repórter de campo. Em meio a tensão do jogo, eis que, após uma bola chutada pela linha de fundo, o narrador Lucas Pereira dispara no mesmo tom empolgado da narração: “Não percam logo mais no Domingo Espetacular como ficou o novo visual de Zezé di Camargo após o transplante capilar!”. Como diria Jéssica (Samantha Schmütz), do humorístico “Vai que cola”: “Que p* é essa?!”. Fazer chamada da programação da emissora durante transmissões esportivas não é nenhuma novidade. A Globo faz isso, principalmente com suas novelas, há mais de trinta anos. Mas anunciar a nova cabeleira do Zezé, foi demais!

                Essa escalafobética chamada em meio a uma emocionante narração esportiva e para um assunto tão insignificante (pelo menos para esse que vos escreve e que tá pouco se lixando para a revolução capilar do Zezé) fez-me rir, mas também refletir sobre a linha tênue que separa o jornalismo cultural do jornalismo de entretenimento, em meio aos variados programas classificados como “informativos” espalhados pelos diversos canais de TV (aberta ou fechada) do Brasil.

    O Domingo Espetacular, citado na chamada, é definido por seus idealizadores como “um programa formatado para ser uma revista eletrônica de informação e entretenimento para os telespectadores aos domingos”. Ou seja: jornalismo e entretenimento ou jornalismo de entretenimento, o qual muitos confundem com jornalismo cultural, que é o que menos se vê nessas tais revistas eletrônicas.

    Foi o jornalismo de entretenimento que tirou jornalistas/apresentadoras tarimbadas como Fátima Bernardes, Patrícia Poeta e Maria Beltrão (entre outros e outras) das sisudas bancadas dos jornalísticos globais e as levou para os convidativos cenários dos programas matinais de variedades.

                Academicamente falando, o jornalismo cultural é o campo do jornalismo que se emprega em relatar fatos relacionados com a cultura, seja ela local, nacional ou internacional. É uma especialização do jornalismo enquanto profissão e abarca as mais diversas manifestações culturais, tais quais, artes plásticas, música, cinema, teatro, literatura, folclore, cultura popular, etc. No entanto, muitas vezes ele é negligenciado em meio ao frenesi digital dos influencers, youtubers, tiktokers, instagramers, xisters (existe isso?) e afins.

    Se por um lado o jornalismo cultural pode ser uma forma rica e literária de contar histórias, por outro, ele também oferece ao jornalista o risco de cair na armadilha do jornalismo raso, um jornalismo de celebridades ou um jornalismo de colunismo social, preocupado apenas em abastecer a indústria do entretenimento.

    Para fugir da “tentação” de sucumbir ao sensacionalismo e a superficialidade o jornalista precisa manter um compromisso sólido com a ética jornalística e se especializar e adquirir conhecimentos para que suas opiniões sejam valorizadas pelo público. O seu texto deve conduzir o leitor a refletir sobre as influências históricas e culturais que um determinado fato pode produzir.

    Portanto, jornalismo cultural e jornalismo de entretenimento são duas coisas completamente distintas.

    Voltando à vaca fria e “deixando a profundi… dade de lado”, como já dizia o gênio Belchior, transcrevo algumas pérolas do jornalismo de entretenimento pinçadas dos dois principais portais de notícias do Brasil:

    No UOL:

    “João Vicente provoca Ewbank e fala em suruba com Gagliasso”

    “No Brasil, modelo posa decotada e cita perrengue com caipirinha e mosquitos”

    “Ousada, Marina Sena posa de biquini e tampa o umbigo em foto”

    “Gagliasso surpreende seguidores pela forma como limpa bumbum”

    No Globo.com:

                “Novo affair de Jade Picon, bilionário primo de noivo de Marina Ruy Barbosa já namorou outra ex-BBB: veja quem é”

                “Após flertar com Deolane, Fiuk é flagrado aos beijos com morena em aniversário de influenciadora”

                “Sabrina Sato filma Nicolas Prattes em cachoeira”

                E não citei nada do BBB-24!

                Esse é o tipo de conteúdo que abunda (ops!) nas seções de entretenimento dos principais portais de notícias do Brasil diariamente. Tem para todos os gostos. Agora, justiça seja feita: nada supera a cabeleira do Zezé. Chamada em meio a uma transmissão de futebol para destacar o novo visual do gasturento mor após tratamento capilar é de lascar o cano, como diziam os antigos.

                Ah! E quanto ao jogo – que é o que menos importa nessa história – o São Paulo venceu por 3 a 2 com um gol de pênalti nos acréscimos dos acréscimos e se classificou para as quartas de final. No domingo seguinte empatou em 1 a 1 com o Novo Horizontino e perdeu nos pênaltis, ficando de fora das semifinais do Campeonato Paulista. O Ituano foi rebaixado.

    PS. Logo após utilizar a expressão “de volta à vaca fria” fiquei curioso sobre a sua origem e resolvi pesquisar. Se o caríssimo leitor quiser saber mais sobre, leia aqui: Qual a origem da expressão “voltar à vaca fria?”.

                Afinal, Papangu é cultura e informação e pratica o jornalismo cultural em toda a sua plenitude.

  • LAMA, TRAGÉDIA E IMPUNIDADE

    25 de janeiro de 2024: Cinco anos da tragédia de Brumadinho/MG.

    A Vale (que já foi do Rio Doce) foi privatizada em 1997. Em 2007 excluiu o “do Rio Doce” de sua razão social, como que prevendo as desgraças que viria a provocar.

    A VALE NÃO VALE UM VALE (janeiro de 2019)

    Autor: Marco Túlio Cícero

    A Vale não vale uma vida / A Vale do Vale da morte

    O Vale da história perdida / Entregue à própria sorte

    O Vale do desencanto / O Vale que vale um canto

    A Vale dos Vales sepultos / A Vale da “mais valia”

    A Vale de mil insultos / Vale da “valetocracia”

    O Vale dos corpos sumidos / O Vale dos desvalidos

    O Vale que sangra resíduo / O Vale que implora por luz

    A Vale ignora o indivíduo / Esparrama no Vale seu pus

    A Vale que a dor equivale / A Vale não vale um Vale

    A Vale da degradação / De um Vale triste, desolado

    A Vale da morte nas mãos / De um Vale que clama assustado

    O Vale que vale um carinho / O Vale não sofre sozinho

    O Vale perdeu seus rios / A Vale destrói esperanças

    A Vale comete ecocídios / E a mão da lei não lhe alcança

    O Vale do verde que chora / E da sirene que apavora

    O Vale que já foi doce / A Vale da grana nefasta

    O Vale de morte inundou-se / A Vale que o Vale devasta

    O horror que vale uma rima

    DEVOLVA MEU VALE, ASSASSINA!

    FÉRIAS DE AMOR E MAGIA

    Férias chegando (para mim, no caso), lembrei-me de uma poesia, quase música, que fiz como atividade de uma disciplina do curso de Jornalismo na UFRN.

    No quarto período (2018.1) paguei Oficina de Redação Criativa com a minha querida Michele Ferret. Professora, jornalista, poetisa, artista plástica, cantora, compositora, roteirista, escritora, diretora de arte, produtora, organizadora de saraus e tudo que de lindo possa existir no mundo das artes.

    Em uma certa aula, ela pediu que os alunos falassem qualquer palavra que lhe viesse à mente e foi tomando nota. Ao final tínhamos trinta e seis palavras completamente aleatórias. A atividade seria escrever um texto em qualquer formato usando no mínimo cinco dos termos elencados.

    Eu – metido a besta e “amostrado” como sempre – falei que iria usar todas as trinta e seis palavras em uma poesia. Como àquela época (início de 2018) eu já tinha a ideia de escrever o meu TCC tendo como tema a Música Brega no RN, tive a ideia de transformar a poesia em uma música brega. Essa música seria apresentada durante a defesa do TCC. Leiam aqui o resultado da pesquisa para o TCC: Revista Digital/Reportagem: A Música Potiguar Brega como identidade musical do Rio Grande do Norte.

    Infelizmente veio a pandemia, a defesa foi realizada on-line em fevereiro de 2022 e acabei não musicando – quem sabe um dia – a poesia que transcrevo abaixo.  As trinta e seis palavras e expressões aleatórias estão em destaque.

    Férias de Amor e Magia (Música Brega)

    Eu só queria SOSSEGO

    NORDESTE, CEARÁ, simples assim

    Curtir minha MACONHA na AREIA da PRAIA

    E numa “VIAGEM” tropeçar

    Na lâmpada do GÊNIO ALADIM

    FÉRIAS, SOL e CERVEJA

    À noite, um chá de JASMIM

    Mas você fez BRUXARIA

    E me envolveu com sua MAGIA

    Era para ser um simples CINEMA

    HARRY POTTER ao final da tarde

    Um brinde com PIPOCA

    Para selar nossa AMIZADE

    Então resolvemos comer SUSHI

    E dessa vez nós brindamos

    Com batida de 51 e ABACAXI

    Da EMPATIA ao DESEJO

    Surgiu o primeiro BEIJO

    Conversamos olhando o MAR

    Relações HUMANAS, FILHOS

    Sem o PROUNI de LULA como EDUCAR

    Até parece sem nexo

    Você gosta de Peppa e MATEMÁTICA

    Eu de PORTUGUÊS e BOB ESPONJA

    E o prazer do primeiro SEXO

    Foi como abrir uma CONCHA

    E encontrar uma PÉROLA rara

  • OS “PARÇAS”

    Eles são de uma fidelidade e solidariedade mútuas inabaláveis e acima de qualquer crime, pecado ou suspeita. Eles são os parças e habitam o reino fantástico do futebol dos bilhões.

    A gíria parça, de parceiro, comparsa, amigo fiel, já se incorporou ao vocabulário dos boleiros ou jogadores de futebol, principalmente dos que viram celebridades. Em algumas ocasiões, a hipocrisia predominante no modus operandi dos parças nos remete a emblemática frase “ninguém solta a mão de ninguém”. Desde que, evidentemente, aplicada em um contexto completamente inverso às suas finalidades originais.

    À guisa de informação, a expressão “ninguém solta a mão de ninguém” viralizou nas redes sociais ao emoldurar um desenho (duas mãos entrelaçadas com uma flor ao centro) da artista plástica e tatuadora mineira Thereza Nardelli, de 30 anos, concebido logo após a confirmação da eleição do genocida em 29 de outubro de 2018. A arte traduzia o sentimento de incerteza com o futuro do país e o temor, especialmente por parte da população LGBT, negra, feminina e indígena, além dos refugiados, diante das abomináveis declarações e atitudes que marcaram a trajetória do presidente eleito.

    À época, Thereza afirmou que o desenho era seu, mas a frase foi dita por sua mãe: “A gente atravessava um momento difícil na nossa vida pessoal, mas o país também passava por dificuldades. Aí ela virou pra mim e disse, ‘ninguém solta a mão de ninguém’”.

    Em postagem do dia 02 de novembro de 2018, a jornalista Lourdes Nassif do Jornal GGN, afirma que o “ninguém solta a mão de ninguém” era o grito de pavor que ecoava nos barracos improvisados onde funcionava o Curso de Ciências Sociais da USP, nos Anos de Chumbo: “De noite, quando as luzes das salas de aula eram repentinamente apagadas, os estudantes buscavam as mãos uns dos outros e se agarravam ao pilar mais próximo. Depois, quando as luzes acendiam, faziam uma chamada entre eles. Muitas vezes acontecia de um colega não responder, pois já não estava mais lá”.

    E como agem os parças?

     Robinho, condenado estupro em todas as instâncias na Itália, vive livre, leve e solto por aqui. Apaniguado pela justiça brasileira, que vem postergando o acatamento de um pedido da justiça italiana para que ele cumpra a sentença de nove anos de prisão no Brasil, segue jogando seu futevôlei tranquilamente e sem ser incomodado nas praias de Santos, São Paulo.

    Está sempre muito bem acompanhado por parças de fé, dentre eles o bom moço e integrante da tradicional família brasileira, Diego Ribas, que quando indagado sobre o estupro praticado pelo ex-companheiro de Santos Futebol Clube escolheu não falar sobre o assunto, por serem amigos, quase irmãos, desde a mais tenra idade. É assim que funciona entre os parças.

    Diego e Robinho são os maiores expoentes da segunda geração dos “Meninos da Vila” (a primeira é de 1978), responsáveis pela conquista do título brasileiro de 2002 pelo Santos após 18 anos de espera e por isso não merecem ser abespinhados enquanto se divertem em sua cidade natal.

    Robinho é apenas um caso – entre vários – de atletas ou ex-atletas, treinadores e dirigentes, envolvidos em crimes de violência contra a mulher, e que via de regra são “esquecidos” pela mídia e tratados com naturalidade entre os parças. Mas esse é um assunto a ser desenvolvido com mais detalhes e informações em um outro artigo.

                Eis que agora, no alvorecer de 2024, em mais um singelo caso de filantropia entre parças, descobrimos que Daniel Alves, preso na Espanha por estupro, recorreu a ajuda financeira de Neymar (da terceira geração dos “Meninos da Vila”) e família. O parça de longa data, é claro, não negou a ajuda. Neymar pai transferiu para o estuprador 150 mil euros (R$ 800 mil) que foi utilizado para pagar uma multa à Justiça espanhola. Chamado de “atenuante de reparação de dano causado”, esse valor pode reduzir a pena de Daniel, em caso de condenação.

    Além disso, Daniel Alves constituiu como procurador, Gustavo Xisto, um dos representantes jurídicos mais antigos das empresas de Neymar pai, que confirmou a ajuda financeira e jurídica: “A família nos pediu ajuda. O Daniel não tinha dinheiro para se defender, e o prazo para o pagamento da defesa estava expirando. Pense bem, em nenhum momento, eu podia negar ajuda a um amigo que está tentando se defender de uma acusação”. Parça que é parça, não larga a mão de um parça.

    Tempos atrás em um texto sobre o desgoverno do genocida, eu escrevi que para aquele período nefasto, a frase “quando a gente pensa que já viu tudo” não fazia mais sentido. O correto seria “a gente ainda não viu nada”. A mesma expressão serve para Neymar & Cia e seu séquito de fiéis parças.

    A SÍNDROME DA CANÇÃO PRESA OU “VERME DE OUVIDO”

    Desde o réveillon estou com a música “Coladin” grudada no meu cérebro. Já fiz de tudo, mas não tem jeito. Venho atravessando esse mês de janeiro com “Coladin” colado no meu ouvido. Pesquisei sobre essa praga e fiquei sabendo que esse fenômeno é conhecido no meio científico como “síndrome da canção presa” ou “verme de ouvido” (earworm, em inglês). No popular, “música chiclete”.

    O negócio é sério! De acordo com o neurologista Rodrigo Santos de Araújo, do Hospital Universitário da UFS (Universidade Federal de Sergipe), quando isso acontece o cérebro entende como uma memória evocada: “Quando a gente ouve uma canção ativa um processo auditivo temporal. Ouve a música e passa. Já a canção presa é uma memória que fica sendo evocada, às vezes por anos, o que chega a incomodar bastante a pessoa. Isso impacta na qualidade de vida. A pessoa está fazendo outra atividade e aquela música ali na cabeça o tempo todo. É difícil tirar do pensamento”. Sentiram o drama?! Nem sei como estou conseguindo escrever esse texto, com “Coladin” martelando no meu juízo.

    Uma das dicas apresentadas para solucionar esse infortúnio é ouvir outras canções, principalmente aquelas que estão entre as suas preferidas e se possível cantá-las em voz alta (coisa de doido). Não funcionou.

    Como as minhas canções preferidas não resolveram, dias atrás num ato de desespero, aloprei. Apelei para a aberração poética, estética, fonética, linguística, semântica, harmônica e filosófica, “Sinônimo de amor é amar (Sinônimos)”, tema de abertura da novela “Agro e paixão”, nas vozes dos grudentos e gasturentos Chitãozinho e Xororó:

    “O amor é feito de paixões/E quando perde a razão
    Não sabe quem vai machucar

    Quem ama nunca sente medo/De contar os seus segredos
    Sinônimo de amor é amar”.

    Não resolveu. E foi melhor assim. Esse estrupício sertanejo é infinitamente pior do que o “Coladin”.

    Diante do exposto, resolvi compartilhar minha maldição do “Coladin” com vocês. Quem ler esse trecho da música e conhece a melodia, vai ficar com ela grudada na mente pelo resto da vida. O autor do “chiclete” é o simpático Zé Vaqueiro.

    “Minha deusa/Até desarrumada é perfeita/

    Não nasceu pra ser mulher solteira/

    Nasceu pra mim pra ficar ‘coladin’/

    ‘Coladin’, ‘coladin’, ‘coladin’”.

    PS. A primeira vez que ouvi “Sinônimos” foi com Zé Ramalho e até pensei que era uma composição sua. É do eclético Paulo Sérgio Valle, Cláudio Noam e César Augusto.

    ENTÃO É NATAL, E O QUE VOCÊ FEZ?…

    Perguntou-me a bela Simone através do som ambiente do supermercado, logo aos primeiros dias do mês de dezembro. Pensei cá com os meus botões: o que foi que eu fiz mesmo em 2023? Então lembrei-me de uma resposta que dei a uma amiga de faculdade em uma troca de mensagens, lá pelo mês de setembro. Perguntou-me a amiga: “E aí, Marco. Que que você tem feito?”. Eu respondi: ainda tô festejando a vitória de Lula.

    Pois é, minha querida Simone. Em 2023 eu festejei a paz, o amor, a ternura, o carinho, a fraternidade, a solidariedade, a generosidade, a empatia, a alegria, a caridade, a bondade, a amizade, o afeto, o afago, o abraço, a cortesia, a gentileza, o cafuné e o “chêro”, a tolerância, a delicadeza, a compreensão, o altruísmo, a beleza, a felicidade, a benevolência, o humanitarismo, a compaixão, enfim, tudo de bom que representa a volta de Lula Presidente, depois de longos e tenebrosos anos de uma hecatombe humanitária que assolou e quase destruiu o Brasil. Festejei, estou festejando e vou festejar pelo resto da minha vida.

    Dito isso – ainda tá em tempo – desejo um excelente 2024 ao magote de “papangus” que prestigiam essa revolucionária Papangu na Rede.

  • OS TRAMBIQUEIROS DO SENHOR

    Eles estão por toda parte e aplicando golpes de diversas modalidades. Ao contrário dos “Malafentos” da vida que extorquem dinheiro de incautos fiéis com a promessa de graças e bençãos que podem vir a se transformar em ganhos materiais no futuro, os “Trambiqueiros do Senhor” são especialistas em mercado financeiro e prometem lucros imediatos e tão exorbitantes, que até Deus duvida.

    Ou será que Deus em sua infinita sabedoria tem noção do que é 1 octilhão de reais (R$ 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000,00)?

    Pois é. Um grupo de onze pastores que chegou a prometer essa “merreca” a quem investisse em suas pirâmides milagrosas, é alvo de uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal denominada “Falso Profeta”. Os trambiqueiros convenciam suas vítimas (mais de 50 mil arrebanhadas entre os fiéis evangélicos) a investirem suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias. Os gananciosos fiéis eram convencidos de que seriam pessoas escolhidas por Deus para receber a “benção”, ou seja, quantias milionárias ou quiçá, “octilionárias”.

    O gênio financista por trás dessa estapafúrdia engenharia financeira é o pastor Osório José Lopes Júnior, que ostentava vida de luxo em Goiás e ia para cultos de helicóptero. Em 21 de setembro, o pastor foi preso em um rancho na zona rural do município de Gurupi, no Tocantis e em 04 de outubro foi transferido para uma prisão no Distrito Federal. Leia mais sobre o assunto aqui: G1 – 20/09/2023.

    Esse megalomaníaco golpe teve maior repercussão na mídia, em razão da magnitude das cifras. Mas os “trambiques em nome do Senhor” se multiplicam por esse Brasil afora e vêm de longa data. A seguir, alguns casos:

    JusBrasil – 14/09/2010Pastor é acusado de aplicar o golpe da Casa Própria em mais de 100 vítimas

    O pastor da Igreja Congregação Cristã do Brasil de Cuiabá/MT, Gilson Ribeiro Soares, 63 anos, é acusado de aplicar o golpe da Casa Própria em pelo menos 100 pessoas, a maioria fiéis. Ele cobrava, em média, R$ 1 mil de cada pessoa para facilitar a aquisição do imóvel através de sorteios, que ele garantia ter influência. O pastor foi detido nesta segunda-feira (13), depois que duas pessoas fizeram uma denúncia.

    Rondônia Agora – 16/10/2013Pastor aplica golpe de R$ 5 milhões em Colorado do Oeste; MP e polícia investigam esquema de pirâmide financeira

    O pastor Antônio Silveira Vital é investigado pela Polícia Civil de Colorado do Oeste por suspeita de ter aplicado golpes que podem chegar a R$ 5 milhões em consumidores da cidade. O esquema é semelhante a pirâmide financeira e envolve a compra coletiva de produtos e o sorteio de brindes. Algumas pessoas teriam depositado quantias superiores a R$ 400 mil para obter ganhos entre 10% e 25% dependendo da aplicação no esquema.

    Estado de Minas – 06/08/2015Pastor que embolsou R$ 1,5 milhão ao aplicar golpe em fiéis é preso por estelionato

    Um homem que atuava como pastor em uma igreja evangélica de Divinópolis, na Região Centro-Oeste de Minas foi preso por suspeita de aplicar golpes em fiéis e embolsar pelo menos R$ 1,5 milhão. Arlem Silva Amaral se aproveitou de sua credibilidade como líder da congregação para vender ilegalmente vários imóveis a frequentadores da instituição…

    FolhaMax.com – 14/04/2016ESTELIONATO PELA FÉ: Pastor evangélico em MT é suspeito de aplicar golpe milionário

    A Polícia Civil de Primavera do Leste (231 km ao sul) cumpriu no final da tarde de quarta-feira (13/04) três mandados de condução coercitiva, além de seis mandados de bloqueio e quebra de sigilo bancário contra acusados de aplicar golpes em Mato Grosso, Bahia, Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Goiânia. Gleison França do Rosário e Fábio Alves de Morais ofereciam contratos de exploração de ouro ao preço médio de R$ 2 mil, com a promessa de rendimento em poucos meses de R$ 1 milhão.

    Hora H – 01/11/2017PASTOR RODA POR APLICAR GOLPE

    Com uma extensa ficha criminal na Polícia Civil, que incluem mais de 40 registros de ocorrência, o pastor evangélico Oseias de Oliveira de Abreu, de 43 anos, suspeito de estelionato, foi preso em uma mansão na Barra da Tijuca ontem. Com ele, os agentes apreenderam uma esmeralda avaliada em R$ 8 milhões, entre outras joias. Ele foi detido numa casa de condomínio de luxo, onde há imóveis anunciados por mais de R$ 15 milhões.

    A Gazeta – 04/12/2019Mulher denuncia pastor à polícia e o acusa de golpe na Serra

    A faxineira Lucimagna Caetano da Silva diz ter sido enganada por um pastor da cidade de Serra/ES, Adriano de Souza Carvalho, que a convenceu depositar na conta dele R$ 15 mil para que ele fizesse um investimento e, em seis meses, a quantia seria revertida em R$ 60 mil. Para arrecadar o dinheiro, a vítima vendeu todos os móveis de casa. Porém, o pastor sumiu.  Traumatizada, ela denunciou o caso à Polícia Civil.

    Isto É – 07/07/2021Pastor é acusado de aplicar golpe de R$ 2,5 milhões em fiel na Grande SP

    O pastor Lucas Ferreira da Silva, da Igreja Batista, é acusado por uma fiel de Franco da Rocha de ter aplicado um golpe que chegou a R$ 2,5 milhões de doações que ela realizou acreditando estar fazendo caridade. S.M.S, bancária aposentada de 54 anos, soube em 2011 por emissários do pastor que a igreja tinha planos para construir uma creche para prestar apoio a mães carentes. Rica e muito religiosa, ela começou a fazer doações para a suposta obra, inicialmente com R$ 70 mil e R$ 63 mil.

    Umuarama Ilustrado – 03/10/2022Pastor é suspeito de aplicar golpe de mais de R$ 4 milhões em Umuarama

    O pastor evangélico Marcos Eliandro da Costa está sendo acusado de aplicar mais de R$ 4 milhões em golpes financeiros em Umuarama/PR. Em pouco mais de uma semana 21 vítimas já procuraram a delegacia da Polícia Civil para formalizar a acusação. A estimativa é que mais denúncias cheguem nos próximos dias. … Costa se apresentava como pastor e oferecia investimentos na bolsa de valores com taxa de 6% ao mês…

    Plantão Brasil – 20/09/2023Pastor aplica golpe milionário em fiéis em João Pessoa e desaparece misteriosamente

    O líder religioso da Assembleia de Deus em João Pessoa, Pastor Péricles Cardoso de Melo, está sob investigação e teve sua prisão preventiva solicitada, com aval do Ministério Público da Paraíba. Ele é acusado de enganar fiéis da sua congregação através de empréstimos que não foram quitados. A apuração revela que mais de 30 fiéis foram vítimas do pastor, acumulando uma dívida que ultrapassa R$ 2 milhões.            

     Agora RN – 11/11/2023Crente Trader foge do RN após ser ameaçado de morte por dívidas de quase R$ 20 milhões

    As promessas de rendimento dos valores aplicados por clientes em investimentos milionários são parte do que Mário Borges, o “Crente Trader”, falava em vídeos publicados nas redes sociais. O fundador da empresa M7 Business, que administrava os fundos investidos pelos clientes na empresa, está sendo investigado por suspeita de envolvimento em um esquema de pirâmide financeira em Natal. Com a repercussão, resolveu sair de Natal após receber ameaças pelas dívidas que chegam a quase R$ 20 milhões.

    E antes que me critiquem por só publicar casos de golpes envolvendo pastores evangélicos, eis um bem fresquinho praticado por um padre católico:

    UOL – Colunista Carlos Madeiro – 17/11/2023Comprou 29 imóveis: Padre suspeito de desviar R$ 140 milhões se entrega na PB

    O padre Egídio de Carvalho Neto, 56, suspeito de desviar recursos de entidades filantrópicas, se entregou à polícia em João Pessoa na manhã desta sexta (17). O padre teria sido responsável por apropriação de dinheiro do hospital e do Instituto São José, que atende pessoas pobres pelo SUS, e da Ação Social Arquidiocesana. As investigações revelam um esquema de desvios de recursos públicos estimados em cerca de R$ 140 milhões. Esses desvios (…) ocorreram entre 2013 e setembro deste ano.

    Seja por padre ou pastor, essa é apenas uma pequena amostragem das centenas de milhares de trapaças praticadas em nome do Senhor, por esse Brasil afora.

    PS. As reportagens completas sobre os trambiques, podem ser acessadas por meio dos links em destaque.

  • AMENIDADES BADULAQUIANAS

    O mundo “despinguelou” de vez. São tantas coisas complexas e desconexas, que eu estou “preocupada mente” perplexo (escrevi “preocupadamente” e o corretor ortográfico do word me sugeriu assim – separado – e tem tudo a ver). Tenho a sensação de que estamos vivendo o “pós-fim do mundo”. Será que essa “bagaça” chegou ao fim e não nos demos conta? “Sendo assim”, como canta o fantástico Genival Santos (ouça aqui), resolvi que para este caótico e esbraseante mês de outubro, os badulaques serão dedicados a amenidades musicais. Licença, meu confrade Damião Nobre.

    ÁFRICA BRASIL: UM DIA JORGE BEN VOOU PARA TODA A GENTE VER

    Dia desses estava ouvindo na Rádio CBN uma entrevista com a jornalista Kamille Viola autora do livro “África Brasil: um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver” (ainda não li, mas vou ler) e me dei conta de o quanto Jorge Ben e o disco África Brasil (1976) em especial, influenciaram a minha juventude musical e a minha relação com a música brasileira dali em diante. Nesse disco, Jorge Ben trocou definitivamente o violão acústico pela guitarra elétrica, conta Kamille.

    “África Brasil” foi um dos primeiros long plays que ouvi de “cabo a rabo”, sem ter que pular alguma música em busca de outra melhor. Levantar a agulha da radiola só para mudar o lado do LP. Que swingada incrível e contagiante! O mundo ficou mais leve depois de “África Brasil”.

    E enquanto ouvia a entrevista, me veio à mente um show fantástico de Jorge Ben no Ginásio da ACDP (Associação Cultural e Desportiva Potiguar) no início dos anos 1980. Fui pesquisar no google em busca de alguma data, alguma notícia sobre esse show e descobri que já havia escrito sobre. Quando digitei “show de jorge ben na acdp em Mossoró rn” dei de cara com o meu antigo blog Marcotuliotudo(aqui) e um texto de 26/06/2015. Ei-lo:

    SHOW ARRETADO DE BOM DE JORGE BEN NO GINÁSIO DA ACDP

    Ano de 1981, 82, não tenho bem certeza, show de Jorge Ben no Ginásio da ACDP e lá vamos nós, a turma do Alto da Conceição, os inseparáveis: esse que vos escreve, Ricardo de Nininha, Medeiros e Gildo (meu primo “infiltrado” dos Paredões, mas que dormia lá em casa quando saíamos para a farra). É desnecessário dizer que o show foi uma das coisas mais espetaculares que eu já vi na minha vida.

    Fim do espetáculo, fomos para o clube tomar algumas boas saideiras. Saímos de lá com o garçom já colocando as cadeiras em cima das mesas. Hora de voltar para casa e a pé. E lá fomos nós, caminhando e comentando sobre o show na madrugada tranquila de Mossoró. Quando chegamos à ponte que dá acesso a ACDP avistamos duas pessoas caminhando a nossa frente. Um negro alto, sarado (como diríamos nos dias de hoje), camiseta, bermuda branca e tênis e outro um pouco mais baixo vestido no mesmo estilo ao seu lado.

    Eu disse logo: “rapaz, aquele é Jorge Ben”. E os outros: “cê tá doido? Jorge Ben andando por aqui uma hora dessas?!”. Para conferir aceleramos o passo e chegamos quase a emparelhar com os dois. Era ele mesmo. O outro devia ser o seu empresário. Quando perceberam nossa presença, se viraram, fizeram um sinal de ok, sorriram e seguiram na caminhada. E nós atrás sem dar um pio. E fomos assim até chegar ao Abolição Palace Hotel (antigo Esperança Palace Hotel) no centro da cidade, onde estavam hospedados. Deram boa noite aos quatro “babacas” e entraram no hotel.

    E nós seguimos nossa viagem até o Alto da Conceição completamente “embasbacados”!

    A SIMPLICIDADE E A EDUCAÇÃO DE PAULINHO DA VIOLA…

                Show de Paulinho da Viola na AABB, tipo voz e violão, também início dos anos 1980. Som horrível, público começando a se irritar, técnico de som em desespero e só quem conseguia manter a calma era o educado Paulo César Batista de Faria.

    Depois de mais de 20 minutos de tentativas infrutíferas de resolver o problema do som e quando surgiam os primeiros ensaios de algumas vaias e ameaças de abandono do local, Paulinho dirigiu-se ao público: “Pessoal, um momento por favor. Venham aqui pra frente do palco. Acomodem-se como puder. Vamos cantar assim mesmo, sem microfone”.

    E cantou todos os seus sucessos por quase duas horas de um show maravilhoso. Sabe aquele “rapaz do violão”, que reúne uma galera ao seu redor e canta e toca violão até fazer calo nos dedos? Paulinho da Viola. Pense num sujeito gente boa!

    … E O MAU HUMOR DE GONZAGUINHA

                Essa história aconteceu com meu amigo e parceiro de cervejadas em Mossoró, Toinho de Sônia, à época motorista das empresas do português José Patrício. Show de Gonzaguinha na Panizzaria Hut – final dos anos 1980 – e lá se foi Toinho, no carro de luxo do português, apanhar o artista no aeroporto de Fortaleza. Para essa viagem, Patrício providenciou a gravação de uma fita cassete com todos os sucessos do ilustre passageiro.

                Assim que Gonzaguinha entrou no carro, Toinho enfiou o K7 no toca fitas Road Star. Não deu nem tempo tocar os primeiros acordes da introdução da primeira música e um emburrado Gonzaguinha já foi dizendo: “Desligue isso aí. Quero silêncio até o fim da viagem”. E só acordou em Mossoró.

                Sempre que contava essa história, meu amigo Toinho começava ou concluía com um: “Pense num cabra enjoado”.

    BRINQUEDO DE PAPEL MACHÊ…

                Outro espaço espetacular que frequentei muito em Mossoró foi o Clube Imperial, que ficava em uma área enorme por trás do Posto Imperial, no começo do Alto de São Manoel. No local funcionava um bar/lanchonete na área do posto, uma boate e mais atrás uma área para grandes festas e shows e um drive-in (lá assisti “Kramer vs. Kramer” e chorei feito um abestado) onde também aconteciam shows mais intimistas.  

                E foi lá que assisti ao primeiro show de João Bosco. Em 1984. Já namorava com Maria e a música da história é desse ano.

                Som perfeito. Muito bem testado e bem “passado”, como se diz no jargão musical. Espaço lotado com todas as mesas ocupadas e mais outro tanto de gente em pé e assim que João Bosco atacou com o primeiro “badadinbedandábidou”, a multidão começou a gritar: “papel machê…! papel machê…! papel machê…!”. A coisa foi crescendo e ele teve que parar a música que estava cantando e se dirigiu ao público: “Gente! Por favor! Eu vim de tão longe para mostrar o meu repertório pra vocês… Não se preocupem que eu vou cantar Papel Machê”. O público se acalmou e ele finalmente pôde nos brindar com todo o seu magnífico repertório.

                Infelizmente ficou a sensação de que “Papel Machê” seria a última música. E a minha torcida era para que ele não a cantasse nunca. Mas não deu outra. Logo após “O Bêbado e a Equilibrista” vieram “Papel Machê” e o tradicional: “Boa noite, gente!”. E que noite, gente!

    O ESPORTE FEMININO E AS SUAS DIVINAS ATLETAS

    Uma de esportes para finalizar.

    Na disputa do solo no Mundial de Ginástica na Antuérpia, Bélgica, no domingo 08/10, a maior ginasta do mundo na atualidade, Simone Biles, teve uma atitude magnífica enquanto esperava para subir ao pódio e receber a medalha de ouro da categoria: fez o gesto de “passar a coroa” para a brasileira Rebeca Andrade, medalha de prata, que vem encantando o Brasil e o mundo com suas apresentações.

    No dia anterior, na etapa de Sydney, na Austrália, da Liga Mundial de Skate Street (SLS), Rayssa Leal conquistou a medalha de prata. A australiana Chloe Covell, de 13 anos, ficou com o título. Amigas, Rayssa e Chloe comemoraram juntas e a brasileira, atual campeã mundial, fez um gesto de “passar a coroa” para a skatista australiana.

    Será que Simone copiou Rayssa ou foi apenas uma coincidência? Não sei. Só sei que o esporte feminino é lindo e as suas atletas são divinas.

  • OS SLIDES DE TARCÍSIO DE FREITAS E A DESEDUCAÇÃO BOLSONARIANA

    O assunto é o bolsonarismo e a sua nocividade tóxica. Mas não irei aqui discorrer sobre terraplanismo, negacionismo, olavismo, golpismo, racismo, conservadorismo, fascismo, nazismo e outras idiossincrasias características de uma parcela considerável da população brasileira, que emergiu das profundezas da ignorância no rastro da influência maléfica de um ser humano – apenas na perspectiva biológica e antropológica – inquestionavelmente execrável. Esse fenômeno de ofuscamento social coletivo merece um tratado a ser devidamente esquadrinhado por estudiosos das Relações Humanas e das Ciências Sociais.

    Limitar-me-ei, portanto, ao novo modelo educacional implantado em São Paulo pelo secretário, Renato Feder (perfil no final do texto), principal articulador do projeto bolsonariano de deseducação. Essa aberração pedagógica escancara mais uma característica nefasta do bolsonarismo: o obscurantismo intelectual.

    Em julho, o governo de São Paulo, decidiu não aderir ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), afirmando que as coleções didáticas oferecidas pela União seriam substituídas por materiais digitais no formato de slides “elaborados e distribuídos pela própria secretaria de educação”. O estapafúrdio material didático digital “elaborado e distribuído” pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas, expõe o grau de insipiência que atinge o bolsonarismo em todos os seus escalões e esferas.

    Os “slides de Tarcísio” ganharam publicidade a partir de uma série de reportagens do portal UOL, que apontam erros bizarros no material ofertado pelo governo paulista aos professores e alunos da rede pública.

    Em 15 de agosto, a Rede Escola Pública e Universidade (REPU) elaborou a Nota Técnica Substituição de Livros do PNLD por Slides Digitais na Rede Estadual de São Paulo na qual afirma que o material fornecido pela secretaria de Educação de São Paulo, “contém problemas metodológicos, erros conceituais e fazem uma má contextualização das informações para os alunos”. A análise conclui que “caso o material fosse submetido ao processo de avaliação de qualidade usado pelo MEC na escolha dos livros didáticos, eles seriam reprovados”. Foram encontrados erros em todas as disciplinas e em todas as etapas de ensino.

    Em 09 de setembro, a Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos (Abrale) publicou uma Análise Crítica do Material Didático do Estado de São Paulo onde identifica um “festival de erros” e enfatiza que esse material “é raso, superficial, enfadonho e prejudicial à formação da cidadania”.

    Após críticas da sociedade civil e uma decisão da Justiça, o governo de São Paulo voltou atrás e anunciou que vai aderir ao PNLD em 2024 e os estudantes paulistas voltarão a ter acesso ao conteúdo didático disponibilizado pelo Ministério da Educação.

    Em relação aos erros detectados no material digital, a secretaria informou em nota que afastou os servidores responsáveis e que “o conteúdo é editável e as informações já foram retificadas e atualizadas”. Será?  

    A seguir, algumas pérolas pinçadas dos slides de Tarcísio de Freitas e do seu secretário de educação Renato Feder:

    HISTÓRIA

    – “Em 1888, Dom Pedro II assinou a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil. No entanto, a insatisfação popular com a monarquia continuou a crescer”.

    Fato: O imperador não estava no Brasil em 13 de maio daquele ano e a Lei foi assinada por sua filha Isabel, que naquele momento estava na posição de Princesa Imperial Regente. Daí, que na história oficial do Brasil ela virou “A Princesa Redentora”. Há controvérsias. Mas aí é outra história.

    – “A proibição do uso de biquínis foi adotada por Jânio Quadros em 1961, quando ele era prefeito de São Paulo. Ele emitiu um decreto vetando o uso de biquínis nas praias da cidade”.

    Fato: Jânio realmente proibiu o biquíni em 1961, porém, quando era presidente e nas praias do Brasil, até porque a capital paulista não fica no litoral (os paulistanos bem que gostariam que ficasse). À guisa de informação: Jânio Quadros foi prefeito de São Paulo de 1953 a 1955 e de 1986 e 1989; governador do estado São Paulo de 1955 a 1959 e presidente da república de 31 de janeiro de 1961 a 25 de agosto de 1961.

    FÍSICA

    Em outro erro factual, alunos do ensino médio apontaram erro sobre a morte do físico Jean Foucault. No material, o slide cita uma descoberta feita pelo físico e astrônomo francês Jean Foucault em 1985, mas ele morreu em 1868.

    Fato: Jean Bernard Léon Foucault (Paris, 18/09/1819 – Paris, 11/02/1868), físico e astrônomo francês é mais conhecido pela invenção do Pêndulo de Foucault, uma experiência concebida para demonstrar a rotação da terra em relação ao seu próprio eixo, cuja primeira demonstração data de 1851. Vai ver que essa confusão se deu porque os terraplanistas da deseducação bolsonariana acham o princípio do Pêndulo de Foucault um absurdo e coisa de esquerdista.

    MATEMÁTICA

    Em material direcionado para o 6º ano do Ensino Fundamental, foi encontrado erro em uma conta básica de divisão: ao invés de 36 dividido por 9 ser igual a 4, o resultado apontava 6.

    Fato: A divisão é uma operação básica da Matemática, assim como a multiplicação, adição e subtração. Multiplicação e divisão são operações inversas, por isso, a “prova real” da divisão é feita por meio de uma multiplicação: 4 x 9 = 36 e 6 x 9 = 54. Acertei?

    CULTURA

    Alunos do primeiro ano do ensino médio, receberam um slide em que a música “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso, um dos hinos contra a ditadura militar brasileira, aparece com uma foto e o nome de outro cantor da época, Geraldo Vandré, como autor.

    Fato: Geraldo Vandré é autor de “Pra não dizer que não falei das flores” ou “Caminhando e cantando e seguindo a canção” ou ainda “Vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Bando de comunistas!

    BIOLOGIA

    Um slide da disciplina de biologia direcionado a estudantes do 7º ano do ensino fundamental informa que “a água contaminada com mercúrio, agrotóxicos, remédios e produtos químicos pode provocar doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, além de problemas cognitivos, depressão e déficit de atenção”.

    Fato: Os médicos dizem não haver base científica para fazer essa associação. “As intoxicações por metais pesados podem desencadear vários tipos de doença, mas não essas duas que estão ali [Parkinson e Alzheimer]”, diz o infectologista Jamal Suleiman.

    Quem é Renato Feder

    Economista, administrador de empresas e empresário neoliberal foi secretário de educação do Paraná entre 2019 e 2022 no governo de Ratinho Júnior (PSD). É acionista e ex-CEO da Multilaser, gigante nacional do ramo de tecnologia e herdeiro do grupo Elgin, mega indústria do ramo de eletrodomésticos.

    Renato Feder está sendo investigado pelo Ministério Público de São Paulo, por conflito de interesses em contratos firmados pela Secretaria de Educação de São Paulo com a empresa Multilaser.

    A empresa, da qual Feder foi CEO e mantém-se acionista, fechou contratos de 200 milhões de reais na compra de 97 mil laptops pelo governo paulista. A entrega, prevista em até dois meses, atrasou e só foram entregues 10% do estabelecido.

    Mas aí, já é outra história.

  • COBRA TENTAR DEVORAR PORCO-ESPINHO, NÃO CONSEGUE “CUSPIR” E AMBOS MORREM

    Uma cobra morreu após tentar devorar e devolver um porco-espinho em Shoham, em Israel.

    Aviad Bar, um ecologista de répteis da Nature and Parks Authority, identificou que a cobra estava tentando comer um porco-espinho comum. “A direção dos espinhos não permitia que a cobra cuspisse o porco-espinho. Ambos morreram no trágico encontro”, explicou. (Fonte: Uol – matéria completa aqui)

    Lendo essa matéria, a primeira lembrança que me veio foi de minha mãe. Que horror! Lembrar de Maria do Socorro, que sempre foi um amor de pessoa, perante uma fatalidade gastronômica estúpida e tão apavorante como essa?! Explico. É que minha mãe sempre dizia quando algum dos filhos(as) dava uma de guloso(a) diante de uma comida gostosa: “Menino(a), para de comer com os olhos!”. E quando alguém comia rápido demais na ânsia de repetir o prato, ela completava: “Menino(a), coma devagar pra não se engasgar. Quer morrer pela boca igual a peixe?”. Pois é. A cobra morreu pela boca. E pelo estômago e suas entranhas.

    “Comer com os olhos” (comer uma quantidade superior àquela necessária para passar a fome, comer além do limite, comer em excesso) e “Morrer pela boca igual a peixe” (usado para dizer que devemos tomar cuidado em abrir a boca para falar alguma coisa, assim como o peixe devia tomar cuidado em abrir a boca para morder uma isca), são dois ditos populares relacionados a atividades degustativas de seres vertebrados do reino animália.

    Instigado pelo inusitado da notícia e pela lembrança materna espontânea e estrambótica, resolvi pesquisar sobre outros adágios que possam trazer uma elucidação de viés socio-filosófico, fisiológico e zoológico aos diversos eventos que desencadearam nessa bizarra tragédia animal. A seguir alguns provérbios populares (fonte: https://rockcontent.com/br/talent-blog/ditados-populares/), seus significados e a devida análise epistemológica em relação ao fato:  

    1. “Nem tudo que reluz é ouro”: Mostra que nem sempre as aparências contam. É preciso conhecer melhor uma pessoa por dentro para saber qual é o seu caráter. Análise: Nesse caso, a cobra não conhecia a aparência de sua presa nem por dentro nem por fora.
    2. “A pressa é a inimiga da perfeição”: É necessário ter paciência e fazer as coisas devagar para alcançar os objetivos. Análise: Faltou paciência para analisar melhor a sua vítima e a cobra acabou se estrepando, isto é, se espinhando toda.
    3. “À noite todos os gatos são pardos”: Quer dizer que durante a noite a visão fica comprometida e todas as cores parecem iguais. Ou seja, é difícil fazer distinção. Análise: Pela luminosidade da imagem fica claro que a tragédia não aconteceu à noite. Mas pode ser que por algum problema de visão, a cobra não tenha conseguido distinguir entre um porco comum e um porco espinho.
    4. “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”: Aqui, o objetivo é simples: quando você faz algo negativo para alguém, sofrerá consequências no futuro. Análise: No nosso caso, causa e consequências foram imediatas: matou e morreu.
    5. “Um dia é da caça, outro do caçador”: Essa expressão representa que a vida oferece dias bons e ruins para todos. Análise: Dia péssimo para a caça e o caçador. Infelizmente.
    6. “O seguro morreu de velho”: Essa é uma mensagem de precaução. Pessoas que prezam pela segurança morrem de velhice, não por algum acidente. Análise: A precaução passou longe nesse triste episódio.
    7. “Não existe rosa sem espinho”: Esse ditado ressalta que até mesmo as coisas mais prazerosas da vida podem esconder alguns perigos. Análise: Não existe porco-espinho sem espinhos. Fica o alerta, animais da família elapidae.
    8. “As aparências enganam”: Significa que muitas vezes julgamos uma pessoa de um jeito, e ela mostra ser de outro. Por isso, ele nos ensina que a essência das pessoas é mais importante do que a aparência. Análise: Faltou a cobra uma análise mais acurada sobre a aparência do porco-espinho. Nesse caso, ela se ateve mais a essência. Deu no que deu.
    9. “Caiu na rede é peixe”: Devemos aproveitar tudo sem ficar escolhendo muito, pois qualquer coisa que tivermos será boa e servirá de conforto. Análise: Nem sempre, nem sempre.
    10. “A cavalo dado não se olham os dentes”: Nunca devemos criticar um presente ou algo que nos é dado, mesmo que não seja de nosso agrado. A ideia aqui é sempre agradecer em vez de ser crítico. Análise: Tudo bem que não se olhem os dentes do cavalo, mas tem que se olhar os espinhos do porco-espinho.
    11. “De grão em grão, a galinha enche o papo”: Essa expressão está relacionada com a paciência que devemos ter na vida para atingir determinado objetivo. Análise: De espinho em espinho, além de não encher o papo, a cobra morreu.
    12. “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”: Significa que pouco nos importa o sofrimento e o sentimento alheio, ou seja, não demonstramos compaixão pelo outro. Análise: A falta de compaixão da cobra nos remete a outro ditado: o castigo veio a cavalo.
    13. “O diabo não é tão feio quanto se pinta”: Sugere que devemos tentar ver as coisas sempre de forma positiva e, assim, não tornar as coisas ruins piores do que elas realmente são. Análise: Para a cobra, o que parecia feio ou ruim se mostrou pior.

    Moral da história: Nunca tente colocar algo na boca, se você não tem a certeza de que pode botar para fora depois.