As bocas do fogão estavam em estado periclitante. A quantidade de furos na parte onde não deveria ter furos era quase igual à da parte que deve ter furos. Entenderam a situação? Conversando com algumas pessoas que estavam lá em casa para um almoço falei que precisava substituí-las, mas não sabia onde comprar umas novas. Uma sobrinha disse logo: “Tem no Alecrim”.
Em outra oportunidade e ainda sobre o tema fogão comentei: “Tô vendo a hora essas grelhas se desmancharem de tão desgastadas”. Cá pra nós, que fogãozinho mais sambado esse meu! Carecendo de um novo. Dessa vez foi uma irmã, mãe daquela sobrinha, quem deu o pitaco: “Tem no Alecrim. Na principal, ao lado da parada de ônibus, numa loja que fica na esquina”. Pelo visto, mãe e filha são frequentadoras assíduas do Alecrim. O que não é o meu caso, que desde que mudei para Nova Parnamirim jamais voltei ao Alecrim. Pelos meus cálculos, lá se vão uns 15 anos. Um fato lastimável.
Continuando na cozinha, a minha panela de pressão estava com a válvula da tampa quase partindo e como havia o risco de acidente parei de usá-la. Quem gosta de cozinhar sabe o quão desagradável é ficar com uma panela de estimação fora de combate. Falei com Maria, minha esposa, que teríamos que comprar uma nova. Na intenção de evitar um prejuízo maior, ela logo apresentou a solução: “Mostrei essa tampa a vizinha e ela disse que tem essa válvula pra vender. Mas SÓ tem no Alecrim”. Vou dizer uma coisa: quando esse tipo de informação vem reforçada por um sonoro SÓ, aí lasca tudo!
Outro dia estava na fila do caixa do supermercado e em frente tem uma loja de roupas femininas. Na vitrine estava descrita em letras grandes uma promoção que eu confesso não entendi patavina (ai novo!): “Na compra de 2 peças ganhe 50% de desconto na segunda”. Não tinha nenhum preço em destaque. A mocinha do caixa comentou com uma cliente que passava as compras: “Quando sair daqui vou dar uma olhada nessa promoção”. A cliente de imediato aconselhou: “Vá não. No Alecrim você compra duas de qualquer dessas peças da vitrine por R$ 50,00”. Acho que ela leu os 50% como R$ 50,00, mas isso não vem ao caso. Qualquer roupa no Alecrim é mais barata.
Eu tenho um primo que é apaixonado por carrinhos de corrida de controle remoto e outro dia precisou comprar uma peça para consertar o seu brinquedo. Pesquisou na internet e desistiu. Os preços até que eram acessíveis, porém os impostos de importação os tornavam inviáveis e ainda havia a demora para receber a encomenda. Falou sobre o seu problema com um companheiro de diversão e ouviu a solução: “Tem uma loja no Alecrim que vende. Fica na rua…. (e explicou detalhadamente como chegar no endereço)”. Em um certo sábado de manhã, lá se foi ele em busca da preciosa peça. Cabe aqui destacar que esse meu primo é completamente desorientado no trânsito. Agora imaginem o desprevenido no Alecrim, em pleno sábado dia de feira e à procura de um endereço. Com muito custo conseguiu estacionar o carro em uma rua aleatória e saiu a pé em busca da loja. Não encontrou e ainda perdeu o carro. Acabou voltando para casa de Uber e depois retornou ao Alecrim com a esposa (bem mais orientada do que ele) para recuperar o carro. Depois de várias buscas e informações desencontradas conseguiram encontrá-lo. Só não encontraram a tal loja e, por conseguinte, a peça. Não faz muito tempo perguntei a quantas andava a busca pelo almejado objeto e ele me falou que tinha dado um tempo. Estava criando coragem para convencer a esposa a ir com ele num sábado pela manhã no Alecrim.
Em tempo: encontrei as bocas do fogão em uma lojinha na Av. Maria Lacerda em Nova Parnamirim, bairro onde moro, e a válvula da panela de pressão na internet. Comprei um kit com a válvula principal (peso do pino), a válvula de segurança e a borracha de silicone. Eu mesmo fiz as substituições e a minha inseparável panela ficou zerada e funcionando que é uma maravilha. Tenho certeza que essa minha atitude motivada apenas e tão somente pela preguiça de “ir bater no Alecrim” me fez perder dinheiro nessas compras. Afinal, no Alecrim é tudo mais barato.
Quanto as grelhas, não encontrei em lugar algum seja físico ou virtual. Por enquanto dei uma lixada e melhoraram um pouco de aspecto. Mas ainda carecem de substituição. Qualquer dia desses crio coragem e “vou bater no Alecrim”.
E agora “bateu” foi uma saudade danada do Alecrim. Saudade de ir à feira comprar de tudo um pouco e tomar umas lapadas de cana naquelas barracas de comidas maravilhosas preparadas em fogareiros feitos de latas de tinta ou querosene. O tira-gosto favorito era pé de frango cozido, quase desmanchando, com farofa. Uma delícia! Isso, é bom que se diga, muito antes desse manjar dos deuses tornar-se um dos símbolos trágicos do “miserê” que o foi o governo do genocida.
Definitivamente, para um preguiçoso confesso que nem que eu, não é legal morar a 32 minutos de viagem e a 12,7 km do Alecrim. Na próxima encarnação quero nascer e morar nesse bairro tão querido, rico, tradicional e pitoresco. E que tem de tudo e mais barato.