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EM PÉ OU SENTADO? EIS A QUESTÃO

De uns tempos para cá, o mundo se viu diante de uma questão existencial que divide opiniões e gera debates acalorados: afinal, os homens devem fazer xixi em pé ou sentados? O tema, que parece banal à primeira vista, ganhou as manchetes nos últimos anos e até conquistou a atenção de especialistas.

Uma rápida busca na internet revela uma infinidade de reportagens sobre o assunto. Nelas, encontramos dados de pesquisas e opiniões de médicos renomados, como Dráuzio Varella. É fácil constatar que os benefícios de fazer xixi sentado superam, e muito, os de fazê-lo em pé.

O principal desses benefícios está relacionado ao modus operandi dos homens mais velhos: o risco de queda e de molhar os pés é praticamente nenhum.

Mas não são apenas os idosos que saem ganhando. Mulheres ao redor do mundo têm aplaudido a iniciativa de seus parceiros adotarem o hábito de sentar-se. Afinal, quem nunca reclamou da “arte abstrata” que alguns homens deixam ao redor do vaso sanitário – na maioria das vezes, resultado do bizarro e anti-higiênico “balança, mas não cai”?

Por outro lado, os defensores do xixi em pé argumentam que a prática é rápida, conveniente e, acima de tudo, tradicional. “É uma questão de identidade masculina”, asseguram alguns. Mas também é uma questão cultural, já que, na maioria das sociedades ocidentais, meninos aprendem desde cedo que devem fazer xixi em pé, enquanto meninas devem fazê-lo sentadas. Isso lembra até a homofóbica e anacrônica fala da então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos no governo Bolsonaro, a advogada e pastora evangélica Damares Alves, no início de 2019: “O Brasil está em uma nova era: menino veste azul, e menina veste rosa”.

Cá de minha parte, não tenho qualquer pudor em afirmar que sou adepto do “sentado” há muitos anos – nem me lembro desde quando. Só sei que estava longe de entrar na faixa etária oficial dos “idosos”. Agora, só falta um ano.

É evidente que não é possível “fazer” sentado em qualquer lugar que der vontade. Mictórios de bares, botecos, restaurantes e estádios raiz de futebol; na beira de estrada, no meio do mato, no “pé” de uma árvore, cerca de arame farpado e de um poste – esses são territórios sagrados para o xixi em pé. Já em casa, a liberdade de escolha reina. Existe até uma regra básica: “Em casa, sento. Na rua, fico em pé. Equilíbrio perfeito e paz no mundo”. E quando se está em casa, tranquilo, sossegado e com tempo suficiente, o “rilex” é total. Dá até para ler um capítulo de um livro – “assim que nem que eu”. Atenção, porém, para não confundir (ou agregar) o número um ao número dois na hora “H”. Aí, pode ser que dê até para ler dois capítulos.

Mas e as estatísticas? Um estudo realizado na Suécia (porque lá eles estudam de tudo) mostrou que 60% dos homens preferem fazer xixi em pé, enquanto 40% adotam a posição sentada. Curiosamente, a maioria dos que sentam são homens casados. Hein?!… Não é nada, não é nada… não é nada mesmo. Ou será que é?

Essa cizânia “mictórica”, inclusive, já virou caso de política e de polícia no Velho Continente. No longínquo 2012, um político de um partido de esquerda (esses comunistas se metem em tudo!) da Suécia – sempre a Suécia! – quis obrigar os homens a se sentarem enquanto usavam os banheiros de um Conselho Municipal. A principal motivação era a higiene: garantir que ninguém precisasse pisar em poças ou resíduos de urina que caem no chão.

Desde então, o debate se espalhou por vários países europeus, principalmente na Alemanha, onde há banheiros públicos com avisos proibindo urinar em pé. Em várias residências, os anfitriões colocam placas nos banheiros pedindo que as visitas se sentem ao usar o sanitário.

Em um caso muito famoso no país, o proprietário de um imóvel na cidade de Düsseldorf processou seu inquilino pelos supostos danos que ele havia causado no chão do banheiro por urinar em pé. Mas o juiz do caso rejeitou a alegação de que o inquilino havia se comportado de maneira “inconveniente” (ou seja, mal e porcamente) e afirmou que “urinar em pé ainda é uma prática comum”.

O que podemos assimilar desse conflito da “bexiga taboca” é que a escolha entre “em pé” ou “sentado” está relacionada a uma série de fatores, como idade, higiene, comodidade, tradição, cultura e, por que não, preconceito. Afinal, fazer xixi sentado, há muito tempo é considerado um tabu entre homens conservadores e machistas, pois a prática é interpretada como “coisa de mulher”.

E é nesse ponto que surge uma insegurança que mexe com o imaginário masculino: “Urinar sentado interfere na vida sexual?”. Em uma reportagem recente do Globo.com (12/03), o Dr. Alexandre Fornari, coordenador do Departamento de Disfunções Miccionais da Sociedade Brasileira de Urologia, tranquiliza os mais ressabiados: “São duas funções masculinas distintas, que não têm nenhuma correspondência direta entre elas”.

A grande verdade é que, enquanto assistimos a essa guerra de narrativas (só encaixei essa expressão porque está na moda) entre “empesistas” e “sentadistas”, e o mundo aguarda ansioso por uma resposta definitiva, não podemos fugir de uma importante regra de convivência saudável entre casais:

“Em pé ou sentado, o importante é não errar o alvo”.

Boa sorte e… boa mira!

Escrito por Marco Túlio

Jaeci Galvão, O Divino da Fotografia Potiguar

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