Então bom Natal, e um Ano Novo também, que seja feliz quem
souber o que é o bem. E o bem é um país democrático, com leis respeitadas e a liberdade de escolher representantes. Não é mesmo? O bom velhinho, ministro Alexandre de Moraes sabe muito bem disso. Tanto que presenteou antecipadamente o brasileiro quando determinou a prisão preventiva do general da reserva Walter Braga Netto nesta véspera de Natal. Para sermos exatos, bem no dia do aniversário da ex-presidenta Dilma, vítima também de um golpe. Ou esse povo é trabalhado na ironia (amamos!) ou o roteirista dessa série Brasil é um craque.
Bom, voltando aos presentes dezembrinos, segundo a decisão de Xandão, que teve seu sigilo levantado, o ex-ministro e ex-companheiro de chapa de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022 teria tentado obter dados sigilosos dos depoimentos prestados à Polícia Federal “com a finalidade de obstruir as investigações”.
O careca mais amado do país diz ter identificado “a presença dos requisitos necessários e suficientes para a decretação da prisão do investigado” para garantir a ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal.
O general, claro, óbvio, tá na cara, nega todas as acusações de que é alvo no inquérito. A defesa do militar divulgou nota oficial após a prisão dele afirmando que “se manifestará nos autos após ter plena ciência dos fatos” e que acredita que terá “oportunidade de comprovar que não houve qualquer obstrução às investigações”.
Dias após o nosso (imagina-se) primeiro presente de natal, o ex-presidente e ex-companheiro de chapa de Braga Netto na eleição presidencial, Jair Bolsonaro, se pronunciou sobre o caso através das redes sociais, sem mencionar o nome do parceiro.
“A prisão do General. Há mais de 10 dias o ‘Inquérito’ foi concluído pela PF, indiciando 37 pessoas e encaminhado ao MP [Ministério Público]. Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?”, questionou o ex-presidente em postagem no X (antigo Twitter).
Braga Netto já havia sido indiciado, no final do mês de novembro, no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder após as eleições de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além de Braga Netto, outras 39 pessoas também foram indiciadas pela trama golpista, entre elas o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo do Messias.
O grupo foi indiciado por três crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. As penas variam de três a 12 anos de prisão.
Também faria parte do plano de golpe o monitoramento, a prisão ilegal e até uma possível execução de Alexandre de Moraes, ministro do STF e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE); Lula, à época presidente eleito; e Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente eleito.
Antes que falem em injustiça, no pedido de prisão de Braga Netto apresentado pela PF ao STF, os investigadores afirmam que ele teria atuado, “de forma reiterada e destacada”, para impedir a completa identificação dos fatos investigados.
As primeiras provas de tais ações, segundo a Polícia, teriam sido encontradas no celular do pai de Mauro Cid, Mauro César Lorena Cid. Segundo os investigadores, Braga Netto teria tentado obter os dados do acordo de delação do ex-ajudante de Bolsonaro por meio de seus familiares.
Uma perícia realizada no celular mostra que as mensagens trocadas com Braga Netto foram apagadas em 8 de agosto de 2023, três dias antes da operação “Lucas 12:2” (Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a ser conhecido).
Essa investigação apurou a tentativa de uma organização criminosa de vender joias que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu em razão do cargo de presidente da República.
A perícia também mostrou que, um dia antes da operação, Braga Netto e o pai de Mauro Cid trocaram diversas mensagens pelo WhatsApp e conversaram por telefone em uma chamada que durou pouco mais de 3 minutos.
O ministro Alexandre de Moraes afirma que, também a partir do depoimento de Mauro Cid, foi possível estabelecer novas provas sobre a atuação de Braga Netto na tentativa de golpe de Estado.
Segundo os documentos liberados pelo STF, o ex-ministro da Defesa obteve e entregou recursos para a operação Punhal Verde e Amarelo, que tinha como objetivo o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio ministro Alexandre de Moraes.
Absurdo dos absurdos.
Agora, para militares, Bolsonaro virou ‘passageiro da agonia’ após a prisão de Braga Netto.
“Passageiro da agonia” é também o nome de um filme sobre o assaltante de bancos Lúcio Flávio, bandido que monopolizou as manchetes dos jornais. Dirigido por Hector Babenco e com Reginaldo Faria na pele do ladrão, o filme chegou a ser censurado pela ditadura militar nos anos 1970.
A nenhum outro santo o brasileiro tem confiado e clamado tanto por justiça. É Deus no Céu e o senhor Alexandre de Moraes no nosso Pólo Norte congelando os golpistas de sempre, que sempre estão prontos para atacar a democracia.
Para não dizer que somos ruins, pedimos para que o Bom Velhinho Moraes não esqueça da casa daquele mau garoto, que na pandemia defendia remédios sem eficácia e imitava pessoas doentes com falta de ar, e que desdenhava dos mortos; um ladrão de jóias (comprovadamente) e que também está envolvido na trama do golpe. Que essa criança má receba um carrinho da polícia federal cheia agentes bem vestidos. Não deve ser complicado atender a 52% de brasileiros que, segundo o Datafolha, acreditam que o ex-presidente Bolsonaro tramou um golpe de Estado após perder a eleição para o presidente Lula e dos 62% que são contra a anistia dos responsáveis pelos ataques de 8/1.
Os sapatos estão na janela, Papai Moraes. E o champagne gelando!