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Por onde anda a rataria do Rio Grande do Norte?

O mês foi estouro com a notícia do planejamento do golpe de estado que a extrema direita quis dar e que, segundo inquérito da Polícia Federal, teve início ainda em 2019. Um plano para desacreditar o processo eleitoral e os órgãos responsáveis pela lisura da eleição. Que chegou até 2022 firme e forte em narrativas que colocavam em dúvida o sistema de votação brasileiro. Entre os golpistas “mais populares” dos golpistas do relatório, estão o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, também conhecido pelo codinome “Velame”, e o general Mário Fernandes, que trocaram uma série de mensagens nas quais propunham apresentar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) relatórios sabidamente falsos que atestariam uma suposta fraude nas eleições daquele ano.

Nos diálogos interceptados pela PF, no âmbito da operação Contragolpe, deflagrada na semana passada, os dois militares afirmam que Bolsonaro deveria se reunir com “a rataria” para obter informações sobre a “apresentação da Argentina”, que apresentaria provas sobre a fraude nas eleições brasileiras e “decidir o que fazer”. Fernandes está entre os presos da operação. Segundo o militar, “pessoal acima da linha da ética” não poderia participar.

Só a rataria deveria se reunir com o então presidente Bolsonaro. Entenderam? Não confundir rataria, ratazanas e gabirus golpistas  com esse simples Ratto da província do Rio Grande do Norte, por obséquio.

O plano de golpe investigado pela PF detalhava até como deveriam ocorrer os assassinatos de Lula, seu vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Outros pontos divulgados revelam a adesão de militares de alta patente à trama e que a tentativa de golpe só não foi levada adiante devido à falta de apoio dos então comandantes do Exército (general Freire Gomes) e da Aeronáutica (tenente-brigadeiro Baptista Júnior) — em contraste com o endosso recebido do comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, ao plano golpista, que teria dito em mensagens obtidas pela investigação, por exemplo, que “tanques no Arsenal” da Força estavam “prontos” para o golpe.

O relatório afirma que o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, aprovou o plano para assassinar o já eleito presidente Lula.

O relatório final das investigações, com 884 páginas, reúne indícios de como o grupo de golpistas pretendia evitar a posse de Lula como presidente em janeiro de 2023 para manter Bolsonaro no poder e convocar novas eleições.

Entenderam como foi por pouco? Mas quem poderia imaginar que dentro de uma respeitada instituição como as forças armadas existiria uma “rataria”?

E por falar em rataria, temos outras várias indagações sobre o golpe trazendo para dentro do nosso estado. Por onde andará a rataria daqui?  Sim, por aqui, o deputado general Girão costumava ir à porta do quartel na capital dar apoio aos baderneiros golpistas e vociferar contra o resultado das eleições e ministros do Supremo. Em dezembro de 2022, Girão fez um discurso, documentado em vídeo, na porta do 16º Batalhão de Infantaria Motorizado (16 RI), em Natal, prometendo aos golpistas acampados na porta de quartel um “Papai Noel Camuflado” como presente de Natal. “Eu quero dizer para vocês que essa semana é a semana que tá começando as festividades de Natal. Sim ou não? Então, todo mundo aqui eu espero que tenha sido bom filho, bom pai, bom irmão, boa esposa e aí botem o sapatinho na janela que Papai Noel vai chegar essa semana. Acreditem em Papai Noel. Pode até ser camuflado também”, disse.

Já o deputado Sargento Gonçalves igualmente apoiava a onda golpista, e ainda ficava nas redes sociais inflamando a horda de “desgraçados” – que atualmente, quando não estão na cadeia, resultado da tentativa de golpe do 8 de janeiro – estão foragidas. Em momento de concentração na Av. Paulista em evento de golpistas, o sargento disparou: “o povo clama por liberdade, e não podemos tolerar que um ministro do STF não respeite o povo brasileiro”.

O negócio era tão sério que, de acordo com a PF, foi criada inclusive uma “oração ao golpe”. O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, pedia “que todos os brasileiros, católicos e evangélicos, incluíssem em suas orações, os nomes do Ministro da Defesa e de outros dezesseis Generais 4 estrelas ‘pedindo para que Deus lhes dê a coragem de salvar o Brasil, lhes ajude a vencer a covardia e os estimule a agir com consciência histórica e não apenas como funcionários públicos de farda”. Sorte que Deus é brasileiro, dizem.

Entre orações, rezas para pneus, celulares na cabeça, ameaças, planos impressos, minutas, mentiras e ataques orquestrados, venceu o medo da prisão. O resultado do escarcéu golpista nos últimos anos rendeu também o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 36 pessoas pela PF, com a apresentação de acusações robustas.

O número ainda é pouco se levarmos em consideração o número da rataria do RN. Estes não deveriam ficar de fora, mesmo sendo uma rataria de menor porte, desdentada e acéfala, mas, que mesmo assim – e talvez por isso – consegue inflar ‘patriotas’ defensores de assassinatos de opositores. Rataria que fala em democracia, mas que sonha mesmo é com a ditadura e as gordas tetas do governo seja ele qual for. Para esse tipo de mamífero roedor, nada de anistia. Ainda estamos aqui.

Papangu na Rede – Edição 48 – novembro de 2024

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