Nos melhores visuais de Natal, da Redinha à Ponta Negra, capturando a luz nos cartões postais natalenses, é fácil encontrar aquele cara baixinho com uma lente do tamanho do mundo, desproporcional para quem ver, mas na proporção exata do talento de Flávio Rezende para a fotografia! Flávio sempre foi um fotógrafo nato, um contador de histórias visuais, embora sempre tenha feito sua preferência para o texto e ao jornalismo como profissão. Depois que ele redescobriu a fotografia, suas fotos estão cada vez melhores, mais cheia de luz e beleza.
Na verdade, foi a luz da fotografia que se incorporou a big lente de Flávio para que ele capturasse detalhes, visuais e pessoas. Ele ainda não descobriu sua linha na fotografia, por isso vai fotografando tudo que ver pela frente. Em sua lente cabe desde o morro do careca na aurora de um dia azul ao pôr do sol de Macau numa tarde quente, avermelhada pela grande bola de fogo que desce mansamente por trás das dunas de sal.
O projeto que Flávio vem realizando em retratar pessoas, criando uma nova história de vida para a pessoa retratada levantando a autoestima, é emocionante e digno de registros sem fim. Depois que Flávio faz o retrato da pessoa, ele imprime a fotografia na melhor qualidade e entrega o quadro ao fotografado. Uma maneira de resgatar a dignidade de qualquer pessoa. Flávio concentra seu olhar em pessoas conhecidas e também em gente que nunca viu, que ele encontra de alguma maneira e registra fazendo um retrato perpétuo.
Já foi dito que uma imagem vale mais do que mil palavras. Porém, é preciso que a pessoa possa ler a imagem e não somente olhar para uma fotografia. Segundo o fotógrafo e advogado goiano Jefferson Luiz Maleski, o escritor e o fotógrafo utilizam as mesmas ferramentas, mas enquanto um descreve uma imagem com mil palavras o outro descreve mil palavras com uma imagem. Flávio representa muito bem o escritor e o fotógrafo, passeando com fluidez na escrita com a caneta e a escrita de luz através de sua câmera, criando imagens com ambas formas de escrever o que vai vendo na vida.
Quando Flávio faz um clique cria fotografias que servem para pensar, para se debruçar pela força da interpretação, da leitura, da imersão sensorial e subjetiva que se habilitam a partir das imagens que se formam em frente a sua lente do tamanho do mundo. As fotografias de Flávio já são maduras, estudadas com técnicas e regras. As vezes é possível ver alguma imagem fora dos padrões convencionais de composição ou edição de imagens. Afinal, quem faz arte com fotografia tem todo o direito em quebrar todos os paradigmas conceituais num só clique.
Para entender a filosofia praticada na fotografia de Flávio Rezende tem que atentar aos ensinamentos do mestre francês Herry Cartier Bresson quando ele diz: “De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e fugidio. Nós fotógrafos, temos que enfrentar coisas que estão em contínuo transe de se esfumar; e quando já se esfumaram, não há nada neste mundo que faça com que voltem. Evidentemente, não podemos revelar e copiar uma recordação”. Então, quando você, meu caro leitor, encontrar Flávio Rezende e sua lente do tamanho do mundo fotografando em algum lugar, ele está criando arte com sua luz.
Uma modesta comparação na busca por uma identidade literária nos romances destinados ao público infanto-juvenil.
“Há maior significado profundo nos contos de fadas que me contaram na infância do que na verdade que a vida ensina.” (Schiller)
Nessa enorme guirlanda da literatura infanto-juvenil, alguns aspectos, usados pelos escritores para contar uma história, podem ser observados durante a narrativa de contos e romances. A psicologia literária infantil (ou juvenil) impregnadas nas entrelinhas dos romances, trás a tona algumas sutilezas que vem sendo utilizadas por autores de literatura infantil desde Charles Perrault, como observa Ligia Cademartori no seu livro “O que é Literatura Infantil”. De acordo com a autora, algumas questões apontam para a natureza dessa literatura como, por exemplo, a preocupação com o didático e a relação com o popular.
Fazendo uma ligeira leitura comparada entre os romances “A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga e “As Aventuras de Tom Sawyer” de Mark Twain, pode ser percebido algumas coincidências didáticas, onde a Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo literário, é utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade e interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental insinuar que a literatura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambigüidade e pluralidade.
Até bem pouco tempo, em nosso século, a Literatura Infantil era considerada como um gênero secundário, e vista pelo adulto como algo pueril (nivelada ao brinquedo) ou útil (forma de entretenimento). A valorização da Literatura Infantil, como formadora de consciência dentro da vida cultural das sociedades, é bem recente. Para investir na relação entre a interpretação do texto literário e a realidade, não há melhor sugestão do que obras infantis que abordem questões de nosso tempo e problemas universais, inerentes ao ser humano.
As narrativas procuram separar o real e o imaginário. As ações narradas referem-se a uma situação que não é vista e que só é concebida no imaginário. Segundo o crítico Jorge Larrosa, o “saber” da infância é algo muito mais radical: “nada mais ou nada menos do que sua absoluta heterogeneidade no diz respeito a nós e ao nosso mundo, sua absoluta diferença”, diz o autor quando a criança faz de conta que está usando o lado simbólico da linguagem, em ensaio no texto “O enigma da infância ou o que vai do impossível ao verdadeiro”.
“A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga, é um dos mais premiados e populares livros infanto-juvenis brasileiros. Neste livro a autora conta a inteligente e divertida história de Raquel, uma menina que presta muita atenção a tudo que se passa a seu redor. Raquel é a filha caçula da família, é a única criança. Seus irmãos, com uma diferença de dez anos, não lhe davam ouvidos, porque achavam que criança não sabe coisa alguma. Por se sentir muito solitária e incompreendida, ela começa a escrever para seus amigos. Amigos imaginários. Raquel, desde cedo, tinha três vontades enormes: vontade de crescer, vontade de ser garoto e vontade de ser escritora.
Um dia, ganhou uma bolsa amarela, que veio no pacote da tia Brunilda. A partir daí, a bolsa passou a ser o esconderijo ideal para suas invenções e vontades. Tudo cabia lá dentro. A bolsa amarela acaba sendo a casa de dois galos, um guarda-chuva-mulher, um alfinete de segurança e muitos pensamentos e histórias inventadas pela narradora.
O universo narrativo de Lygia Bojunga se revela a partir da infância, atingindo temas adultos com as relações de poder e repressão a liberdade de expressão no contexto social. Dando argumentos ao leitor (criança) para se identificar com as situações que dizem respeito as personagens infantis, criando uma identificação com o pequeno leitor. De acordo com Ligia Cademartori, o romance “A Bolsa Amarela” permite a adesão ao mundo ficcional pela condução do enredo e pelo desfecho, permitindo a cartase do seu leitor, propiciando uma identificação, uma descarga emocional.
No livro “A Bolsa Amarela”, encontramos objetos lúdicos, um perfeito equilíbrio entre a liberdade do imaginário e as restrições do real. Uma menina que entra em conflito consigo mesma e com a família ao reprimir três grandes vontades que ela esconde numa bolsa amarela – a vontade de crescer, a de ser garoto e a de se tornar escritora. A partir dessa revelação – por si mesma uma contestação à estrutura familiar tradicional em cujo meio “criança não tem vontade” – essa menina sensível e imaginativa nos conta o seu dia-a-dia, juntando o mundo real da família ao mundo criado por sua imaginação fértil e povoado de amigos secretos e fantasias. Ao mesmo tempo, que se sucedem episódios reais e fantásticos, uma aventura espiritual se processa, e a menina segue rumo à sua afirmação como pessoa.
No livro de Mark Twain, “As Aventuras de Tom Sawyer”, Tom é um rapaz do campo, muito inquieto, que mora na casa da tia Polly, com o irmão Sid e a prima Mary. É com o seu melhor amigo, Huckleberry Finn, que Tom partilha as suas maiores aventuras. Os dois perseguem javalis, brincam como piratas no Rio Mississipi, e estão constantemente aprontando novas desventuras. No meio de tanta agitação, ainda têm tempo para namoros. Conhecem o perigoso Joe, o Índio, e procuram um tesouro perdido. Ao contrário das histórias tradicionais, Tom não é um menino modelo, não obedece a ninguém, não quer estudar e mente sempre para evitar castigos ou sair de situações inesperadas. O herói infantil do romance é um menino normal, inclinado a seguir suas emoções em busca do prazer da aventura do que ver a realidade. Com essa consciência, Tom não sofre nenhum castigo e não “paga” por fazer o que quer.
Entre os dois romances, encontramos traços de alegoria nas entrelinhas dos textos, onde o crítico G. Brougére destaca o objeto lúdico do brinquedo que é manipulado livremente por uma criança. A Bolsa Amarela representa o desprendimento às regras impostas pelos adultos, um brinquedo (objeto infantil) onde Raquel manipula suas vontades dentro da bolsa de acordo com as experiências vivenciadas. “O brinquedo é, assim, um fornecedor de representações manipuláveis, de imagens com volume está ai a grande originalidade e especificidade do brinquedo que é trazer a terceira dimensão para o mundo da representação”, escreveu o critico no ensaio “O Brinquedo, Objeto Extremo”.
As situações vividas por Tom Sawyer, usando a esperteza para se safar de situações inusitadas ou barganhar quando está em condições de desvantagem, mesmo que precise enganar aos outros, são manifestações em um processo de identificação com os personagens, a criança passa a viver o jogo ficcional projetando-se na trama da narrativa. Em suas aventuras, Tom utiliza sua astúcia como um brinquedo capaz de manipular, concebendo e produzindo o “brinquedo” e o transformando em objeto de representação, num mundo imaginário ou relativamente real com caça ao tesouro, travessias no Rio Mississipi, viagens ao interior de uma gruta e até a visão de um assassinato.
Ambos os textos trazem informações mostrando que o brinquedo não é qualquer imagem. De acordo com Gilles Brougére, a imagem do brinquedo deve ser manipulada no interior da atividade lúdica (a história) da criança e corresponder à lógica da brincadeira e da expectativa daquele que orienta, chamando a atenção para uma analise mais profunda da relação entre imagem e função do objeto. Uma história traz consigo inúmeras possibilidades de aprendizagem. Entre elas estão os valores apontados no texto, os quais poderão ser objeto de diálogo com as crianças, possibilitando a troca de opiniões e o desenvolvimento de sua capacidade de expressão. O estabelecimento de relações entre os comportamentos dos personagens da história e os comportamentos das próprias crianças em nossa sociedade possibilita o desenvolvimento dos múltiplos aspectos educativos da literatura infantil.
Dessa forma, os romances “A Bolsa Amarela” e “As Aventuras de Tom Sawyer”, através das identificações que os leitores estabelecem com seus personagens, desempenham um importante papel para a saúde mental das crianças, permitindo-lhes elaborar seus sentimentos mais profundos e contraditórios. É bem verdade que esse tipo de identificação, através do jogo simbólico, está presente em muitas das brincadeiras espontâneas infantis, como brincar de casinha, médico, e tantas outras brincadeiras que qualquer criança faz, sem que seja necessária a intervenção de um adulto. Mas, nas narrativas essas fantasias adquirem uma dimensão mais ampla e profunda.
Este é o poder mágico dos romances na Literatura Infantil – o poder de fazer conhecer e compreender melhor a nós mesmos – e esta a razão de sua permanência entre nós através dos séculos, mesmo frente a um mundo cheio de brinquedos e maravilhas tecnológicas. A mensagem de sucesso e segurança que os livros carregam os fazem não apenas sempre presentes e fascinantes, mas sobretudo únicos e insubstituíveis em sua importância para o imaginário infantil.
Bibliografia
BROUGÉRE, G. “O Brinquedo, objeto extremo”. In: Brinquedo e Cultura. 3ª ed. Revisão técnica e versão brasileira adaptada por Gisela Wajskop. São Paulo: Caortez, 2000.
CADEMARTORI, L. “O que é literatura infantil”. 6ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
LARROSA, J. “O enigma da infância ou o que vai do impossível ao verdadeiro”. In: LARROSA, J & LARA, N. P. de (Orgs) “Imagem do Outro”. Tradução de Celso Márcio Teixeira. Petrópolis: Vozes, 1998.
BOJUNGA, L. “A Bolsa Amarela”. 33ª ed. Rio De Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2004.
TWAIN, M. “As Aventuras de Tom Sawyer”. Tradução Antonio Carlos Marques. São Paulo: Editora Martin Claret, 2000.
Com a quantidade de motoristas por aplicativos nas ruas, há uma verdadeira proliferação daqueles que não tem nenhuma noção de como dirigir um carro na cidade
Nas ruas de Natal é muito comum se deparar com motoristas fazendo barbeiragens entre os carros, colocando todos em perigo. Muitos deles demonstrando pouca aplicabilidade, pelas atitudes, das Leis de Trânsitos. Com a facilidade de fazer um cadastro on line, a pandemia do Covid-19 fez surgir uma multidão de motoristas por aplicativos em busca de trabalho para um ganho rápido, já que não conseguem uma renda constante em outras profissões. Junto com essa multidão de desempregados que aderiram aos aplicativos, chegam também os motoristas cangueiros.
Vários profissionais também perderam seus empregos e migraram para os aplicativos que oferecem corridas de carro a preços módicos. São engenheiros, advogados, jornalistas, professores, também pedreiros, pintores de paredes, faxineiros, vendedores ambulantes e todo tipo de pessoas que perderam empregos, sejam profissionais com diplomas universitários ou aqueles que não concluíram qualificação profissional.
Sem a menor noção de como se comportar no trânsito, observamos que boa parte desses motoristas estão nas ruas e fazem o que querem porque têm a certeza que não há fiscalização e nem muito menos multas para cangueiros de ocasião. Outro dia, em plena Avenida Rio Branco, centro histórico de Natal, um carro por aplicativo parou em frente ao Sebo Vermelho, ligou o pisca alerta – o famoso “foda-se” – como se o pisca-alerta fosse uma habeas corpus que liga e o motorista pode fazer o que bem entender no meio da rua – na cena, o motorista desce do carro para fazer não sei o quê.
É mais comum do que se imagina alguns motoristas entrarem em curvas sem ligar a sinalização de lateralidade e quando você vai ver quem está dirigindo, nota-se um celular com o GPS ao lado da direção, deduzindo logo que é um motorista por aplicativo. Eles estão em todos os lugares. Nos shoppings há um espaço determinado para o embarque e desembarque de motoristas por aplicativos, mas eles com seus “desvios” fazem questão de congestionar o trânsito quando param no meio da rua, atrapalhando o fluxo dos carros, para o passageiro realizar o embarque ou desembarque do veículo. Muitos deles nem se preocupam em ligar o pisca-alerta e param na maior cara-de-pau, sem a menor preocupação com os demais motoristas.
Na correria da vida, em busca de sustentabilidade financeira outro grupo de mercado para aplicativos se apresenta nas ruas, são os motoboys com seus delivers que para muita gente também formam outras fontes de renda. Como os motoqueiros ganham por entregas, a pressa se tornou o maior inimigo do trânsito, principalmente em momentos de pique, na hora do almoço ou final da tarde, perto da hora do jantar. Na ânsia de ganhar a corrida e ficar pronto para o próximo delivery, o motoqueiro corre entre carros, cruza sinal fechado, faz manobras perigosas na frente dos carros e no cruzamento imprudente na diagonal da via, sobe calçadas, pilota na contramão e faz de tudo para ser rápido. Muitos desses motoqueiros provavelmente “candidatos a defuntos” por causa da prática constante de tantas imprudências em que trafegam loucamente no trânsito das cidades.
O cenário é crítico e levanta uma questão: estão os candidatos ao trabalho por aplicativo em sua seleção para exercer tal atividade, participando de um processo cuidadoso e rígido para obter a “licença” para dirigir carro próprio ou de aluguel? O Departamento Nacional de Trânsito (Detran) tem feito de maneira periódica a avaliação desse profissional do trânsito? Na certa, o que se observa nas ruas ainda insuficiente, afinal ele vai transportar vidas, e por essa razão deve haver mais exigência em relação ao conhecimento das Leis de trânsito e sua aplicação, como também, uma proposta educativa para averiguar as condições psicológicas dos motoristas e as condições do próprio veículo, além de fiscalização constantemente.
Baixinha, cintura fina, pernas grossas, bunda grande, tetas pequenas, longos cabelos cacheados, olhos verdes, lábios grossos e língua ferina, Zefa do Potengy é uma mulher singular e com 36 anos diz gostar de fazer “poesia com sacanagem”. Segundo ela, é uma forma de expressar sentimentos e desejos incontidos, que ela faz questão de soltar nos versos que espalha pelo bairro em que ela mora em Natal, o Conjunto Potengi, Zona Norte da cidade.
Funcionária pública, ativista social, vegetariana e mãe solteira, Maria Josefa da Silva estudou sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mas não chegou a terminar o curso porque engravidou e teve que ir cuidar da criança sozinha sob os protestos da família que queria que ela procurasse o pai do rebento para ajudar na criação. “Dou conta da minha vida sozinha”, ressalta a poeta que diz que o “status” de solteira é a melhor coisa dessa vida.
O gosto pela poesia começou na UFRN, nas rodinhas com amigos e nas farras até altas horas quando a galera recitava versos pela noite sem fim, farras regadas com álcool “e outras coisitas más que servem para instigar a criatividade, além de dar muito tesão”, declara a poeta, dizendo que sempre amanhecia com sua turma na beira da praia de Ponta Negra, aos pés do Morro do Careca.
Fã dos poetas fesceninos Moyses Sesyon e Celso da Silveira, do Assú, Zefa escreve suas poesias sem compromisso, mas afirma que está juntando seus versos para publicar um livro no futuro. Para mostrar o que escreve, a poeta faz algumas performances poéticas pelo Beco da Lama, nos corredores do Setor 02 da UFRN ou nos barres de Ponta Negra. “Se eu tiver oportunidade de participar de saraus ou mesmo no final das farras, sempre declamo meus versos”, afirmou.
No seu dia-a-dia, Zefa prefere ficar no anonimato e não gosta de fotografias nem tem redes sociais, apesar dos amigos insistirem em divulgar seus poemas, espalhando-os pelas teias da grande rede. Com uma personalidade forte e a alma alegre, ela promete continuar nas sombras da fama, porém quer continua espalhando seus versos pelos espartilhos nas noites de boemia.
Para aqueles bravos, com espírito aventureiro, sabedor que o litoral não é a única porção de beleza em terras potiguares, a região do Seridó oferece um roteiro alternativo, cheio de histórias e lendas de um sertão multicor.
Adentrando a BR 226, o verde, florado pelas últimas chuvas, enche os olhos e faz esquecer a temível seca que assola o interior do Estado de tempos em tempos. Em Currais Novos, o sítio Totoró pode deslumbrar olhares ávidos pela história do seridoense e do município. De acordo com o historiador Joabel Rodrigues de Souza, o Coronel Cripriano Lopes Galvão migrou com sua família para fixar moradia e fundou a fazenda de gados Totoró – a qual era chamado “Currais Velhos” – após a guerra dos Bárbaros (1683 – 1713), quando houve a dizimação da população indígena dos Cariris.
O sítio Totoró é terra de lendas e folclore. História sobre o homem do campo e suas riquezas culturais são fáceis de se ouvir. Lugar misterioso e encantador. Dizem o mais antigos que o sítio ainda guarda tesouros arqueológicos na Lagoa do Santo, onde foram achados fósseis de mamíferos que habitaram a região na Era Pleistocênica (de 7 a 18 milhões de anos atrás). Na gruta da Pedra Furada, escrituras rupestres de tradição Nordeste, com aproximadamente dez mil anos, podem ser observadas. Com sua formação geológica semelhante a um caju, a Pedra do Caju é uma atração inconfundível da região.
Uma parada na Mina Brejuí, distante três quilômetros de Currais Novos, o visitante pode conhecer detalhes das riquezas minerais exploradas na região. Com a descoberta da potencialidade mineralógica identificada no município, com destaque para a Scheelita, na década de 40, quando se registrou o crescimento econômico local e regional, Currais Novos foi considerada como a cidade mais promissora e elitista do Estado. A produção da Scheelita chegou a representar 90% da produção nacional até meados dos anos 80.
Atualmente, a Mina Brejuí abre suas portas para receber o turismo de conhecimento, explorando a geografia da região e a história de suas riquezas minerais. Para recepcionar as pessoas, há sempre um guia entusiasmado, mostrando a vida de Tomaz Salustino, através de um Memorial sobre o visionário que criou a mina. Túneis, galerias, usinas e grutas são visitados, explorando o contato com a mineração até o subsolo. A Mina Brejuí ainda oferece um “banho de energização”, nas Dunas de Minérios, encravada em plena mata da caatinga seridoense. A apresentação da tradição folclórica de um grupo de Pastoril, no pátio da Capela da mina, completa o passeio em Currais Novos.
De sertão a dentro, o visitante se depara com a bela cidade de Caicó, terra de Sant’ana, a capital do Seridó. Lugar marcado pela fé, onde floresceu um povoado sob a prece de um vaqueiro. Conta a “Lenda do Vaqueiro” que havia um Boi Mandigueiro, muito bravo, nas terras de Manoel de Souza Forte. Certo dia, um vaqueiro penetrando nessas terras, viu-se, de repente, atacado pelo touro encantado. O vaqueiro fez o voto à Nossa Senhora de Sant’ana de construir ali uma capela. O ano era seco e o único vestígio d’água existente era a de um poço do rio Seridó. O vaqueiro renovou o voto a Sant’ana para o poço não secar antes da construção da capela. A Matriz de Sant’ana foi erguida e o poço nunca mais secou. “Se valendo da soberana, a virgem santa, foi no Poço de Sant’ana que nasceu meu Cació”, declamou em versos o poeta e artista plástico Custódio Medeiros, justificando a lenda da origem de Caicó.
Caicó já recebeu vários nomes como: Ribeira do Seridó, Vila do Príncipe e Queicuó. O topônimo teve seu primeiro registro documental em 1731, pelo capitão Inácio Gomes da Câmara, no sítio chamado Riacho do Seridó. De acordo com o historiador Câmara Cascudo, a origem do nome Caicó se encontra entre os índios e, dentre as várias versões existentes, a mais aceitável é a que defende sua gênese a partir dos termos Acauã e Cuó, que servem à designação de acidentes geográficos (rio e serra, respectivamente) da região. Acauã pertence ao idioma tupi, enquanto Cuó, à língua dos Tapuias e Tarairiús. Esses indígenas identificavam ainda o rio pelo nome de “quei”, o que sugere que Caicó seja uma corruptela de “Queicuó”, o mesmo que rio do Cuó.
Passeando pelas ruas da cidade, o visitante descobre vários casarios, com sua arquitetura do século XVIII ainda preservada e bem cuidada pelos moradores. Em um desses sobrados, está instalado o Museu do Seridó, onde o turista tem a oportunidade de conhecer as relíquias dos antepassados caicoenses, bem como sua cultura e tradições.
Localizado na periferia da cidade, o Castelo de Engady foi construído pelo pároco da cidade, monsenhor Antenor Salvino, em 1974. Para deslumbrar o visitante – o qual faz um passeio através do tempo e da história – o Engady tem sua arquitetura em estilo mouro-medieval, abrigando detalhes de castelos europeus do século XV.
Numa manhã de sábado em Caicó, o turista poderá fazer contato com o povo do lugar para sentir a gentileza e a hospitalidade das pessoas. Na tradicional feira livre ou no antigo Mercado Público Municipal; na Praça da Liberdade ou no Bar de Ferreirinha (conhecido reduto etílico, político e cultural da cidade), o povo caicoense está sempre celebrando sua fé e sua cultura sertaneja.
A região do Seridó já chamava atenção desde o início do século XX, quando era visitado por celebridades nacionais. Viajando pelo Rio Grande do Norte em 1927, o escritor e folclorista paulista Mário de Andrade, admirado com a arquitetura colonial de Jardim do Seridó, escreveu em seu livro Aprendiz de Turista: “Às 9 cortamos Jardim de Seridó, uma cidadezinha de Tarsila, toda colorida limpa e reta. Catita por demais, lembrando Araraquara por isso. Cidade pra inglês ver. Mas não tem dúvida que é um dos momentos de cor mais lindos que já tive neste aprendizado pra turista”.
A próxima parada é Carnaúba dos Dantas, lugar mágico, onde o Monte do Galo é a máxima expressão religiosa, recebendo gente em romarias, cujas bênçãos de Nossa Senhora das Vitórias, enche de fé o sertanejo. De cima do Monte do Galo, o visitante tem uma vista deslumbrante da cidade e do castelo Di Bivar, com sua arquitetura medieval francesa, estilo arredondado e suas torres nos lembram as torres de um jogo de xadrez.
De Carnaúba dos Dantas, o visitante segue para Acari, que ostenta o título de ser a cidade mais limpa do Brasil. Acari é nome de um peixe de escamas ásperas, com sua carne branca e saborosa, acostumado com as águas tranqüilas do histórico rio Acauã. Da boca do povo, nasceu o nome do povoado a partir da pesca fácil e permanente dos acaris.
Nos arredores da cidade, inúmeras paisagens proporcionam a prática do ecoturismo. O Açude Gargalheiras é um marco na história e na vida de Acari, com seus 40 milhões de metros cúbicos d’água. Está situado na bacia do rio Acauã, a cinco quilômetros da cidade, oferecendo um espetáculo natural de rara beleza rústica, entre rochas e serras. Em volta do açude, trilhas ecológicas surgem a cada passo, revelando inscrições rupestres, de tradição Nordeste e datada de dez mil anos, como na Pedra do Artur.
De volta à Natal, as lembranças das cores do sertão do Seridó purificam mentes e emocionam nossos olhos. Quem visita o Seridó, leva um pouco desse jeito sertanejo entranhado n’alma, garantindo seu retorno em busca de purificação.
A praia da Redinha tem uma vasta história ocorrida em suas areias finas, onde o tempo generoso guarda todas as lendas de uma praia habitada por pescadores com suas casas de palha e seus humildes quintais. A primeira referência existente sobre a Redinha, figura no texto de sesmaria, concedida ao vigário do Rio Grande, Gaspar Gonçalves Rocha, por João Rodrigues Colaço, em 23 de junho de 1603.
Nesse recanto de mar aberto, os portugueses daquela época já conheciam o potencial pesqueiro da praia, que era o antigo porto de pescaria dos capitães-mores, os primeiros colonizadores do lugar.
Segundo o historiador Olavo de Medeiros Filho, existe um mapa intitulado “Perspectiva da Fortaleza dos Reis Magos”, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal, localizado pelo historiador pernambucano Antônio Gonçalves de Melo, referindo-se a um “Porto de Pescaria”, com a presença de “rede”, no mesmo local onde hoje é a Praia da Redinha.
O topônimo da praia, de acordo com Luís da Câmara Cascudo, faz referência a uma vila em Pombal, na beira baixa do rio Tejo, em Portugal. “Distrito vila, a margem esquerda do município de Natal. Redinha-de-fora é um local arruado. A Redinha-de-dentro fica na foz do Rio Doce, desaguadouro da lagoa de Estremoz”, diz o mestre Cascudo, no livro Nomes da Terra.
A igreja de pedras pretas, construída pelos veranistas, em 1954, foi erguida de costas para o mar – sem má fé, mas imperdoável para os pescadores. E é por isso que os pescadores continuam frequentando a capela de Nossa Senhora dos Navegantes, bem mais antiga, construída em 1922 – igrejinha menor, “branca, como uma capelinha panda ao vento”, para usar uma expressão da música “Praieira”, do poeta Othoniel Menezes.
Na Festa de Nossa Senhora dos Navegantes há duas procissões, com duas imagens: a da capelinha antiga é a imagem da Procissão Marítima, pelas águas do rio Potengi, entre a Boca da Barra e os confins da Base Naval; e a imagem da igreja preta vai por terra, levada pelos veranistas ao longo das ruas e becos da vila.
O toque de fé e lirismo é o encontro das duas imagens, sob o aplauso fervoroso do povo simples da Redinha, que canta o hino da Santa arrastando a esperança de que, não tendo faltado à sua procissão, será feliz o ano inteiro. Uma velha certeza, mistura de lendas e crenças populares.
De pedras do mar, também foi construído o Redinha Clube, em 1937, para o deleite festivo dos veranistas e pescadores em épocas de carnaval e durante a Festa do Caju. Durante décadas, o Redinha Clube teve uma importância relevante para a sociedade que frequentava aquele recanto do Potengi.
Quando visitava Natal, em 1929, o folclorista e escritor paulista Mario de Andrade, de passagem pela Redinha, encantado, disse no seu livro Aprendiz de Turista: “Oculta nessa monotonia de banda do mar, fica a Redinha, praia de verão, bairro em que ninguém sonha pela preguiça do pensamento que atravessa o rio com esse sol.”
Rasgando a estrada RN 093, depois da cidade de Tangará, a Serra da Tapuia logo aparece majestosa, guardando as casas miúdas onde uma população cuida da agricultura para viver. Essas terras de beira de serra, banhadas pelas águas do Riacho São Pedro, afluente do Rio Potengi, pertenciam ao Capitão Amaro de Barros Lima, um homem rude que desbravou o lugar.
A cidade de Sítio Novo, distante 120 quilômetros de Natal, fica bem próxima a várias serras, inclusive a de São Pedro, da Pitombeira, da Dona Inês. A cordilheira de serras deixa ainda mais bela à paisagem agresteira. O açude da cidade está espraiado em meio à caatinga, completando um cenário único.
O acesso a Serra da Tapuia permite a descida e subida de carros. É necessário ter cuidado porque a elevação é íngreme. No trajeto até o castelo, o visitante pode observar várias residências. As pessoas do lugar vivem, essencialmente, do plantio de fruteiras. A partir do povoado da Serra da Tapuia se tem o acesso para ao Castelo de Zé dos Montes.
Nessas terras, nasceu uma povoação de agricultores tendo à frente o fundador do povoado de Grossos, o senhor Francisco Ferreira Lima, popularmente conhecido como “Seu Chicó”, um homeme do povo. Por iniciativa de dele, a povoação ganhou o nome de “Sítio Novo”. Com o tempo, ergueu-se a capela em homenagem a São Sebastião.
Durante o mês de janeiro, a cidade se arruma para receber os convidados que vão celebrar o santo padroeiro com procissão, festas mundanas e manifestações populares. A economia local é baseada na agricultura, no plantio de frutas e na produção de mel de abelha.
É na beira do grande açude que banha a Serra da Tapuia, onde abriga figuras rupestres, datadas de 10 mil anos. A grande montanha já acolheu a nação dos índios Tapuias que deixaram suas marcas nas pedras das cavernas onde se abrigavam do frio e se protegiam de inimigos e animais ferozes. Além das figuras rupestres, há o Castelo de Zé dos Montes que também impressiona os visitantes.
O castelo fantástico de Zé do Monte na Serra da Tapuia
Há muito tempo atrás, o menino Zé apanhava lenha próximo ao Serrote dos Caboclos, em Pedro Avelino, quando apareceu a bela imagem de mulher vestida em uma roupa de tecido azulado. Era a Virgem Maria. Ela indicava na rocha estranhos desenhos que só poderiam ser decifrados pelo garoto de 11 anos. A mensagem deixada por ela foi de que a “Deus dá-se o nome de rocha e toda a sabedoria estava no monte”.
A história surreal está longe de ser reconhecida pela Igreja Católica. Porém, ela contada pelo menino que viveu a fantástica experiência. Hoje, aos 70 anos, chama-se José Antônio Barreto. Na década de 60, passou a pregar no interior do Nordeste o poder das rochas e ganhou o apelido de Zé dos Montes. Até hoje, ele prefere ser chamado pelo apelido.
Sua história de realismo fantástico concretizou-se através do castelo da Serra da Tapuia, em Sítio Novo, chamando atenção por suas inúmeras torres brancas contrastando com o cinza dos serrotes. Uma passada pelos locais escuros e estreitos pode fazer o visitante se perder nos labirintos dentro do Castelo caso não tenha guia.
Desafiando os arquitetos urbanos, ele teve a idéia de construir um castelo em meio as rochas. A capela, localizada no centro da construção, é a área de convergência de três grandes pedras. Numa delas, Zé dos Montes mandou esculpir um altar para homenagear Nossa Senhora. Não há energia elétrica, nem água encanada no castelo.
Os fotógrafos ambulantes surgiram nas primeiras décadas do século XX, trabalhando em praças e parques. Eram quase sempre procurados para registrarem momentos especiais, familiares ou para tirar retratos para documentos do tipo 3×4.
Depois de um longo período sem ter eventos e com a abertura do comércio, mesmo com as restrições necessárias por causa de pandemia, é fácil ver alguns serviços voltando a atividade, inclusive o Fotógrafo Ambulante, um profissional que “quase” se perdeu no tempo com a advento dos celulares com câmeras fotográficas de última geração. Mas, eles ainda estão na ativa usando a criatividade para sobreviver num mundo audiovisual avançado onde o aplicativo Instagram exige rapidez nas fotos instantâneas para se obter milhares de curtidas do seguidos e usuários.
Trabalhando nas ruas, praças, parques e jardins públicos das cidades brasileiras ao longo de todo o século XX, o fotógrafo Lambe-Lambe (ambulante) pode ser considerado um importante agente responsável pela democratização e pela popularização do retrato fotográfico entre as classes menos privilegiadas de nossa sociedade. “0 retratismo de caráter mais popular teve no lambe-lambe o seu maior aliado”, Observou o escritor Nicolau Sevcenko no livro “Histórias da Vida Privada no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras – 1988.
Os fotógrafos ambulantes são fáceis de ser encontrados nas festas mais populares como na Festado Boi, que terminou no último domingo (21 de novembro de 2021) ou em festa de padroeiros dos municípios em todo o Nordeste. No evento “Natal em Natal” é comum se deparar com Seu Jonas, um fotógrafo ambulante que está atuando aos pés da grande árvore de natal, em Mirassol. Todas as noites, Seu Jonas leva seu cavalinho de madeira para fazer a alegria da criançada que quer ser retratada por apenas R$ 10,00 uma foto impressa na hora. Ele ainda não se importa se os pais da criança tiram fotos com o celular. “As fotos do celular não têm a mesma qualidade da minha câmera”, revela.
Seu Jonas atua todos os dias na árvore de natal de Mirassol, em Natal
Na Festa do Boi também era muito fácil encontrar Seu Marcos, um senhor na casa dos seus 50 anos, pernambucano de Recife, que viaja em busca de festas agropecuárias, de padroeiros e vaqueiradas, carregando um pônei e um boi em miniatura vivos. Ele explica que deixou o cavalo de madeira de lado porque os animais vivos dão mais realismo a fotografia, além de chamar a atenção da garotada. Ele cobrava R$ 20,00 por cada fotografia impressa na hora. Uma fila de pais se formava para fotografar seus filhos, enquanto a companheira de Seu Marcos imprimia a próxima fotografia que era entregue ao cliente em menos de 5 minutos.
Fotógrafo pernambucano Seu Marcos
Pelas ondas da Internet, há um documentário muito bom mostrando o cotidiano de alguns fotógrafos ambulantes cearenses. “Câmera Viajante” é um documentário dirigido por Joe Pimentel com duração de 20 minutos que apresenta a essência da fotografia ambulante cearense. Acompanhando 5 fotógrafos ambulantes, Belo, Chico Alagoano, Dedé da Neusa, Isaías, Júlio Santos o documentário retrata o cotidiano da profissão, o olhar por trás das lentes e as tentativas de registrar as emoções nos cliques. Passando pelo processo de venda e atendimento de clientes no mercado fotográfico de eventos, Câmera Viajante traz um filme mais técnico do que artístico
Registrando os acontecimentos da vida cotidiana nos espaços públicos das cidades, a documentação fotográfica produzida pelo fotógrafo ambulante, é uma opção mais barata em relação aos caros e sofisticados estúdios fotográficos. O fotógrafo ambulante é um profissional que presta os seus serviços para a comunidade, constituindo-se como um importante testemunha da interação social de diferentes grupos no espaço público, atuando socialmente como um elo de ligação entre as diferentes gerações. O fotógrafo ambulante pode ser definido como um guardião da memória e cronista visual de uma determinada comunidade.
Três documentários brasileiros que abordam a riqueza no universo da fotografia. Procure na Internet ou no seu streaming preferido e prepare a pipoca:
1. O Sal da Terra (2014 – 110 min): Embora seja uma produção francesa, o documentário acompanha a trajetória do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado durante a expedição do projeto Genesis que retrata regiões e civilizações pouco exploradas em todo o planeta. O longa-metragem foi indicado ao Oscar de melhor documentário no ano de 2015.
2. Iluminados (2007 – 100 min): A produção retrata o olhar sobre a fotografia de cinema, pelas lentes de alguns dos mais importantes profissionais do ramo no Brasil. Os entrevistados são desafiados a filmar a mesma cena, e as escolhas individuais de movimento de câmera, iluminação e equipamento revelam estilos e fotografias bastante pessoais.
3. Câmera Viajante (2007 – 20 min): O documentário aborda o trabalho de fotógrafos ambulantes que vivem no sertão do Ceará. A narrativa se constrói a partir da visão de cinco retratistas populares, apresentando surpreendentes diferenças culturais e perspectivas em relação a fotografia.
Mossoró enfrentou o bando de Lampião e venceu. Oh terra de cabras-machos! Naquele 13 de junho, do ano de 27, Virgulino Ferreira invadiu a cidade e foi combatido por bravos resistentes, liderados pelo prefeito Rodoldo Fernandes e pelo padre Motta, os verdadeiros heróis da saga mossoroense.
Localizada a 267 km de Natal e a 220 km de Fortaleza, Mossoró é a segunda maior cidade do estado do Rio Grande do Norte. Por sua diversidade e riqueza, Mossoró também é conhecida como a “capital do oeste potiguar”, a “terra do sol”, do “petróleo e do sal”.
Apesar de localizar-se no sertão, a cidade possui fácil acesso às praias, sendo Tibau a praia mais próxima com menos de 40 km de distância, seguida pelas deslumbrantes praias de Areia Branca como Upanema (48 Km), Ponta do Mel (53 Km) ou Morro Pintado (50 km).
Os mossoroenses sentem orgulho de suas tradições, de um passado ilustrado de fatos históricos e de suas festas juninas, formando um tripé de atrações, que ao longo dos últimos anos vêm atraindo muita gente para a cidade. A realização de grandes eventos populares vem criando uma identidade cultural que tem chamado a atenção do turista, aqueles que querem conhecer de pertos nossas raízes sertanejas.
Mossoró também é considerada a capital cultural do estado, possuindo diversos teatros e uma maratona de eventos, como o Mossoró Cidade Junina (uma das maiores festividades juninas do Brasil), e os espetáculos teatrais a céu aberto como o Chuva de Bala no País de Mossoró, Auto da Liberdade e o Auto de Santa Luzia.
Mossoró tem também um dos maiores shoppings do estado, o Partage Shopping Mossoró (o primeiro do município), que conta com cerca de 140 lojas, praça de alimentação e cinco salas de cinema. O município também conta com hotéis com águas termais e um executivo da rede de hotéis francesa Ibis.
Corredor cultural
A grande Avenida Rio Branco é o Corredor Cultural mossoroense, onde o castelo de Branca de Neve e o mundo encantado de Walt Disney fazem parte do complexo Parque da Criança, espaço reservado para a criançada se divertir.
Casas casadas, coladinhas, bem pintadinhas, que parecem ter surgidas do século 18, formam a praça de convivência, onde barzinhos aconchegantes são “points” para a juventude mossoroense e turistas se encontrem numa atmosfera de olhares e paqueras.
Até hoje, o feito da resistência é contado com orgulho pelos mossoroenses. Tanto que a cidade construiu um espaço próprio para homenagear aqueles heróis. Trata-se do Memorial da Resistência de Mossoró. A ideia é permitir que as pessoas façam uma viagem no tempo, para conhecer a Mossoró de 1927 através de grandes painéis.
A moderna arquitetura do Teatro Municipal Dix-Huit Rosado, em contraste com a Estação das Artes Eliseu Ventania, a antiga estação ferroviária que se transformou em polo cultural, completam o Corredor Cultural de Mossoró, que oferece excelentes momentos de lazer e cultura para quem faz uma visita à Avenida Rio Branco.
Mossoró Cidade Junina
O evento “Mossoró Cidade Junina” ocorre durante todo o mês de junho. Atualmente, já é o maior festejo junino do Rio Grande do Norte e um dos maiores do Nordeste, disputando o título “Capital do Forró” com Campina Grande e Caruaru. Shows de artistas locais e bandas nacionais fazem parte da programação dessa festa.
Quando o espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró” termina, o adro da igreja de São Vicente se esvazia com as pessoas indo à Estação das Artes Eliseu Ventania, sede do evento “Mossoró Cidade Junina”, que na madrugada de um sábado qualquer pode reunir cerca de 30 mil pessoas — público este oriundo de várias partes do Estado e do Brasil.
O projeto “Mossoró Cidade Junina” não deve nada a outras festas juninas de peso, se consolidando como o terceiro maior são-joão do Nordeste. Antes mesmo de sair de casa, a população já fazia a sua parte na festa, acendendo fogueiras e estourando traques pela cidade, toda enfeitada para os festejos juninos.
O “Mossoró Cidade Junina” não é apenas um evento fechado para quem gosta de forró e ritmos nordestinos. Em mais de 10 anos, o evento se consolidou como um espaço eclético, um lugar reservado para todos os estilos da musicalidade brasileira e internacional.
Com a proposta de realizar um evento pluralizado, onde todas as tribos se sintam atraídas, fez com que o Mossoró Cidade Junina se transformasse numa grande salada musical para agradar os mais variados públicos com forró, MPB, pop-rock, regue, samba, música eletrônica, entre outros balanços.
Chuva de Bala no País de Mossoró
Mossoró já conquistou tradição em apresentar grandes espetáculos ao ar livre. Durante todo o ano são apresentados três grandes eventos ao ar livre: O Chuva de Bala no País de Mossoró (junho), o Auto da Liberdade (setembro) e o Oratório de Santa Luzia (dezembro).
Contando a história da batalha dos resistentes mossoroenses contra Lampião e seu bando de cangaceiros, no dia 13 de junho de 1927, o espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró” acontece em frente à Capela de São Vicente, local onde houve a batalha real, com apresentações sempre no mesmo horário e aberto ao público.
O espetáculo reúne mais de 50 atores em cena, todos locais. A direção da peça, em 2021, foi assinada pelo mossoroense Marcos Leonardo, que também já participou como ator, figurinista e cenógrafo. O texto é do escritor e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Tarcísio Gurgel.
Pensado inicialmente em ser apresentado apenas em 2002, durante as comemorações dos 75 anos do ataque, a montagem teatral acabou se incorporando oficialmente aos festejos da cidade. Hoje, a encenação integra o “Mossoró Cidade Junina”, programação com vários dias de evento que inclui concertos de sanfoneiros, concursos de quadrilhas, feiras de artesanato, violeiros, entre outras atrações locais, regionais e nacionais.
Outras atrações em Mossoró
A “Cidadela” é uma cidade cenográfica montada ao lado da Capela de São Vicente. Todo ano, há uma programação especial para as crianças, que tem como objetivo resgatar brinquedos e brincadeiras populares como pescaria, gato no pote, pau de sebo, entre outras.
O evento atrai grupos musicais e atrações itinerantes. O concurso de quadrilhas juninas será outra grande atração. A disputa ocorre numa arena de 1,2 mil metros quadrados, com arquibancadas para 2 mil pessoas. No total, 20 mil integrantes, de 300 quadrilhas, vão apresentar-se ao longo da festa, vestindo coloridas roupas típicas.
E mais a pitoresca Fórmula Jegue — corrida com o animal símbolo do sertão nordestino que acontece no “jegódromo”, pertinho da área da Feira do Bode, além de um passeio de burro-táxi pela cidade, completando as atrações do Mossoró Cidade Junina.
Estes versos do cantor e compositor Pedrinho Mendes, na música “Linda Baby”, convidam o mundo para conhecer Natal, uma cidade linda por natureza. A capital do Rio Grande do Norte é essencial para que o Brasil seja um país abençoado por Deus e bonito por natureza, como canta Jorge Benjor, em “País Tropical”.
Todos que conhecem Natal se encantam. A tranquilidade, a hospitalidade do povo e as belezas naturais são características marcantes, além da rica culinária regional e da pulsante cultura popular. Uma das principais estrelas da costa nordestina, Natal espera o turista com um dos mais belos litorais de todo o Brasil.
Com praias de diferentes características ao longo da sua orla, a cidade oferece lazer e emoção para todos os tipos de visitantes. Ponta Negra é a praia mais movimentada, aconchegante e deslumbrante. É também o principal “point” da noite na cidade. Em Ponta Negra está o Morro do Careca, seu principal cartão postal, dominando a bela enseada da praia. No verão, Ponta Negra simplesmente ferve com turistas do mundo inteiro.
Seguindo rumo do Litoral Sul de Natal, o visitante vai trilhar a Rota do Sol, passando por Pirangi, Búzios, Tabatinga, Barreta e Pipa. Uma opção para o turista é pernoitar em Pipa e descobrir porque a praia é uma das mais badaladas do Nordeste, com suas noites movimentadas e boa estrutura para hospedagem, além de suas belezas naturais.
Atravessando a foz do Rio Potengi em busca do Litoral Norte, através da Ponte Newton Navarro, fica a praia da Redinha, sempre cortejada por intelectuais, boêmios e artistas, os quais viam em sua paisagem balneária, entre mangues de rio e mar aberto, um lugar mágico para inspiração e descanso.
O velho Mercado Público da Redinha conserva uma atmosfera de vilarejo, onde se pode degustar a deliciosa “ginga com tapioca”, tradicional iguaria da culinária natalense. Depois, é seguir para os passeios de buggy nas dunas de Jenipabu, já invadindo o município de Extremoz, na Grande Natal.
A orla marítima central de Natal reúne quatro praias: Areia Preta, Praia dos Artistas, Praia do Meio e Praia do Forte, que podem ser apreciadas do alto da Ladeira do Sol. Na praia do Forte está localizada a Fortaleza dos Reis Magos, principal monumento histórico-cultural da cidade, que parece preservar a mansidão do mar, tornando a enseada ideal para o banho.
A Via Costeira é um extenso corredor de praias desertas e grandes hotéis, sempre prontos para receber os turistas de todas as partes do mundo. Do outro lado da Via Costeira, fica o Parque das Dunas com 1.172 hectares de mata nativa, sendo parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Brasileira e exercendo uma grande importância para a qualidade de vida da população da cidade. É um ótimo local para trilhas e a realização de cooper.
A cidade do Natal
Conforme o historiador Luís da Câmara Cascudo, Natal nunca foi arrabalde, povoado ou vila, já nasceu cidade, no dia do nascimento de Cristo, em 25 de dezembro de 1599. O município de Natal está localizado no litoral do Rio Grande do Norte, região banhada pelo Oceano Atlântico, com área urbana de 170 quilômetros quadrados, onde residem cerca de 800 mil pessoas.
Natal tem várias denominações como: “Trampolim da Vitória”, porque daqui partiram os aviões americanos para combater os alemães na Europa, durante a II Guerra Mundial; “Capital Espacial do Brasil”, depois da instalação da Barreira do Inferno, uma base de lançamento de foguetes; “A Noiva do Sol”, pelo clima tropical o ano inteiro, com temperatura média de 26 graus; “Cidade dos Reis Magos”, por causa da chegada das três estátuas vinda de Portugal e inauguração da Fortaleza, no final do século XVI.
Fortaleza dos Reis Magos
Guardando imponente a foz do Rio Potengi, a Fortaleza dos Reis Magos é o mais importante monumento histórico de Natal. Mais antigo que a própria cidade, começou a ser construído em 6 de janeiro de 1598, dia dos Santos Reis. Não passava então de uma típica instalação militar do século XVI, uma frágil garantia de segurança para os portugueses, em constante embate contra franceses e índios.
A Fortaleza dos Reis Magos constitui-se no marco principal do entrelaçamento das culturas européia e nativa, onde se desenvolveu toda a dinâmica social, em seus múltiplos e variados aspectos, dando origem a colonização da Capitania do Rio Grande, servindo, ainda, de referência e apoio às fundações dos Estados do Ceará, Maranhão, Pará e à conquista do Norte do Brasil.
Sua forma atual, lembrando uma estrela de cinco pontas, surgiu somente em 1614, num projeto do arquiteto militar Francisco Frias de Mesquita. Concluído em 1628, o novo forte ficou pouco tempo nas mãos dos portugueses. Em 1633, foi conquistado pelos holandeses da Companhia das Índias Ocidentais, passando a chamar-se Castelo de Keulen.
O domínio holandês na região durou duas décadas e, durante este período, o Forte dos Reis Magos serviu não apenas como instalação de defesa, mas também de prisão para brasileiros e portugueses e casa de hóspedes para personalidades, como o príncipe Maurício de Nassau.
Hoje, além de ser a principal atração turística de Natal, a Fortaleza abriga a mais importante peça da História do Brasil: o Marco de Touros, primeiro a dar posse da terra brasileira aos portugueses, destacando-se como importante pólo no universo turístico-cultural do Estado do Rio Grande do Norte.
Ponta Negra, magia aos pés do Morro do Careca
O mar azul turquesa, calmo, de águas mornas e límpidas, vai reverenciando a praia até os pés do Morro do Careca, como se as derradeiras ondas da maré cheia teimassem em banhar mansamente a imponente duna calva em meio à vegetação praieira.
A bela baía da praia de Ponta Negra sempre encantou pessoas privilegiadas, se deleitando durante horas a fio com a natureza exuberante deste recanto de brasilidade, no sul do Atlântico.
Antigos moradores da Vila de Ponta Negra ainda semeiam as tradições folclóricas, dançando o Congo de Calçolas em dias de festa e tecendo rendas em bilros de almofadas, nas varandas das casas humildes do lugar.
Movidos pela resistência, ainda há dezenas de pescadores que jogam suas redes nos primeiros raios de sol, na esperança de pescar um peixe-serra, uma tainha ou algumas sardinhas. A urbanização deu um charme sofisticado à orla marítima, valorizando os verdes coqueirais que dão as boas-vindas ao novo visitante.
Ponta Negra não é apenas uma linda praia, é um bairro em crescimento, onde revela uma multiplicidade cultural muito intensa, oferecendo tudo que uma cidade precisa ter sem sair da praia: shoppings, cinema, restaurantes, barzinhos, boates, bancos, escolas, academias, locadoras, etc.
A grande variedade da gastronomia de Ponta Negra é um mundo a parte. À beira-mar, fica os restaurantes oferecendo um cardápio a base de frutos do mar. Diante do mar azul de Ponta Negra tudo é festa, o tempo insiste em não querer correr e os dias de sol ficam muito mais lindos.
Memorial Câmara Cascudo
Para o turista conhecer a alma natalense é necessário visitar o “Memorial Câmara Cascudo” e ver de perto a importância do Mestre para a cultura local. Muito do que havia de lendas e tradições brasileiras não se perderam porque Câmara Cascudo, como nacionalista que era, percebeu que havia um tesouro popular no País que ninguém se dava ao trabalho de pesquisar e catalogar.
Decifrando a personalidade cascudiana, o jornalista Vicente Serejo escreveu: “Com mais de uma centena de títulos entre livros, traduções, opúsculos e artigos publicados no Brasil e em vários países, viveu a vida vendo e ouvindo, lendo e escrevendo, sem nunca pensar em deixar sua terra. Por isso não aceitou o fardo da Academia Brasileira de Letras e nem o convite de Juscelino para ser reitor da Universidade de Brasília. Viveu e morreu na sua aldeia. Genial e humilde. Pobre e feliz”.
O Memorial Câmara Cascudo tem como objetivo preservar e divulgar a vida e a obra de Luís da Câmara Cascudo, abordando diversos aspectos. O principal destaque é a biblioteca particular de Câmara Cascudo, com cerca de 10 mil volumes de diversos assuntos como folclore, religião, História, biografias e romances.
A biblioteca é considerada “obra rara” por possuir livros do início do século passado e livros em diversos idiomas. Grande parte dos livros tem anotações de próprio punho de Cascudo e dedicatórias dos autores. Além dos livros que compõem a biblioteca, encontram-se ainda as correspondências de Cascudo com diversos intelectuais como Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Carlos Drummond, Gilberto Freyre, entre outros.
O Memorial abriga ainda a exposição permanente “O Mestre Câmara Cascudo” em um total de cinco salas que abordam aspectos estudados pelo Mestre em sua vasta obra literária. O prédio, em estilo neoclássico, é uma construção do século XVIII, erguida para servir de sede ao Real Erário. Foi reconstruído em 1875 para ser à Tesouraria da Fazenda. Já serviu também para uso do Quartel General do Exército durante a ditadura militar.