A mão invisível (e golpista) do ‘mercado’
Todo dia somos bombardeados com notícias sobre o tal mercado ado’. Que o mercado está tenso, que o mercado não concorda com a política do governo, que o mercado está agitado, que o mercado está isso e aquilo, assim e assado. Sabemos que o mercado é instável e volúvel, que se assanha fácil e que é cheio de vontades e chiliques. Mas o que diabos é esse tal de mercado sobre o qual quase nada sabemos?
Na verdade, o ‘mercado’ que tanto ocupa as manchetes da grande mídia nada mais é que a soma dos interesses especulativos de um pequeno número de pessoas e de corporações. Uma turma que lida com quantias imensas de dinheiro, uma grana alta sempre ‘invisível’, representada por juros, ações da bolsa e dólar. Um dinheiro que jamais aparece, jamais traduzido em cédulas ou operações bancárias triviais, e que jamais aparecerá para nós, pobres mortais, Zés Ninguéns que estamos “aqui embaixo onde as leis são diferentes”, como diz a canção da banda Biquini Cavadão.
Para esse micro universo de gente rica (investidores e especuladores) o povão não existe, muito menos seus interesses. Preço da cesta básica? Aumento de aluguel? Transporte público para chegar no trabalho? Comprar ventilador para aguentar o calor? Material escolar dos filhos? Nada disso importa para o pessoal da Faria Lima e dos oásis onde mora o dinheiro. Ne verdade sempre foi assim, o Brasil derna seu descobrimento/invasão em 1500 vive um sistema de castas não muito diferente do da Índia.
A questão é que na sua obsessão por juros, dólar e lucro, esse ‘mercado’ decidiu bombardear o Governo Lula no momento em que ele tenta passar no Congresso (conservador e pró-mercado, lembremos) uma Reforma Tributária que justamente alivia o bolso dos mais pobres. Mas mexe com a especulção financeira. Desta forma, sem pudor esse deus-mercado, invisível e abstrato, com seus braços políticos e midiáticos, declarou guerra a Lula e Haddad, fazendo como o bolsonarismo, sonhando com um golpe que tire o PT do poder.
Li em uma entrevista com a professora e economista Juliane Furno, no UOL News, frases que me chamaram a atenção.
“O famoso terrorismo fiscal é você atuar sobre aqueles capitais especulativos de curto prazo, apreciando e depreciando a moeda conforme falas que agradam, desagradam ou mais os operadores do mercado. Mas isso é muito circunstancial, onde o mercado quer sinalizar para o Presidente da República e para a sociedade que ele tem formas de fazer pressão”, afirmou. Ou seja, o ‘mercado’ assume essa pressão pública. Torcendo e agindo para que os juros continuem altos e que o dólar suba com a intenção única de desgastar o Governo”.
Ela não para: “Acho que o mercado tem agido propositadamente contra o governo Lula, sim. Embora seja algo mais fluido do que uma instituição monolítica, com uma orientação muito clara, o mercado tem uma posição com relação aos seus ganhos financeiros, os detentores da riqueza financeira têm opções políticas, tanto é que costumam se orientar por uma candidatura ou outra durante o eleitoral do período eleitoral e eles procuram domesticar quem senta na cadeira presidencial, seja de esquerda ou direita”.
Domesticado, digamos, o Governo priorizaria os interesses do capital em detrimento às classes trabalhadoras. Justamente uma bandeira da esquerda, a atenção para os segmentos historicamente menos favorecidos. Lula fala em picanha e cerveja para todos os brasileiros. O ‘mercado’ quer manter seus privilégios especulativos. Flertando com golpe, atualmente. Um horror.