Sobre

Café coado, por favor!

Por Cefas Carvalho

Tarde dessas, parei, entre uma demanda e outra, em uma cafeteria de shopping de bairro para olhar mensagens de zap e fazer agenda. Pedi à moça um café coado, no que ela respondeu imediatamente que era impossível, só trabalhavam com café expresso ou de cápsula. Migrei para o bistrô ao lado, e a situação era a mesma. Desisti do café e pedi um suco de graviola.

Na verdade, nada de novo no front. Já me habituei a não encontrar em Natal o bom e velho café coado em pano ou mesmo em papel tipo Melitta. Pelo menos não em cafeterias ou similares. Na verdade estes lugares parecem ter se especializado em cafés e guloseimas extremamente sofisticadas (ou seja, caras) mas sem dar opção para o cliente, tanto pelo sabor como pelo preço.

Sim, porque da mesma forma que acho estranho pagar quase vinte reais por um quiche e um café médio, também entendo que os produtos são de qualidade e isso também não vai me levar à falência. Mas quase sempre é a questão mesma do sabor. Prefiro mil vezes café coado, feito no pano e mexido com colher, daqueles que o aroma sobe e se espalha pela casa, do que os cafés expressos extraídos na máquina, por mais que o grão seja moído na hora e etcetera a tal.

Mas não foi sempre assim. Já tive minha fase, digamos, gourmet, de garimpar restaurantes com pratos sofisticados devidamente harmonizados com vinho e de caçar cafeterias com cafés “chiques” estudos de misturas exóticas. A maturidade me levou a retornar para o simples. Mais é menos. Hoje me dedico à gastronomia de pratos tradicionais e fartos, principalmente em restaurantes tradicionais e antigos. Sabe aquele Parmeggiana de carne gigante que dá para um time de futsal ou um polvo com arroz que parece saído de “Vinte mil léguas submarinas? É sobre isso.

Não lembro exatamente quando se deu cada processo. Recordo apenas que após desbastar cafés com grãos da Guiana torrados na hora e misturados com pistache (custando cada xícara o preço de um Carbonara numa cantina de São Paulo) eu chegava em casa e sentia vontade de passar um café. Aos poucos fui percebendo que o sabor que eu queria era esse, o café simples feito à moda antiga, com cheiro de mãe e de casa de avó.

Esse cheiro e esse sabor, a gente encontra na simplicidade e no básico. O melhor café que tomei nos últimos anos foi em Angicos, num restaurante de beira de estrada, numa viagem recente entre Natal e Mossoró. Café na garrafa térmica preta com tampa de rosca, mas passado havia poucos minutos. Fumegante e grosso, como deve ser, servido naquelas xícaras laranjas estilo duralex. Aposto uma cocada de côco que é o melhor café de todos.

Escrito por Cefas Carvalho

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