Sobre

Sobre o torcedor de Olimpíadas (ou do patriotismo sazonal)

Já gostei mais de Jogos Olímpicos. Quando criança e adolescente era daqueles que varava madrugadas assistindo partidas e competições e anotava resultados e quadro de medalhas em cadernos. O tempo tratou de arrefecer essa paixão de maneira que há tempos assisto en passant as Olimpíadas.

O que não me impede de me emocionar com alegrias ou choros de atletas. Ou de torcer para atletas brasileiros como as meninas da ginástica olímpica ou a carismática e vitoriosa Rayssa Leal. Ou de me encantar com resultados de atletas de outros países, que esporte não é, ou não deveria ser, um bastião inconmdicioonal de um patriotismo até artificial.

Aliás, em tempos de redes sociais, isso é até algo que me aborrece. O torcedor “pacheco” que torce tanto para os atletas do Brasil que deseja a queda, tombo, fracasso do adversário. Não contem comigo para isso. Quero torcer para os atletas brasileiros que admiro sem “destorcer” para seus rivais.

Sem falar que o torcedor de Olimpíadas é aquele que gosta mais de brasileiro do pódio e quadro de medalhas do que de esporte. Tem brasileiro no badminton? Vamos torcer, que venha a medalha! Mas o que é badminton mesmo? Eita, vai Brasil no handebol. Mas quais são as regras mesmo?

O que nos leva a outro raciocínio: o mesmo breasileiro que em tempos olímpicos curte de tudo, nos restantes três anos e onze meses que separam uma Olimpíada de outra mostra uma indiferença quase total por esportes. Quantos pais, que torcem ardentemente nos jogos olímpicos, acompanham filhos nos treinos de judô e nado sincronizado? Quantos colégios e pais de alunos incentivam atletismo e natação?

Vimos a fadinha Rayssa ganhar mais uma medalha no skate. Mas percebi, entre os amigos que celebraram a menina, gente que sempre considerou skate como “coisa de vagabundo e maconheiro” e que jamais comprariam um skate para os filhos. Na internet até lembraram que em 1988, o prefeito Jânio Quadros proibiu sua prática em São Paulo. No ano seguinte, Luiza Erundina derrubou o veto.

Por falar em prefeitos, quantos deles (que na hora das medalhas celebram os atletas e querem recebê-los de volta para casa) investem em complexos poliesportivos, quadras de basquete e vôlei, formação de atletas?

Essa cultura bem brasileira da torcida de ocasião e falta de investimento real faz com que nosso esporte olímpico viva de gente aguerrida, talentos lutadores e espasmos, enquanto países territorialmente menores e com menos população que o Brasil ficam no topo do quadro de medalhas. Mas o brasileiro médio não quer projeto esportivo a longo prazo, quer só torcer e gritar “vai Brasil-il-il” mesmo.

Escrito por Cefas Carvalho

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