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Trair e Coçar

É só Começar

Há quem tente empurrar o golpe militar como um episódio romântico, que defendia o brasileiro do “comunismo”. Cof, cof, cof… Período imundo. Há quem olhe para os figurões que caminharam lado a lado com os golpistas com nojo. Tratá-los com desdém é o de menos. Quem não lembra do embate em uma CPI entre José Agripino, então senador da República, e a ex-presidenta Dilma Roussef? “(…) Me tocou muito uma entrevista que a senhora disse que mentia muito para sobreviver no regime de exceção. O que quero dizer com isso tudo é que tenho medo de voltarmos ao regime de exceção. Ao responder ao senador, a então ministra Dilma disse se orgulhar de ter mentido na época da ditadura. “Qualquer comparação entre ditadura e democracia, só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira. Eu tinha 19 anos e fiquei três anos na cadeia e qualquer pessoa que ousar dizer a verdade a seus torturadores pode colocar a vida de seus pares em risco (…) Eu me orgulho de ter mentido. Mentir na tortura não é fácil”.

O currículo de José Agripino Maia é extenso, muitos feitos e fatos históricos em sua longa carreira política. Ex-prefeito biônico do Natal – indicado pela Arena, partido que apoiava o regime militar instalado no país em abril de 1964 – ex-governador, ex-senador, presidente estadual do União Brasil, Agripino trabalha com um olho na carne e o outro no peixe nas eleições municipais deste ano. Em nível nacional, o seu partido conta com Ministros no governo Lula da Silva, mas é um partido que consegue ser antipetista. Ele, historicamente contra Lula, Dilma e Cia, faz oposição ferrenha a tudo que venha do lado de lá. Coisas que o eleitor custa a entender, mas é o que a classe política afirma ser o que realmente dá “sustentação à governabilidade”.

Consciente, Agripino disputou vaga na câmara federal nas últimas eleições pois tinha quase certeza que não teria a mínima chance de uma cadeira no senado novamente — depois do grande surto eleitoral brasileiro de 2018, que acabou elegendo uma horda de facínoras e defensores da barbárie.

O eterno “Galego do Alecrim” só não contava perder até para federal. Suas estratégias para retornar a Brasília, na mais “fácil”, esqueceu de combinar com o eleitor para acatar a montagem, em 2022, de uma nominata com nomes fortes, entre eles dois deputados federais, Benes Leocádio e Carla Dickson. Outra aposta era o nome de Paulinho Freire, então presidente da Câmara de Natal. Benes e Paulinho se deram bem. Uma pá de cal nas pretensões do amigo de Aécio Neves, que resultou em um período no ostracismo.

Todavia, nosso intrépido Jajá de uma hora pra outra voltou à cena política, pelo menos aqui no RN, fortíssimo e como presidente do União Brasil – que surgiu da fusão entre o Democratas (DEM) e o Partido Social Liberal (PSL). Dizem até que Zé tem aquilo virado pra lua tamanha sua agilidade para contornar situação tão vergonhosa de um quase final de carreira consolidado.

Bem, agora, dentro dos planos de expansão do partido no Rio Grande do Norte – e não é segredo pra ninguém – Agripino sonha em ter uma base sólida com nomes fortes. Em Mossoró, o nome forte era o de Rosalba Ciarlini, aquela que Adora Mossoró, e que teve seu reinado escanteado quando da tentativa de reeleição para governadora. Se sentiu traída quando foi preterida pelo partido do Galego à época, o DEM. Até poucos meses Agripino era só elogios a quem derrotou a Rosa em Mossoró, o também filiado ao União Brasil, Allyson Bezerra. “Allyson veio para ficar na política do estado. Ele é político e é bom administrator. Allyson sente a dor do dinheiro público e gasta bem, arranja bem, projeta bem. Então, ele é um quadro de qualidade e que eu não nenhuma dúvida que qualifica os quadros do União Brasil e coloca o União no rol dos pretendentes ao Governo do estado no futuro que a gente possa enxergar”, disse, acrescentando: “o estado é o futuro de Allyson”.

O povo mossoroense já estava até achando estranho Zé do Alecrim  não sair de Mossoró nos últimos meses, vivia lá, nos cóses do prefeito. Só que de uma hora para outra algo saiu do eixo, pois o ex-prefeito biônico da capital mudou o discurso e vem insinuando que poderá pegar na mão e caminhar com o senador Styvenson Valentim, do Podemos, caso ele seja candidato a governador. “Styvenson é um homem de bem. Que tem coragem, virtudes e defeitos. Mas é um homem de bem”, afirmou olho no olho com o senador em evento recente.

Aí, já sabem: fedeu. Todo mundo sabe que todo mundo sabe que há tempos a cordialidade entre o menino pobrezinho, de Mossoró, e o ex-prendedor de bêbados não é nada bom. Allyson inclusive se limita a chamar o ex-prendedor de bêbados de “mentiroso, arrogante e mal-informado”. O tiroteio é de lado a lado, e como o senador não tem tanto argumento quando não está com um bafômetro em mãos, vocifera aos quatro cantos cobrando o dinheiro de emendas parlamentares.

Por enquanto, os dois estão focados nas eleições deste ano. Allyson trabalhando para a reeleição em Mossoró e Styvenson apoiando candidatos pelo RN – achando que é o dono do dinheiro das emendas. E José, como na música, é cobrado: quem será o candidato? Ele olha com aquele olhar de cabra morta, de songamonga, sabendo – despudoradamente – que para trair e coçar é só começar.

Papangu na Rede – Edição 44 – Julho de 2024

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