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Os “Catecismos” de Carlos Zéfiro

Carlos Zéfiro ou Alcides de Aguiar Caminha (Rio de Janeiro, RJ – 1921 – 1992), produziu seus quadrinhos pornográficos, durante as décadas de 1950 e 1960. Em seus “Catecismos”, como ficaram popularmente conhecidas suas histórias desenhadas a pincel, bico de pena e impressas em branco e preto, Zéfiro narrava situações que sempre culminavam em práticas sexuais explícitas.

Com títulos curtos, geralmente nomes de mulheres e histórias bem conduzidas com começo, meio e fim e produzidas em um período de pouca liberdade sexual, essas revistinhas influenciaram toda uma geração de jovens brasileiros. Com no máximo 32 páginas e formato de bolso (1/4 de ofício), as revistinhas de Carlos Zéfiro chegavam a alcançar uma tiragem de 5.000 exemplares. Distribuídas pessoalmente e de forma sigilosa pelo próprio editor, elas eram vendidas de maneira dissimulada pelos jornaleiros, geralmente ocultadas em outra publicação. O autor contabilizou sua produção em 862 histórias.

Em novembro de 1991, um artigo de autoria do jornalista Juca Kfouri, a partir de uma entrevista com o autor dos “Catecismos” e publicado na revista Playboy, revelou a verdadeira identidade de Carlos Zéfiro. Em sua entrevista Caminha conta que resolveu se revelar ao público, porque um sujeito em busca de fama, surgiu na imprensa querendo assumir a identidade de Carlos Zéfiro. No ano seguinte a essa revelação, aos 70 anos, morreu Alcides Caminha/Carlos Zéfiro.

Não existe uma explicação definitiva para o fato dessas publicações terem recebido o apelido de “Catecismos de Sacanagem”. Nem o próprio autor tinha essa resposta. Alguns sugerem que vem do fato de serem produzidas no tamanho certo para serem colocadas dentro dos “catecismos”, já que a maioria dos garotos as compravam quando saíam da missa.

Alcides Caminha, foi funcionário público da Divisão de Imigração do Ministério do Trabalho e ficou também conhecido como o autor dos sambas A Flor e o Espinho, Capital do Samba e Notícia, que compôs em parceria com Nelson Cavaquinho, nos anos 1950.

Desenhista amador, Zéfiro copiava os seus personagens a partir de revistas eróticas estrangeiras ou fotonovelas. As situações e posições sexuais eram limitadas, mas não impediam o sucesso de suas publicações. Os personagens masculinos não variavam muito na forma ou na personalidade e seguiam sempre o mesmo padrão de comportamento: solteiros ou sozinhos, bonitos, bem-dotados, vaidosos, irresistíveis e sempre vitoriosos em suas investidas sexuais. Já o universo feminino, era mais variado: há virgens, viúvas, desquitadas, solteiras, casadas, ninfomaníacas, etc. Porém, um traço em comum as unia: a disposição imediata para o sexo.

No início dos anos 1970, com a chegada ao mercado brasileiro das revistas eróticas coloridas suecas e dinamarquesas, as revistinhas de sacanagem vão perdendo prestígio, até desaparecer. O próprio Zéfiro parou de produzi-las.

É inegável que não há mais espaço no mercado literário atual, para alocar os folhetins eróticos de Carlos Zéfiro. Mas existe todo um contexto histórico em torno de sua arte, que a faz ser estudada até hoje pelos profissionais da área.

Após sua morte, ele teve um trabalho publicado como homenagem póstuma na capa e encarte do CD Barulhinho Bom (1996), de Marisa Monte. E em janeiro de 2011, os trabalhos de Zéfiro foram expostos ao lado de outros quadrinhos eróticos do resto do mundo, no Museu do Sexo em Nova York.

Escrito por Marco Túlio

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