Últimas histórias

  • FAMÍLIAS MUSICAIS

    Caetano Veloso e Gilberto Gil formam duas das maiores famílias musicais do Brasil. Caetano, além de sua irmã Maria Bethânia de sua sobrinha Belô, tem reunido os filhos, realizado shows, gravado discos. Gilberto Gil tem reunido até netos e o talento musical de ambas as famílias é reconhecido.

    Há muitas outras famílias musicais em todo o mundo, filhos que herdam o talento doa pais e, se não dão continuidade a seu trabalho, enveredam por outros gêneros e até trabalhos diferentes de cantar e compor como o de produzir, se tornando famosos. A família Caymmi é uma grande referência e tem até uma Família Lima que adotou este nome artístico.

    O filho do norte-rio-grandense Leno, Diogo Strauss, atualmente morando na França é de tudo um pouco, cantor, compositor, músico, tendo produzido o primeiro disco de Alice Caymmi e um show de Gal Costa. Muitos, no entanto, não deixam herdeiros por não terem tido filhos ou  porque estes não se encontraram com a vida artística.

    Penso então em um movimento nascido nos Estados Unidos, WILDFREE, que proíbe a presença de crianças em festas, casamentos, restaurantes e, em última instância, decidem por não terem filhos.

    Tenho alguns amigos cujos filhos já fizeram esta opção e simplesmente não consigo entender. Tenho duas filhas, quatro netos e, embora em algum momento eles sejam motivo de preocupação, geram muito mais prazer e alegria.

    Pinço então as palavras das Escrituras Sagradas: Crescei e multiplicai-vos e penso como o mundo será diferente e provavelmente até pior se esta tendência realmente tomar corpo e se tornar majoritária. Quantos não apenas artistas, mas cientistas, humanistas não perderemos pela decisão de não procriar!

    Vemos a cada dia desaparecer um artista e perguntamos quem vai substituí-los.

    Mas, como diz o ditado, num ônibus, fora o cobrador e o motorista tudo é passageiro e esperemos que isto não passe de um breve modismo e que venham os rebentos para a substituição dos que se forame que a indústria da música nunca pare.

    O filho de Jorge Vecillo, Vini, está lançando seu primeiro disco e Orlando Morais fazendo um show com a presença de três filha. E se não tivessem tido?

  • A DEMOLIÇÃO DE UM TEMPLO

    Encontro-me de pé, no corredor de um shopping, os olhos voltados para cima mas a mente mergulhada no fundo de um poço. Contemplo entristecido o que era um estabelecimento comercial mas poderia ser considerado um templo, as ruínas da Livraria Saraiva, no Midway Mall, em Natal.

    Obedecendo a uma perversa lógica que se espalha pelo país, fecha-se mais uma livraria e ficamos mais pobres e mais burros. O livro está sumindo das prateleiras, substituído por apetrechos eletrônicos e as livrarias estão sendo substituídas por bares, pet shops, farmácias e academias de ginástica. Tornou-se pública a luta da Livraria Cultura com relação a um processo de falência. Outras, menores, já se foram.

    Na parede descascada, uma breve carta de despedida dando conta que a livraria existiu durante doze anos, respirando e fazendo respirar cultura como ponto de encontro de intelectuais, escritores e amantes de livros além de local de vendas, além de livros, de cds, dvds e outras coisas relacionadas à cultura.

    É um novo tempo que estamos vivendo mas não é um tempo melhor como se andou predizendo. Defronte, no Teatro Riachuelo o anúncio de um show de Calcinha Preta.

    As livrarias físicas estão desaparecendo não apenas porque as pessoas estão lendo menos mas também por não terem condições de competir com as poderosas lojas virtuais como a Amazon, pagando impostos, colaboradores, manutenção, aluguel. Mas onde se reunirão os que gostam de conversar sobre livros? Nos bancos das praças? O livro físico também está sendo substituído pelo kindle mas não é a mesma coisa. O amante do livro gosta de tocar, apalpar, cheirar…

    Foi eleito um governo com o apoio maciço da cultura mas faltam ações que realmente ajudem a reverter situações como essa em vez de “maquiagem” para beneficiar os “preferidos”

    O que abrirá onde existia a Livraria Saraiva? Fico imaginando. Será que porei meus pés naqueles ladrilhos por onde tantas vezes caminhei? Dificilmente.

    O terceiro piso do Midway Mall é caracterizado por lojas mais sofisticadas, onde se incluem os cinemas e o teatro, o espaço é grande e provavelmente será ocupado por um novo restaurante ou uma sofisticada loja de confecções.

    Vamos esperar, lamentando.

    A modernidade criou novos profissionais e novos tipos de atividades enquanto sepultava outros.

    De repente me bateu uma saudade das lojas de discos.

  • E SE VÃO…

    Nas asas do vento estamos indo, porque ir é a única certeza, porque já nascemos com o não e a perda.

    Minha primeira perda foi com três dias, quando o vento levou Cosme, meu irmão gêmeo e, hoje ao completar sete décadas de vida, se foram os pais, se foram parentes, amigos diletos e, lógico, muitos ídolos se foram, o que é praticamente natural pois a maioria deles tem mais idade e, no campo da música há muita loucura, vida louca vida.

    O ano de 2023 tem sido triste, especialmente no campo do rock pois perdemos nosso rei e nossa rainha, Erasmo Carlos e Rita Lee e, certamente, outras perdas ainda virão para ficarmos ainda mais tristes e lamentarmos nas páginas virtuais da PAPANGU.

    Já escrevi sobre Erasmo e que me perdoe Santa Rita se Sampa, não poderia esquecê-la e passar em branco pela sua vasta e bem sucedida obra autoral, que pode ser classificada como o mais legítimo rock nacional. Rita Lee deixou também uma inusitada história e longe, muito longe, ela deixou uma obra diferente e insuperada nos primórdios do rock nacional que se iniciou com os irmãos Baptista, o trabalho com Os Mutantes.

    Pra começo de conversa, Rita Lee não se enquadra no padrão do artista brasileiro. Filha de um americano e uma italiana, magra como um palito de picolé, branca leitosa, com um talento enorme para polêmicas politicamente incorretas até consigo própria, ela parecia, quando começou a carreira, muito mais uma colegial bem comportada que um fenômeno de gozação e ironia como viria a se tornar.

    Nasceu para a música, cresceu com a música, viveu com a música, casou com a música, pariu música e músicos deixando uma prole que também vive de música. Ninguém tem uma história pelo menos parecida.

    Sua carreira musical se divide em duas fases distintas, antes e depois de Roberto de Carvalho, que a ascendeu às paradas de sucesso, pois os trabalhos com Os Mutantes não eram, digamos, comerciais, apesar de serem reconhecidos no mundo todo. Roberto a aproximou de uma tal de música brasileira, da marchinha, do samba, da bossa nova e criaram um estilo único que os levou às trilhas sonoras das novelas da Globo repetidamente.

    Rainha do rock, sem concorrentes, Rita Lee não deixa no universo feminino ninguém sequer parecido – e até no masculino – mas deixa uma obra que será cantada por décadas e, semelhante a Jorge Benjor, uma obra sempre alegre que celebra o amor, a vida, a diversão.

    Quando éramos meninos, só recebíamos boas notícia, convites para festas, comemorações e quando o tempo vai passando as coisas mudam, no preciso momento em que rabisco estas linhas, tomo conhecimento do falecimento de uma colega. Completei 70 anos.

    E se foi Astrud Gilberto… E se foi Luiz Schiavon… E se vai…

    Sim, nas asas do vento estamos indo e as asas do vento não têm volta declama o fabuloso Paulo César Pinheiro em seu poema e teremos que ir um dia, mas esperando ficar ainda um bom tempo por aqui.

    Arte: Brito e Silva

  • A LEI ROUANET E O VAR

    Pra início de conversa, declaro que sou favorável à lei Rouanet. A maioria dos países têm leis de proteção à cultura e às artes e isto se vê facilmente na ficha técnica de bons filmes.

    O que não poderia dar certo era implantar uma lei como essa em um país que definitivamente não é sério nem honesto.

    A lei Rouanet foi criada em 1986 com o título de Programa Nacional de Apoio à Cultura e, embora tenha causado benefícios, causou muito mais polêmicas e prejuízos. Alguém deve se lembrar da confusão com o ator Guilherme Fontes e com a falecida atriz Norma Bengell.

    Calotes, mau uso de verbas, falta de prestação de contas, tráfico de influência, desvio de dinheiro, favorecimento político, tudo de errado ocorreu no desvirtuamento da lei que deveria estimular “nossa cultura”.

    A mais nova polêmica diz respeito à liberação de cinco milhões de reais para Cláudia Raia mostrar seu corpão, cantar e dançar num espetáculo pouco afeito à nossa cultura como verbas semelhantes para dois espetáculos baseados na Disney. Isto é cultura nacional? Isto é fomentar a cultura a artistas carentes que não conseguem produzir um espetáculo, gravar um cd ou publicar um livro?

    Mas não, geralmente beneficiam projetos milionários dos milionários das artes para ficarem mais milionários ainda. Segundo consta o contrato de Cláudia  Raia, ele prevê com contrapartida uma atividade formadora de 40 horas para atores. Como é? Quantos atores? Quem são? Parece, no dizer do atual presidente, uma maracutaia.

    No ano de 2022 foram liberados dois milhões para a lei Rouanet e, pelo andar da carruagem, somente neste ano serão mais de cem milhões, dinheiro que vai fazer falta na saúde, na segurança, na conservação de estradas.

    Dois argumentos são utilizados para justificar a farra. Em primeiro lugar o dinheiro não sai diretamente dos cofres públicos. É pior. Ele não entra. Alguém discorda que saúde, segurança e estradas sejam mais importantes que as curva de Cláudia Raia? O segundo argumento é que ele gera emprego e faz o dinheiro circular. Ora, o jogo do bicho e o tráfico de drogas também faz isso.

    Ninguém notou os dois milhões que foram liberados em 2022, apenas os artistas beneficiários agora, parece que teremos liberações estratosféricas e os nossos problemas continuarão os mesmos e quem tiver dinheiro pague muito caro para ver e ouvir Cláudia Raia.

    A lei deve existir mas com critérios e honestidade como existe em outros países e não como como o “é dando que se recebe”.

    Mas é o Brasil, o país onde até o VAR foi aVARcalhado.

  • A MÚSICA DO UBER

    As duas maiores ideias dos últimos anos foram o Uber e o Pix. Como eles facilitaram a vida das pessoas! Quantas horas não perdemos em filas de bancos! 

    O Uber é prático, barato e dá oportunidade de trabalho a muitas pessoas que ficaram desempregadas e transformaram seu carro em fonte de renda.

    Tínhamos dois carros em minha casa e eu resolvi vender o meu, deixando de pagar IPVA, seguro, manutenção, abastecimento e, principalmente, o gasto para trocar por um carro mais novo e tendo, com o Uber, carro à disposição quando eu quero e preciso. Que economia! Não me arrependo, apesar de pequenos problemas uma vez ou outra.

    A coisa ruim do Uber é a música. Dizia o paisagista Burle Marx que não conseguia entender porque em todo canto no Brasil tinha um rádio ligado. Motoristas e empregadas domésticas são 100% ligados nesse objeto de comunicação.

    Os uberistas são pessoas em sua maioria jovens e incultas e, portanto, não têm um bom gosto musical e acham que o passageiro tem a obrigação de escutar os seus ruídos.  Alguns acham pouco e ainda conduzem cantando a maldita música que o rádio toca.

    Felizmente nem todos são iguais e alguns, mais inteligentes, olham para a cara e a idade do passageiro e escolhem uma rádio que parece mais adequada, como me disse um deles e até perguntou se a música estava do meu agrado.

    É preciso que o uberista entenda que não está no banheiro de sua casa, que está oferecendo um serviço que está sendo pago e que a música pode desagradar ao passageiro e que vai ser até avaliado. Para felicidade deles, a maioria nem liga e até gosta da baboseira que o rádio toca, mas para um chato como eu que não tolera ouvir música ruim, seja brega, sertanejo, rap e o tal do forró moderno, as coisas não são assim.

    Há alguns dias, ao entrar no carro, o motorista, um senhor de cerca de cinquenta anos, ouvia música religiosa e perguntou se não me incomodava. Respondi logicamente que não pois era uma música suave com uma mensagem positiva.

    O mesmo não ocorreu alguns dias depois. O carro era velho, o motorista guiava mal e  ouvia um rap em volume elevado. Precisando fazer uma ligação telefônica, pedi para que ele desligasse mas ele apenas abaixou um pouco o volume e terminada a ligação, elevou outra vez.  Ao final da corrida procurei orientar que ele devia se preocupar se a música estava agradando ao passageiro pois, afinal, aquilo era um serviço que ele estava prestando mas ele respondeu grosseiramente que o carro era dele e que ouvia o que queria. Respondi que ele estava errado pois eu pagara para ouvir aquela porcaria. Ficou irritado e foi embora com raiva.

    Estou aprendendo a conviver com este problema e buscando as soluções através do diálogo.

  • O MAIOR SEGREDO

    Esta coluna está parecendo um necrológio mas, infelizmente, nossos ídolos estão desaparecendo e nos sentimos impelidos a escrever sobre eles e sua obra. Agora é a vez de Erasmo Carlos.

    Erasmo Esteves, seu nome verdadeiro, se foi e, com ele, um dos maiores segredos de nosso cancioneiro, quem era quem na parceria com Roberto Carlos, quem foi o principal responsável por cada um dos sucessos da dupla. Eles foram uma espécie de Lennon e McCartney brasileiros.

    Não dá mas podemos elaborar hipóteses baseadas na história de cada um.

    Roberto Carlos iniciou sua carreira imitando João Gilberto, Erasmo Carlos como um espécie de Elvis Presley, ou seja, um é filho da bossa nova e o outro é roqueiro. Erasmo então é que levou Roberto para os caminhos do rock.

    Roberto veio de uma cidade do interior e Erasmo do Rio de Janeiro. Erasmo era o Tremendão.

    Com certeza, os primeiros sucessos do “rei” como É PROIBIDO FUMAR e PAREI NA CONTRA-MÃO tinham muito mais de Erasmo que de Roberto.

    Por outro lado, no decorrer de sua carreira, Roberto mostrou poesia e sensibilidade em algumas canções que falavam de sua vida pessoal como TRAUMAS, O DIVÃ, AMADA AMANTE e AS FLORES DO JARDIM DE NOSSA CASA, composta quando seu filho nasceu com séria deficiência visual, mas nada de ousadias e experimentações.

    Erasmo também mostrou sensibilidade em SENTADO À BEIRA DO CAMINHO, retratando uma fase em que começava a ser esquecido, exatamente quando da extinção do programa JOVEM GUARDA.  Exatamente no LP de 1970, ERASMO CARLOS E OS TREMENDÕES, o de SENTADO À BEIRA DO CAMINHO, o Tremendão começou uma guinada em sua carreira, gravando o que se convencionou chamar de MPB como Antônio Adolfo e Tibério
    Gaspar, Caetano Veloso e até regravando AQUARELA DO BRASIL. A partir daí, sua carreira, apesar de ainda vinculada a Roberto, mostrou uma diferença muito grande em letras, melodias e postura.

    Foi então que surgiu uma legião de pessoas que passou a considerar tudo de bom que Roberto Carlos gravava a seu parceiro, amigo de fé, irmão camarada.

    Erasmo continuou sendo um roqueiro e uma espécie de cult, enquanto Roberto virava um cantor religioso e romântico, meio brega.

    Enquanto Roberto com sua vida sofrida e seus problemas se recolhia parcialmente, Erasmo não saiu da estrada, se aproximou de uma geração mais jovem, gravou com Adriana Calcanhoto e Marisa Monte, compôs em parceria com Samuel Rosa, Arnaldo Antunes, Emicida.

    Assim, Erasmo morreu como um eterno jovem, acompanhando a linha evolutiva da música brasileira.

    Com isso, não dá pra se tirar o valor de seu parceiro mas dá pra perceber que excluindo os temas religiosos e românticos, a qualidade da música dos dois estava principalmente no talento de Erasmo.

  • A VOZ DO BRASIL

    Março de 1987. Eu era vice-presidente da Unimed de Mossoró e junto com o presidente, o colega Joel Borba, fomos a Brasília para o II Encontros de Dirigentes Unimed. Ficamos hospedados no Hotel Nacional e descobrimos duas coisas, Gal Costa estava fazendo um show na capital federal e estava hospedada naquele hotel.

    Fomos ao show no Teatro Nacional. Ela estava no auge da fama e desempenho, cantava, dançava, se movimentava no palco com uma desenvoltura de estrela. Ela incendiava a plateia com Balancê e duelava com a guitarra de Piska em Meu nome é Gal.

    Naqueles três dias tivemos a oportunidade de ver seus músicos e sua troupe circulando nos corredores do hotel, usando sua piscina, bebendo e se divertindo no decorrer do dia. Ela, reclusa em seu apartamento, não dava as caras. Num determinado momento, subimos o elevador juntos, ela com a cara fechada, sem olhar para ninguém.

    Afoito, conversei com seu segurança e combinamos que eu a esperaria na saída do hotel para o Teatro Nacional para que ele autografasse o programa do show que eu comprara no dia anterior. Assim foi feito e o colega Joel registrou fotograficamente o encontro. Naquele momento a cantora Joanna chegou ao hotel e testemunhei o encontro das duas.

    Ela saiu para apresentar a segunda edição de seu show e nós ficamos no bar da piscina tomando cerveja e comemorando meu feito. Foi a primeira foto de muitas outras que eu fiz com um artista.

    Por coincidência, quando chegamos à recepção para pegar a chave do apartamento para nos recolhermos, ela havia chegado, aparentemente muito mau humorada e discutindo com o funcionário da recepção. Subimos, deitei-me e fiquei refletindo sobre o fato.

    Ao chegar a Mossoró, publiquei uma crônica com o mesmo título desta, contando e analisando o ocorrido, que infelizmente não guardei uma cópia. Só me lembro que começava assim: Em Brasília, 19 horas, parafraseando a abertura de do programa oficial produzido pelos três poderes. Elis Regina já havia falecido e Gal era naquele momento a voz do Brasil.

    Fazia uma reflexão sobre a vida do artista que imaginamos cercada de glamour e repleta de felicidade, quando pode ser o contrário. Enquanto o restante da equipe se divertia no que o hotel oferecia, ela ficava no apartamento para talvez evitar o assédio dos fãs. Então a vida de artista não é esta felicidade plena e a partir daquele dia passei a observar melhor os gestos e as palavras ditas por ela quando entrevistada e nunca mais deixei de achar que ela era uma mulher infeliz que tanta felicidade nos proporcionou com seu talento e sua música. Depois de seu falecimento, alguns fatos vieram à tona dando conta de problemas sérios porque passou, corroborando minha ideia de sua vida um tanto infeliz. Que pena!

    Gal Costa partiu para a e eternidade e fica o seu legado e a certeza de que não haverá uma nova Gal, como não haverá uma Elis Regina. Os tempos são outros e a voz já não é a coisa mais importante. Temos ídolos fabricados por uma mídia como Annita, Ivete Sangalo e Cláudia Leite onde a voz é apenas um detalhe e ótimas cantoras como Roberta Sá, Maria Rita e Marisa Monte, cada uma com suas características e tendo bebido na fonte de Gal ou Elis mas nunca serão uma delas. E só isso.

  • LENO, MAIS UM INJUSTIÇADO

    É inevitável. Se a gente perde um músico, compositor, cantor de sucesso, se sente na obrigação de escrever sobre ele, ainda mais quando se tratando de um de nossos ídolos e, ainda por cima, um conterrâneo.

    Deste modo, sinto-me impelido a escrever sobre Leno, Gileno Osório Wanderley de Azevedo, falecido em 8 de dezembro em consequência de um terrível câncer de pâncreas, o mesmo dia do assassinato de John Lennon e da morte de Tom Jobim.

    Leno nasceu em Natal e, filho de militar, gravitou entre nossa capital e o Rio de Janeiro, onde conheceu Renato Barros, líder da banda Renato e seus Blue Caps e, precocemente, antes de atingir a maioridade, começou a compor e fazer sucesso.

    Por sugestão de Renato, que namorava a bela modelo Lilian Knapp, formou uma dupla com a moça e explodiu logo no primeiro disco com Pobre menina e Devolva-me, a segunda revisitada e tornada sucesso outra vez no ano 2000 com Adriana Calcanhoto.

    Foram quatro discos da dupla, com inúmeros sucessos em composições próprias, versões de sucessos estrangeiros, como de Something Stupid, gravação de Frank Sinatra e Nancy Sinatra e o tema do filme Os guarda-chuvas do amor, de Michel Legrand e composições do amigo Renato Barros. No terceiro disco, em 1972, entra um tal de Raulzito, que se tratava, nada mais nada menos, que Raul Seixas e se inicia uma parceria que rendeu músicas interessantes mas que, infelizmente passaram quase despercebidas na época. Chegou a fazer uma versão dos Beatles, O sol se põe no horizonte (I’ll Be On My Way) e dois dos maiores sucessos de Renato e seus Blue Caps, A irmã de meu melhor amigo e Quando a cidade dorme, são de sua autoria.

    Desfeita a dupla, Leno continuou a fazer sucesso com A pobreza, (composição de Renato Barros), A festa de seus 15 anos  (composição de Ed Wilson, irmão de Renato) mas já enveredava por caminhos do rock, de mãos dadas com o amigo e parceiro Raul Seixas. Em 1968 gravou um disco conceitual de rock, Vida e obra de Johnny McCartney, que teve problemas com a censura e só foi lançado integralmente em 1995. Voltou a morar em Natal, lançou discos de rock gravando desde Catulo da Paixão Cearense (Luar do sertão) a Walter Franco (a antológica Me deixe mudo) e compositores da terra como João Galvão, Enoch e Babal. Nunca parou de produzir mas ficou famoso mesmo como um ícone da Jovem Guarda e levava uma vida em sua terra natal discreta e com poucas aparições.

    Em 2022 foi diagnosticado com câncer de pâncreas, uma das doenças malignas mais traiçoeiras e fatais e, depois de grande sofrimento, nos deixou aos 73 anos.

    Tive alguns contatos com Leno e, em uma das vezes, dividi o palco cm ele interpretando a canção É TÃO BOM ESTAR EM NATAL MAIS UMA VEZ, que, no momento, ele disse não lembrar bem da letra. Eu lembrava.

    Leno foi um de meus ídolos da Jovem Guarda que, como Antônio Marcos, não teve o reconhecimento devido, mas deixa uma obra plural que com certeza, não cairá no esquecimento. A gravação de Adriana Calcanhoto para Devolva-me, continua tocando bem, da mesma forma de seus grandes sucessos com Lilian.

  • Puxando a brasa

    Sou um compositor bissexto. Embora tenha algumas dezenas de composições, chego a passar mais de um ano sem criar nada. Quando vem a inspiração (em mim é assim, não sou profissional, não sento para compor), procuro, no entanto, fazer com o máximo de qualidade e bom gosto.

    Minha primeira composição, após algumas tentativas medíocres, foi Estrelinhas, feita para a namorada que viria a se tornar minha esposa, mãe de minhas filhas, avó de meus netos. No ano de 1985 resolvi inscrevê-la num festival que o SESC promoveu para comemorar seus 50 anos de fundação, a canção foi classificada, gravada e, para minha surpresa, entrou na programação da FM Universitária de Natal, a 88.9.

    Fui então procurado pelo colega cardiologista Antônio Carlos Spinelli e elaboramos um projeto com o título Médico Popular Brasileiro e, com certa periodicidade, passamos a gravar CDs com canções compostas por médicos, algumas em parceria com outros profissionais, algumas interpretadas pelo próprio compositor.

    Em 25 anos gravamos nove discos e muitas das músicas gravadas têm sido veiculadas pela FM Universitária, a única emissora da capital que divulga a boa música produzida no Rio Grande do Norte. Uma de minhas composições, Encanto parceria com os colegas Sérvulo Godeiro e Danúbia Pinto, gravada nas vozes de Jubileu Filho e da então principiante Khrystal, foi uma das composições de autores do Rio Grande do Norte mais tocadas na referida FM no ano de 2006.

    Em 2022 minhas filhas começaram a insistir que eu deveria registar minhas músicas e lançar em CD nas plataformas digitais. Procurei o percussionista e produtor musical Di Stéffano, radicado em Brasília e o trabalho foi realizado.

    Selecionei 12 de minhas composições já gravadas e está disponível nas plataformas digitais (Spotify, Youtube, etc.) o Cd A MÚSICA DE DAMIÃO NOBRE, com capa de Túlio Ratto. Nele, estão desde uma valsa (Valsa para Marília), que compus para uma de minhas filhas quando ela completou 15 anos e que ousei interpretar, até um frevo, Aqui é Natal, cantada por Lane Cardoso. Tem samba, bossa, carimbó, bolero e salsa.

    O atestado de qualidade de minhas composições me foi dado pela FM Universitária ao incluir em todos estes anos, cerca de metade destas canções em seu repertório mas a composição Pitangui, dedicada à praia onde veraneio, recebeu elogios do compositor e produtor musical Enoch Domingos, que chegou a compará-la a Tarde em Itapoã e do saudoso Renato Barros, de Renato e Seus Blue Caps, que aventou até a possibilidade de gravá-la. A qualidade tem muito a ver com a produção e os arranjos, a maioria deles feita pelo músico Jubileu Filho e pelo compositor/parceiro Babal. Boa parte das interpretações coube a meu irmão Sérvulo Nobre, odontólogo e cantor/músico amador de talento indiscutível.

    Mas existe um destaque, a composição A lágrima, parceria minha com Babal, que convidamos Geraldo Azevedo para interpretar.

    Por favor, procurem ouvir e divulguem. Espero que gostem!

  • OITO CANÇÕES

    Quais são, em sua opinião, as oito melhores músicas de todos os tempos? Esta pergunta foi feita a Roger Waters, ex-vocalista, baixista e co-fundador da banda Pink Floyd no programa Desert Island Discs, da BBC Radio 4 e ele elaborou uma senhora relação, incluindo clássicos, rock e jazz.  Foi divulgada também uma lista elaborada por Robert Plant, cantor do Led Zepelin, respondendo que canções ele levaria para uma ilha deserta e, surpreendentemente, ele incluiu uma gravação do tenor italiano Mario Lanza.

    E se nós fôssemos fazer a nossa relação…  Muitas pesquisas têm sido feitas e algumas canções ocupam quase todas as relações, quando se trata de música brasileira, como Travessia e Carinhoso.

    A música é universal, não tem idade e clássicos atravessam até séculos no gosto do público e na execução em meios de comunicação.

    O que pesaria na escolha? Sentimentos e recordações que despertam ou apenas a simples qualidade da composição?

    É certo que a música atual não parece ser mais a mesma e parece existir uma crise de criação e não têm aparecido grandes composições que parecem ser capazes de atravessar o tempo. O século XX nos deixou um legado inestimável mas parece que o século XXI não caminha com a mesma velocidade.

    Também elaborei a minha lista. Na verdade, são duas, pois entendo que a mais bela das canções, aquela em que há o casamento perfeito entre letra, melodia, harmonia,  poderia não ser recomendada para ser levada para uma ilha deserta, onde entendo que a mensagem deve ser a mais positiva possível. É lógico que ninguém vai concordar integralmente, é uma lista muito pessoal, mas recomendo que ouçam cada uma das canções. O certo é que na lista das mais belas existem algumas que são como arroz de festa.


    AS MAIS BELAS CANÇÕES DA MÚSICA BRASILEIRA

    Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro

    Travessia, de Milton Nascimento e Fernando Brant

    Romaria, de Renato Teixeira

    Cordas de aço, de Cartola

    Amigo é casa, de Capiba e Hermínio Belo de Carvalho

    Rosa, de Pixinguinha e Otávio Sousa

    Timoneiro, de Paulinho da Viola e Hermínio Belo de Carvalho

    Um girassol da cor do seu cabelo, de Lô Borges e Márcio Borges


    PARA LEVAR PARA UMA ILHA DESERTA

    Sementes do amanhã, de Gonzaguinha (a gravação de Erasmo Carlos)

    O que é, o que é, de Gonzaguinha

    O sol, de Antônio Júlio Nastácia (lançada por Jota Quest)

    Toada, de Claudio Nucci, Zé Renato e Juca Filho

    Tocando em frente, de Renato Teixeira e Almir Sater

    Sol de Primavera, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos

    Chovendo na roseira, de Tom Jobim

    O sol Nascerá, de Elton Medeiros e Cartola

    Boa audição!