O carnaval não nasceu no Brasil. Sua origem remonta aos bacanais da antiga Roma e a festas da Mesopotâmia mas, trazido pelos portugueses, em nenhum lugar do mundo a folia momesca se tronou uma festa tão popular, alegre e espontânea.
Se o Brasil não criou o carnaval, entre outras coisas próprias da folia, criou uma música própria para a festa, que sobreviveu por mais de um século até desaparecer ou ser confundida pela indústria, pala massificação, por interesses comerciais.
O primeiro estilo de música composta para os bailes de carnaval foi a marchinha e se considera que a primeira delas foi “Ô abre alas”, composta por Chiquinha Gonzaga em 1899 e, a partir daí, foram muitas marchinhas, muito samba e depois o frevo e outros ritmos menos votados.
Milhares de marchinhas foram compostas e muitas delas ainda hoje são tocadas e cantadas, até mesmo porque se parou de compor. Instituíram-se concursos de música carnavalesca e algumas que chegaram a ganhar nem podem ser reconhecidas hoje em dia como música para carnaval. Basta lembrar a antológica “Trem das onze”, de Adoniran Barbosa, que venceu o concurso de músicas no quarto centenário do Rio de Janeiro em 1965.
O carnaval sempre foi mais forte no Rio de Janeiro, em Salvador e em Recife, adquirindo características próprias em cada uma dessas capitais.
Sempre houve um carnaval de rua, onde, inicialmente, os negros e a classe mais pobre se divertiam com mela-mela e outras brincadeiras e um carnaval de clubes, para uma elite e a música de carnaval foi feita para os dois lados da festa.
No Rio de Janeiro começaram a proliferar os ranchos, que deram origem às escolas de samba e aí surgiu o samba-enredo.
Em Recife, o carnaval de rua, inicialmente animado pelas bandas militares, fez nascer o frevo com seu ritmo contagiante e a multiplicidade dos passos.
A Bahia, com a maior mistura de raças do país e, logicamente, com a mistura de costumes e ritmos, fez nascer um carnaval multifacetado com manifestações que terminaram sendo exportadas para outros estados da federação gerando os carnavais fora de época. Foram estes carnavais fora de época que diminuíram a força do verdadeiro carnaval. As pessoas passaram a se recolher em casas de praia e de campo nos dias da folia.
Foi quando a música própria do carnaval desapareceu. Se antes, os grandes artistas de sucesso como, por exemplo, Orlando Silva, gravavam para o carnaval, fazendo até nascer uma música chamada de música do meio de ano, aos poucos, as gravadoras deixarem de investir nas músicas de carnaval e elas foram substituídas por qualquer coisa que tenha um ritmo para dançar, que se entenda por isso, música de péssima qualidade.
Embora ainda existam bandinhas, orquestras de frevo, bailes e desfiles, até mesmo o samba-enredo que chegou a ter seus dias de glória, sumiu do mapa. Ainda tem uma outra discussão, é que muitos desses sucessos nem poderiam ser cantados por causa de um tal politicamente correto.
Vieram os tempos do Covid e o mundo mudou. Praticamente não tivemos em 2121 e não teremos carnaval em 2022. E uma música que já nem existia, cada vez será menos lembrada. Entretanto, onde houver uma bandinha animando foliões, se ouvirão Ô abre alas, Frevo das Vassourinhas, Mamãe eu quero, Máscara negra e Allah-la-ô, entre tantas outras.
Mas o que será do carnaval depois da Covid? Só Deus sabe.