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E SE VÃO…

Nas asas do vento estamos indo, porque ir é a única certeza, porque já nascemos com o não e a perda.

Minha primeira perda foi com três dias, quando o vento levou Cosme, meu irmão gêmeo e, hoje ao completar sete décadas de vida, se foram os pais, se foram parentes, amigos diletos e, lógico, muitos ídolos se foram, o que é praticamente natural pois a maioria deles tem mais idade e, no campo da música há muita loucura, vida louca vida.

O ano de 2023 tem sido triste, especialmente no campo do rock pois perdemos nosso rei e nossa rainha, Erasmo Carlos e Rita Lee e, certamente, outras perdas ainda virão para ficarmos ainda mais tristes e lamentarmos nas páginas virtuais da PAPANGU.

Já escrevi sobre Erasmo e que me perdoe Santa Rita se Sampa, não poderia esquecê-la e passar em branco pela sua vasta e bem sucedida obra autoral, que pode ser classificada como o mais legítimo rock nacional. Rita Lee deixou também uma inusitada história e longe, muito longe, ela deixou uma obra diferente e insuperada nos primórdios do rock nacional que se iniciou com os irmãos Baptista, o trabalho com Os Mutantes.

Pra começo de conversa, Rita Lee não se enquadra no padrão do artista brasileiro. Filha de um americano e uma italiana, magra como um palito de picolé, branca leitosa, com um talento enorme para polêmicas politicamente incorretas até consigo própria, ela parecia, quando começou a carreira, muito mais uma colegial bem comportada que um fenômeno de gozação e ironia como viria a se tornar.

Nasceu para a música, cresceu com a música, viveu com a música, casou com a música, pariu música e músicos deixando uma prole que também vive de música. Ninguém tem uma história pelo menos parecida.

Sua carreira musical se divide em duas fases distintas, antes e depois de Roberto de Carvalho, que a ascendeu às paradas de sucesso, pois os trabalhos com Os Mutantes não eram, digamos, comerciais, apesar de serem reconhecidos no mundo todo. Roberto a aproximou de uma tal de música brasileira, da marchinha, do samba, da bossa nova e criaram um estilo único que os levou às trilhas sonoras das novelas da Globo repetidamente.

Rainha do rock, sem concorrentes, Rita Lee não deixa no universo feminino ninguém sequer parecido – e até no masculino – mas deixa uma obra que será cantada por décadas e, semelhante a Jorge Benjor, uma obra sempre alegre que celebra o amor, a vida, a diversão.

Quando éramos meninos, só recebíamos boas notícia, convites para festas, comemorações e quando o tempo vai passando as coisas mudam, no preciso momento em que rabisco estas linhas, tomo conhecimento do falecimento de uma colega. Completei 70 anos.

E se foi Astrud Gilberto… E se foi Luiz Schiavon… E se vai…

Sim, nas asas do vento estamos indo e as asas do vento não têm volta declama o fabuloso Paulo César Pinheiro em seu poema e teremos que ir um dia, mas esperando ficar ainda um bom tempo por aqui.

Arte: Brito e Silva

Escrito por Damião Nobre

Shein no RN

Barrados no São João