Esta coluna está parecendo um necrológio mas, infelizmente, nossos ídolos estão desaparecendo e nos sentimos impelidos a escrever sobre eles e sua obra. Agora é a vez de Erasmo Carlos.
Erasmo Esteves, seu nome verdadeiro, se foi e, com ele, um dos maiores segredos de nosso cancioneiro, quem era quem na parceria com Roberto Carlos, quem foi o principal responsável por cada um dos sucessos da dupla. Eles foram uma espécie de Lennon e McCartney brasileiros.
Não dá mas podemos elaborar hipóteses baseadas na história de cada um.
Roberto Carlos iniciou sua carreira imitando João Gilberto, Erasmo Carlos como um espécie de Elvis Presley, ou seja, um é filho da bossa nova e o outro é roqueiro. Erasmo então é que levou Roberto para os caminhos do rock.
Roberto veio de uma cidade do interior e Erasmo do Rio de Janeiro. Erasmo era o Tremendão.
Com certeza, os primeiros sucessos do “rei” como É PROIBIDO FUMAR e PAREI NA CONTRA-MÃO tinham muito mais de Erasmo que de Roberto.
Por outro lado, no decorrer de sua carreira, Roberto mostrou poesia e sensibilidade em algumas canções que falavam de sua vida pessoal como TRAUMAS, O DIVÃ, AMADA AMANTE e AS FLORES DO JARDIM DE NOSSA CASA, composta quando seu filho nasceu com séria deficiência visual, mas nada de ousadias e experimentações.
Erasmo também mostrou sensibilidade em SENTADO À BEIRA DO CAMINHO, retratando uma fase em que começava a ser esquecido, exatamente quando da extinção do programa JOVEM GUARDA. Exatamente no LP de 1970, ERASMO CARLOS E OS TREMENDÕES, o de SENTADO À BEIRA DO CAMINHO, o Tremendão começou uma guinada em sua carreira, gravando o que se convencionou chamar de MPB como Antônio Adolfo e Tibério
Gaspar, Caetano Veloso e até regravando AQUARELA DO BRASIL. A partir daí, sua carreira, apesar de ainda vinculada a Roberto, mostrou uma diferença muito grande em letras, melodias e postura.
Foi então que surgiu uma legião de pessoas que passou a considerar tudo de bom que Roberto Carlos gravava a seu parceiro, amigo de fé, irmão camarada.
Erasmo continuou sendo um roqueiro e uma espécie de cult, enquanto Roberto virava um cantor religioso e romântico, meio brega.
Enquanto Roberto com sua vida sofrida e seus problemas se recolhia parcialmente, Erasmo não saiu da estrada, se aproximou de uma geração mais jovem, gravou com Adriana Calcanhoto e Marisa Monte, compôs em parceria com Samuel Rosa, Arnaldo Antunes, Emicida.
Assim, Erasmo morreu como um eterno jovem, acompanhando a linha evolutiva da música brasileira.
Com isso, não dá pra se tirar o valor de seu parceiro mas dá pra perceber que excluindo os temas religiosos e românticos, a qualidade da música dos dois estava principalmente no talento de Erasmo.