Últimas histórias

  • Convocatória internacional do Festival Casa Tomada (RN) recebe inscrições até o dia 12 de julho

    O Festival Casa Tomada está com inscrições abertas até o dia 12 de julho para trabalhos artísticos que vão compor a programação de sua nona edição, programada para os dias 18, 19 e 20 de setembro no Teatro Alberto Maranhão, em Natal, Rio Grande do Norte. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas através de um formulário eletrônico disponível no link: https://forms.gle/7HQmf56oe1to3xi7A

    Criado pelo Coletivo CIDA – Coletivo Independente Dependente de Artistas – o festival teve início em 2016 com foco primordial na dança. Nesta nona edição, o evento marca um significativo ponto de virada ao expandir sua abrangência para incluir outras formas artísticas como teatro e cinema.

    René Loui, coreógrafo e intérprete do Coletivo CIDA, expressou sua satisfação com o retorno do Festival Casa Tomada após um intervalo de três anos: “Estamos muito felizes com o retorno do festival! O Festival Casa Tomada sempre foi um espaço propício para encontros, intercâmbios e aprendizados plurais, onde artistas de diversas linguagens e origens se unem para compartilhar experiências. É uma oportunidade para questionarmos, desconstruirmos e reconstruirmos nossos entendimentos sobre arte, sociedade e nós mesmos.”

    Práticas Plurais e Hibridismos

    Sob o tema “Práticas Plurais e Hibridismos”, o Festival Casa Tomada reafirma o compromisso do Coletivo CIDA e da Casa Tomada com a promoção de ações culturais acessíveis. Todas as atividades programadas serão inclusivas, com serviços de acessibilidade em Libras e audiodescrição, garantindo que um público diversificado possa desfrutar plenamente das experiências oferecidas.

    Arthur Moura, produtor do Coletivo CIDA, enfatiza que o tema desta edição visa especialmente incluir identidades e corpos frequentemente marginalizados: “É fundamental para nós que o festival reflita a complexidade e a riqueza das experiências humanas, promovendo a inclusão de identidades e corpos muitas vezes marginalizados, daí o tema ‘Práticas Plurais e Hibridismos’ deste ano. Estamos ansiosos para ver como os artistas abordarão este tema em suas obras, provocando reflexões sobre as diversas formas de ser e existir no mundo. O Festival Casa Tomada celebra a arte como um espaço de encontro e diálogo.”

    A convocatória está aberta para espetáculos, filmes, artistas e grupos que explorem práticas plurais e híbridas nas estéticas contemporâneas. As categorias disponíveis incluem Residência Artística Internacional, Mostra Cênica Nacional, Mostra Cinematográfica Nacional e Mostra de Processos Local. Cada proponente pode inscrever até duas propostas, desde que sejam em categorias distintas, assegurando assim a diversidade e representatividade dos participantes e das obras selecionadas.

    O regulamento completo do IX Festival Casa Tomada está disponível para consulta no seguinte link: https://www.coletivocida.com.br/festivalcasatomada. As propostas serão analisadas de 13 de julho a 04 de agosto, com os resultados sendo divulgados em 05 de agosto.

    O IX Festival Casa Tomada – Práticas Plurais e Hibridismos é uma iniciativa do Coletivo CIDA – Coletivo Independente Dependente de Artistas e da Casa Tomada Ambiente de Arte, contemplado pela Seleção Pública Nº 025/2023 – Lei Paulo Gustavo de Apoio às Áreas Culturais pelo Edital de Seleção de Projetos de Audiovisual N.º 01/2023 e pelo Edital de Seleção de Projetos Multiculturais N.º 02/2023. Conta com recursos da Secretaria Municipal de Cultura – Prefeitura do Natal, Fundação José Augusto – Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Ministério da Cultura e Governo Federal do Brasil.

    Sobre o CIDA
     

    O Coletivo Independente Dependente de Artistas (CIDA ) é um núcleo artístico de dança contemporânea, fundado no ano de 2016 por artistas emergentes, pluriétnicos, com e sem deficiências, oriundos das mais diversas regiões do Brasil e radicados na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. O CIDA se destaca no cenário cultural por sua produção experimental e inclusiva.


    Todas as informações sobre o CIDA podem ser acompanhadas através dos canais de comunicação do coletivo. acompanhe o Coletivo no Instagram em: @coletivocida ou acesse: www.coletivocida.com.br

  • Primeira exposição da Pinacoteca da Ufersa terá obras do acervo de Isaura Rosado e curadoria de Manoel Onofre Neto

    Amante das artes, o procurador de justiça Manoel Onofre Neto, será o curador da primeira exposição da Pinacoteca e Memorial da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), prevista para inaugurar até o final de julho. A nova unidade de arte e cultura já conta com 1.300, do acervo pessoal da professora, Isaura Amélia, repassadas por meio de comodato para a Pinacoteca da Universidade. A coleção retrata as artes plásticas do RN e do Brasil, contendo artistas regionais e nacionais, com variadas técnicas como: tinta óleo, aquarela, tapeçaria e escultura.

    O procurador Manoel Onofre foi um dos participantes da Oficina de Restauração promovida pela Pinacoteca neste fim de semana na Ufersa. “Estamos criando uma mentalidade de conservação e restauro de obras de arte, a Pinacoteca vem na frente dessa ideia, trazendo esse curso que representa, sobretudo, um grande mutirão porque vieram mais de mil obras e a gente precisa fazer um trabalho de limpeza, de higienização e de seleção do que será exposto”, afirmou a professora Isaura Amélia.

    Para o curador da exposição, Manoel Onofre, a Pinacoteca da Ufersa é de grande importância por representar um conjunto de obras, sendo referências da arte não apenas para Mossoró, mas para o Rio Grande do Norte. “Vejo como de uma importância impar, principalmente. pela qualidade das obras, pelo acervo que a pinacoteca vai expor”, considerou.

    Ainda segundo Manoel Onofre o espaço apresenta “os melhores e maiores artistas do Estado, com destaque especial para Mossoró, trazendo a memória, o registro da cultura de maneira bastante importante que vai oportunizar que o cidadão norte-rio-grandense e do Brasil tenha acesso de maneira organizada, estruturada e num projeto bastante interessante”.

    A curadoria dessa primeira exposição foi definida por Onofre como uma experiência desafiadora.  “É desafiador, principalmente por possuir obras muito boas, de Dorian Gray, por exemplo, temos cerca de 30 obras e, dessas obras o curador vai ter que debruçar e, sugerir o que de fato marca fortemente o artista, o que traz de fato a expressão maior do artista.  É desafiador por causa dessas possibilidades de escolha e uma escolha sempre indica que alguma coisa ficou de fora”, pontuou. É importante registrar que a reserva técnica existe concretamente e vai haver uma rotatividade num determinado momento, de uma forma ou de outra, toda a coleção seja percebida e apreciada pelo cidadão.

    As obras representam toda a produção artística do RN, desde os primeiros artistas, como Moura Rabelo, que são raridades, até os contemporâneos, passando pelos populares. “A Pinacoteca da Ufersa é verdadeiramente a coleção mais representativa de arte do RN”, considerou Manoel Onofre.

    A reitora da Ufersa, professora Ludimilla Oliveira, aguarda a organização da exposição para anunciar a abertura da Pinacoteca que deve acontecer até o final desse mês de julho. “Representa trazer para a universidade a alma da arte que nada mais é o despertar do olhar humano para o que está além do quadro. A Universidades, as pessoas precisam da arte, viver e entender a arte. Estamos felizes e vendo que tudo vem prosperando para que essa realidade seja tão logo inaugurada”, afirmou a reitora Ludimilla Oliveira.

    “A Pinacoteca está sendo instalada no Prédio Central irá comportar não só o espaço das exposições, que está em processo de revitalização, mas também salas com acervos, conservação e restauro, além de espaços voltados para multimídia, assim como espaços destinados para a universidade”, afirmou a professora, Tamms Morais, pró-reitora adjunta de Extensão e Cultura (PROEC), diretora da Pinacoteca.

  • Jornalista Muriu Mesquita lança livro de memórias, histórias como repórter de TV e escritos do avô poeta

    O jornalista potiguar Muriu Mesquita, que vive desde 2017 em Los Angeles, na Califórnia, lança no próximo dia 04 de Julho, em Natal, o livro “Mirante do Alagamar”. O evento acontecerá no Temis Clube Bar, na sede social do América, na Avenida Rodrigues Alves, Tirol. A programação terá música ao vivo, com o cantor e multi-instrumentista Diogo Das Virgens, a partir das 18 horas, e uma mostra de trabalhos do artista plástico Túlio Ratto. Toda a renda da venda do livro será destinada à Comunidade Terapêutica Nova Aliança, que desenvolve há 20 anos, em Pium (RN), atividades de apoio a pessoas que lutam contra o vício e a dependência química.

    “Mirante do Alagamar” é o primeiro livro do jornalista Muriu Mesquita, que nasceu em Pium. A obra reúne memórias da infância do autor no bairro Ponta Negra dos anos 90, histórias de seu trabalho como repórter de TV no Rio Grande do Norte, crônicas reflexivas, e um encontro subjetivo em homenagem ao seu avô, o poeta, jornalista e escritor potiguar Luís de Paula e Sousa (em memória).

    A capa do livro traz uma pintura de Ponta Negra com a praia de Alagamar retratada em vista aérea pelos pinceis do artista plástico Túlio Ratto. O prefácio é assinado pelo advogado e professor Joanilson de Paula Rêgo. A edição dos textos é do jornalista Osair Vasconcelos, responsável pela Z Editora, e o projeto gráfico de Vitor Marinho.

    “Mirante do Alagamar” tem 214 páginas com histórias leves e temas diversos, ambientadas em lugares diferentes, como Natal, praias de Caraúbas, Pititinga, Cotovelo e Pipa, Olinda, Manaus, São Paulo, Hollywood, Veneza, Saint-Tropez e Paris. Os personagens dos escritos de Muriu e do avô, Paula e Sousa, são reais, e vão desde gente simples e quase anônima, como porteiros e vendedores ambulantes na praia, aos amigos de infância, parceiros de mesa de bar, crianças brincando à beira mar e bichos de estimação, como o cão Zeus e o gato Gudinho. O livro também inclui registros de interações jornalísticas de Muriu com personalidades, como a estrela da MPB, Elza Soares, o jornalista Ricardo Boechat, e o ex-jogador da seleção brasileira de futebol, Marinho Chagas.

    Sem pretensões ou amarras aos formatos e gêneros literários tradicionais, Muriu Mesquita revela o jornalista acostumado a observar e relatar os acontecimentos ao seu redor, durante a pouco mais de uma década em que atuou nas emissoras de TV afiliadas da Band e Globo no RN. O jornalista, cujo nome de batismo é uma homenagem à praia de Muriú, no litoral Norte potiguar, começou a escrever este livro em um período de transição pessoal e profissional, durante a pandemia do COVID-19. Para descrever percepções sobre a vida, refletir e resgatar memórias, Muriu observou o mundo a partir de um mirante imaginário, no alto de uma das dunas entre a isolada Praia de Alagamar e o Morro do Careca, em Ponta Negra. Uma das propostas dos escritos de Muriu é manter viva a esperança na humanidade: “Enquanto houver pessoas interessadas em livros, poesia, artes e preservação ambiental, nosso futuro comum tem potencial sustentável e promissor”, acredita o jornalista. “Decidi escrever e publicar histórias de amor, de amizade, exemplos de superação e reflexões para estimular, no coração das pessoas, atitudes e sentimentos positivos”, explica o jornalista.

    Sobre o autor:

    O jornalista Muriu Mesquita é potiguar, nascido em Pium, no ano de 1982. Trabalhou por 15 anos como repórter, editor-chefe e apresentador nas afiliadas das emissoras de TV Band e Globo no RN. É formado em Comunicação Social pela UFRN e fez Pós-Graduação/Especialização em Ética pela UFRN. Em 2017, Muriu mudou-se para os Estados Unidos. Lá, concluiu Mestrado em Ciências da Educação pela Florida Christian University e tornou-se enfermeiro. Desde 2023, Muriu é professor de enfermagem na cidade de Santa Mônica, California.

  • Adélia Prado vence o Prêmio Camões 2024

    Poeta, professora, filósofa, romancista e contista mineira conquista o principal prêmio literário da língua portuguesa

    Foto: Ministério da Cultura de Portugal

    A poeta, professora, filósofa, romancista e contista mineira Adélia Prado é a vencedora do Prêmio Camões 2024, o mais importante da língua portuguesa. A reunião do júri aconteceu na manhã desta quarta-feira, de forma virtual. Os jurados foram o escritor e professor Deonisio da Silva (Brasil), o professor e pesquisador Ranieri Ribas (Brasil), o filósofo e crítico de arte poética Dionisio Bahule (Moçambique), o professor Francisco Noa (Moçambique), a professora Clara Crabbé Rocha (Portugal) e a professora Isabel Cristina Mateus (Portugal).

    O valor da premiação é de 100 mil euros, um dos maiores valores do mundo entre os prêmios literários. A premiação é concedida por meio de subsídio da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) – entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC) e do Governo de Portugal.

    Segundo o júri, “Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética. Herdeira de Carlos Drummond de Andrade, o autor que a deu a conhecer e que sobre ela escreveu as conhecidas palavras “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo…”, Adélia Prado é há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”.

    A ministra da Cultura, Margareth Menezes, destacou a vitória da cultura brasileira com a conquista de Adélia Prado no Prêmio Camões 2024. Ela sublinhou a importância de reconhecer a obra de uma mulher brasileira, enfatizando que Prado não só eleva a literatura nacional, mas também representa a força e a criatividade das mulheres no cenário cultural. Menezes ressaltou que este prêmio é um tributo à rica tradição literária do Brasil e à capacidade das escritoras brasileiras de capturar a essência da nossa identidade cultural.

    O presidente Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, comenta o resultado: “Adélia Prado vence o Prêmio Camões no ano da comemoração do quinto centenário do maior porta da língua portuguesa. Coincidência ou destino? Adélia não é apenas um dos maiores nomes da poesia do Brasil, mas de toda língua portuguesa, em todos os quadrantes da terra e da grande poesia. Uma poesia lírica e metafísica, amorosa e existencial, antiga e moderna. É a voz profunda de Divinópolis, que teve em Carlos Drummond de Andrade um de seu mais fervorosos leitores. Foi ele quem a descobriu para o Brasil, e hoje é o Brasil que se descobre dentro de sua obra”, afirma.

    Sobre Adélia Prado

    Adélia Prado nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, em 1935. É licienciada em filosofia.Publicou os seus primeiros poemas em jornais de Divinópolis e de Belo Horizonte. A sua estreia individual só aconteceu em 1975, quando remeteu para Carlos Drummond de Andrade os originais de seus novos poemas. Impressionado com a sua escrita, enviou os poemas para a Editora Imago. Publicado com o nome “Bagagem”, o livro de poemas chamou atenção da crítica pela originalidade e pelo estilo.

    Em 1976, o livro foi lançado no Rio de Janeiro, com a presença de importantes personalidades como Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant’Anna, Clarice Lispector, entre outros. Em 1978 escreveu O Coração Disparado, com o qual conquistou o Prémio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro. Nos dois anos seguintes, dedicou-se à prosa, com Solte os Cachorros em 1979 e Cacos para um Vitral em 1980. Volta à poesia em 1981, com Terra de Santa Cruz.

    Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prémio Jabuti de Literatura, com o livro Coração Disparado, escrito em 1978.

    Sobre o Prêmio Camões

    O Prêmio Camões foi instituído pelos Governos do Brasil e de Portugal em 1988, com o objetivo de estreitar os laços culturais entre as nações que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e enriquecer o património literário e cultural da língua portuguesa. Com o nome do maior escritor da história da língua portuguesa – o poeta português Luís Vaz de Camões – o prêmio é atribuído aos autores, pelo conjunto da obra, que contribuíram para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa.

    O Ministério da Cultura português organiza a premiação pela parte portuguesa, cabendo à Fundação Biblioteca Nacional a organização pela parte brasileira. Em todas as edições do prêmio, o júri é composto por dois portugueses, dois brasileiros e dois representantes das demais nações da CPLP – Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, Timor Leste e São Tomé e Príncipe. O mandato para os jurados é de dois anos.

    O diploma entregue aos laureados contém o nome de todos os países lusófonos e é assinado pelos chefes de estado do Brasil e de Portugal. Entre os 34 vencedores encontram-se autores de cinco países lusófonos (Brasil, Portugal, Moçambique, Angola e Cabo Verde). O premiado em 2023 foi o ensaísta, crítico literário, cronista e tradutor português João Barrento.

  • Culpa | Capítulo XXI

    Por Clauder Arcanjo

    Quando o reforço policial chegou a Licânia, encontrou quase toda a população diante da delegacia.

    Em meio ao tumulto, o padre Araquento, as pias Filhas de Maria, o sacristão e outros católicos, nem tão praticantes assim, puxavam o rosário em honra à Senhora Sant’Anna.

    Companheiro Acácio cuidou de separar os diferentes grupos. A fim de evitar o encontro e possíveis rusgas entre o sacro e o profano, segundo argumentação acaciana, posicionou os fiéis na parte da frente da multidão, convidando a turma da pinga e do forró para ocupar a parte da retaguarda. No meio, uma legião de homens, mulheres e crianças movidos pela ideia de reparar tão flagrante injustiça.

    Gordinho colocou o tamborete-palanque no alto da calçada da delegacia. Sobre ele, vários oradores e oradoras se revezavam, mantendo a multidão unida e mobilizada em torno da causa. Acácio, com algumas pingas a mais, renunciou ao cargo de porta-voz do levante; fez isso após a terceira queda.

    — Ô pinga braba! — ouviu-se entre os presentes.

    — Perdoem-me, cidadãs e cidadãos desta terra tão bravia, mas tenho fobia à altura. Nomeio ad hoc o companheiro João Américo para tão augusta missão, enquanto eu me juntarei ao grupo da logística — anunciou Acácio, mantendo-se em pé com muita dificuldade, zonzo devido aos eflúvios da carraspana.

    João Américo aceitou a missão, mas a condicionou ao reforço no número de pessoas, quando da subida, bem como na sua manutenção no alto e na descida do tamborete. Iniciou o primeiro improviso mencionando As Catilinárias, de Cícero. A turba aplaudia-o com entusiasmo, mesmo sem entender de nada quando ele se empolgava com as citações em latim.

    Em certo momento, dia alto, o comandante do regimento policial anunciou:

    — Desafasta!

    E foi entrando, abrindo espaço com bordoadas a torto e a direito. Quando ele atingiu a cabeça de uma jovem que se encontrava orando, o padre Araquento disparou:

    — Enviado do Belzebu!

    O comandante se voltou para o local em que se encontrava o pároco de Licânia e, tomado de fúria, rumou em sua direção.

    — O que o senhor disse?

    — Enviado do Belzebu! — repetiu padre Araquento.

    O cassetete subiu, e seu Zequinha se interpôs entre o padre e o comandante. A pancada forte atingiu-o no alto da cabeça. O sangue escorreu em jorro, descendo pela testa. Um silêncio se fez, enquanto Zequinha cedia, ficando de joelhos.

    — Meu Deus! — gritaram todos.

    — Afastem-se, temos que levar depressa o seu Zequinha para a urgência médica — pediu o ex-delegado de Licânia.

    Companheiro Acácio, João Américo, Gordinho e o cabo Jacinto tomaram-no pelos braços e conduziram-no às pressas. A multidão, respeitosa, abria caminho para a passagem do ferido.

    — Cristo Jesus, São José e Senhora Sant’Anna, cuidai deste bom homem! — orava Creuza. Nesse instante o cego Julião das Queimadas, sentado no adro da Igreja Matriz, jurou, pela luz dos seus olhos, que os sinos repicaram em dobres fúnebres.

  • Blitz traz “Turnê Sem Fim” para Natal com novas canções e clássicos

    Com um estilo original que soma rock, pop, reggae, samba e blues, a incansável Blitz percorre o Brasil com a “Turnê Sem Fim” e tem data confirmada para se apresentar em Natal. O show será dia 30 de agosto, no Teatro Riachuelo. Os ingressos estão à venda a partir de R$ 70,00 na bilheteria do teatro (de terça a sábado, das 14h às 20h) e no site uhuu.com. O evento é uma realização da Viva Promoções em parceria com Tawfic Produções.

    Liderada por Evandro Mesquita (vocal, guitarra e violão), a banda conta em sua formação atual com Billy Forghieri (teclados), Juba (bateria), Rogério Meanda (guitarra), Alana Alberg (baixo), Andréa Coutinho (backing vocal) e Nicole Cyrne (backing vocal). O show será marcado por inúmeros sucessos, como “Você Não Soube me Amar”, “Weekend”, “A Dois Passos do Paraíso”, “Mais uma de Amor”, e canções inéditas.

    O cantor Evandro Mesquita fala sobre o show. “Essa turnê sem fim começou em 1981 no underground e a gente continua na estrada com muito prazer e fazendo coisas novas. Isso dá um frescor na banda, de mostrar o que a gente já fez, e o que estamos fazendo hoje também. É importante para manter a nossa chama acesa e poder dividir a nossa fogueirinha com o público”.

    Além dos antigos sucessos em 40 anos de carreira, a Blitz também vai apresentar músicas inéditas, Evandro Mesquita conta que a banda produziu várias durante a pandemia. “As canções viraram cinco álbuns. O lado B a gente está fazendo as músicas que adoramos, mas que não tiveram tanta exposição. São tantas canções que fizemos até dois volumes. Tem o de inéditas chamado de ‘Supernovas’, também a ‘Blitz no dos Outros”, que são interpretações da Blitz de canções de Roberto e Erasmo, Gilberto Gil, Belchior, Paulo Diniz. Foi o que manteve a banda viva na pandemia. A arte e a música salvam. Foi o que segurou a nossa onda”, comemora.

    Entre as homenagens nos novos trabalhos, Evandro cita a parceria com Erasmo Carlos, que morreu no ano passado. Ele fez uma nova composição para o disco. “Eu queria muito ter mostrado para o Eramos esta versão que a gente fez e tem a participação do Chimbinha na guitarra, o baixo do Bino, do Cidade Negra. Está com uma personalidade muito bacana, sem tirar a alma da canção, do nosso Gigante Gentil, o maravilhoso Erasmo”.

    Serviço:

    Blitz em Natal

    Dia: 30 de agosto de 2024

    Horário: 21h

    Classificação indicativa: 14 anos

    *menores de idade precisam estar acompanhados dos pais ou responsável autorizado.

    Ingressos

    Meia entrada a partir de R$ 70,00

    Inteira a partir de R$ 140,00

    *consulte todos os valores e assentos disponíveis na página de vendas do evento

    % Descontos:

    50% Meia Entrada (idosos a partir dos 60 anos, crianças de 2 a 14 anos, estudantes, ID Jovem, pessoas com deficiência, professores e doadores de sangue);

    50% clientes Unimed Natal (1 ingresso);

    50% clientes CashMais e colaboradores Rede Mais (1 ingresso, apenas na bilheteria);

    30% titulares do Cartão Riachuelo (2 ingressos);

    *descontos limitados e não cumulativos

    Pontos de venda:

    – Bilheteria do teatro (de terça a sábado, das 14h às 20h)

    – @uhuuoficial

    Realização: @tawficproducoes @vivapromocoes

  • Avanço neonazista no Brasil

    Tá na Redes que mm monitoramento realizado pela ONU sobre a expansão de movimentos neonazistas incluiu o Brasil em seu informe anual, apontando para o fortalecimento de grupos e de incidentes. O informe “combatendo a glorificação do nazismo e neonazismo” foi conduzido pela relatora da ONU sobre formas contemporâneas de racismo e xenofobia, Ashwini K.P., num esforço para identificar a dimensão da expansão do fenômeno e apresentar propostas para que governos possam dar respostas.

    Os estados brasileiros forneceram informações para a relatora que, então, agrupou os dados no documento oficial. Além do Brasil, foram citados casos em mais de duas dezenas de países.

    Segundo ela, o Conselho Nacional de Direitos Humanos do Brasil forneceu informações sobre como, nos últimos anos, o país havia “testemunhado um aumento preocupante no discurso de ódio e nas manifestações neonazistas”.

    “Em resposta ao crescente discurso de ódio e às manifestações neonazistas, o conselho havia estabelecido um Relator Especial para o Combate ao Crescimento de Células Neonazistas no Brasil”, destacou. Parte do mandato do Relator Especial é coletar dados sobre o crescimento dos movimentos neonazistas no Brasil.

    O documento também destaca como, em 2021, o Centro Nacional de Crimes Cibernéticos no Brasil teria recebido e processado 14.476 denúncias anônimas relacionadas ao neonazismo, destacando não apenas a gravidade da situação, mas também a urgência em abordá-la.

    “Além disso, o Brasil detalhou que, de acordo com uma pesquisa publicada no site do Fiquem Sabendo, no período entre janeiro de 2019 e novembro de 2020, 159 investigações foram abertas pela Polícia Federal relacionadas ao neonazismo. Isso foi comparado com 143 investigações que haviam sido abertas entre 2003 e 2018”, explicou.

    O Conselho Nacional de Direitos Humanos também forneceu informações sobre casos criminais no Brasil que, segundo a relatora da ONU, “demonstraram ainda mais como os níveis de neonazismo estavam aumentando”.

    “Os casos incluíam um episódio de violência escolar em que o agressor usava um uniforme militar e uma suástica em suas roupas, pichações nazistas em ambientes educacionais, ameaças em ambientes educacionais com referências nazistas, uma investigação de uma fábrica que produzia produtos que glorificavam o nazismo e a afiliação de indivíduos envolvidos em crimes violentos com o neonazismo e ideologias associadas”, explicou.

  • Fest Bossa & Jazz celebra 15 anos com realização da sua 30ª edição que acontece na Praia da Pipa em agosto

    Festival também comemora o reconhecimento como Patrimônio Cultural, Turístico Imaterial do Estado do Rio Grande do Norte – evento marcado de 15 a 18 de agosto

    Para coroar esta história de sucesso, com o recém reconhecimento como Patrimônio Cultural, Turístico Imaterial do Estado do Rio Grande do Norte, através da Lei  11.706 de 10/04/2024, o Fest Bossa & Jazz, após o anúncio oficial da 30ª edição marcada de 15 a 18 de agosto, agora inicia uma série de ações digitais e físicas de divulgação da sua edição no encantador refúgio que é a Pipa, em Tibau do Sul/RN. 

    Entre as ações, estão: a reforma da grande guitarra de oito metros (8m) de altura e símbolo do Festival, localizada ao lado do pórtico de acesso à Praia da Pipa e, a instalação de uma série de sinalizações anunciando as datas para todos os turistas e moradores desse que é um dos principais destinos turísticos do RN e do Nordeste.

    O Festival mantém seu formato democrático e inclusivo e vai oferecer uma programação linda permeada por quatro dias de apresentações musicais de artistas e grupos locais, regionais, nacionais e internacionais, de forma totalmente gratuita, em polos diurnos e noturnos distribuídos entre a Praia do Centro e a Av. Baía dos Golfinhos. Em breve a produção dará início a divulgação de mais detalhes dos polos e as primeiras atrações confirmadas.

    Um evento renomado com legados importantes nos âmbitos econômico, cultural e social. O Festival segue transformando pessoas e lugares por onde passa. Anualmente, oficinas sociais e culturais abraçam alunos da rede pública de ensino, ofertando palestras de conscientização socioambiental e, também, de iniciação musical. Nesses 15 anos de história, mais de 20 mil crianças já participaram das oficinas. Na 30ª edição, estas atividades vão acontecer no Santuário Ecológico da Pipa e em escolas públicas do local.

    Estão confirmadas também as Jam Sessions, tão conhecidas pelo público do evento. Elas são responsáveis por encontros inéditos, vibrantes e até inesperados, entre músicos participantes e o público, em bares e restaurantes parceiros, sempre ao final dos shows nos polos. Será mais uma edição para ficar na história e nos corações dos amantes do Fest. Fique por dentro e não perca nenhuma novidade, siga o perfil oficial do Fest Bossa & Jazz no Instagram em @festbossajazz.

    O Fest Bossa & Jazz Pipa 2024 é realizado por Juçara Figueiredo Produções com patrocínio de Ster Bom através do Programa Câmara Cascudo de Incentivo à Cultura do Governo do Rio Grande do Norte, da Prefeitura Municipal de Tibau do Sul e com apoios de Emprotur, Secretaria de Turismo de Tibau do Sul, Preserve Pipa, Luck Receptivo e Michelle Tour.

    Sobre o Fest Bossa & Jazz – 15 anos

    A primeira edição do Fest Bossa & Jazz aconteceu em 2010 em Natal/RN e seu contínuo crescimento fez com que este se tornasse um dos mais importantes eventos dentro do calendário cultural anual do Rio Grande do Norte. Ultrapassando as fronteiras da cidade de Natal, a partir de 2011, o Festival passou a acontecer também na paradisíaca Praia da Pipa. Visando ampliar ainda mais o público e atingir outros municípios com apelo turístico no RN, em 2015, o Fest Bossa & Jazz tornou-se um Circuito chegando até São Miguel do Gostoso e no ano seguinte até Mossoró.

    Com acesso totalmente gratuito e sempre fiel à proposta de promover o intercâmbio entre nomes consagrados e novos expoentes da música, o Fest Bossa & Jazz tem como principal objetivo divulgar e fortalecer o trabalho de artistas da música instrumental, da Bossa Nova, do Jazz e do Blues, bem como assumir a responsabilidade social de estender suas ações para além dos palcos. Na parte diurna do evento são oferecidas palestras, oficinas sócio ambientais, para crianças e jovens estudantes da rede pública, também são ministrados workshops para músicos. Com tudo isso incluindo o RN no circuito dos grandes festivais do Brasil.

    Foram 29 edições realizadas desde 2010 com um público de mais de 500 mil pessoas e mais de 350 atrações musicais locais, regionais, nacionais e internacionais em lineups que contemplam estilos como Jazz, Blues, Soul, Choro, Bossa Nova e a Música Instrumental agradando aos gostos mais diversos e contribuindo para o enriquecimento cultural da população, ao mesmo tempo que movimenta a economia local de cada cidade e região visitada pelo evento.

    O Fest Bossa & Jazz é uma festa completa para público, artistas, empresários, educadores e gestores públicos!

  • O que cola tudo

    Por Natália Chagas

    Rosário acordou cedo para aproveitar ao máximo possível aquele dia livre. O marido tinha ido pescar no fim de semana como era sua forma de relaxar sempre que estava tenso. Naqueles dias muitos problemas haviam se acumulado no escritório, então ele decretou sua alforria para descansar a mente e o corpo. Mal sabia ele que por detrás de todo apoio de Rosário havia uma certa satisfação em poder ficar um tempo para si, apenas isso que ela queria, respiro e autocuidado. Era uma das coisas boas naquele casamento bem-sucedido, os dois cuidavam para poder cultivar a relação. Imediatamente, Rosário deu a liberação, que não era sempre, para que os três filhos fossem para a casa da avó paterna na cidade vizinha. Sendo um ambiente interiorano, eles conseguiam brincar na rua com muitos amigos, e a avó cuidava deles como ninguém, e ainda lhes dava todo mimo do mundo. Assim todo mundo ficava feliz.

    Então naquele sábado, Rosário resolveu cuidar de si. Limpeza de pele, banheira quente por tempo indeterminado, vinho e queijos, almoço lento e principalmente silêncio. Ela sentia falta de estar com os próprios pensamentos como fazia quando solteira, de ter tempo para se organizar e poder parar quando quisesse. Era tudo que ela queria depois de um longo período de turbulência. Por isso, ela se sentiu livre ao acordar e ter apenas Maria em casa. Rolou na cama alguns minutos tentando clarear a mente de todos os problemas que não tinham solução naquele momento. “Pensar sem agir causa estresse e má digestão. Saber que os problemas existem é uma coisa, vive-los antes do tempo é burrice.” – repetia para si mesma as palavras de sua mãe. Uma batida na porta:

    – Bom dia, vim ver o que a senhora quer para o dia. – disse Maria.

    – Maria, gostaria de um café e umas torradas aqui na cama, por favor. Serei dondoca hoje. Mas depois do café, queria que você fosse na feira de Duquesa para fazer umas compras de verduras frescas e peixe. Eu sei que é longe, mas também sei que sua irmã mora por lá. Você pode aproveitar e fazer uma visita a ela.

    Maria sorriu ao ver a patroa cuidando de si e dela. Era bom trabalhar na casa porque Rosário garantia todos os direitos de trabalhadora e a tratava bem. Era bem diferente da outra casa que ela trabalhou antes. Ela havia sido vendida pelos pais aos tios de Rosário que a tratavam mal. Rosário tirou Maria daquela casa, matriculou a moça em um supletivo para garantir sua formação e ajudou a recriar laços com a família que ela tinha cultivado tanto rancor.

    – Eu fico muito feliz de poder ir na casa de minha irmã, mas quem vai cuidar do seu almoço? Nessa toada, vou acabar chegando só de tardezinha.

    – Pode deixar que eu mesma faço no meu tempo. Quero apenas bastante café para o dia todo, e agora mais cedo minhas torradas com bastante manteiga e o pote de mel para eu me lambuzar. – Sorriu.

    Maria saiu e foi buscar o café. Rosário abriu sua gaveta no criado-mudo, e foi tirando uma série de coisas que havia postergado por não serem emergenciais. Uma carta que havia iniciado para sua amiga Lívia, agora morando em Portugal, não era emergencial por trocas de mensagens no zap, mas era um desejo das duas que pudessem trocar correspondências como faziam antigamente; um prato de parede que caiu e rachou bem ao meio facilmente reparado com uma cola forte haveria em algum momento de voltar a decorar sua casa; a máscara de lama que sua prima havia lhe trazido de Araxá que nunca havia sido usado pois os filhos não lhe deixariam em paz com a cara enlameada foi o primeiro dos itens a ser colocado em ação.

    Quando Maria entrou com o café dentro do quarto chegou a levar um susto com Rosário e seu rosto marrom.

    – Cruzes, dona Rosário! O que é isso?

    – É um creme que dizem limpar e tratar o rosto. Estou testando. Maria, por favor, me traga a superbonder que fica na geladeira para eu consertar este prato, e minha carteira para eu te dar dinheiro para o transporte e compras.

    – Não quer que eu conserte para a senhora?

    – Não, pode deixar. Quero que você vá às compras o quanto antes para que pegue as verduras mais frescas possíveis. passe na peixaria de Osvaldo e diga que esta lista de peixes é para mim. Ele vai escolher a dedo, tenho certeza. – Entregou a Maria as duas listas, e retomou sua carta para Lívia.

    Leu aquele início de escrita com calma e atenção. Viu o tanto que estava desatualizada em suas notícias, tirou o papel, rasgou e começou a pensar como gostaria que a carta fosse. Nada de notícias, estas podiam ser dadas imediatamente no mundo virtual, nada de tristezas, estas seria melhor nem dar. Resolveu escrever entre desabafos e filosofia.

    Maria entrou novamente com a carteira e a cola:

    – Trouxe a garrafa de café, porque pelo jeito a senhora vai ficar aqui ainda por algum tempo.

    – Ah, Maria! O que seria de mim sem você? Tome dinheiro para uber e compras. Estou lhe dando dinheiro para ir de carro, se quiser economizar com moto na ida, sem problemas, inclusive compre um presente para seu sobrinho. Mas por favor, volte de carro, tá?

    – Sim, senhora.

    E Maria a deixou só com seu café, seu silêncio e pensamentos. Ainda pensado sobre a carta, colou o prato, que imediatamente, se transformou em quase novo. Mal se percebia o trincado. Levantou-se da cama para ir ao banheiro com a cola na mão, e quando ia fechá-la, viu que um pingo dela caiu no chão. Quase como um instinto de limpeza, colocou o dedo indicador por cima para tirar do chão e jogar fora. A cola, bem mais rápida que ela, grudou seu dedo ao chão. Sentiu o dedo queimar e um sensação uma força gravitacional puxando seu dedo para baixo. Ainda ouviu o portão bater, e sabia que Maria não ouviria seu chamado já que os quartos eram na parte de trás da casa bem distante da saída.

    Rosário tentou puxar o dedo, descascar a cola com as unhas da mão esquerda, temia que perdesse pedaço da pele do indicador ao arrancar de uma vez para se desgrudar dali. Olhou para a cama, e viu no criado-mudo do outro lado seu celular. Não conseguiria alcançar estando presa ao chão e naquela posição. Bem à sua esquerda estava a cama, imediatamente à sua direita se deparava com a parede, e em suas costas o criado-mudo do marido. Não conseguia esticar as pernas para nenhum lado. Ficou ali por alguns minutos, tentando ter uma brilhante ideia e nada lhe vinha à mente.

    Resignada, sentou-se de pernas abertas com o dedo bem à sua frente sem ter o que fazer. Olhava para o chão, e via as sujeiras acumuladas em cantinhos que não percebia ou não faziam diferença. Refletiu sobre quantas coisas passavam por sua vida desapercebidas por falta de atenção ou até mesmo pela escolha cômoda da negligência. Pensou em seus filhos e em como os amava mas o tanto de tempo que eles lhe sugavam com coisas que eles mesmos podiam resolver. Um dever de casa sozinhos, a arrumação de quartos e até mesmo a preparação da merenda da escola poderiam fazer parte de suas tarefas para criar uma independência. Lembrou-se do tanto que sofreu quando teve de ir para a capital estudar porque sua mãe nunca havia demarcado o território da disciplina para a liberdade. Ela não queria que seus filhos sofressem, então era melhor penar com ela na exigência do que no mundo apanhando. Decidiu mudar sua orientação na educação com as crianças. Assim que Afonso chegasse iria discutir isso com ele.

    Olhou para sua cama. Lembrou de um tempo em que Afonso não conseguia tirar as mãos de seu corpo. Fechou os olhos e a imagem dos dois na semana que passaram sozinhos em uma casa em Ubatuba completamente pelados com noites e dias de total tesão e carinho como se o mundo fosse apenas aquilo, ou como se só aquilo importasse. Nem viram a cor do mar ou do céu. Viram apenas um ao outro. Olhou novamente para sua cama, e se deu conta que há mais de dois meses não transavam com a velha desculpa do cansaço ou correria. Virou-se levemente, até o ponto que dava, para suas costas, olhou para a gaveta dos pertences pessoais de seu marido. Aquele, junto com o escritório, era o ponto da casa de privacidade total. Ponderou que apenas ela respeitava esse contrato. Não havia limites para ele no meio das coisas dela. Debateu consigo mesma se abria ou não aquela caixa de Pandora. O que poderia haver lá? E se achasse algo suspeito ou comprometedor, o que faria? Entre a curiosidade e o medo, chorou.

    Olhou novamente para o celular do outro lado da cama. Se pudesse pegá-lo, para quem ligaria? Seus pais já falecidos, seus dois irmãos morando distante, sua amiga em Portugal. Nenhum deles poderiam ajudar naquele momento surreal. Deu-se conta que seus laços mais fortes não passavam de sua juventude. Na vida adulta, ao se dedicar a casamento e filhos, não poderia contar com ninguém. Apenas Maria, que não estava lá. Não poderia impor uma amizade sem uma relação direta de paridade social ou de poder. Seria abuso de sua parte. Era uma grande parceira do dia-a-dia, mas não seria uma amizade real se não fossem iguais. Sentiu naquele momento a solidão de quem não se colocou na própria vida. Percebia que era figurante ao invés de sua protagonista. Novamente chorou com dó de si mesma.

    Cansada, conseguiu colocar as pernas para debaixo da cama e esticar seu corpo. Permitiu-se o xixi que segurava há algumas horas e as lágrimas de alguns anos. Dormiu chorando.

    Acordou com o chamado de Maria no escuro.

    – Maria, estou aqui debaixo da cama.

    – O que a senhora faz aí?

    – Estou pensando na vida. – Gargalhou da própria situação incômoda. – Vá, pegue acetona. Meu dedo grudou com superbonder no chão. Encharque o algodão e esfregue entre meu dedo e o chão, e me tire dessa situação em que me encontro.

    Enquanto Maria, delicadamente, e aos poucos descolava o dedo da patroa, Rosário pensava em escolhas e opções. Distribuía em sua mente uma série de possibilidades para onde poderia ir com sua vida, e como poderia se descolar da vida dos outros e ser livre. Uma coisa era certa: ela era sua própria vida daí em diante.

  • O Gambito de Lawrence

    As manchetes aqui, ali e acolá, sempre dão conta de que ele é um jovem, experiente, moderado, conciliador, que joga no ataque mas não esquecendo na defesa, e que defende as boas práticas políticas e a inovação na gestão. Basta uma rápida pesquisa e quem não conhece pessoalmente o presidente da Câmara Municipal de Mossoró e pré-candidato a prefeito Lawrence Amorim vai ter uma ideia de seu perfil.

    Encarando como uma missão em um tabuleiro até bem pouco muito morno da política mossoroense, aquém das grandes e memoráveis disputas de outrora, a convocação do PSDB para sair candidato a prefeito do município nas eleições de outubro, Lawrence quer discutir os problemas da cidade com todos os segmentos possíveis, entidades, categorias e população em geral. “Estamos formando um grupo de pessoas para pensar o município de Mossoró, para que aquilo que está dando certo tenha continuidade e, aquilo que não foi feito, que poderia ter sido feito, que o município teve as condições de fazer, mas não fez, seja implementado”, disse Lawrence, em entrevista recente a uma emissora de rádio.

    Para o pré-candidato, Mossoró precisa ter um leque maior de pessoas pensando a cidade, que as decisões não sejam tão centralizadas. “Mossoró é um município muito grande, muito importante, polo de toda a uma região, e precisamos que Mossoró também esteja aberto a trazer parcerias. Seja de pessoas que estão dentro da política, com mandatos, seja de pessoas que podem contribuir através da sua dedicação, das suas ideias”, acredita.

    Com o apoio já declarado do PT, PV, PCdoB, PSB e PSDB, Lawrence segue conversando. “Estamos construindo uma aliança democrática, pensando em soluções para a Mossoró de hoje e do amanhã”.

    Mesmo com um movimento de resistência no campo progressista ao nome ao seu nome por ele ter votado em Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais de 2022, Lawrence agradece ao apoio recebido e diz que o importante neste momento é “unir forças”.

    Até recentemente aliado do prefeito Allyson Bezerra (União Brasil), o pré-candidato Lawrence Amorim diz que pessoalmente não tem nada contra o prefeito Allyson Bezerra (União Brasil), mas entende que é hora de “debater ideias e projetos e que possa, realmente, fazer política olhando no olho e assumindo e cumprindo compromissos, a gente tem de ter menos discursos nas redes sociais e mais ações”.

    Ele também defende o alto nível do debate político na campanha eleitoral deste ano: “Acredito que o povo de Mossoró, a sociedade mossoroense, merece uma campanha propositiva de ambas as partes. Merece uma campanha em que se mostre o que pode ser feito por nossa cidade, e não uma campanha de ataques pessoais. Isso não interessa a população”.

    Presidente da Assembleia Legislativa e do PSDB no RN, Ezequiel Ferreira reforça o posicionamento do vereador Lawrence Amorim, como forma de tirar Allyson da zona de conforto: “Fortalecimento de pré-candidaturas se faz com diálogo, trazendo partidos para se juntar ao PSDB e fazer as mudanças que Mossoró começa a sinalizar”.

    Com pesquisas divulgadas que o colocam com até 80% de aprovação, Allyson é candidato à reeleição e até o momento está confortável no Palácio da Resistência.

    “Zona de conforto em política é sempre perigoso, porque em política ou eleição só se acaba quando contam votos”, diz Ezequiel, lembrando que com o próprio Allyson foi assim. “A vitória de Allyson Bezerra em cima de Rosalba Ciarlini, estava sentada na cadeira de prefeita, de uma família tradicional de Mossoró e Allyson saiu da Assembleia, com dois anos de deputado estadual, quando ninguém acreditava, tirou Rosalba da zona de conforto”.

    Para Lawrence, mesmo com aprovação de seu adversário, este é o momento. “Não porque ele ‘está fraco ou caindo a popularidade’, e mesmo com todo o favoritismo, a democracia precisa de pessoas que façam o contraponto para o desenvolvimento da cidade, da região Oeste e do Rio Grande do Norte”.

    Com uma trajetória política exitosa, antes dos 30 anos já tinha sido eleito e reeleito prefeito da cidade de Almino Afonso, município do Médio Oeste potiguar e terra de sua família, se destacando por estar sempre aberto ao diálogo com a comunidade, na busca de soluções para os problemas locais.

    Em 2018, disputou uma cadeira na Câmara dos Deputados e conquistou a primeira suplência da coligação. “Lawrence é uma nova liderança, que vem galgando espaços e destaques não só em Mossoró, mas na região e no Estado. Ele foi candidato a deputado e chegou a quase 60 mil votos, tendo 33 mil votos somente em Mossoró, obtendo a maior votação da história para um federal. Lawrence chega e terá carta branca do PSDB para as Eleições 2024”, diz o presidente estadual do PSDB, deputado Ezequiel Ferreira.

    Em 2020, foi eleito vereador da Câmara Municipal de Mossoró. E em 2021, foi eleito, por unanimidade entre os 23 vereadores do Poder Legislativo mossoroense, o presidente da Câmara para o biênio 2021/2022 e reeleito.

    Na busca em ampliar seu leque de alianças para as eleições deste ano, Lawrence Amorim disse que não tem preconceito em relação a nenhum outro grupo político e aceita conversar com todo mundo. “Não temos nenhum problema de sentar à mesa de nenhum partido, sempre fiz política de forma moderada, não tenho inimigos políticos, tenho adversários políticos”, diz.

    Sobre as provocações que ora estão só começando numa eleição que promete ser inédita – sem Rosalba ou Rosados como candidatos -,  Lawrence afirma sem medo: “Eu sou sim um político de posição, não fico em cima do muro. Político que teve a coragem apoiar o atual prefeito em 2020, quando ainda ninguém acreditava na sua vitória, que não se escondeu no segundo turno da campanha de 2022, que agora em 2024 teve a coragem de se posicionar ao não mais concordar com o rumo que tomou a gestão municipal e sua forma de fazer política. Então, eu quero debater e discutir os problemas de Mossoró neste pleito municipal”.

    Que Lawrence é ciclista, muitos já sabem. Falta agora saber se ele é bom de xadrez.