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Mentira sincera

Por Natália Chagas

Eu não confiaria em mim. Sou escritor. Venho de ventos em moinhos, vou de sol-a-sol. Trago palavras distorcidas, histórias inventadas. Já escrevo há tanto tempo que o humano em mim já morreu. Trago as verdades que querem ouvir. Não quero falar sobre isso. Às vezes não falo. Aceno. As pessoas entendem o que querem, como querem. Não explico. Embaraço linhas retas e curvo em pautas longas. Como pode ver, quando me abro para a verdade, já não faço sentido.

Minha esposa acha que sou um homem honesto, pago contas. Meus filhos acham que os amo, não os conheço. Meu vínculo aqui é a vida, apenas a minha e nada mais. Meus sonhos são pedaços de inverossímeis desejos acobertados pela fantasia. Não trato mais as possibilidades reais, mas continuo respirando. Encontro com a máquina de escrever e, apenas ali, me debruço nas verdades das estórias que conto.

Caminho pelas montanhas, um grupo de jovens se aproximam, puxam conversa, eu crio um personagem. No meio dos rostos sem medo, me aparece Helena. Ela me parece real, quase lúdica. Fala com firmeza dos astros e do além. Traça linha por linha das energias que rondam entre nós. Senta-se do meu lado no meio da tarde entre a relva e uma pedra e olha os pássaros. “Ouve” – diz ela – “Eles cantam a verdade que nunca saberemos.” Abre uma pequena garrafa, me oferece. É gim do mais puro teor. Os outros seguem trilha, nós ficamos naquele limbo ébrio buscando sinais. Ouvimos nossas respirações. Eu olho para ela, e ela está a me comer com olhos castanhos, enormes. Eu tento sorrir. Ela tensiona, e me diz:

– Você é meu grande personagem nesta caminhada.

– Por que eu?

– Porque não estava escrito e por isso não é a verdade. É o que eu quiser que seja.

A mão de Helena acha meu joelho com um descuido intencional. Sob seu vigilante olhar, para que não haja restrições, adentra minha bermuda e acaricia minha coxa. Eu me arrepio, ela percebe e sorri marotamente. Aproxima seus seios ao meu nariz retirando a blusa. Ocupa minha boca com os seios fartos, cala minhas verdades e destrói minha negação. Abre minha camisa, e com a ponta da língua percorre meu peito, minha barriga e tira minha bermuda. Encosto em uma pedra fria, fecho os olhos e sinto sua boca sugar meu pau completamente em movimentos rápidos e cuidadosos. Puxa a pele até a cabeça, retira a boca, e ainda com olhos fechados, sinto o calor de sua buceta molhada pulando incandescente até o gozo.

Respiramos afobados. Quero perguntar coisas, saber daquela louca. Calo-me para não haver mais mentiras. A verdade é plena e se vai junto aos passos de Helena que segue a trilha.

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