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Jaeci Galvão, O Divino da Fotografia Potiguar

Texto: Alex Gurgel (professor, fotógrafo, escritor e guia de turismo)

Fotos: Jaeci Galvão

E-mail: alexgurgel@msn.com

Instagran: @engenho_de_fotos

X: @alexgurgel

As fotografias de Jaeci contam grande parte da história moderna de Natal, através de  lugares, pessoas e momentos que marcaram 50 anos da vida natalense no século XX.

Quem quer conhecer a fotografia urbana de Natal das décadas de 40, 50, 60 e 70, tem que se debruçar nas fotos de Jaeci Emereciano Galvão. Uma referência na arte de Cartão Postal de Natal durante 40 anos, Jaeci Galvão começou a fotografar por impulso aos 14 anos quendo sua mãe observou a sagacidade com que o menino manejava a máquina fotógrafa do pai e cogitou a profissão de fotógrafo. Como relembra sua irmã: “Papai tinha uma máquina, ele começou com a máquina de papai e tio Alphéo, ajudou depois”.

Em uma viagem passando por Natal, seu tio Alphéo, que era um militar da Marinha do Brasil, lhe apresentou um marinheiro que comercializava máquinas fotográficas. Entre as máquinas que estavam disponíveis para negociação, havia uma Voiitlender Baby Bessa, de origem alemã. Com essa câmara em mãos, Jaeci viu à oportunidade de profissionalizar o seu trabalho na fotografia, era uma das máquinas mais modernos da época. A irmã Terezinha, afirma que a responsabilidade e a vontade de trabalho, sempre foi presente na vida de Jaeci. “Muito cedo abraçou os deveres profissionais e familiares”, afirmou sua irmã.

Para entender o desenvolvimento urbnano/paisagístico da cidade do Natal de hoje e do amanhã, é preciso compreender as fotografias de Jaeci Galvão. Nomes importantes também fotografaram a vida urbana e social de Natal como Bruno Bougard, Manuel Dantas, João Alves de Melo e outros fotógrafos e merecem todo o respeito e consideração. Mas, há de se registrar que foi vendo o trabalho de Jaeci, que todo natalense sonha com uma Natal que não existe mais e que ninguém conheceu. O trabalho fotográfico dele é uma referência tão importante, que ao observarmos muitas das fotos antigas que ele clicou, contemplamos com maior nitidez a nossa história.

Os primeiros registros de Natal através das lentes Jaeci foram realizados durante a 2ª Guerra Mundial, período de  movimentação intensa na então pequena capital do estado. O fotógrafo inaugurou seu primeiro estúdio em 1948, no Alecrim, com a famosa marca “Foto Jaeci”. Nessas primeiras fotografias, Natal era uma cidade provinciana de 50 mil habitantes. Ponta Negra, principalmente o Morro do Careca, é o cenário que ele mais admirava. Foi no bairro onde viveu seus últimos anos. Jaeci Galvão faleceu em novembro de 2017, aos 87 anos, em decorrência de um AVC, deixando um grande acervo fotográfico da capital potiguar.

O trabalho fotográfico e a vida de Jaeci Galvão está registrado em um maravilhoso livro, realizado pelo seu filho, o igualmente talentoso Fred Galvão.  Intitulado “Jaeci, O Divino da Fotografia”, cuja obra possui 278 páginas, com muitas fotos do trabalho de Jaeci Galvão junto a nossa sociedade. São fotos históricas da cidade de Natal e instantâneos que mostram toda a vida de um homem que trabalhou buscando o melhor ângulo de uma cidade chamada Natal. Além do livro de Fred Galvão, o acervo de Jaeci tem muitos cartões postais de Natal com praias urbanas, prédios, ruas e avenidas, acontecimentos sociais, políticos, e retratos de famílias. Uma parte desse acervo fotográfico de Natal pode ser vista nos DVDs “Natal de Ontem” e “Natal de Hoje”, uma seleção de 200 imagens feitas pelo próprio Jaeci, lançados em 2012.

As fotografias urbanas de Jaeci Emerenciano Galvão formaram uma narrativa visual da cidade de Natal durante mais de 40 anos. As projeções e perspectivas visuais paisagísticas urbanas de suas imagens nos cartões-postais da cidade de Natal guardaram lembranças desses espaços na memória coletiva. A produção fotográfica de Jaeci encenam a cidade em seu crescimento urbano. E o fotógrafo, além de ser autor de um dos mais completos acervos iconográfico da cidade, é a memória viva de um período singular da história de Natal.

Jaeci e a fotografia do foguete na Barreira do Inferno

Segundo o jornalista Paulo Macêdo, quando a base de lançamento de foguetes na Barreira do Inferno foi inaugurada em Natal, o primeiro foguete a ser lançado ao espaço foi um Nick Apache de fabricação americana. Ninguém, por este Brasil, sabia bem o que era isto e nunca havia testemunhado o lançamento de um foguete.

Paulo Macêdo foi convidado para o acontecimento e convidou o fotógrafo Jaeci para acompanhar e documentar esse lançamento que foi divulgado em 14 Nações. Jaeci aceitou o desafio e entrou para a história das ações espaciais do País. Jornalistas e fotógrafos de todo o País, representando os maiores jornais e revistas se acomodaram no Mirante da Barreira do Inferno. Jaeci, também.

A hora em que o foguete-precursor disparou da plataforma central, o ruído que produziu na terra e o susto que pregou aos assistentes convidados, impediu que os fotógrafos de toda parte documentassem a trajetória do foguete rumo ao espaço sideral. Só Jaeci, exclusivamente Jaeci conseguiu fotografar a subida do foguete e, muito solicitado, cedeu a foto à revista Manchete, poderosa à época, cujo fotógrafo havia perdido o flagrante. A foto do foguete foi um sucesso nacional.

A fotografia do Presidente Café Filho no Teatro Alberto Maranhão

De acordo com uma crônica do jornalista Carlos de Souza, a profissão de fotógrafo trouxe mais alegrias que dissabores para Jaeci. Um episódio que ele gosta de lembrar divertido é sobre sua primeira experiência profissional de grande importância. Ia ser prestada uma homenagem ao presidente Café Filho, no então Teatro Carlos Gomes (hoje, Teatro Alberto Maranhão).

Senhoras da sociedade natalense iam entregar um buquê de flores ao Presidente. Naquela solenidade o único fotógrafo presente era Jaeci. “O teatro todo estava esperando aquele momento, a entrega do buquê de flores, e eu usava aquelas máquinas com flashes de lâmpadas em que o obturador era acionado por um imã”, disse o fotógrafo.

Segundo Jaeci, no momento da entrega era aquele silêncio dentro do teatro. “Então eu vou me preparar para bater a foto, aí um sujeito lá em cima grita, ‘falhou’. Todo mundo caiu na risada, porque falhou mesmo. Se eu pudesse, me enterrava ali mesmo. Imediatamente tirei a lâmpada, mudei, e novamente quando vou bater a foto, o cara lá em cima grita, ‘falhou de novo’. Aí fiquei morto de vergonha. Olhei para o equipamento, o diabo do fio estava solto. Botei no lugar, fiz a foto e me saí com essa: ‘Senhor Presidente, foi a emoção de fotografar um Presidente conterrâneo que fez isso’. Ele me agradeceu e apertou minha mão. Para mim foi uma honra muito grande”.

Escrito por Alex Gurgel

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