Há poucas pessoas neste país, especialmente os que têm mais de trinta anos, que não tenham ouvido falar, nem tenham ouvido a voz de Luiz Caldas. Este baiano de 59 anos de idade completados em 19 de janeiro, depois de percorrer quilômetros cantando e tocando em cima dos trios elétricos Tapajós ou Acordes Verdes, foi ouvindo e misturando os sons do rock, do reggae, do frevo, da lambada e de outros ritmos e criou um ritmo que foi precursor da axé music, então um termo tido como pejorativo, batizando-o de deboche e invadiu o Brasil.
Em 1986, seu primeiro disco, intitulado Flor Cigana, ainda no tempo do vinil, foi um dos mais tocados no rádio, um dos mais vendidos e Luiz Caldas virou arroz de festa, presente em todos os programas de televisão, do popular Cassino do Chacrinha ao elitizado Chico & Caetano. Era impossível ignorá-lo. Era uma música simples e divertida, com apelo sexual e letras às vezes de duplo sentido, que conquistava especialmente os mais jovens. Todo o Brasil cantou e dançou Haja amor, Fricote, Tieta, Lá vem o guarda, O que é que essa nega tem.
De 1986 a 1989, o baiano lançou um disco por ano até ser consumido pela indústria fonográfica que lhe cobrava músicas de sucesso, sua produção e qualidade foram caindo até seu desaparecimento e a substituição por outros que não tinham a metade do seu talento.
Luiz Caldas sumiu da mídia, se recolheu em Salvador, entrou em crise de criação e repensou sua vida e seu trabalho, concluindo que tudo o que sabia fazer era música. Com a mudança nos padrões do mercado fonográfico, voltou a compor, jogou sua produção nas redes sociais e nas plataformas de streaming e passou a fazer um disco mensalmente, nos ritmos mais variados. Multi-instrumentista, tem disco instrumental, disco com chorinhos e canções, disco para as festas juninas, chegando a ser indicado ao Grammy Latino de 2021 com o álbum Sambadeiras, onde mergulhou fundo no samba de roda do Recôncavo Baiano.
Em 2020, a bela canção Eu tenho fé, uma mensagem de esperança, composta em parceria com Nagib para o álbum Um novo tempo, lançado no auge da pandemia de Covid, viralizou na Internet e mostrou que Luiz Caldas continuava vivo.
Lançando um disco por mês desde 2013, Luiz Caldas acaba de atingir a impressionante marca de 118 álbuns neste mês de janeiro, com o lançamento de FROM DAWN TO DUSK, disco de rock cantado em inglês, disponibilizado em seu site e inserido nas plataformas musicais e parece querer ir muito mais longe. Enquanto isso, a tal da axé music parece ser coisa do passado como outros modismos produzidos a toque de caixa para ser música de consumo fácil.
Luiz Caldas continua vivo sim e quem quiser ouvi-lo é só acessar as plataformas de streaming e conferir.
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