No dia 1º de abril de 2022, o Brasil perdeu Rui Maurity de Paula Afonso e, com certeza, as novas gerações nunca ou muito pouco ouviram falar no seu nome. Rui Maurity era excelente compositor, nascido em Paraíba do Sul, Rio de Janeiro, irmão do também compositor Antônio Adolfo e fez muito sucesso na década de 1970. Sua mãe foi uma excelente violinista, uma das pioneiras do Rio de Janeiro. Uma fatalidade nos tirou a vida do artista. Durante a realização de uma endoscopia, ele sofreu uma parada cardiorrespiratória e não sobreviveu. Acontece.
Rui Maurity, como todos os de sua geração, começou a carreira participando de festivais e lançou seu primeiro lp em 1972 com uma canção – Serafim e seus filhos – que fez sucesso imediato e continua a ser regravada. Como ninguém, Maurity sabia misturar o toque da viola caipira com pontos de umbanda e foi assim que em 1976 alcançou tremendo sucesso com a composição Nem ouro nem prata. Outros sucessos vieram como Menina do Mato, Bananeira Mangará (do médico e compositor norte-rio-grandense Janduhy Finizola) e A Xepa, feita para ser o tema da novela Dona Xepa, da TV Globo, em 1977. Ruy Maurity compôs outros temas para novelas e criou muitos jingles.
Aqui começa outra história pois nenhuma de suas composições é conhecida como Marcas do que se foi, que todos cantam na passagem do ano novo.
Eis a história. Decorria o ano de 1977, governava o país o general Ernesto Geisel e, depois do tremendo sucesso de Eu te amo meu Brasil, composição de Dom e Ravel, interpretada pelo grupo Os Incríveis, o governo resolveu contratar uma agência de publicidade, uma produtora de jingles, para compor uma música para ser veiculada nas festas de fim de ano e elevar o ânimo de nosso povo. Assim foi feito.
Mesmo sendo tradicionalmente de esquerda, os artistas nunca deixaram de ganhar um “dinheirinho” do governo, mesmo na época da ditadura.
Foi contratada a produtora Zurana e seus sócios se juntaram para a elaboração do jingle. Eram nada mais nada menos que Rui Maurity, seu mais constante parceiro José Jorge, Tavito, um dos autores de Casa no Campo, Paulo Sérgio Valle, Ribeiro e Márcio Moura. Elaboraram a composição e foi escolhido o grupo Os Incríveis para sua interpretação. Imediatamente a TV Globo passou a divulga-lo como tema das festividades de fim de ano e o sucesso foi imediato.
Marcas do que se foi é uma das músicas mais conhecidas no Brasil e, de norte a sul, é entoada na virada do ano. Hoje tem uma série de regravações.
Se o caro leitor for pesquisar a autoria em sites de música vai encontrar como sendo de Os Incríveis ou de Zurana, que se tratava da produtora de jingles, mas a história agora está contada como realmente aconteceu.
Lamentável que já tenhamos perdido além de Rui Maurity, Tavito.
E nós continuaremos cantando Marcas do que se foi porque é uma canção bonita e uma canção de esperança.
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