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Eu, Narcyvenson

Por ANA CADENGUE

O poeta romano Ovídio (43 a.C.-18 d.C.) conta em sua obra Metamorfoses que existiu um jovem tão formoso, mais tão formoso, que despertava o interesse de meninos e meninas que eram prontamente ignorados, já que desprezados pelo belo varão.

O mito de Narciso ou “auto admirador”, como traduzem alguns do grego antigo Νάρκισσος, não aconteceu na velha província do Rio Grande, mas inspira muitos pretensos portentos que após 15 minutos de fama se consideram ungidos, verdadeiros salvadores da pátria.

Alçado à celebridade pela suposta rigidez – também considerada grosseria e desrespeito – com que conduzia a Operação Lei Seca no RN, o capitão da Polícia Militar eleito Senador da República teve um upgrade de vida e aproveita sua posição para desdenhar da classe política a qual pertence, mas nega.

Cotado como opção para disputar o governo do Rio Grande do Norte contra a governadora Fátima Bezerra (PT), o senador Styvenson Valentim (Podemos) ainda não se decidiu pela empreitada e vive declarando que não aceita pressões internas de seu partido, que tenta uma definição antes dos 45 minutos do 2º tempo para colocar o bloco na rua (me perdoe, Sérgio Sampaio). 

“É mais fácil eu sair do partido. Não devo nada a ninguém, não devo nada a partido nenhum”, reclamou o político que repudia a política.

Considerado explosivo, agressivo e desmerecedor de confiança no meio político, o senador consolidou a imagem de arrogante e grosso até no trato pessoal, confundindo dureza nas palavras com palavrões e fazendo repetidas declarações que dificultam ou inviabilizam alianças.

Em recente entrevista, Eann Styvenson disse que acha complicado subir em palanque alheio, “por ser difícil estar no meio aonde há falsidade, a rasteira” e “não que seja o melhor de todos os políticos, (mas) pelo menos não sacaneio ninguém, não furo ninguém”.

Aparecendo em segundo lugar nas últimas pesquisas pré-eleitorais divulgadas recentemente, o senador Valentim diz que aguarda a definição dos potiguares para decidir se será mesmo candidato ao governo do Rio Grande do Norte. Declara que “não tem o ímpeto, nem os métodos arcaicos de fazer política que repudio” e que prefere “aguardar a vontade dos eleitores”.

Diante de tais alegações, a Papangu na Rede pergunta: não seria exatamente isso – a vontade dos eleitores – que caracteriza uma eleição? Bom, já que é um atuante adepto de ‘lives’ em redes sociais, talvez o nobre parlamentar esteja considerando que a quantidade de “joinhas” corresponda a de votos ou mesmo a uma aclamação popular.

Enquanto não delibera sobre suas pretensões políticas, o senador anunciou no início de junho que aguarda a conclusão de um relatório sobre a situação financeira do Estado para decidir se será candidato nas eleições deste ano e qual plano de governo pode ser apresentado.

A indefinição de Styvenson suscita as mais variadas interpretações, sendo a de que tem medo de um eventual fracasso administrativo como a mais comum. Alguns consideram esse suposto relatório como a desculpa esfarrapada perfeita para o Valentim fugir da raia e que lhe falta coragem para topar a parada.

Já outros acham incrível que embora senador há quase quatro anos, o capitão não saiba ainda qual a realidade financeira do Rio Grande do Norte. Muitos querem mesmo é saber o que ele tem feito como representante do estado no Senado, além de refugar em assinaturas de CPI para investigar suspeitas de corrupção nesse governo federal.

O Mito de Narciso, ainda segundo Ovídio, narra que ao ver que a apaixonada ninfa Eco correndo em sua direção, o belo mancebo tenha gritado: “Afasta-te! Prefiro morrer do que te deixar me possuir!”. Vai que é isso…

Bom, segundo a história, Narciso era tão belo e tão vaidoso que, após desprezar inúmeras pretendentes, acabou se apaixonando pelo próprio reflexo. Morreu de fome e sede à beira da fonte de água onde via sua imagem refletida, mostrando que a arrogância, o excesso de vaidade e a falta de empatia não fazem bem a ninguém.

E, já que Narciso acha feio o que não é espelho (mil perdões aí, Caetano), esperamos sinceramente que se decidir realmente ser candidato ao governo do estado, o capitão não escolha como jingle a música “Eu me amo” do ultrajante Roger e que, se assim for, eles possam ter o mesmo destino.

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