Sou fascinado com arroubos e explosões de felicidade, até porque não sou muito dado a elas. Mas compreendo que para gente mais passional expressar sentimentos e sensações é algo natural, quase uma necessidade, o que torna a comunicação dessas pessoas algo visceral, por vezes exagerado. Faz parte do jogo da vida.
O que me surpreende e até me fascina é a expansividade no trato em universos coletivos e, teoricamente, mais formais como universo de trabalho, e também os famigerados grupos de zap.
Portanto, acho estranho quando em um grupo de zap formal envolvendo um tema específico a pessoa saúda com um “bom diaaaaaaa” assim mesmo com muitos “a” que é para o grupo ter certeza que ela abordou bem e deseja que todos e todas tenham um dia especial e produtivo. Geralmente esse tipo de mensagem é cedo, antes das 7h30, que deve ser para mostrar que a pessoa também é madrugadora, ou seja, trabalhadora e esforçada, já que, como sabemos, deus ajuda a quem cedo madruga.
Mas tenho meu pé atrás com tanta efusividade. E se num grupo de cem pessoas todas resolverem dar bom dia? Passaremos a manhã respondendo aos bons dias uns dos outros. Enfim, coisa de ranzinza, acho que passar dos cinquenta me deixou mais chato do que eu já era.
Por falar em ranzinzice, também venho pegando ar, como dizem, com outras coisas. E expressões. Como “namastê” e “muito axé”, saudações bacanas que originalmente saiam do lugar comum mas hoje, pelo excesso de uso, inclusive de maneira indevida, entrou no meu index pessoal de rejeição. E que nem se pense em restrição por viés religioso. Também por excessos de “fiquem com deus” e “deus te abençoe” sou capaz de sair do grupo ou bloquear o cristão, digo, a pessoa. Preferências religiosas sim, grupos de zap e comunicação interpessoal pelas redes à parte.
Enfim, minha chatice final nesse desabafo de Dom Casmurro que se tornou essas mal traçadas linhas, fica com a expressão multi utilizada há um tempo, “beijo no coração”. Se beijo, algo externo e corpóreo, o estalar dos lábios na pele, é dado justamente por isso em lugares externos – lábios, bochechas, mão, pescoço – como idealizar um beijo em um órgão externo. Um beijo no seu fígado, então. Valeu, beijo na traqueia. Mas, chatice à parte, aceito de bom grado beijos no coração quando de gente querida e com boa intenção. Mas podem me mandar bom dia com apenas um “a” no final que vou apreciar.