Desde criança ouvia, seja de pais, tios, tias que fulano e beltrana eram católicos, mas ´não-praticante`. Era algo que me intrigava. O que diabos (ops) viria a ser uma pessoa que se define como algo mas não a pratica? Eu pensava no que seria um médico não-praticante`, aquele que se recusava a atender pessoas e tinha horror a sangue ou consultórios. Ou um flamenguista não-praticante`, aquele que não gostava de futebol, nem de camisa rubro-negra e jamais assistira a uma partida de futebol.
Mistérios da infância e brincadeiras à parte, o fato é que ainda jovem descobri que quase nenhum católico era realmente ´praticante`. Mesmo os, digamos, praticantes, o faziam na medida dos rituais (comunhão, crisma, batismo dos filhos, ir à missa todo domingo) e não da postura apregoada por Cristo (amor ao próximo, dividir o que tem, caridade, perdoar).
Se antes existiam esses católicos ´praticantes` e ´não-praticantes`, de um tempo para cá os evangélicos adentraram essa seara comportamental. Na minha juventude, evangélicos (o termo usado era ´crentes`) eram rigorosos em relação aos preceitos bíblicos e à doutrina. chatos, sim, mas coerentes, já que faziam da teoria a prática. E falo de cátedra, filhos de mãe e tias evangélicas, posso relatar situações diversas do dia a dia.
Porém, a ascensão das igrejas pentecostais e da famigerada ´teologia da prosperidade`apreghoada por criaturas como Silas Malafaia, Valdomiro Santiago e Edir Macedo, construiu uma classe de evangélicos bem parecidos com os católicos usuais: q2ue podem ou não praticar o que apregoam. Que defendem um tipo de vida na teoria mas que vivem de outra maneira na prática. Não causa surpresa, portanto, a imensidão de casos registrados pela mídia de pastores estupradores e/ou estelionatários, de pornô gospel, traições, drogas etc. Isso para nem detalhar casos famosos como o da pastora Flordelis, a que matou o marido e fazia orgias com os filhos adotivos, ou André Valadão, da Igreja da Lagoinha que acolheu o famigerado Alexandre Pádua, o assassino de Daniela Perez.
Por que lembrar e registrar tanta coisa neste momento/ Talvez pela chegada na Semana Santa, quando os cristãos se abstem de comer carne para não desagradar a Deus mas não se abstém de muitos outros pecados, incluindo o da carne, em outros aspectos. Uma pena que a crença tenha virado uma mera teoria e conjuntura social para arrotar na mesa que é ´católico’ ou ´evangélico,` ou seja, um cidadão de bem.
Cidadão de bem/cristão, por sinal, que prega o casamento como união indissolúvel de homem e mulher e mulher com as bênçãos do Senhor e apoia e vota em quem tem três casamentos nas costas com cinco filhos de três mulheres diferentes e de quebra idolatra torturador (lembram que Jesus foi torturado, né?). Como cereja do bolo da desfaçatez ainda fazem arminha com a mão em plena igreja. Podem ser praticantes, digamos, mas Deus – se existir, está olhando – viu?