Sobre

A Fina Luz da Fotografia Potiguar

A origem etimológica de “fotografia” vem do grego e significa “gravar com luz”: “foto” (luz) e “graphein” (escrever, gravar).

Em 19 de agosto de 1827, o cientista francês Joseph Niepce desenvolveu a primeira imagem fotográfica. Niepce colocou uma gravura em uma placa de metal revestida com betume e depois a expôs à luz por 10 horas. As áreas sombrias da gravação bloqueavam a luz, mas as áreas mais brancas permitiam que a luz reagisse com os produtos químicos na placa. Por esse feito, todo ano no dia 19 de agosto, o mundo inteiro celebra a fotografia.

12 anos depois, em 1839, o primeiro processo fotográfico prático foi inventado por Louis Daguerre. O processo de daguerreotipia envolvia expor uma chapa de cobre prateada a vapor de iodo para criar uma superfície sensível à luz. A chapa era então exposta à luz, desenvolvendo uma imagem latente que se tornava visível por vapor de mercúrio e fixada com uma solução de sal. O daguerreótipo produzia imagens altamente detalhadas e únicas, e sua introdução marcou o nascimento da fotografia comercial.

A fotografia chega ao Brasil em 1840, apenas um ano após a invenção do daguerreótipo na França. O abade francês Louis Compte fez demonstrações ao jovem imperador Dom Pedro II, que ficou maravilhado com o invento. Dom Pedro II passou a colecionar daguerreótipos, tornando-se o primeiro fotógrafo brasileiro e constantemente posava com suas câmeras fotográficas junto com a família imperial no Brasil.

Em Natal, os primeiros registos fotográficos foram dos irmãos suíços Max e Bruno Bougard, que chegaram à Cidade dos Reis Magos em 1897 e montaram seu ateliê na Rua Treze de Maio, nº 38, atual Rua Princesa Isabel, no Bairro da Cidade Alta, oferecendo seus serviços através de anúncios no Diário de Natal. Com o tempo, os irmãos se separaram o somente o Bruno Bougard ficou no Rio Grande do Norte.

Bruno Bourgard foi o um fotógrafo itinerante, viajando pelo interior do Rio Grande do Norte em busca de clientes endinheirados e capazes de pagar seus serviços. Bruno Bougard retratava pessoas e as cidades. Bruno buscava lugares mais altos para fazer grandes panorâmicas e a cúpulas das igrejas eram seus lugares preferidos. Em Natal, um dos seus primeiros registros arquitetônicos é o da Praça André de Albuquerque fotografia do alto da torre da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação.

Em 1908, o fotógrafo genuinamente potiguar era Manoel Dantas, que era também professor, advogado, jornalista, juiz de direito, político e precursor dos estudos do folclore no Rio Grande do Norte. Como Manoel Dantas era o único em Natal que possuía equipamentos sofisticados de fotografia e ótica, ele reunia amigos e convidados em sua casa para apresentar tudo que fotografava. Essas reuniões reuniam grandes plateias e contavam com um aparelho ótico de projeção conhecido como estereoscópico, que projetava paisagens e retratos fotografados por Manoel Dantas.  O estereoscópico foi muito popular entre as classes abastadas em inícios do século XX.

Manoel Dantas e Bruno Bougard foram os pioneiros da fotografia em solo potiguar, que fizeram os primeiros registros urbanos de Natal, cujas fotografias foram testemunhos de uma cidade em transformação, tanto o aspecto urbano como as manifestações sociais que aconteciam na cidade. Ambos fotógrafos fizeram fotos de pessoas em situações diferentes, tanto na população mais humilde quantos em festas da alta sociedade natalense, criando um acervo social importante da fotografia potiguar.

Dos anos de 1940 até 1980, o fotógrafo natalense Jaecy Galvão fez imagens icônicas da cidade e de seu povo. Aproveitando os americanos em Natal, durante a Segunda Guerra Mundial, quando fez imagens aéreas da cidade de dentro de aviões norte-americanos. Jaecy elaborou uma das maiores narrativas visuais da vida social de Natal. Ele ficou conhecido em sua juventude, entre seus amigos e clientes como o “fotógrafo dos artistas”, fotografando políticos e as pessoas que se destacavam socialmente.

Atualmente, o “Erre Ene” é celeiro de grandes fotógrafos como Giovanni Sérgio e sua obra prima, o foto livro “As Quatro Margens do Rio” (1996 – Editado através da Lei Municipal Djalma Maranhão), uma narrativa visual onde o artista fotografou o Rio Potengi com suas paisagens por onde o rio passa e sua gente ribeirinha, desde sua nascente em Cerro Corá, no Seridó, até o quando o rio encontra o mar, na Boca da Barra tendo o Forte dos Reis Magos como testemunha do encontro do Oceano Atlântico com o Potengi.

É importante citar o fotógrafo Canindé Soares que merece todas as homenagens por suas fotografias mostrando Natal e o Rio Grande do Norte ao mundo. Entre os inúmeros trabalhos de Canindé Soares, poderemos destacar os livros: “Vem Viver Natal” (2010), “Natal por Canindé” Soares (2012), “Natal em Fotos” (2014) e “Litoral do RN” (2019). Poderemos destacar que em 2017,a doutoranda Sylvana Kelly Marques apresentou sua tese na UFRN onde a fotografia de Canindé foi o objeto do estudo, com o tema, “As narrativas de Canindé Soares entre o turismo e a devoção”.

A história da fotografia potiguar tem consagrado nomes como Bruno Bougard, Manoel Dantas, Jaecy Galvão, Giovanni Sérgio e Canindé Soares. Poucos Estados brasileiros tem uma fotografia tão pulsante e valorizada com pessoas comprometidas em estudar as núncias da luz e sua magia com a câmera escura. Aqui há escola de fotografia, coletivos fotográficos, foto clubes e uma gama de excelentes fotógrafos em atividade. Falta concursos fotográficos por parte do Poder Público para incentivar o fazer fotográfico, criando um ambiente para um destaque mundial da fotografia potiguar.

Escrito por Alex Gurgel

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