Tragédia ou Comédia…
Um fato acontecido há mais de 2 mil anos é, sem dúvidas tema de representações Teatrais das mais variadas produções, desde a superprodução global, pelo menos até antes do início da pandemia, de Nova Jerusalém em Pernambuco até os grupos de Teatro amador ligados a grupos de jovens, de escolas e outros afins, aqui me refiro a Paixão de Cristo.
Pois bem, com tantas montagens Brasil e mundo afora não é exagero falarmos que muitos episódios acontecidos dão a esse clássico da tragédia, um destaque significativo em “erros” que em questão de segundos transformam a tragédia em comédia, aqui contarei os bois mas não os nominarei, vou optar por deixá-los no anonimato. A atmosfera que se cria em torno destes acontecimentos teatrais é quase sempre a mesma, reflexões e sentimentos de pesar e dor que irão culminar com a esperança da ressureição.
Uma certa vez numa dessas montagens, o grupo deu uma certa ênfase ao milagre em que Cristo é procurado para trazer Lázaro do reino dos mortos, no entanto, o ator que desempenhava o papel desta personagem tinha um certo apreço pela famosa água que passarinho não bebe e, justamente no dia da estreia do espetáculo o sujeito em causa já acordou eufórico com a situação, sentimento comum a atores e atrizes, desse modo a manhã passou voando e, quando ele voltava para casa afim de almoçar encontra-se com uns amigos que degustavam uma aguardente com o umbu como petisco, fruta cuja safra coincide com o período da semana santa, logo vem o convite para tomar uma que aceito, foi pra duas, três… Enfim a brincadeira foi até quase a hora da apresentação, lembrado do compromisso o fulano partiu pra casa pegou seus figurinos e foi pra o local da apresentação, maquiagem feita ele logo se acomodou no seu leito de morte, chegada a hora da cena o Cristo faz sua entrada e ordena que Lázaro volte do além e…Nada, Cristo repete que Lázaro reviva e… Nada. Após outras tentativas o Cristo esbraveja: “…esse FDP irresponsável tá com o cu cheio de cana…” o riso explode pela plateia.
Uma outra ocasião lá pelas bandas do Seridó, o Cristo já crucificado, um soldado com sua lança ao lado da cruz e outros soldados jogando dados ao pé da cruz eis que alguma pessoas da plateia mais atentas e próximas da cena fazem comentários e riem baixinho entre si o soldado da lança, incomodado com o incomum, olha para o crucificado e percebe que, por má arrumação e força da gravidade o saco do cristo pendia fora da sumária vestimenta e, numa desastrada tentativa de corrigir o pouco perceptível incidente, faz uso da lança para tal, arrancando protesto do Cristo e ampliando para toda a plateia o bizarro acontecimento que, consequentemente desaba em risadas.
No vizinho estado da Paraíba, e essa eu presenciei, em João Pessoa havia um grandioso espetáculo e, sempre era um convidado “global” à fazer o papel de Cristo e o da vez era recém lançado nas telinhas, fazia par com uma bela atriz em sotaque italiano e o cara era na época mais valioso pelos seus atributos físicos que pelo talento artístico, na plateia os espaços mais próximos foram disputados pelas “beatas” e, pelas adolescentes enlouquecidas para ver o ídolo de pertinho, óbvio que estas ganharam fácil a disputa, e eis que o Cristo é crucificado e dá seu último suspiro, morto e cabeça pendida ao lado as adolescentes entoam um fervoroso coro “ lindo, tesão, bonito e gostosão…” o Cristo, em sua inexperiência e vaidade fecha a cena soltando um dos braços e mandando beijinhos as histéricas fãs… É, o fio entre tragédia e comédia é mesmo muito tênue.
Beto Vieira é ator