Sobre

De volta. E à sopa!

“Vocês pensam que nós fomos embora… Nós enganemos vocês, fingimos que fumo mais vortemo, oi nós aqui traveiz…” Olha a boca de cena na Papangu.

Hoje é 14 de março dia da poesia, lá pelos anos 1980 sempre havia algum “furdunço” lá pelas bandas do Teatrinho do povo, o Teatro Sandowal Wanderley, no Alecrim, um Teatro de muitas histórias, um patrimônio do bairro e seus moradores e, por falar naquele lugar, outrora palco do projeto Pixinguinha, dos belos shows da Alcateia Maldita, dos clássicos Pluft — o Fantasminha, A viagem de um Barquinho, A feira de Lourdes Ramalho, O auto das Sete Luas de Barro e Tantas outras maravilhas lá encenadas, cantadas e dançadas, me vem à lembrança uma história lá vivida.

No ano de 1986 o movimento teatral Potiguar era efervescente, vários grupos mantinham uma produção sistemática na capital e no interior. Aqui em Natal, despontava um grupo de Teatro de Rua que ganhava espaços e já ultrapassava as fronteiras estaduais, o ‘Alegria, Alegria’, que desde sua fundação, em 1983, já se fazia presente naquele espaço onde ensaiavam e apresentavam espetáculos, quase sempre voltados para o público infantil. Pois bem, no citado ano, estávamos realizando uma série de ensaios, que se iniciava às 14 horas e ia até às 17, mais ou menos, num desses dias de ensaio, o trabalho estava fluindo de uma forma tão produtiva e agradável que as horas passaram rápidas e imperceptíveis. Por volta das 17h40 nos perguntamos se seria bacana seguirmos com o trabalho, a ideia foi encampada por todos com euforia, mas, a fome já se fazia presente e, aos roncos de estômagos famintos não cabe surdez, naquela época, o Teatro era no estilo Italiano, como o Alberto Maranhão, assim, deixamos umas poucas coisas no palco e fomos tomar uma sopa, garantir a sustança necessária para prosseguirmos com o ensaio.

E fomos à sopa, a deliciosa sopa, diga-se de passagem, o que não sabíamos era que aquele prato passaria a fazer parte da história e da vida de cada um daqueles jovens artistas sonhadores, não seria exagero creditar a bem sucedida trajetória daquele grupo e individualmente de cada um dos ali presentes a Sagrada Sopa, uma Sopa salvadora, uma Sopa revigorante e histórica.

Fome saciada pegamos o caminho de volta, eram uns pouco mais de 15 minutos de caminhada e assim seguimos, os que fumavam saboreavam seus cigarros, infelizmente eu era desses. rsrsrs… Os mais espertos, que não tinham esse péssimo hábito, bebericavam um café ou chupavam uma bala e, o comum a todos eram as algazarras, as brincadeiras que eram tão integrativas, vencida a distância da abençoada Sopa ao Teatro, quando já podíamos avistar o prédio percebemos uma movimentação diferente na frente do prédio, chegando mais perto vem ao nosso encontro o proprietário de uma cigarreira que nos abastecia de pastilhas Garoto, cigarros, lanches e bons papos de frente ao teatro, era o cara que dava conta de todo acontecido nas imediações do teatrinho.

A conversa foi curta e direta, também cheia de emoção e muitos graças a Deus, em resumo, foi mais ou menos isso: “rapaz foi Deus viu? Só Deus mesmo. Assim que vocês viraram a esquina foi um estrondo danado… o Teatro caiu…” houve um silêncio entre nós, seguimos e ao entrar no prédio pudemos constatar a sorte que tivemos, a estrutura do teto acima do palco, justo onde estávamos ensaiando veio abaixo, uma tesoura de sustentação, corroída pelos cupins e a falta de cuidados e manutenção, partiu e veio abaixo trazendo telhas, linhas, alvenaria, enfim, o estrago foi grande e, por um prato de Sopa estou aqui contando essa história. Será que seria exagero dizer que a Sopa é o prato padroeiro dos Atores de Teatro? Pra mim até hoje sou devoto de uma Boa Sopa…

Beto Vieira é ator

Escrito por Beto Vieira

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Carregando...

0

E o Oscar vai para a… Diversidade, enfim!

Entrevista: TONY SILVA, uma revolução em movimento