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E o Oscar vai para a… Diversidade, enfim!

Imagem: Riz Ahmed, em cena de “O som do silêncio: Inglês de origem árabe, é o primeiro muçulmano indicado ao Oscar de melhor ator

Há tempos as premiações cinematográficas são cobradas para oferecerem um painel mais amplo e representativo do que vem sendo feito no cinema. Não que tenha de haver “cotas” para premiações, nada disso, mas é certo que os prêmios mostravam um perfil incomodamente conservador e não refletiam a qualidade da produção realizada por cineastas para além do perfil hollywoodiano do homem-branco.

Claro que há uns poucos anos certo avanço se fazia ver, tendo sempre o Oscar como termômetro, já que o o maior prêmio da indústria. Há pouco “Doze anos de escravidão” e “Moonlight”, dirigido por Steve Mc Queen e Barry Jenkins, respectivamente, venceram como melhor filme, primeira vez que longas dirigido por negros venceram como melhor filme. Também há dez anos a primeira vitória uma uma mulher como Filme e Direção, com Katherine Bigelow com seu “Guerra ao terror”.

Contudo, foi no ano passado com a histórica vitória de “Parasita” como melhor Filme, Direção e roteiro original que percebemos uma mudança real na percepção da indústria, afinal, foi a primeira vez que um filme não falado em lingua inglesa venceu esses prêmios. 

Neste ano de 2021, celebrando os filmes produzidos em 2020, ou seja, ano de filmes mais baratos e criativos e de cinemas fechados, é que vimos lista de indicados e premiações com real diversidade. O filme mais aclamado do ano, “Nomadland”, vencedor do Festival de Veneza e do Globo de Ouro, é dirigido por uma mulher, Chloé Zhao, estadunidense de origem chinesa. Ela concorre ao Oscar com outra mulher, Emerald Fennell, diretora do ótimo “Bela vingança”. Pela primeira vez duas mulheres concorrem no prêmio de melhor Direção no mesmo ano. Na verdade em 95 anos de Oscar apenas cinco mulheres concorreram até este ano.

E entre os três diretores homens, temos um dinamarquês (Thomas Vittenberg, do elogiado “Druk”) e um estaudidense de ascendência coreana, Lee Isaac Chong, do elogiado “Minari”. Homem estadunidense, geralmente o perfil dominante na categoria, só um, David Fincher, por “Mank”.

Entre atrizes e atores também diversidade. Entre as cinco indicadas ao Oscar de melhor atriz, duas negras: a diva Viola Davis (por “A voz suprema do blues) e “Andra Day” (Os Estados Unidos contra Billie Holiday”). E mais duas britânicas, Vanessa Kirby e Carey Mulligan, que dão shows de interpretação em “Pieces of a woman” e “Bela vingança”, respectivamente. 

Na categoria de melhor ator, temos um negro (Chadwick Boseman, falecido ano passado, por “A voz suprema do blues” e favorito ao prêmio), um britânico de origem árabe (Riz Ahmed, por “O som do silêncio”, primeiro muçulmano a concorrer ao Oscar de ator), um sul-coreano (Steven Yeun, em “Minari” e dois ingleses, Anthony Hopkins e Gary Oldman. Pela primeira vez na história do Oscar, nenhum homem estadunidense branco entre os cinco indicados na categoria.

Claro que conquistas sempre devem ser mantidas até que sejam normalizadas, e às vezes é cedo para comemorar, mas parece fato que ventos novos vem soprando não apenas na Acedemia de Artes de Ciências de Hollywood mas entre os jurados de prêmios internacionais. Lembremos que há dois anos, quando “Parasita” encantou e venceu Cannes, o brasileiro “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles dividiu os outros prêmios principais com um filme senegalês dirigido por uma cineasta de 28 anos (“Atlantique”, de Mati Diop) e um drama francês sobre negros e muçulmanos periféricos “Les miserables”). Que assim continue.

Cefas Carvalho é jornalista

Escrito por Cefas Carvalho

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