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A nova cruz e a lenda da anta esfolada

O frondoso Rio Curimataú era um bom lugar para o descanso dos vaqueiros, vindos da Paraíba, quando passavam com seus rebanhos de gados e aboiando o canto liberto do sertão. No início da colonização do RN, o povoado na beira do rio foi chamado de Urtigal, pela quantidade de urtigas existentes na região. Logo depois, o nome do lugar foi mudado para Anta Esfolada, em virtude de alguns fatos curiosos ocorridos na localidade.

“Existia no território uma anta com espírito maligno. Em determinado dia um astuto caçador conseguiu prender o animal numa armadilha. Na ânsia de tirar o feitiço da anta, o caçador partiu para esfolar o animal vivo. Mas logo no primeiro talho a anta conseguiu escapar, deixando para trás sua pele e penetrando mata adentro”, escreveu o jornalista Manoel Dantas, no seu livro Homens de Outrora.

A anta esfolada ficou amedrontando os moradores e o lugar ficou conhecido como “Anta Esfolada” durante muito tempo. Reza a lenda que um missionário jesuíta fez uma cruz com os ramos do inharé (arbusto abundante naquele tempo) e fincou no alto de uma pedra por onde a anta costumava passar. Depois da nova cruz, a anta nunca mais foi vista e a cidade ficou conhecida como Nova Cruz.

Para preservar a memória da cidade, a Praça do Marco Zero é testemunha silente, onde foi fundada Nova Cruz, nos idos de 1852. De acordo com Manoel Dantas, foi neste local que o frei jesuíta Serafim fincou a cruz. Para o povo da cidade, a nova cruz representa a história que deu vida à cidade, preservando a memória do povo sertanejo que mora na ribeira do Rio Curimataú.

Passeando pela memória de Nova Cruz

Quem vem à Nova Cruz, a dica é fazer uma visita a Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Construída no início do século passado, a igreja é um prédio imponente, como seu altar-mor e suas colunas interiores que lembram colunas de igrejas góticas. Além do seu valor arquitetônico, a Igreja Matriz tem o seu valor sentimental, a grande maioria dos nova-cruzenses se batizou, crismou, fez a primeira comunhão e casou.

No alto do bairro São Sebastião, uma igreja majestosa se destaca com os sinos anunciando as horas mortas da tarde. Para celebrar a devoção do glorioso São Sebastião, a cidade faz festa no dia 20 de janeiro onde uma grande procissão carrega a fé do povo no andor do santo, pedindo um ano de bom inverno. Após a novena, a programação mundana acontece com quermesse e atrações musicais.

Pela beleza, o prédio da Prefeitura de Nova Cruz é uma atração que vale uma foto. Construído especialmente para ser a sede do executivo municipal, o edifício apresenta traços arquitetônico de art decó, no melhor estilo dos prédios do início do século passado. Localizado no centro da cidade, o imponente prédio merece ser observado e se o visitante tiver sorte, poderá entrar para visitá-lo.

Construída em fins do século XIX, aproximadamente em 1883, o prédio da Casa da Cultura de Nova Cruz é outro exemplo da conservação do patrimônio arquitetônico da cidade. Antigamente, funcionava a estação ferroviária. Sua arquitetura segue o padrão das demais estações, aplicado pelos ingleses ainda no tempo da antiga Great Western. Hoje, a Casa de Cultura apresenta a fina flor das manifestações culturais da cidade.

Em Nova Cruz, vários casarios imponentes podem ser vistos em toda a cidade, resquício de uma época quando a cana-de-açúcar era o grande produto agrícola. Localizado por trás da Igreja Matriz, o casarão de “Seu Euzébio” foi erguido no início do século XIX e merece uma visitação para observar a cúpula romana no final da escada e uma grande varanda. Detalhes na fachada com eira e beira.

Uma festa no campo

Uma das melhores épocas para visitar o sertão é durante o mês de junho, quando o inverno trás as festas juninas ainda úmidas da chuva. Nesse tempo, o visitante pode colher, na paisagem sertaneja, o encanto das tardes muito bem escondidas nos barreiros na beira das estradas. Quietas, as casinhas cochilam com suas mulheres esperando seus homens cansados de roça.

Quem vem na estrada potiguar para entrar na cidade, antes de cruzar a ponte que corta o Rio Curimataú, a Fazenda Santa Gertrudes é logo vista, tendo como sentinela permanente a estátua do velho Diógenes da Cunha Lima, patriarca de uma família de políticos e advogados que atuam em terras paraibanas e potiguares. Muito bem cuidada, a fazenda é uma tradicional referência para a identidade do seu povo.

Em tempos de festa, a Fazenda Santa Gertrudes abriga centenas de vaqueiros que participam de uma cavalgada que cruza os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Forró pé de serra e cachaça boa fabricada na região animam os vaqueiros que participam de um dia inteiro na festa de vaquejada, realizada no pátio da casa grande.

Para refrescar o passeio pelo sertão, um banho no Açude Pau Barriga é a melhor pedida. O açude é um dos reservatórios d’água mais antigos do Rio Grande do Norte, que sempre abasteceu a cidade até a chegada da adutora. Atualmente, o açude abriga as melhores festas do município e, em tempos de carnaval, é o point da moçada mais jovem.

Localizado na Fazenda Lapa, o Açude Pau Barriga é uma das grandes atrações turísticas de Nova Cruz que pode encantar o visitante. O local tem um clima agradável e é rodeado de belos visuais. Currais de gado e a casa grande da fazenda são atrações a parte que encantam o visitante pela simplicidade de uma vida no sertão de Nova Cruz.

Escrito por Alex Gurgel

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