Morre o produtor cultural Dorian Lima
Com esse texto de Rafael Duarte, da Agência Saiba Mais, a gente homenageia e se despede do produtor cultural Dorian Lima que faleceu hoje (21) pela manhã. Figura icônica, Dorian ajudou a construir cenários e histórias na arte e cultura do Rio Grande do Norte e foi peça fundamental nos primórdios da Revista Papangu. À família e amigos, nosso solidário abraço.
O Beco da Lama perdeu um de seus mais importantes e verborrágicos contadores de histórias. A boemia da Cidade Alta chora a morte de um seus mais assíduos soldados etílicos. O produtor cultural Dorian Prudêncio Lima, 60 anos, não resistiu a uma parada cardíaca e complicações geradas a partir de uma infecção. Ele morreu por volta das 6h30 desta quarta-feira, na UPA de Cidade Satélite, onde estava internado desde segunda-feira (19). Após a mobilização de amigos, que conseguiram uma vaga na UTI do hospital de Macaíba, o medico que o atendeu não autorizou a transferência em razão da pressão muito baixa do produtor. Dorian deixa esposa e três filhos.
Segundo o amigo Cristian Vasconcelos, o produtor cultural começou a sentir dores abdominais no domingo à noite, passou a noite em claro e foi levado às pressas, ja segunda pela manhã, para a UPA. Chegando ao local, teve um infarto e foi entubado com ventilação mecânica. Um dos laudos já apontava a necessidade de internação em UTI em razão da gravidade, mas não houve condições.
O velório acontece nesta quarta-feira (21), a partir das 14h, na Funerária Sempre Alecrim (sala 4). Já o sepultamento será na quinta (22), às 9h, no Cemitério publico do Alecrim.
Quando a noticia sobre a morte de Dorian começou a circular nas redes sociais, dezenas de amigos e admiradores se manifestaram com carinho. Dorian Lima tinha uma atuação destacada na Cidade Alta, pensando e criando projetos e eventos culturais na região. Ele foi um dos primeiros diretores e chegou à presidência da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências (Samba), entidade fundada nos anos 1990 com o intuito de ocupar, valorizar e preservar a região.
O grande projeto idealizado por Dorian foi o festival de Musica do Beco da Lama, realizado entre 2006 e 2015, e que havia sido suspenso por falta de patrocínio. Ele estava confiante num possível retorno do evento em 2023, mas ainda esbarrava na dificuldade em obter financiamento.
– Ele estava animado com a abertura desses editais, como a lei Paulo Gustavo, e vários projetos que ele tinha em mente. Mas infelizmente não deu tempo, conta emocionado o amigo e parceiro Cristian Vasconcelos, que integrou a equipe da primeira fase do MPBeco ao lado do produtor Júlio Cesar Pimenta, do musico Tertuliano Aires e do jornalista Alex de Souza.
No carnaval, Dorian também tirou sua onda criando o bloco Manicacas no Frevo, uma sátira aos boêmios do Beco que só saem de casa sob o controle e a devida permissão das companheiras. A mais recente zoêra na festa de Momo foi o bloco Me Enrola que tô com frio, parceria com a produtora Raquel Lucena
O conquistador e o relacões publicas da Aluá
A trajetória cultural de Dorian Lima começa ainda nos anos 1970, quando funda o movimento Aluá de poesia marginal. Ao lado de Venâncio Pinheiro, Aluízio Mathias, João Barra, Ciro Pedroza e outros poetas da época, ele atuava como uma espécie de relações publicas e captador de recursos.
– Dorian trabalhava na usina Estivas e era muito bem relacionado. E era um conquistador, pois trazias as meninas para o movimento (risos). Juntos, fizemos o festival de Arte, o festival do Forte. A primeira aparição da Aluá foi em 1978, no primeiro festival do Forte, quando lançamos o livro Três poetas a procura de um leitor, rodado no mimeografo da Adurn, lembra Venâncio Pinheiro, também abalado com a perda do parceiro e amigo:
Dorian era um amigo que eu tinha. Estávamos muito empolgados, pensando quatro projetos para fazer nos próximos meses, conta.
Parceiros em inúmeros projetos, o produtor e agitador Aluízio Mathias também reforça a multiplicidade de Dorian na cultura:
– Dorian Lima foi um companheiro inseparável da Cultura. Contribuiu com articulação de Festivais, o Dia Nacional da Poesia e na construção da Cooperativa dos Artistas, COOART. Foi na criação do Grupo Aluá que tivemos uma grande interatividade de projetos: livros em mimeógrafos, saraus poéticos, festivais, Encontros e as comemorações do Dia Nacional da Poesia. A sua atuação no Grupo Aluá e seu envolvimento com vários linguagens artísticas fez com que desenvolvesse sua grande vocação de produtor cultural. Era um ser humano inteiramente voltado para o fomento Cultural entre os fazedores de Cultura, descreve Mathias.
Pinheiro destaca a humildade de Dorian Lima, que mesmo na estrada ha vários anos como produtor cultural decidiu se qualificar ainda mais ao ingressar no curso de produção cultural do IFRN apos os 50 anos de idade.
– Dorian foi o único produtor, daquela geração dos anos 1970, que buscou o IF para essa formação cientifica. Ele queria e foi em busca dessa capacitação, afirma.
O amigo que todo mundo devia ter
No curso do IFRN, a convivência com estudantes e promissores profissionais de cultura, de diferentes gerações, Dorian consolidou uma parceria que vinha amadurecendo a cada ano. O encontro com Raquel Lucena aconteceu na sala, em meio às aulas.
– Eu sabia quem ele era e ele dizia que já tinha me visto, mas nunca havíamos trabalhado juntos. Eu estava com o projeto da revista da Academia Norte-riograndense de Letras, mas não sabia muito ainda como fazer. Ele orientava, sugeria tirar uma palavra, dava sugestões. Ai eu consegui aprovar o projeto, mas também não entendia muito ainda e chamei ele para fazer comigo. E ai não paramos mais, conta.
Raquel conta que juntos ela e Dorian criaram e executaram mais de 100 projetos a partir de 2015, seja via editais privados e leis de incentivo. As palavras para definir o amigo e professor embargam a voz na hora de falar. A entrevista para, volta, emocionam entrevistada, o repórter, todos por alguns segundos com as lembranças de afeto, humor, alegria e saudade.
– Era um amigo que acolhia todo mundo. No IF a gente o chamava de o pai da turma. Era um professor, super profissional. Dorian era o amigo que todo mundo devia ter, encerra.