Segredos imorais
Por Natália Chagas
“Eu quero transar com você.” – disse Euníce depois da quarta cerveja. Ele ficou desconcertado porque também se sentia excitado, mas a diferença de idade parecia quase imprópria. Ele, saindo de um casamento confuso quase perigoso, nos seus idos 38 anos, e ela ainda nos seus 18. Oscar olhava para o rosto limpo de rugas ou marcas, através de sua blusa insinuante, conseguia ver a ausência de soutien e o desenho dos seios firmes e o bico bem pontiagudos, quase atravessava o tecido colado em seu corpo. Ele ainda estava na dúvida se ela estava de calcinha ou não.
Tudo aquilo mexia com o imaginário dele que precisava escapar da realidade cruel. Já tinha ido para aquele lado da cidade onde a ex-esposa não o encontraria para mais uma cena performática dos vários términos que se acumulavam. Precisava de uma noite livre de drama. Precisava de uma noite com Euníce.
Ela levava o copo à boca e deixava de propósito a língua molhada em exposição demonstrando engolir a espuma. Ele ficava alucinado com aquilo. Mas era tão novinha que ele se esbarrava em um questionamento moral da questão etária. Ela disse:
– Eu tenho 18. Quer ver minha identidade?
– Não é preciso. – Disse ele não querendo ofender a moça, mas desconfiado. – Confio em você.
– Então vamos. Tem um motel bem perto daqui.
Ele pagou a conta. Sairam.
Entaram em um táxi logo em frente o bar, ele de um lado, ela do outro, e ela já foi dando a direção ao motorista:
– O senhor siga direto até a Deodoro, vire à esquerda, depois à direita na Arapondi, e pare.
Ela encostou a cabeça para trás, olhou para ele e sorriu de leve. Ele observava nela pequenos gestos e olhares sem medo que demonstravam um comportamento já experiente que lhe garantia um certo avanço de idade, porém seus traços delicados, quase incompletos o traziam novamente a insegurança.
Na entrada do motel, ela chegou perto de seu ouvido e sussurou:
– Não aceite os números abaixo de 100. São quartos antigos. Acima de 100 só tem os novos.
Ele seguiu o conselho dela, se sentido cada vez mais confiante que não ultrapassava seus limites morais. A forma de seu corpo mostrava uma mulher, não uma menina. A falta de romantismo, a visão racional e direta sobre sexo e sua obstinação por seus desejos acabaram por concretizar sua convicção de que estava diante uma mulher experiente. Resolveu abrir uma cerveja, relaxar e se deixar levar por uma noite que o proporcionaria dois orgasmos fortes, quase sequenciais.
Ela se levantou para um banho, e voltou de cabelos e pele completamente molhados, e disse, sentando na beira da cama:
– Tenho algo pra te contar. Gostaria que não ficasse chateado comigo. Fui com sua cara. Você é legal. Transa bem.
Ele ficou um pouco preocupado e disse:
– Diga!
– Por favor, não fique bravo.
– Fale e podemos ver se não há motivo.
– É que eu gostei de você. Por isso estou te contando. Mas eu tenho 15 anos.
Naquele momento, o que era um homem se tornou uma besta fera. Ele enrubresceu-se de ódio, sentiu-se vulnerável e, até certo ponto, traído. Aquilo caiu em sua cabeça como uma bomba. Nunca em sua vida havia pensado em passar por aquela situação. Esbravejou:
– Puta que o pariu! Que merda! Porra! Como assim você tem 15 anos? Como você faz isso?
– Desculpa, mas eu gostei muito de você…
– E me faz isso? Menina, você sabe o risco que você me colocou? Pessoas me viram com você, pessoas que podem saber da verdade sobre você.
– Mas entenda…
– Não! Não entendo! Nem quero entender!
Ele sentou na cama, enraivecido sem conseguir pensar no que faria. Falava para si mesmo que tinha que ficar calmo e racionalizar. Analisando a situação com frieza, deixou falar mais alto seu instinto de sobrevivência. Ela tinha que se convencer que ele havia a perdoado, e que tudo estava bem. Ela não podia sair daquele motel com qualquer resquício de rancor que deixasse a mais leve sombra de vingança. Retomou sua respiração normal. Abaixou a cabeça entre as mãos como se pensasse arrependido. Nesse momento, ela toma a iniciativa que ele tanto precisava. Ela esperou alguns minutos em silêncio, depois disse:
– Hei! Não quero que você fique chateado comigo. Vou lhe fazer algo que fará você esquecer essa bobagem.
Ela ajoelhou-se na frente dele, beijou-lhe as coxas devagar, e insinuou-se em direção ao pênis. Ele fechou os olhos e retomou sua ereção, conseguindo fazer que ela tivesse um orgasmo indiscutível. Terminaram a noite quase abraçados, dando a ideia de paz.
Quando o sol já ia nascer, ela disse:
– Tenho que ir embora.
– Vou ficar mais um pouco. Daqui vou direto para o trabalho.
Ela levantou, tomou um banho, vestiu-se. Ele chamou um táxi para ela, liberou a saída, e, por poucos segundos, se arrependeu de ter lhe dado o número de telefone errado.