Os três sempre se encontravam no mesmo bar, no mesmo dia, no mesmo horário. Muito raramente faltavam. Desde a faculdade quando tiveram de se separar por diferentes escolhas de profissão, toda semana estavam os três naquele encontro que chamavam de “reduto dos imortais”. Daniel queria que fosse reduto dos imorais, mas Fábio, temeroso que alguém os ouvisse, acrescentou uma letra. O que interessava, na verdade, era que estavam juntos.
Eles ali sentavam, falavam da semana, riam do cotidiano, e resgatavam o passado. Sempre os três. Mais ninguém. Eram solteiros do estilo orgulhosos de não firmarem compromisso. Nico acreditava piamente que aquilo gerava uma boa impressão aos olhos pois criava um ar distinto entre o funcional e bem-sucedido.
Para eles, aquilo era um momento inigualável. Se algo mais forte como uma doença os impossibilitava de ir ao encontro era uma falta imensa que os aturdia. Daniel descrevia que as ausências ao encontro faziam um efeito de que algo muito forte lhes faltava, quase como perdessem um pedaço de si mesmo.
Eles não sabiam dizer exatamente, mas lá iam quinze anos de encontros. Não que pensassem muito sobre a razão do ritual, mas sempre havia alguém que os questionava. E sempre os três. Sem mais, nem menos.
Naquela semana, uma coisa mudou tudo. A mãe de Daniel havia morrido. Mais do que nunca era necessário aquele encontro. O amigo se sentia perdido, desolado, precisava desabafar. A dor de Daniel comoveu a todos tornando aquele encontro um tanto mais suscetível a sensibilidade. Em sua crise quase existencial, Daniel começou:
– Que merda estamos fazendo das nossas vidas vivendo sozinhos por aí? Por que nunca temos ninguém? Vocês não estão cansados disso? Não sentem que falta algo?
– Cara, você não consegue enxergar neste momento, mas isso é só a dor. – Disse Nico. – É a visão a partir da perda. Se acalme, homem.
– Isso! – Completou Fábio – Ouça o que estamos te dizendo.
Um silêncio se instaurou por quase um minuto naquela falta que ninguém via o que dizer.
Uma lágrima de Daniel caiu e ele soltou:
– Não aguento! Tenho que falar! Me falta uma mulher. Não posso mais viver sozinho.
Ele se levantou e saiu.
Na semana seguinte, ele retornou um novo homem. Havia conhecido Laura. A mulher mais linda que ele já tinha posto os olhos. A palavra que ele conseguia descrevê-la era perfeita. Cabelos castanhos, olhos amendoados e sorriso gigante. Um pouco tímida, mas muito generosa e absolutamente inteligente. “Vocês têm que conhecer Laura!” A frase mudou tudo em Fábio e Nico.
Passada uma semana, Fábio veio com a notícia da felicidade eterna. Havia encontrado a mulher da sua vida. Nada era tão estonteante quanto Gisele. Cabelos dourados, olhos esverdeados e pele roseada vibrante. Alegre, divertida e muito engraçada. “Vamos ter que marcar para vocês conhecerem.”
Mais uma semana se passou e a vez era de Nico. “Pense na personificação da perfeição” – era Lívia para o homem sorridente. Morena com olhos de jabuticaba, esperta, atenta a tudo em seu entorno. Nada passa desapercebido por ela. “Preciso que vocês a conheçam.”
Marcado para a semana seguinte, o encontro foi combinado que cada um levasse sua parceira. O primeiro a chegar foram Daniel e sua Laura. Fábio achou descortês da moça ao não se levantar para cumprimentar quando chegaram. E Daniel, apesar de reconhecer uma beleza deslumbrante de Gisele, estranhou bastante ao não ouvir um sussurro sequer da moça, que sorria e acenava sempre muito simpática. O assunto parou com a chegada de Lívia. Houve um certo estranhamento quando viram ser necessário duas cadeiras para a moça se sentar.
Por mais uma hora, conversavam alegremente entre casos da vida e piadas em uma total interação de todos da mesa, incluindo participações construtivas e emudecidas da tímida Gisele. Até que em um determinado momento, Lívia decidiu que não tinha como mais adiar e levantou-se em direção ao banheiro. Gisele acenou com a mão que tinha o mesmo propósito. Em sequência, Laura ajustou sua perna mecânica e pegou a bengala para seguir com as outras moças.
Os homens ficaram sozinhos olhando uns aos outros. Daniel não se aguentou e disse:
– Rapazes, ganhamos na mega sena com essas mulheres!