Sobre

O que eu vi e vivi em “EssePê”

O avião pousou, chegou conosco uma garoa, para dar as boas-vindas e fazer jus à fama que deram àquela terra. Frio no final da tarde. A fome associada à indicação do motorista que nos levou do aeroporto até o endereço que nos abrigou por alguns dias, fez com que conhecêssemos a pizza da Casa Aurora. Deliciosa, por sinal, mas o mais gostoso era o lugar, uma tradicional cantina paulistana, com direito a comida boa e sotaques de todos os lugares ao pé do balcão.

Caminhamos alguns metros para conhecer o Bar Brahma, o mais movimentado com o qual havíamos nos deparado até então. Na minha inocência, pensava que o que chamava a atenção do público era o ambiente, o samba ouvido de longe, mas ao acharmos a entrada descobri a verdade: toda a procura tinha a ver com a localização, pois o bar – bem frequentado – fica no cruzamento das avenidas Ipiranga e São João, onde as pessoas queriam tirar fotos com a placa que fica na calçada.

Entre os seguranças e as pessoas que se enfileiravam para entrar no boteco, até eu parei para fazer minha foto, enquanto aguardava os convidados de Fátima serem recepcionados e chegasse a nossa vez de descobrir o que de bom tinha na parte de dentro. E tinha muito samba. Tanto que me fez comprar, de imediato, dois ingressos para voltarmos ao lugar, dois dias depois, para vermos o show do Demônios da Garoa.

No outro dia pela manhã, mesmo espremidos entre o trabalho online e a situação que originalmente nos levou a “Essepê”, o congresso de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) daquela capital, conseguimos desbravar uma parte da cidade.

Começamos pelo Mercado Central, que é bonito, sem dúvida, mas confesso que não vi muita graça. Seguimos para a famosa 25 de Março e descobri que lá não tem tudo como eu achava que tinha, principalmente uma coisa valiosa que eu precisava muito, um transformador de voltagem elétrica para que eu pudesse lavar meu cabelo e usar meu secador. Essa necessidade nos fez perder horas procurando e só conseguir resolver, de verdade, quando encontrei, em um shopping na Avenida Paulista, um secador com dupla voltagem, que servisse tanto para lá quanto para cá.

Desse primeiro capítulo, o momento mais especial foi assistir Cid debruçado sob os livros, velhos e novos, raros e comuns, em cada sebo que entrava. Parecia que ele estava no parque de diversões.

Segundo dia, de congresso e passeio, saímos para o bairro da Liberdade, onde o comércio me chamou atenção pela variedade, inclusive maior e melhor do que a da 25 de Março. O lugar também tinha um jeito de casa, mais acolhedor, aconchegante. Apesar de pouca demora, gostei e voltarei com mais calma.

Na corrida contra o tempo, partimos para a Estação da Luz, um lugar lindo, cheio de história e que nos leva também ao Museu da Língua Portuguesa, o lugar mais legal que visitei na Terra da Garoa.

O museu é cheio de experiências incríveis para quem visita. Eu, por exemplo, viajei na memória quando ouvi a voz da Emília explicando ao Visconde de Sabugosa como as palavras se formavam. Chorei e tudo. De emoção e de sofrimento quando tive que abrir os olhos diante do Sol depois de passar uns 30 minutos numa sala escura, vivenciando uma das atrações. Sofrimento de que tem sensibilidade visual.

À tarde, voltamos para ao trabalho. Saímos do congresso à noite e resolvemos voltar para o apartamento caminhando, pois aquela altura o meu senso geográfico já havia me deixado completamente situada. O resultado foi que, mesmo com o GPS, nos perdemos e uma caminhada que deveria durar oito minutos durou uma hora e meia, até que, finalmente, conseguimos chegar e nos preparar para o show cujos ingressos foram adquiridos ainda na primeira noite.

Demônios da Garoa. Show impecável, músicos incríveis, mas o cansaço nos puxou pelo braço, logo após o fim da atração principal. Segundo Cid, a idade tem pesado, não há mais em nós o pique de antes para noites inteiras de boemia.

Terceiro dia. Partimos para a obrigação, logo cedo, assistimos palestras, cumprimos o networking diário e, só então, seguimos para o turismo.

Com primeira parada na Catedral da Sé, bela, imponente e gótica. Senti-me naquelas séries de época da NetFlix.

Pegamos o metrô na praça bem em frente ao Tribunal de Justiça, cujo prédio tem a mesma estrutura gótica da Catedral.

Fomos à Paulista tentar visitar a Livraria Cultura, que, para nossa tristeza, deixou de funcionar, e nos deparamos com um protesto enorme contra a violência manicomial.

Com todo aquele furdunço não nos restou outra alternativa, a não ser almoçar no Mc Donalds, mas a sobremesa foi uma visita ao Masp.

Teve Michelângelo, teve Tarsila e teve também fotografia do moinho de Macau, que estava lá no meio da exposição sobre Osvald de Andrade.

Na volta ao apartamento, devido ao caos instalado na avenida por causa do protesto, que até então crescia, só tínhamos como voltar de metrô, e foi aí que eu realmente me senti numa das maiores cidades do mundo.

Eu me deparei com a maior quantidade de pessoas que eu já vi em um mesmo lugar. Fiquei assustada, confesso, porque parei para perceber como de repente tudo pode se transformar num grande caos, bastando que apenas uma pessoa saísse do fluxo.

Graças a Deus, a única coisa fora do fluxo que nos aconteceu foi não acertar qual a estação mais próxima do nosso aparamento e aumentar um pouco a caminhada, já que tivemos que atravessar a praça da bandeira para chegar do outro lado da rua e só então vermos a venda de Ben-Hur, que ficava bem na esquina da hospedagem. Dessa vez, a caminhada durou 15 minutos apenas.

Na última noite, fomos jantar com a advocacia eleitoral paulista, que se despedia do congresso no Spaggethi Notte. Mesmo de longe, vi o parque do Ibirapuera onde pretendia fazer caminhadas, corridas e exercícios físicos. Não deu, fica para a próxima.

São Paulo, você não é incrível como o Rio, mas é de fato uma cidade que não dorme.

Escrito por Clarisse Tavares

Perfeita

Bairro da Ribeira ganhará um Centro Cultural de Fazeres