Últimas histórias

  • Prefeitura entrega nova Praça Pedro Velho

    O bairro de Petrópolis recebeu neste sábado (2) a Praça Pedro Velho totalmente revitalizada. Localizado na Zona Leste de Natal, o espaço foi entregue pelo prefeito de Natal, Álvaro Dias para atender às demandas da região. A Prefeitura segue investindo em obras de grande porte e em espaços abertos e de convivência para beneficiar a população. 

    A cerimônia de entrega foi iniciada com uma bênção do Padre Iago Carvalho, pároco da Catedral Metropolitana, e contou com a presença da primeira dama do município, Amanda Dias, do deputado federal General Girão, do deputado estadual Luiz Eduardo, do presidente da Câmara Municipal, Ériko Jácome, outros vereadores, representantes da classe política, lideranças e moradores da região.

    A obra, concluída em um prazo de oito meses, teve investimento de R$ 2,5 milhões que transformou o local em um grande espaço de lazer para a população. A última reforma ocorrida na Praça até então havia sido em 2004, há quase 20 anos.

    O prefeito destacou a importância do tradicional espaço se tornar novamente uma área de lazer e convívio para os natalenses. “Temos procurado ao longo desse período que estamos administrando Natal, construir uma cidade para as pessoas. Com espaços agradáveis assim como este, com a muito bem-vinda modernização da Praça Pedro Velho”, disse ele.

    Álvaro acrescentou que poder realizar uma ação como a nova Praça Pedro Velho representa um legado para a cidade. “Estamos trazendo de volta a modernidade e a beleza desta praça, para que as pessoas possam usufruir e ter orgulho dessa cidade. Temos algumas outras obras importantes em andamento na nossa cidade, como o Complexo Turístico da Redinha, o enrocamento e a engorda da Praia de Ponta Negra, várias praças reformadas como esta, asfalto nas ruas, o novo hospital municipal. Vamos continuar investindo e trabalhando para uma cidade cada vez melhor. Resgatar esses espaços é um dos objetivos da nossa gestão”, afirmou o prefeito. 

    Melhorias
    A Praça recebeu melhorias com uma iluminação totalmente em LED, uma alameda, palco de eventos junto à avenida Prudente de Morais, um Centro de Convivência ao lado do Palácio dos Esportes, um mini-anfiteatro, um novo passeio público com acessibilidade, pista para caminhada com sinalização, ciclovia, playground de madeira e uma mobília nova de bancos e lixeiras. Além disso, um amplo Espaço Pet.

    “Os equipamentos são de extrema importância para a comunidade, que está ganhando uma área de convivência segura e que possibilita o convívio das pessoas nos ambientes públicos. Este dia é muito importante porque estamos entregando mais uma praça recuperada, dentro do cronograma da gestão do prefeito Álvaro Dias, que vem atendendo às demandas dos moradores. E a presença da população aqui hoje demonstra o reconhecimento por esse trabalho em equipe desenvolvido pela Prefeitura de Natal”, resaltou o secretário municipal de Serviços Urbanos, Irapoã Nóbrega.


    Os monumentos da praça ganharam iluminação cênica. O paisagismo arbóreo do local, formado por Pau-Brasil, palmeira imperial e outras espécies nativas, também foi preservado e ainda ganhou uma nova cobertura de grama esmeralda e amendoim, além de plantas ornamentais.

    Uma grande programação fez parte da cerimônia de inauguração, incluindo brincadeiras de educação no trânsito e orientação para crianças em bicicletas e patinetes na ciclofaixa; atividades de lazer no espaço do parque infantil; treino funcional em espaço central da praça (parceria com academia); artesanato na área de convivência; apresentações musicais do Choro do Caçuá e Yhran Barreto; além de vacinação de Pets no espaço PET, vacinação para crianças e adultos e práticas integrativas e complementares. 

    Pedro Velho

    A praça possui o nome Pedro Velho, em homenagem ao primeiro governador do Estado. Também conhecida como Praça Cívica, foi inaugurada no dia 24 de outubro de 1937 pelo então prefeito Gentil Ferreira.

    Imagem: Cedida construtora Dois A

  • Tá na Rede: A tentativa de abolição do Girão

    Tá na Rede que a Polícia Federal abriu um inquérito que apura a suposta incitação do deputado federal General Girão (PL-RN) nos atos antidemocráticos do 8 de janeiro, que resultou no ataque à democracia com a quebradeira nas sedes dos Poderes em Brasília.

    Segundo a PF, nosso caríssimo deputado (e bota caro nisso!) organizou um grupo de pessoas para “manter-se firmes no propósito de cometer crimes contra o Estado Democrático de Direito”. O deputado-abolicionista-tupiniquim fez publicações em redes sociais, deu a cara à tapa em vídeos e incitou, “em tese, animosidade entre as forças armadas e os poderes constitucionais, as instituições e a sociedade”.

    Tentativa de abolição, com emprego de violência ou grave ameaça, do Estado Democrático de Direito, e tentativa de deposição, por meio de violência ou grave ameaça, de governo legitimamente constituído.

    A comunicação da abertura do inquérito foi feita pelo delegado federal Victor Menezes e enviada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um dos alvos dos ataques de 8/1. A investigação com o Girão no meio é a continuidade de um outro inquérito, aberto em julho por Moraes. A decisão daquele mês atendeu a pedidos da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Polícia Federal, que analisaram uma série de publicações do bolsonarista em redes sociais, onde “se verificam uma reiterada tentativa de descrédito da Justiça Eleitoral e de disseminação de notícias fraudulentas”.

    Por aqui, da nossa senzala, pensamos que o abolicionista Girão vai ter que rebolar bastante para não ser cassado.

  • Professor da UFRN conquista Troféu Grande Otelo com “Big Bang”

    Filme do diretor Carlos Segundo é considerado o Melhor Curta-Metragem de Ficção do país

    “Big Bang”, do diretor Carlos Segundo, professor do curso de Audiovisual da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é consagrado o Melhor Curta-Metragem de Ficção no 22° Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

    Carlos Segundo e o ator Giovanni Venturini, que estrela o filme como o personagem “Chico”, receberam o troféu Grande Otelo na noite de quarta-feira (23), na Cidade das Artes, Rio de Janeiro.

    A cerimônia homenageou a produção documental brasileira e os 125 anos do cinema nacional. Entre os premiados estão também o longa-metragem “Marte 1″, de Gabriel Martins, e a atriz Dira Paes, pelo protagonismo no filme “Pureza”.

    Em seu discurso, Carlos Segundo relatou que está há 15 anos produzindo cinema e se sente honrado pelo reconhecimento. Ele começou a fazer cinema em Uberlândia, onde “Big Bang” foi gravado, cidade em que também nasceu o ator Grande Otelo que nomeia o prêmio.

    Giovanni Venturini defendeu que o cinema brasileiro olhe para as pessoas com deficiência com atenção, dignidade e respeito, como ocorreu em “Big Bang”. O ator tem nanismo e enfrentou dificuldades em sua carreira para fugir de papéis estereotipados.

    “Big Bang” estreou em 2022 como Melhor Curta-Metragem Autoral no Festival de Locarno, na Suíça, e após ser premiado em uma série de festivais nacionais e internacionais, tem sua qualidade reconhecida agora pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais.

    O curta é uma produção de Osoprodotempo e Les Valseurs e é distribuído na América Latina pela potiguar Casa da Praia Filmes. Narra a história de “Chico”, um homem com nanismo que trabalha consertando fornos. Solitário, ele vive um conflito interno contínuo, resultado do sentimento do abandono familiar e da exclusão social. Mas Chico irá pouco a pouco descobrir uma forma de resistência e, por que não, de vingança.

    Histórico

    Carlos Segundo é também diretor de “Sideral”, filme produzido pela Casa da Praia Filmes, Les Valseurs e Osoprodotempo. O curta estreou no Festival de Cannes em 2021 e foi semifinalista do Oscar 2023.

    Filmado no Rio Grande do Norte, o curta narra a história de uma família durante o primeiro lançamento de um foguete brasileiro.

  • Gula

    Por Natália Chagas

    Domingo! Maria Helena havia saído para igreja. Elísio se preparava para a sua honra semanal. Aquele momento único de solidão rotineira de um ateu trabalhador. Ele encarava a vida de uma labuta mais ardorosa do que os cristãos pois em sua visão não haveria quão cedo ele madrugasse, não existiria Deus que o ajudasse. Por isso, quando chegava seu único dia de auto recompensa, ele se concedia com ares de nobreza. E não era nada demais o que ele queria. Algo bem simples. Era o bife acebolado do bar do Norberto.

    Alguns não entenderão por nunca ter provado tal iguaria. Este prato era uma tradição em um dos butecos mais sujos do bairro, mas era o orgulho e a sobrevivência de Norberto, que já o fazia há mais de 25 anos quando abriu seu comércio. Em um prato branco, um contra-filé da melhor qualidade passado ao ponto do cliente por uma graxa de azeite, alho e cebolas com sal e pimenta à perfeição. A cebola e o alho acompanhavam a estrela do prato juntamente com a graxa de gordura saborosa que era derramada na carne. Elísio nem olhava para as duas rodelas de tomate e três folhas de alface que compunham o prato, mas era grato a Norberto pelos três pedaços de pão que vinham à parte para lambuzar naquele sumo dos deuses ao final. Era a única parte de sua vida que ele agradecia a seres divinais. Maria Helena, que era uma excelente cozinheira, chegava a ter ciúmes dessa adoração de Elísio. Ele nem se importava, e também nunca tentou levá-la para provar sua gulodice, pois entendia que era seu momento privado e nada ficaria entre ele e seu bife. Muito menos Maria Helena que, naquela semana, o infernizava sobre como tornar a vida mais saudável. Nunca imaginou que poderia haver uma briga de três dias por algo tão imbecil.

    Haveria de esquecer tudo quando se acomodasse com sua cachaça de aperitivo para abrir o apetite. Achou uma mesa vazia no fundo do bar perfeita pois era em um canto longe do sol e podia encostar na parede para um maior relaxamento. A brisa do mar tornava tudo ainda mais aprazível, com o bônus das mesas em volta estarem vazias também. Era o domingo perfeito. Juarez, o garçon, trouxe sua cachaça sem falar palavra e com aceno da cabeça confirmou seu pedido dominical.

    Já estava clareando a mente dos problemas de trabalho e Maria Helena quando duas meninas de cabelos molhados entraram no bar e se fixaram bem à frente dele. Elas não olharam para nenhum lado, não fizeram menção de estarem se importando com quem estivesse ao redor, e não pareciam querer importunar alma que fosse para alegria de Elísio.

    Como estava vazio o bar, não tinha como não escutar a conversa das meninas. E como ainda esperava seu banquete individual, achou pitoresco poder conhecer o que pensavam aquelas jovenzinhas tão delicadas. Elísio e Maria Helena não haviam tido a sorte de terem filhos, então ele encontrou ali um momento para entender como funcionava uma nova geração. Sem ser invasivo, relaxou e deixou os ouvidos absorverem o que as moças soltavam ao vento.

    – Agora que você assumiu essa nova função, você vai ter que entender seu papel e se fixar nele. – Disse a loira para a de cabelos vermelhos em tom tutorial. E continuou:

    – Ninguém está ali para te satisfazer. Isso é no mundo e na vida. Absorva. E na função muito menos. Às vezes damos sorte de alguns se encantarem por nós e se esforçarem um pouco. Mas não é regra.

    Elísio ficou encantado com a forma profissional da loira e se interessou pela conversa de vez. E ela continuou:

    – Agora anote as dicas: supere os medos, os nojos, os pudores e o conservadorismo. Julgamentos não fazem bem a ninguém e só afasta as pessoas. Aprenda a ouvir com atenção e sinceridade mesmo aquilo que não te interessa. Sorria sempre, mesmo se for com complacência e empatia. Seja gentil, fuja das brigas e não passe o que ouviu para frente, aquilo que te contam é só seu.

    Elísio já estava pensando em pegar uma caneta e começar a anotar aqueles conselhos para ele levar para vida, e continuou a ouvir:

    – Para o ato em si é sempre bom ter uma especialidade. Posso te ensinar a minha. A primeira aula é grátis. Se você se interessar, podemos marcar no meu consultório que tenho até aulas práticas. Estabelecemos um valor por aula, mas tem que pagar antecipado. O maior segredo é usar toda a boca. Língua e céu da boca são cruciais para a pressão do vácuo  fazer efeito no membro, mas também deve ser utilizado a bochecha. Nunca use os dentes. Não é necessário colocar tudo dentro da boca o tempo todo. Quando faltar fôlego ou der vontade de vomitar, vá para a cabeça e lamba o buraquinho. Movimentar a sua cabeça é uma boa variação de vibração. Mantenha pelo menos três unhas grandes para fazer carinho no saco enquanto você chupa. E sempre, sempre, sempre engula.

    Constrangido com o tesão que lhe acometera, Elísio se levantou abruptamente, suspendeu o bife, avisou que voltaria na semana seguinte para acertar tudo e correu para casa para encontrar Maria Helena que já devia ter chegado da igreja.

  • André Pellenz propõe reflexões sobre crises conjugais, pandemia e política em ‘Fluxo’, que estreia dia 31 de agosto nos cinemas

    O longa, em preto e branco e totalmente realizado à distância na quarentena, mostra os conflitos de um casal em crise durante o lockdown em um cenário político ameaçador; elenco conta com Bruna Guerin, Gabriel Godoy, Silvero Pereira e Cassio Gabus Mendes

    Definido pelo seu diretor e roteirista André Pellenz como “um filme que parece um documentário sobre o futuro”, o drama “Fluxo” – gravado em preto e branco numa fase em que as filmagens presenciais estavam proibidas por conta da covid-19 – chegará aos cinemas no dia 31 de agosto de 2023. Na trama, uma distopia política-conjugal, um casal em crise, interpretado por Gabriel Godoy e Bruna Guerin, acaba tendo que lidar com uma situação inesperada, um lockdown. Obrigados a conviver, eles reavaliam seus conceitos, enquanto uma ameaça maior vai se formando do lado de fora: um governo de ultradireita prepara um golpe de estado.

    “Quando escrevi o roteiro, não imaginava o contexto político que viria depois. Foi assustador ver a ficção quase virando um golpe de Estado real”, relembra André.

    Produzido pela Media Bridge e pela Paramount Pictures, com distribuição da Pipa Pictures e Paramount, “Fluxo” conta ainda com Cássio Gabus Mendes, Silvero Pereira, Guida Vianna, Ronaldo Reis, Alana Ferri e Monika Saviano no elenco, todos filmados em suas casas por meio de aplicativos, em Rio, São Paulo e Fortaleza.

    Lançamento cancelado motivou o projeto

    A frustração de ver o lançamento de seu filme “Os Espetaculares”, que estava cercado de grande expectativa mas que, com os cinemas fechados, teve o lançamento cancelado, motivou André. Como ele mesmo explica:

    “Na verdade, ‘Os Espetaculares’ chegou a estrear em Manaus, quando as coisas pareciam estar mais calmas e apenas os cinemas de lá estavam reabrindo. Porém, uma semana depois a cidade iniciou aquele trágico ciclo de falta de oxigênio e tudo se fechou ainda mais. Isso me marcou muito, e minha raiva com o governo da época era cada vez maior. Eu precisava colocar tudo isso para fora”. (O lançamento de “Os Espetaculares” estava previsto para junho de 2020, e o filme acabou sendo adquirido pela Amazon).

    Escrito em apenas 20 dias, o diretor não quis esperar a flexibilização de protocolos e decidiu gravar “Fluxo” de maneira totalmente remota, com um mínimo de recursos e ousando na linguagem cinematográfica. Os atores receberam o equipamento em casa e seguiram as instruções da equipe (que nem mesmo se encontrou) a distância, sendo responsáveis por todos os movimentos de câmera, sem a presença de qualquer pessoa no set, algo visto poucas vezes na história do cinema.

    Fim da pandemia, mudança na montagem

    Com o filme pronto, já no fim da pandemia, André decidiu que era preciso mudar alguma coisa. O insight acabou implicando numa revisão da montagem do filme, alterando alguns conceitos da obra, como ele mesmo explica:

    “Acabei remontando o filme como se tivesse terminado uma guerra. Não queria lembrar logo de cara como tudo começou, e sim ir revendo as coisas em sentido inverso, de forma a ‘zerar’ meus sentimentos em relação a tudo que aconteceu”, diz.

    Responsável por capitanear grandes sucessos comerciais, como “Minha Mãe é Uma Peça” (2013), “Detetives do Prédio Azul” (2017), e mais recentemente “Os Aventureiros”, até então a maior bilheteria brasileira do ano de 2023, Pellenz gostou da experiência de fazer algo mais simples e artesanal. “Para mim é um retorno aos meus projetos de curta-metragem e à série dramática “Natália”, do Universal Channel/TV Brasil, onde a simplicidade fazia parte da linguagem”, empolga-se.

    Caixas na porta de casa: os desafios de filmar à distância num período de incertezas

    Os desafios de se fazer um filme sem a presença do diretor foram muitos. Pellenz define como uma espécie de “Dogma 95” particular: “Na época, fiquei intrigado com a limitação que Lars Von Trier e sua turma se auto-impuseram, gerando filmes únicos e muito interessantes. No nosso caso, as limitações foram impostas pela pandemia, e é fascinante ver como elas afetaram a linguagem e o resultado. Hoje entendo melhor as motivações deles”, completa.

    Sem contato pessoal, os equipamentos foram deixados lacrados e higienizados nas casas dos atores, e eles precisaram aprender a montar e operar tudo.

    “Chegaram equipamentos e mais equipamentos na minha casa na época. Duas câmeras, iluminação, cabos e mais cabos, tripés, material para arte e som. Uma loucura. A casa ficou de ponta cabeça e tivemos que ter muita calma para entender que a nossa casa viraria um set de filmagem por 15 dias”, conta Gabriel Godoy.

    O ator relembra o grande desafio que era concluir cada plano: “Sair do personagem não era uma questão, mas não sair do cenário do filme, isso era. (risos). O desafio era antes de gravar. Era mais tempo sendo da técnica do que do elenco. Geralmente, buscamos estar 100% concentrados em um set de filmagem, porém no caso do Fluxo precisávamos estar 500% para dar conta de tudo. Às vezes passávamos 40 minutos montando um plano e quando estava tudo pronto eu lembrava: “Ah, agora preciso também atuar. Sou ator do filme. (risos). Foi uma experiência única realmente”, diz.

    Bruna Guerin também se recorda com prazer do desafio, que trouxe muitos aprendizados: “Como tínhamos que exercer todas as funções do set, além de atuar, foi muito desafiador. Mas a equipe toda nos conduziu com tanta paciência e generosidade que acabou sendo um prazer estar vivenciando tudo aquilo. Foi um dos maiores aprendizados que tive na vida. Hoje enxergo e trabalho no audiovisual muito diferente por conta dessa experiência”.

    Outro destaque é a participação especial de Cássio Gabus Mendes, que não saiu de sua casa e fez tudo sozinho. “Jamais imaginei que um dia faria uma cena sem mais ninguém por perto”, disse o ator durante as gravações.

    Silvero Pereira, que gravou suas cenas em Fortaleza, compõe o elenco num papel-chave para a distopia final. O ator também gravou a música-tema do filme, “Jaqueta Amarela”, de Assucena (da extinta banda “As Baías e a Cozinha Mineira”).

    “Fluxo” é um um dos poucos filmes realizados naquele momento de tensão. No entanto, não é “o filme da pandemia”, como diz Cosimo Valerio, sócio da Media Bridge, produtora de filmes como “Chacrinha” e “Intervenção”: “Não estamos retratando a covid-19. A quarentena do enredo é um ponto de partida para discutir a crise de um casal que acaba refletindo uma situação maior e mais grave”, afirma

    Filme manteve a produção cinematográfica ativa na pandemia

    Outro grande trunfo de “Fluxo” foi manter a produção cinematográfica brasileira em funcionamento mínimo num período inóspito, em que o setor cultural, e especialmente o cinema, foi diretamente afetado.

    “Conseguimos manter a produção ativa na época, permitindo que equipe e elenco, mesmo em número reduzido, tivessem trabalho remunerado. A parceria com a Paramount foi fundamental para finalizarmos o filme da melhor maneira possível”, completa Angelo Salvetti, também sócio da Media Bridge.

    Segundo Alex Levy-Heller, da Pipa Pictures, “Fluxo” é um filme para salas de cinema: “Estamos renovando nossa aposta na tela grande, na sala escura, no cinema como arte. Este é um filme feito com as menores câmeras, para telas maiores. De certa forma, essa amplificação reflete o alívio que vivemos recentemente”, conclui.

    Sinopse:

    Primeiro volume de uma trilogia sobre a angústia, inspirado na obra do diretor italiano Michelangelo Antonioni, em especial “O Eclipse”, e nas provocações temporais do soviético Andrei Tarkovski, “Fluxo” é uma distopia política-conjugal que acompanha um casal em crise. Carla expulsa Rodrigo de casa, mas ele não pode deixar o apartamento por conta de um lockdown imposto pelas autoridades. Assim, os dois são obrigados a conviver e acabam revendo seus conceitos, até que as coisas ao redor tomam um rumo jamais imaginado e uma ameaça maior que a própria razão do lockdown vai se formando lá fora.

    TRAILER DE ‘FLUXO’: https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=PYYnocJuKg4

    Ficha técnica:

    Distribuição: Pipa Pictures e Paramount Pictures

    Produção: Media Bridge e Paramount Pictures

    Elenco: Bruna Guerin, Gabriel Godoy, Silvero Pereira, Guida Vianna e Cassio Gabus Mendes

    Roteiro e direção: André Pellenz

    Produção: Angelo Salvetti, Cosimo Valerio, André Pellenz e Altino Pavan

    Fotografia: Ênio Berwanger

    Direção de arte: Raíza Antunes

    Figurino: Isa Ribas

    Montagem: André Pellenz

    Trilha Sonora: João Jabace e Luís Rodrigues, com músicas de Johnny Hooker, Letrux, Mariana Volker, Bemti, DiMelo e Assucena

    Música: “Jaqueta Amarela”, de Assucena, interpretada por Silvero Pereira

  • O acéfalo Valentim

    Para o filósofo alemão Immanuel Kant, a prerrogativa do legislador universal é de nos tornar pessoa, um ser com fim em si mesmo, e não uma função do Estado, da sociedade ou da nação – dispondo de uma dignidade ontológica.

    Já para o senador da República, Styvenson Valentim (PODEMOS-RN), que – como bem definiu a jornalista e psicanalista Sheila Azevedo – ganhou notoriedade e ascensão política por sua sanha justiceira contra os cachaceiros motoristas de plantão, os direitos do homem podem ser usados pelo Estado, mas não de todo e qualquer homem, como demonstra seu projeto de lei que defende a  doação de órgãos duplos como hipótese de remição da pena privativa de liberdade (PL 2.822/2022).

    Styvenson defende que o projeto pode parecer “bruto e desumano”, mas a proposta dá oportunidade para que essas pessoas demostrem solidariedade e de alguma forma devolvam para a sociedade algo que foi retirado dela. Assim, “coisificando” corpos e impelindo que apenados (pois já cumprem uma pena de acordo com o devido processo penal) sejam mais uma vez penalizados e tornando a população mais pobre do país muito vulnerável.

    Para o jornalista e professor de Direito e Processo Penal da Universidade Católica do RN, Cid Augusto, “o projeto é absurdo, mas, infelizmente, não representa novidade. Já se defendeu algo semelhante nas Filipinas e talvez em outros lugares. Lá, propunha-se a transformação da pena de morte em prisão perpétua, em troca de um rim do condenado. Aqui, o mesmo órgão vale 50% da pena. A iniciativa, como se percebe, institucionaliza o comércio de órgãos humanos. Por ele, o detento que cumpriu pelo menos 20% do tempo imposto pela Justiça criminal pode comprar a liberdade ao Estado, pagando com a mutilação do próprio corpo”.

    Cid ainda destaca que, se aprovada, a proposta vai reduzir a população carcerária, formada em sua maioria por pessoas pretas, pobres e com baixo ou nenhum nível de alfabetização, a condição de subgrupo humano, de indivíduos inferiores e descartáveis.

    “Sem querer enveredar na chatice do ‘juridiquês’, afirmo apenas que fere gravemente a Constituição Federal ao desrespeitar princípios inegociáveis, como igualdade, dignidade humana e vedação a penas cruéis”, alerta Cid Augusto.

    A proposta de trocar órgãos de presos por tempo de prisão não é novidade aqui no Brasil e já tramita há pelo menos 20 anos no Congresso Nacional. Em junho de 2003, o então deputado Valdemar Costa Neto (PL/SP) apresentou o um projeto de lei propondo permitir “a presidiário que se inscreva como doador vivo de órgãos, partes do corpo humano ou tecidos para fins terapêuticos, requerer redução de pena após a aprovação do procedimento cirúrgico”.

    De lá para cá, outros onze projetos de lei foram apensados à proposta de Costa Neto e continuam desafiando os limites da ética e da legislação brasileira, que explicita que “comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano” é crime, com pena de reclusão (que vai de três a oito anos) e multa. Isso, também sem levar em conta a Constituição Federal, que em seu artigo 1°, inciso III, faz da dignidade da pessoa humana valor supremo da ordem jurídica.

    Se cada ser humano tem que ser respeitado na sua integralidade e ter sua dignidade protegida, como transformar em lei uma proposta de barganha de seu próprio corpo?  Se é proibido vender seu órgão, pode ser permitindo trocá-lo por alguma vantagem? Uma pessoa cumprindo pena estaria em condições para doar seus órgãos por livre e espontânea vontade? Teria também os esclarecimentos necessários para tanto? Um preso tem autonomia? Ou devem ser induzidos a se transformar em um recurso ‘natural’ pronto para colheita?

    As perguntas são muitas. Mas, o limite além de constitucional, legal, é ético.

    Segundo o filósofo italiano Nicolau Maquiavel. “há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis”.

    Partindo disso, e diante de iníquas propostas de nossos legisladores, é de se lamentar que a despeito de tantos avanços da Ciência, ainda não seja possível o transplante de cérebros. Poderia ser indicado para muita gente que se acha acima do bem e do mal.  

  • Coletivo CIDA e ATeKa Compagnie (FRA) promovem oficinas para estudantes da dança

    Em uma ação conjunta entre Coletivo CIDA e ATeKa Compagnie (FRA), estudantes e pesquisadores da dança estão participando de oficinas formativas com o coreógrafo francês Abdoulaye Konaté. Ao todo, serão realizadas quatro oficinas que beneficiarão mais de 120 pessoas de forma gratuita.

    Esta ação faz parte da Residência Artística Sucre, uma iniciativa da ATeKa Compagnie e do Coletivo CIDA, apoiada  pela “La Fabrique des Résidences” do Instituto Francês e Programa “Cruzamentos” da Villa Tijuca. Uma união entre as Alliances Francesas com Chaillot – Teatro Nacional da Dança – Paris, França e o MC2: Casa de Cultura de Grenoble, na França, em cooperação com a Fundação Nacional de Artes (Funarte), Ministério da Cultura e Governo do Brasil. O projeto possui apoio institucional do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, por meio da Fundação José Augusto e da Aliança Francesa de Natal.

    Para  René Loui, coreógrafo, intérprete e fundador do Coletivo CIDA, essa residência artística é muito significativa. “O Coletivo CIDA em seus sete anos de existência e resistência, vem estabelecendo laços e criando redes de conexões com artistas das mais diversas realidades, nos quatro cantos do planeta. Isso é muito significativo para nós: Uma companhia de dança internacional se atrai pelo nosso trabalho nas redes sociais e anos depois nos propõe uma parceria. Não posso deixar de citar a grande oportunidade de ocupar a Maison de La Culture em Grenoble, na França. Sem dúvida este novo projeto representa uma grande jornada para o Coletivo CIDA”, pontua René Loui.

    Etapas Brasil e França

    A residência entre o Coletivo CIDA e a ATeKa Compagnie. se realizará em duas etapas, uma no Brasil e a outra na França. A primeira etapa começou no início do mês de agosto com a vinda do coreógrafo Abdoulaye Konaté para a cidade de Natal/RN.  

    De acordo com René Loui essa residência é também sobre uma conexão ancestral.”Ao longo de minha jornada nas artes me envolvi em inúmeras residências artísticas. Cada uma delas com suas características e singularidades foram ponto de partida para a construção de uma obra cênica. Aqui, com a Residência Sucre, temos nas nossas mãos uma folha de papel negro onde escreveremos em traços também negros. Uma residência artística para relembrar e para reviver as dores e as memórias de nossos antepassados”, pontua René Loui.
     

    Em Natal serão 30 dias de imersão no processo criativo da obra, além da realização de atividades de formação com instituições e grupos da cidade, dentre eles: Companhia de Dança do Teatro Alberto Maranhão (CDTAM), Grupo Universitário Gaya Dança Contemporânea, junto com alunos da graduação em Dança pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e convidados.

    Para a intérprete potiguar Ana Cláudia Viana, a atividade foi muito positiva. ”Esse intercâmbio de saberes foi muito positivo. O Abdoulaye Konaté trouxe algo que é dele e nós entregamos algo que é nosso, partilhando nossos saberes e vivências em dança. Foi um importante momento para atualizar saberes, discursos, sensações, percepções sobre nós e o trabalho que fazemos”. 

    Após a conclusão dessas ações formativas, Coletivo CIDA e Abdoulaye Konaté seguem no processo de montagem do espetáculo SUCRE – SI PROCHE DU PARADISE (Açúcar – Tão Perto do Céu). Estima-se que em setembro seja realizada uma Mostra para um público convidado e representantes da Aliança Francesa Natal, Fundação José Augusto e do Gabinete da Secretária Extraordinária de Cultura do Rio Grande do Norte. 

    A segunda etapa, será realizada na cidade de Grenoble, na França, onde os dois grupos ocuparão a MC2: Casa de Cultura de Grenoble para a finalização da montagem, realização de laboratórios artísticos e uma temporada de estreia.

    Ainda na França o Coletivo CIDA exibirá o espetáculo Corpos Turvos, como grupo convidado para a Table Ronde: Spectacle Vivant et Handicap, evento sobre Artes Cênicas e Inclusão e Acessibilidade.

    Conexão Coletivo CIDA e ATeKa Compagnie 

    Foi através das redes sociais que o Coletivo CIDA e Ateka Compagnie iniciaram o contato, que agora rende uma colaboração artística graças a editais de fomento.

    “O acaso obviamente não existe. Todas as coisas tem um propósito. A ATeKa Compagnie e o Coletivo CIDA começaram a se seguir nas redes sociais no ano de 2019, ano em que foi criado o espetáculo “Sucre – um sorvete para um crime legal”. E agora, em 2023, o  Edital Bolsa Funarte e Aliança Francesa de Residências Artísticas em Artes Cênicas Brasil/França – 2022 possibilita essa residência de pesquisa em colaboração com o Coletivo CIDA, me trazendo de volta a questionar sobre esse tema. Tudo foi planejado a partir das conexões, e agora estou ansioso para finalmente encontrá-los para que possamos pensar juntos no possível rumo de uma história agridoce, salgada, ácida, contraditória”, aponta o francês Abdoulaye.

    Criado originalmente em 2019 pela ATeKa, “Sucre” ganha uma nova perspectiva e nova corporeidade através da participação de Jânia Santos, Marconi Araújo, René Loui e Rozeane Oliveira, nomes que são referências para as artes cênicas norte-rio-grandense.

    “Acredito que essa residência artística seja algo muito significativo tanto para o Coletivo CIDA quanto para a ATeKa Compagnie. Fomos um dos cinco grupos do Brasil aprovados e o único do nordeste, ou seja, é de suma importância para nós podermos compartilhar nossas metodologias de produção em dança com a ATeKa Compagnie, assim como sermos atravessado por eles. Aproximar ainda mais nossas pesquisas e metodologias, através dos trabalhos corporais, durante esse primeiro mês de residência está sendo algo muito gratificante”, comenta Arthur Moura, produtor e fundador do CIDA.
     

    Sobre o CIDA

    O Coletivo Independente Dependente de Artistas (CIDA ) é um núcleo artístico de dança contemporânea, fundado no ano de 2016 por artistas emergentes, pluriétnicos, com e sem deficiências, oriundos das mais diversas regiões do Brasil e radicados na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte.


    Todas as informações sobre o CIDA podem ser acompanhadas através dos canais de comunicação do coletivo. Acesse: www.coletivocida.com.br ou acompanhe o Coletivo no Instagram em: @coletivocida.

    Sobre ATeKa Compagnie

    Os projetos da ATeKa giram em torno de três missões: criação coreográfica, distribuição de peças e ações de transmissão. Suas criações desenvolvem uma linguagem coreográfica na encruzilhada da cultura africana e da cultura europeia contemporânea.

    Todas as informações sobre o ATeKa podem ser acompanhadas através do site: http://www.ateka-cie.com/ ou pelo Instagram em: @ateka_compagnie.

  • Incandescências

    Por Natália Chagas

    A solidão era proporcional à vaidade que o havia afastado dela. Um oco no centro do peito inquietava a vontade de beber, o sossego das pernas, a serenidade mental ou a necessidade de respirar. Ele se lembrava dela como se sentisse o calor do corpo do seu lado. Chegava às vezes a virar o rosto na quase certeza que veria aquele rosto de pele branca, cabelos grisalhos e sorriso vermelho arrebatador.

    Não fez muita força para recordar da fatídica noite que se separaram. Enxergou no olhar molhado a desilusão que avassalou o coração daquela mulher de pernas longas. Ele viu, naquele momento, que havia falhado. Mas não podia, por não querer, voltar atrás. Finalmente havia convencido Luara de participar do menáge que o perseguia em sonhos molhados há tanto tempo. Achava terrível não ser com Neiva com quem já tinha uma relação bastante rotineira, e o sexo sempre em alta qualidade, mas teria seu menáge com Luara. Aliás, durante todo percurso baladeiro da noite, tinha tido picos de tesão imaginando as duas melhores transas de sua vida na mesma cama. Mas Neiva já havia se consolidado como a rotina para ele naquela eterna insistência em oficializar o namoro. Ele nunca havia prometido diferente para ela, sempre foi honesto. Talvez pudesse ser mais franco ao mencionar o tamanho de seu tesão por Luara, mas ela sabia durante toda a relação do compromisso que ele tinha com sua liberdade e hedonismo. Nada ficaria entre ele e seu bem estar.

    Mas aquela noite, o atordoava a ausência de Neiva. Depois de tantos meses ignorando o fato de ela não o ter procurado, como fazia em outros momentos, enfim se encontrou com saudades.

    Atravessou a cidade até a casa dela, bateu campainha, gritou e nada. Nenhum sinal de vida. Um vizinho, ouvindo o barulho, apareceu na porta e disse:

    – Não tem ninguém aí, não.

    – O senhor sabe há quanto tempo Neiva se mudou?

    – Olha, ela se foi há alguns meses. E de uma hora para outra. Minha esposa tentou convencê-la a ficar. Mas ela chegou uma noite, no outro dia de manhã pagou tudo à dona da casa, no fim do dia, o caminhão de mudança levou as coisas dela.

    – O senhor sabe para onde ela foi?

    – Ela não quis contar pra ninguém. Aqui na rua todo mundo tentou descobrir porque todos gostavam dela, mas a danada não arredou o pé. E estava triste a pobre alma. Sentimos muita falta dela.

    Kênio saiu da frente da casa com um peso terrível passando por suas veias. Agora além da saudade, sentia culpa da infelicidade de Neiva. Pensou e repensou quantas coisas ela havia se prometido a ele, e tão pouco pediu em retorno.

    Mas não havia desistido. Acharia a moça custe o que custasse. Afinal depois de anos investigando fofocas de madames, cavucando notícias de escândalos lhe daria um mínimo de conhecimento de como achar uma mulher que nem era tão pequena assim. A cidade não é grande. Não vai ser difícil.

    Por alguns dias, rodou alguns lugares comuns aos dois perguntou a pessoas que conhecia Neiva ou era amigo de quando eram reconhecidos como casal. Ninguém sabia de nada. Algumas pessoas nem mesmo havia percebido a ausência da moça. Foi até o escritório onde ela trabalhava, e ela havia se demitido sem dizer onde ia. Ele sabia que ela não procuraria a família porque a relação era quase inexistente. Foi para redes sociais e viu que as postagens haviam parado de serem publicadas há mais de dois meses, próximo da última vez que se viram. No Facebook, no insta, apenas a mensagem: “Difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que mais se ama” – Bob Marley.

    Aplacou em sua mente milhares de momentos declaratórios de Neiva. Um em especial que ele sentado no encosto da cama de olhos fechados sentiu a língua da mulher desenhando um caminho leve de tesão na perna esquerda, chegando em sua virilha, lambendo seu saco até o pau. Ela engolia toda rigidez de seu tesão provocando seus ímpetos mais enlouquecedores, sem ao menos abrir os olhos ele gozou alucinadamente. Devagar, ela chegou em seu ouvido e disse levemente: “te amo”. Aquela noite transaram onde não havia mais espaço na casa. Todo metro da casa foi percorrido com o amor de Neiva. “Quando foi que eu parei de enxergar a coisa boa que havia ao meu lado?”- se perguntou.
    Agora mais do que nunca tinha que encontrá-la. Retomaria o projeto de casal que eles haviam pensado no início do romance. Considerou até mesmo a possibilidade de lhe pedir em namoro como ela sempre quis e ele achava uma bobagem.

    Rodou por toda cidade em cada empresa de mudança que havia, acabou descobrindo que Neiva contratara um espaço para guardar móveis. A chave estava em seu nome desde que ele revelasse a senha:

    – O senhor tem que falar a data em que se conheceram. Tem apenas uma chance, e tem que bater com a data que está no formulário.

    Ele pensou uma série de vezes com medo de errar. Estava curiosíssimo em saber o que havia lá dentro. De repente, a imagem de Neiva entrou em sua mente como foi naquele vinte e oito de janeiro. O estúdio estava em gravação silencioso. Ele se sentiu magnetizado por sua imagem flutuando por entre as pessoas em destaque de luz. Nada mais sedutor do que o passo leve de uma mulher sem medo de invadir a vida de um homem.

    Ele soltou o dia certo. Abriu a porta, no fim do salão vazio uma urna em cima de uma mesa segurando uma carta. Na carta dizia: “Ao meu amor, que ao desistir de ti, também desisti de mim, porém nunca consegui te tirar de dentro mim, então resolvi cremar o que me atormentava. Vou em corpo, fico em puro amor junto do seu coração. Te amo!”

    Desde este dia, ao colocar a urna com os restantes dela sob a cama, ele perdera sua libido completamente.

  • Festival Komboio Potiguar leva  arte e cultura para o TAM

    O Festival Komboio Potiguar chega ao Teatro Alberto Maranhão (TAM) nos dias 3 e 4 de agosto promovendo diversas ações socioculturais e ambientais, além de trazer a estreia do musical genuinamente potiguar “Aqui é o meu lugar”. Toda a programação é gratuita e começa a partir das 16 horas.

    Idealizado pelo artista e produtor cultural Zeca Santos, o Festival Komboio Potiguar oferece oficinas artísticas, ações formativas, adoção de mudas nativas, feira criativa e exposições, tudo isso a bordo de uma kombi palco grafitada por Paulo Pazciência.

    “Contribuir para que a natalense desenvolva cada vez mais o senso de pertencimento é uma declaração de amor à cidade. É a partir desse sentimento que outras ações secundárias possam acontecer. Queremos reverberar a visão de uma Natal onde as coisas dão certo. Que tem cultura sim, que tem economia criativa sim, que tem potência artística sim”, declara o artista e produtor cultural Zeca Santos.

    “Depois dessa obra fiquei muito mais apaixonado pela cidade. Esses seis personagens da trama olham para além do Morro do Careca, para além do Forte dos Reis Magos. É sobre os habitantes reais e quem movimenta essa cidade. É uma obra que a gente deixa para Natal, esperamos que ela possa nos dar muita esperança e ajude a valorizar o que temos de bom aqui”, estima Zeca.

    O Festival também homenageia mulheres ícones da cultura do estado no que elas expressam de inspiração, resiliência e resistência, como: Dona Militana (cancioneira e romancista), Dona Maria de Lourdes (rendeira de bilro mais antiga do RN) e Auta de Sousa (poetisa).


    Sobre o musical ‘Aqui é o meu lugar”


    Com trilha sonora assinada pela dupla potiguar Khrystal e Sérgio Groove, a partir do seu mais recente trabalho musical “Romã”, o musical evoca as quatro zonas da capital nos fazendo pensar sobre  identidade territorial. 

    A obra conta a história de seis personagens, onde quatro deles formam a irmandade abraçados pelo “Sol e sua Noiva”, responsáveis pelo plano de unir em nós as distâncias entre esses irmãos-territórios.

    No elenco estão os atores e cantores Doc Câmara e Zeca Santos, as cantoras e atrizes  Heli Medeiros e Lysia Condè. Interpretando ‘Sol’ está Khrystal, cantora e atriz que assina a trilha sonora junto com Groove.  Como a noiva do ‘Sol’ está o ator e cantor Dudu Galvão, que também assina a direção musical do espetáculo. A trilha sonora será executada ao vivo pelo multi-instrumentista e compositor Sérgio Groove.  A direção de arte e figurinos são assinados pelo figurinista João Macelino e a dramaturgia é de Euler Lopes, premiada escritora de Aracaju (SE), mas que tem Natal como sua segunda casa.  

    “Essa é uma obra que nasce de um encontro, de um desejo e de um medo de não mais pertencer. Assim, quando convidamos Euler Lopes, tínhamos em mente dois desafios: acionar o lugar contemporâneo e poético para construir uma obra que tocasse no lugar do pertencimento do potiguar”, comenta Dudu Galvão.  

    “‘Aqui é meu lugar” traz para a cena, personagens que podemos encontrar ao virar qualquer esquina de camelô do Alecrim, ao cruzar as faixas de pedestre da Avenida Itapetinga, dentro dos ônibus de Felipe Camarão ou na beira do mar de Ponta Negra. Natal é preenchida por pessoas reais, comuns, tradicionais, típicas, seja o nome que você queira dar. Mesmo assim, é justamente na simplicidade que a gente queria habitar ao mexer nessa matéria. A identidade social de um povo, o sentimento de fazer parte de um território conquistado por um cotidiano que se repete e se constrói coletivamente era o nosso desejo”, completa Dudu.  

    O Festival Komboio Potiguar é uma realização do Komboio Potiguar e Cores que Tocam, e conta com o patrocínio da Prefeitura do Natal  através da Lei Djalma Maranhão, Colégio CEI , Arena das Dunas, Hotel D’ Beach Resort e Dr. Niro Reis. Apoio: TAM, Midia Day, Grupo Facetas, Grupo Estação de Teatro, Tecesol e Grupo Pau e Lata. Acompanhe Komboio Potiguar no Instagram em: @komboiopotiguarproducoes.

    SERVIÇO: 

    Festival Komboio Potiguar estreia no Teatro Alberto Maranhão (TAM)
    Dias da semana:  quinta e sexta-feira 
    Horário: A partir das 16h
    Musical: às 19h
    Local: Teatro Alberto Maranhão
    Endereço: Praça Augusto Severo, s/n – Ribeira
    Ingressos:  gratuitos  via plataforma 
    Informações: https://www.instagram.com/komboiopotiguarproducoes
    Classificação indicativa: livre
    Duração do musical : 1h20 minutos.
    Lotação: 582
    Gênero: Teatro musical