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  • Governo de Pernambuco anuncia edital de convocação artística para o 30º Festival de Inverno de Garanhuns

    O Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) divulgou, nesta terça-feira (29), o edital de convocação de propostas artístico-culturais para compor a grade de programação da 30ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG 2022). Assim, está dada a largada para a realização de um dos festivais de cultura e arte mais importantes do Brasil.

    O FIG 2022 reunirá uma diversidade de shows, cortejos, intervenções, recitais, concertos, vivências criativas, espetáculos, desfiles, exposições, mostras, ações de patrimônio cultural, formação e outras atividades culturais num dos municípios mais charmosos do Agreste de Pernambuco.

    Clique aqui e confira o edital.

    As inscrições das propostas artísticas deverão ser feitas a partir do dia 7 de abril (quinta-feira), indo até 17h59 do dia 30 de abril de 2022 (sábado), exclusivamente por meio da plataforma Prosas (www.prosas.com.br/editais). A publicação do resultado final das propostas classificadas deverá ser divulgada até o próximo dia 3 de junho (sexta-feira). A realização do 30º FIG está prevista para a segunda quinzena de julho de 2022.

    Poderão apresentar propostas pessoas físicas ou jurídicas, de todo território nacional, que comprovem sua atuação na atividade artístico-cultural. Serão aceitas inscrições em atividades nos seguintes segmentos culturais: Artes Visuais, Audiovisual, Circo, Cultura Popular, Dança, Design e Moda, Fotografia, Gastronomia, Literatura, Música, Patrimônio Cultural e Teatro.

    “A Fundarpe precisou se antecipar para que tudo estivesse pronto para a realização do FIG. Já em fevereiro deste ano, abrimos licitações para contratação de empresa especializada em locação, montagem, manutenção e desmontagem dos palcos, sonorização e iluminação do festival. Esse edital de convocação de propostas é outro passo importante, fundamental para a construção da grade artística do FIG, um evento que completa 30 edições e sempre foi marcado pela alta qualidade das atrações”, destaca Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe.

    A expectativa da Secult-PE e Fundarpe é de, mais uma vez, realizar um festival de grande impacto dentro do cenário da produção artística do Estado e que marque o reencontro da população com este importante evento nacional.

    “O FIG é um dos maiores festivais multilinguagens do Brasil e também uma plataforma que conecta artistas e grupos, entre si, e com seu público, promovendo uma circulação que é vital para a cadeia produtiva da cultura em Pernambuco”, comenta Gilberto Freyre Neto, secretário de Cultura de Pernambuco.

    “O Festival de Inverno de Garanhuns tem uma história grandiosa e inspiradora para os que produzem arte e para os que a desfrutam. Desse edital de convocação artística sai mais de 80% do que o público vai poder conferir. Temos certeza que vamos fazer mais um evento de muito sucesso de crítica e de público”, opina André Brasileiro, coordenador-geral do FIG 2022.

    Entre as cláusulas do edital de convocação artística, lançado nesta sexta-feira, destaca-se o item que condiciona a realização do evento e consequente contratação de artistas e grupos selecionados aos protocolos que controlam a realização de atividades em espaços públicos, conforme definição das autoridades sanitárias.

    HABILITAÇÃO – As propostas inscritas serão avaliadas em duas etapas. Na primeira, que é a análise preliminar, é verificado o cumprimento de todas as formalidades do edital. Essa etapa consiste na apreciação da documentação anexada ao Formulário de Inscrição de cada segmento artístico-cultural e na verificação do cumprimento de todas as formalidades descritas neste edital e será realizada por equipe técnica composta por servidores e colaboradores vinculados à Fundarpe. O resultado gera propostas habilitadas e inabilitadas (que ainda poderão recorrer da decisão).

    Num segundo momento, será feita análise artístico-cultural, que consiste na avaliação de mérito do conteúdo das propostas habilitadas na análise preliminar. As análises serão feitas por comissões constituídas de profissionais com experiência comprovada em suas áreas de atuação. As propostas serão avaliadas de acordo com critérios e aspectos norteadores previstos no edital, sendo atribuídas notas para cada proposta habilitada.

    A listagem com as propostas classificadas na análise artístico-cultural será disponibilizada no Prosas e no Portal Cultura.PE (www.cultura.pe.gov.br), bem como no Diário Oficial do Estado.

    Clique aqui e confira o edital do 30º Festival de Inverno de Garanhuns.

  • Fragmentos

    Esta voz dentro de mim, esta voz que cala minha boca. Tento, tento dizer simples palavras vãs, algumas letras soltas e confortáveis ao meu peito, neste imenso desamor. Poetizar-me, também já tentei. Talvez haja um escape, uma fuga repentina no meio da noite em meio aos estilhaços de vidros no chão.

    Não, não serei tão covarde, tentarei, talvez, gritar muito alto, um aviso ao meu coração carente e em seguida me atirar do terraço.

    Estou certa que serei eu mesma em algum outro lugar, em algum caminho que não seja tão gótico, tão árduo assim. Talvez eu seja um pouco louca, insana e certamente lá, onde talvez exista um vasto campo, serei livre, livre desta voz que costura minh’alma.

                Por enquanto estou em fragmentos, nestes cacos poéticos e errantes, pelo menos até o cair da noite, onde visto meu corpo com a capa da ilusão, só assim sigo mais um dia, termino mais um dia, mais um dia na minha busca insaciável por sangue, sangue fresco, de um animal perdido pelo caminho ou até mesmo de alguém, desses casais que param seus carros no alto do mirante, estes jovens que ousam esfregar seus corpos nus sob a luz da lua.

                A lua, hoje ela está cheia, talvez de mim, dos meus lamentos, dos meus intensos pedidos de socorro, socorro que nunca chega, sei que é tarde, minhas entranhas já são amargas. Estou ainda aqui, presa entre o ontem e o hoje, entre a vida e a morte, presa em mim, nestes argumentos inúteis, neste esquelético corpo virgem, estou ainda aqui, no silêncio da madrugada fitando a lua que ainda alerta brilha no céu, cortando-me interiormente. Continuo aqui, marcada no alento, tento sair deste abismo incerto, ainda amanheço aqui, miúda.

    Não, não sei se eu estendo-me no chão ou me abraço nestas paredes invisíveis. Estou feito um vampiro que perambula por aí, ou quem sabe uma alma qualquer a procura de possíveis cadáveres para saciar a fome. Não, não sei quem sou, apenas restam estes fragmentos poéticos em minha corrente e por fora, esta pele em desuso.

    Cato-me, revirando meus absurdos, meus cacos ásperos e sem pontas cortantes. E esta voz que aqui ainda dentro de mim, torturando-me, estes ecos atordoantes nas lacunas do meu pensamento, esta voz que não cessa, que não clama um fim, que pune uma parte de mim, esta parte torta e funesta e a outra parte, uma outra  pouca parte, uma parte poetaço, ainda longe de Camões, perdida aqui no âmago do mundo ou quem sabe no inferno, nem mais sei, sei que estou aqui, débil com o pouco que ainda me resta, na indolência desta manhã de sol, tecendo-me, aos poucos.

  • Funciono

    Refaço-me. Todos os dias. De algum jeito torto e desmiolado. Negra, branca, bela e miúda. Conserto-me com um pouco de dor, um pouco de amor. Com um pouco de desespero e rebolado tosco. Um pouco de sangue ralo que escorre por entre as incertezas, nas veias. A fera sorrindo, a borboleta levantando voo. Tem tudo dentro de mim. 

    Dentro deste lado avesso, me desperto… Tardia, choramingando que apaguem as velas acesas no corredor. Sorrio. Um sorriso sufocante de um gozo silenciado, aflito. Virgem. Em um nascer que feri a própria carne. Que corta cruelmente pedaços fatigados de mim. De minhas insônias, que arrebenta com minha estupidez. Com meu lado fraco e pouco palpável.

    Refugio em meus versos, em palavras poucas que bastam. Por um dia somente. E algo tão grande mendiga por rimas, palavrões. 

    Estou assim, assassinada por mais uma noite. E agora posso voar. Cair deste ninho, deste mero invólucro, ordinariamente me atiro por aí, feito um zumbi errante, uma retirante sem causa. Assim o corpo se levanta, trêmulo, feiro criança aprendendo a andar. Levanto e calmamente vago por aí, talvez em busca da saída, talvez carente de esperança ou oração. Sem medir ou tracejar um caminho. Apenas esforço para se despedir daqui ou implorar água na próxima encruzilhada. E catando vagarosamente cacos para me recompor. 

    Assim Funciono. 

    Mesmo com rastros de lágrimas, e a mente ainda medrosa e alma enferrujada, este corpo humano e seu funcionar já basta. Poderei morrer… Ou nascer. Ou continuar feio andarilha, cavando minha reais delícias. Funciono, revirando-me ao extremo dia após dia, incansavelmente tola de mim mesma. Feito um tic-tac do relógio surrado de bolso. Funciono, funciono, funciono…Feito agulha gasta da vitrola da vovó.

  • Papai Noel

    Papai Noel é uma figura lendária que, em muitas culturas ocidentais, traz presentes para as crianças comportadas na noite da Véspera de Natal, o dia 24 de dezembro, ou no Dia de São Nicolau. A lenda pode ter se baseado em parte em contos hagiográficos sobre a figura histórica de São Nicolau. Uma história quase idêntica é atribuída no folclore grego e bizantino a Basílio de Cesareia.

    O Dia de São Basílio, 1.º de janeiro, é considerado a época de troca de presentes na Grécia. Estudiosos afirmam que a figura do bom velhinho foi inspirada num bispo chamado Nicolau, que nasceu em um lugar chamado Myra, hoje Turquia, há aproximadamente 300 anos AC. Após a morte de seus pais, Nicolas tornou-se padre. O homem de bom coração que costumava ajudar as pessoas pobres, deixando saquinhos com moedas próximas às chaminés das casas. Os presentes de natal jogados pela janela caíam dentro de meias que estavam penduradas na lareira para secar. Daí a tradição natalina de pendurar meias junto à lareira para que o Papai Noel deixe pequenos presentinhos.

    Foi transformado em santo, São Nicolau, após várias pessoas relatarem milagres atribuídos a ele. A associação da imagem de São Nicolau ao Natal aconteceu na Alemanha e espalhou-se pelo mundo em pouco tempo. Até o final do século XIX, o Papai Noel era representado com uma roupa de inverno na cor marrom ou verde escura. O Papai Noel que conhecemos hoje surgiu em 1823, com o lançamento de “Uma visita de São Nicolas”, de Clement C. Moore. Em seu livro, Moore descrevia São Nicolas como “um elfo gordo e alegre”. Em 1886, o cartunista alemão Thomas Nast criou uma nova imagem para o bom velhinho. A roupa nas cores vermelha e branca, com cinto preto, criado por Nast foi apresentada na revista Harper’s Weeklys neste mesmo ano.

    Em 1931, uma campanha publicitária da Coca-Cola mostrou o Papai Noel com o mesmo figurino criado por Nast, que também eram as cores do refrigerante. A campanha publicitária fez um grande sucesso, ajudando a espalhar a nova imagem do Papai Noel pelo mundo. Atualmente, a figura do velhinho está presente na vida das crianças de todo mundo, principalmente durantes as festas natalinas. É o bom velhinho de barba branca e roupa vermelha que, na véspera do Natal, traz presentes para as crianças que foram obedientes. Ele habita o Pólo Norte e, com seu trenó, puxado por renas, traz a alegria para as famílias.

    A história que os americanos contam é que o tão bondoso velhinho, o Papai Noel, mora no Pólo Norte, já os britânicos acreditam que ele mora no alto das montanhas de Korvatunturi, porém em ambos os lugares a neve nunca se acaba, ele mora supostamente com sua esposa Mamãe Noel, e é neste lugar que residem milhares de elfos mágicos que o ajudam a fabricar os presentes durante todo o ano. 

    Como dizem: Natal sem Papai Noel não é mesma coisa. Interessantes nomes dados ao Papai Noel: Alemanha é Weihnachtsmann-“Homem do Natal”, Argentina, Espanha, Colômbia, Paraguai e Uruguai é Papá Noel, no Chile é Viejito Pascuero, Dinamarca é Julemanden, França é o Père Noël, na Itália Babbo Natale, Holanda Kerstman, em Portugal é Pai Natal, Suécia Jultomte, Estados Unidos Santa Claus, Rússia Ded Moroz. Papai Noel é Papai Noel, de qualquer jeito, com qualquer nome, seguimos a tradição, nos vestimos deste sonho incrível, desta fantasia. 

    Não importa o lugar ou a crença que as pessoas têm, todos nós um dia já acreditamos nele. Dizem que papai Noel vive na Lapônia, mais propriamente na cidade de Rovaniemi e o parque conhecido como “Santa Park”, que se tornou uma atração turística do local. No Brasil, os Correios oficialmente recebem cartas endereçadas ao Papai Noel desde 2001. Por precaução é melhor enviar ao endereço original. Escreva uma linda carta, eis o endereço do bom velhinho: Santa Claus FIN-36930 Arctic Circle – Rovaniemi- Finlândia. Boa sorte e Feliz Natal! Ho Ho Ho…

  • Cartas para Deus

    1_Querido Deus

    Tenho buscado tantas coisas. Meus caminhos tem sido diferentes e aprecio o que tem acontecido comigo. Coisas boas e ruins. Lembranças, saudade…  Não tenho muito que reclamar e sempre irei agradecer por tudo o que passei, e se passei por certas emoções, foram necessárias. 

    Deus! Sei que és muito ocupado, com uma enorme lista em suas mãos, de toda a humanidade. Talvez não tenha um tempinho de sobra pra mim, mas também sei que minhas palavras não serão em vão. A vida não é tão bela assim aqui embaixo. 

    Me pego, muitas vezes, em minhas manhãs vagas, a pensar no bem e no mal, no certo e no errado, no que fazer e o que não devo. O pensamento do ser humano é realmente perverso. Crio pensamento estranho e aventureiro dentro de mim. 

    Em todas as tentativas vãs, estas míseras vezes, em que realmente sou eu, uma pessoa verdadeira, pelo menos comigo mesma, as tentativas são inúteis. Perco quantas vezes desejei não sentir tanta coisa assim, às vezes coisas miúdas, aquelas bem simples, outras não. Desejar morrer ou matar alguém. Na verdade, todos nós em algum momento da vida desejamos isto. 

    Estes corruptos, os incrédulos, os assassinos, tantos governantes insanos e covardes, tanta gente cruel por aqui. Aceitamos fazer parte de todo um contexto ou não, a encruzilhada ainda é a pior parte deste viver, destas dúvidas interior. 

    O que poderei fazer para mudar algumas coisas? Gostaria de humildemente me conceder um pouco de poção? Não falo destas poções de bruxarias existentes por aí, sem significativas ou justificativas. 

    Gostaria de um pouco de poção com uma moderada pitada de fantasia, de verdade. Pode ser uma de efeito interior, onde eu pudesse me sentir mais forte e poder fazer as mudanças necessárias aqui na Terra. Conseguiria transformar as armas em pó, as bombas, os tanques de guerra. 

    Abominaria o linguajar tosto, até mesmo os palavrões. Acabaria com a fome, as doenças. Faria nos incríveis campos que temos lindas mansões, aquelas de quarto e sala que todo assalariado deseja e certamente multiplicaria a água. 

    Muitos tentam alguma coisa, poucos conseguem, realmente aqui somos uma minoria, uma minoria fraca, desbravadores cansados, estamos velhos e exaustos.  

    Eu conseguiria mais juventude, fervor, mais ambição na alma humana. Transformaria as blasfêmias em orações, o preto e branco em coloridos, o céu mais azul e as manhãs sempre ensolaradas. As letras tortas no papel teriam mais graça e deixaria as crianças tomarem sorvete todos os dias de suas vidas.  

    Estar em casa teria mais sabor e não precisaríamos nos lotar no metrô em dia de semana. Eu poderia conquistar outro planeta e fazer dele nosso parque de diversão, teríamos mais cientistas, médicos, poetas…Ah Deus, como tem coisa para se consertar por aqui, acho que teria de explodir tudo e recomeçar, de um jeito novo e diferente. 

    Vão dar trabalho todas estas mudanças e acho que teríamos de preparar um grande espetáculo e contratar mais palhaços.  Transformar tudo em um grande quadro, não seria uma má ideia e mandar as crianças pintá-lo, seria legal pincelar novamente o grande paraíso, pelas mãos das crianças com menos de dez anos, seria interessante.  

    Imagina Brasília, o palco de uma grande batalha, com monstros e personagens infantis, estes de sucesso como o Bem 10 e Naruto. Já está assim né? Tenho de aprimorar minha imaginação, por enquanto, desejo esta incrível poção que o Senhor tem preparado e guardado aí no seu baú dos segredos e se achar que realmente não sou capaz de manusear humildemente poções, componentes e substâncias, tudo bem, não irei me magoar. Somente quero mudar o mundo, este nosso lar, só um pouquinho, prometo começar devagar. 

    Quero magicar.

  • Laço Vermelho da Marina

    Desejo um laço apertado. Um laço sem um nó apertado. Um laço vermelho, que me envolva na cabeça e deixe livre minha garganta. Feito uma menina, poderei sorrir e não ficar mais triste, nem sentir dor, poderei pular nas poças em dia de chuva forte. Não deixarei cair no poço, nem sujar na lama, muito menos escorrer por entre meus dedos em dias de vento forte. E deixarei de lado esta vontade doida de salvar o mundo.

    Não serei mais louca, prometo. Ficarei em pausa miúda, apenas clamando versos ao léu, ao céu. Mais nada. Com um laço apertado na cabeça, me esquecerei das dores do mundo, esquecerei dos ladrões que me levaram os sonhos, me levaram o sono bom que tinha toda noite. Levaram a menina que tentava crescer, correr entre os girassóis.

    A melancolia não gosta de vermelho já dizia vovó, então meu laço deve ser vermelho intenso. Poderei alegrar minha alma, tirá-la desta podridão, deste obscuro vazio, deste lado oco. E com ela poderei sair por aí, sem medo do anoitecer, não teremos medo dos uivos vindos de algum lugar que ainda não descobrimos, apenas sentimos medo e correr não tem sido divertido. Preciso de um laço que não me estrangule. Ele deve somente me acalentar, me tornar bela, e bonita igual Carolina minha vizinha.

    E sempre estou no caminho de pedras bonitas à procura do meu laço. Chove pouco agora, uma chuva leve, feito garoa na primavera… E eu ali, tão pequenina e frágil, chorando… Por que um laço vermelho? Dizia uma voz suave em meu ouvido.  Foi quando ele, o tempo, acolheu a menina em seus braços. E cantarolava numa voz doce e melodiosa, uma canção que acalmava até mesmo o mar em dia revolto. E eis que marina já não tinha chão, apenas asas cristalinas e laçarote vermelho na cabeça. Era uma borboleta diferente. Pálida e feliz. Uma borboleta Marina? Tempo, sou criança ainda e prefiro sonhar, sonhar em ter um laço vermelho, ser criança que corre, e borboleta colorida.

  • Busca e Desapego

    Sabe aqueles momentos que precisamos de singelas palavras? Foi exatamente assim, na minha busca por palavras sobre amor, e sobre espiritualidade, que me deparei com as palavras do escritor Flávio Siqueira, compartilhadas na Internet com muito carinho pela Caricaturista Ana Paula Medeiros: “Como desapegar das pessoas que amo? Você sugere que eu abandone pais, cônjuge, filhos… Isso é desapego?”. Amor é uma coisa, apego é outra. No primeiro caso, a base é a liberdade. No segundo, o sufocamento, o autoengano. Quem ama enxerga. Discerne a hora de ir, voltar, dizer, calar. Amar implica em ser sábio, paciente para maturação dos processos. É preciso ter calma para entender o tempo de cada coisa. É preciso ter calma e enxergar-se. Há situações difíceis envolvendo pessoas que se amam. Pais que sobrecarregam os filhos, cônjuges que não se respeitam mais, amigos que não se perdoaram, gente vinculada por alguma magoa, pesada como uma corrente presa aos pés, tropeçando, caindo, tentando levantar. Desapego é livrar-se da corrente, jamais das pessoas. Pode ser preciso afastar-se por um tempo para se recuperar, ter seu próprio espaço, mudar de ambiente. Talvez seja o contrário, hora de aproximar-se, diminuindo a distância que gerou o mal-entendido, quem sabe uma conversa franca e aberta seja suficiente? Não há fórmulas prontas. Apenas livre-se das correntes e saberá o que fazer. Isso é desapego. Você pode pensar que “se apegou” a alguém. Isso é impossível. O apego está ligado à sua insegurança, aos seus medos, vazios, que se projetam em alguém. Você não está preso à pessoa, mas em si mesmo. Podem ser pais, amigos, marido, esposa, filhos, até o cachorro. Conheço uma mulher com quase 40 anos que trata seu bicho de pelúcia como filho. O apego não está no bicho, mas nos vazios dela. O bicho só recebe essa carga. Ela não precisa se livrar do bichinho, mas encarar seus vazios. Desapego é abrir mão do excesso. É a coragem de enxergar-se nos maus entendidos, assumir sua responsabilidade nos desgastes, repensar até que ponto tem contribuído para que as coisas estejam fora de controle. É livrar-se da corrente e prosseguir com leveza, em amor. Amor gera autocrítica porque amor é consciência. É a gênese das desconstruções, do livrar-se da sobrecarga, do silêncio necessário para entender as causas, enxergar aonde tem errado, ter coragem para abrir mão do que precisa ficar para trás. Jamais abandone as pessoas, ainda que em alguns casos a distância seja necessária. Jamais se omita diante da necessidade de alguém, mesmo que existam situações aonde o silêncio é mais eloquente. Nunca mate outro ser humano dentro de você, mesmo que seja importante afastar-se. Desapego é enxergar-se no que te aflige, seja o que for, abrir mão do sentimento de vítima, entender aonde alimenta os processos e assumir que não precisa ser assim. É pacificar-se e prosseguir, amando as pessoas em liberdade, deixando as correntes pelo caminho.”  E mais ainda sobre a nossa eterna busca… “Toda busca espiritual deve levar ao encontro com o próprio buscador. Buscamos sem saber direito a razão, como se um vazio nos movesse na tentativa de preenchê-lo, ainda que quase nunca saibamos o que está realmente faltando. Santo Agostinho dizia que esse vazio somente seria preenchido por Deus, que é o espaço onde ele cabe, só ele, e então transformaram Deus em um negócio extremamente lucrativo. O tal “espaço de Deus” virou outra coisa e o vazio ficou entulhado. Despejaram Deus de dentro e disseram que está fora, nos templos, nas religiões, nos livros, fora, sempre fora. Nos perdemos em nossa busca quando deixamos de olhar para dentro. Nos perdemos e o vazio ficou barulhento. Nos perdemos e o caminho ficou confuso, as palavras difusas, os sentimentos enganosos, nos perdemos. É preciso encontrar-se. Saber que o vazio é a falta de nós mesmos, sufocados por tantos condicionamentos, tantas crenças, tantos medos, tanta culpa, tanta coisa que disseram que deveríamos ser. Nos transformamos em sub produtos culturais, reagimos a estímulos, nos moldamos conforme o ambiente, o tempo, a sociedade, a cultura, os interesses, as crenças, até percebermos que estamos longe. Saudade de nós mesmos. Nenhuma busca espiritual será frutífera se não houver espaço para o reencontro. Desintoxicar-se do ego, reconectar-se com o próximo, vincular-se à vida, perceber-se em tudo. Encontrar-se é ser quem é. Esvaziar-se. É desentulhar o “espaço de Deus”, aceitando as desconstruções necessárias, se expondo a luz da consciência, até que tudo esteja limpo, vazio, desobstruído, espaço em silêncio. Não precisamos preencher vazios, precisamos retomá-los para que então nossa busca nos revele quem somos, nos preencha de Deus. Talvez Santo Agostinho tivesse razão”. 

    Vamos refletir!

  • A Poesia!

    “Quando vai nascer a poesia, a gente acha que é das flores, das borboletas e do sorriso singelo de uma criança bem nutrida. A gente acha, mas não é. Quando vai nascer a poesia, é do suor sufocante do gozo silenciado. Ou do grito enfastiado da última vontade de abandonar o trabalho que lhe garante casa e comida.

    É do gemido obsceno que faz verter o sangue de todas as suas virgindades. É de quando você rasga o pudor aos poucos, ferindo a própria carne. É também do pudor tão sufocante que dói sem poder rasgar. A poesia é como a tristeza raivosa da mãe ressentida: “dei tudo a eles e nada tenho em troca”.

    A poesia ressente no calor dos versos e repete palavras à exaustão. É também alegria que vem sem qualquer razão de ser. É desalinho. É um pecado sem lugar – nem o próprio deus de amor perdoa. A poesia pede e insiste. Mendiga o seu carinho no auge de sua desesperança. É quando você escuta a história mais triste do mundo. E vê nos olhos de seus filhos todas as crianças assassinadas pelos donos da noite.

    A poesia é quando você não divide mais o mundo entre eles e nós: e tudo o que chora está em você e você está em todas as lágrimas que sangram sob as pontes abandonadas. A poesia é aquela pontada de esperança de que universo tenha jeito. E um desejo devastador de que tudo se despedace em estrelas cadentes. Recheadas do sangue de quem não sabe amar.

    A poesia é quando você ama o suficiente para se saber um quase-nada. Diante de tudo o que arde. Diante de tudo o que voa. Diante de todo desejo. A poesia é quando você sai de si. E tem todos os corpos de deus”. E quando sinto a poesia me invadindo…Vou caminhando por aí, feito louca varrida, vagarando nas noites de lua cheia, vagabundeando entre árvores e neblinas…Cortando o vento que me sopra forte, vou dançando entre os ramos das noites densas.

    E mesmo com as mãos presas nas correntes do tempo, este tempo maluco que escorre em mim, ou por mim por aí… É ela…A poesia que me envolve, e com ela vou correndo no labirinto da vida, desatando os nós e os medos, rompendo os segredos talhados. E realmente saio de mim quando estou com ela, numa constância infinitamente bela, e sinto que posso de tudo um pouco e um pouco mais viver… E “Parece que eu vou mergulhar… Na felicidade sem fim “… Feito a velha lagarta colorida do parque, feito cheiro de café da vovó, feito o delicioso amor, com seus versos rimados, que invade  a porta entreaberta da minha vida…

  • Lacrimejo

    Meus olhos lacrimejam no singelo desamor que sinto. Ardor, pavor… Meu sagrado momento de dor, meu manto rasgado de desordem mental, meramente preto e branco. Me permito apenas dançar no escuro do velho salão de sonhos, e bailar no verso constante da música sobre amor amarelo. Ou seria amor azul? E feito uma gota de sentimentos, me derramo no mar de coisas eternas.

    Mas estou agora no meu momento de tristeza, de me acalentar nos braços desta tempestade, que encosta devagar…, mas o cais vazio do pensamento ainda me pertence. Tenho tentado me agarrar no fio que a vida me empresta, me sentando na varanda dos meus sonhos toda manhã, e saboreando o vento doce que se encosta em meu rosto. E almejo um pouco de outras poucas coisas em mim, de mais palavras doces no café da manhã, ou desejar lenha na lareira para que a noite se prolongue quando estou com ela, sim…Ela…A saudade.

    A saudade que sinto de sermos um. Sou uma dama profana  no desenhar do artista que me habita, uma dama que já não se acanha em ajeitar a saia curta que veste nas noites de insônia aguda ou que solta as tranças para esconder o rosto nas madrugadas em que se perde no beco e se agarra as tantas desilusões dementes. “Fico assim sem você” …Perdida no vai e vem de lembranças bobas. A dor que minha’alma sente, não tem remédio ou cura, é uma dor finda que tem me levado a falência, e todas as divagações, todas minhas causas sublimes e junto o amor.

    O amor tem sumido de mim, feito um véu que desliza pela nuca, desvirginando o corpo da mulher madura que adormecia em mim, na minha estupidez maldita. Jaz! Poetisa louca e infeliz. Tanto desprezou o badalar do sino feliz, agora a morte enxuga suas lágrimas doídas, seu lacrimejar minúsculo e tolo. Um cimento macio que te cobria inteira não foi suficiente? Um mero desdém bastou…Simples e arrogante que deu… Agora somente uma desvaria frenética, caindo no calabouço de delícias. E agora o que sou? Um soluço de ideias mornas? Palavras não rimadas ou versos mortos? Lacrimejo…E lampejos…Sem beijos, sem sabor, apenas uma palidez que me traça o rosto, uma linha tênue que me lambe da noite e me parte da vida… Da minha morte lenta…

  • Despedida

    Hoje me despeço de ti, de mim. Sem acenos medíocres, nem beijo nas bochechas rosadas, as suas ou as minhas. Adeus também não levará na sua memória, nem seu adeus a mim, nem o meu a mim mesma. Prefiro esta metamorfose de delícias que sinto, que tenho, que fantasio e que poderei nunca esquecer.

    E hoje minha máscara me caiu bem, esta máscara que não é um mero adereço, ela disfarça minhas cicatrizes, minhas lágrimas escuras. Não esquecerei de ti, nem você de mim. Esta transformação de um ser em outro, de mim em você, de você que carrego em meu balaio térmico, todos seus deleites estarão nele, e de alguma forma estarei em você, talvez presa numa caixa fosca de papelão, estarei nela mesmo assim, cintilada, etérea.

    Estarei num purpurinado colorido, com letras soltas, recitando poesias pra você, sim, de algum lugar ainda não definido. Estarei em ti, tenho esta certeza, de alguma forma miúda, estarei envolvida em teus braços, no meu desassossego, na minha inquietude perversa, nas minhas manias de só querer. E esse amanhã que nunca chega, sim o dia da minha partida, da despedida nua e crua, sinto um monte de coisas, sinto uma foice me cortar a garganta, sinto o sangue quente descendo pelo pescoço. Hoje me despeço de ti, agora já é o amanhã que nunca almejei, sem fingimentos, sem delícias, deixo-te.

    Deixo-te, nossos elos se partem, deixo uma parte minha, uma parte invisível e você, fica um pouco em minhas poesias afiadas, as perversas que saem da minha boca. Minha boca que tanto mordestes. Hoje me despeço de ti, na verdade não querendo ir, mas a parte de mim, a que me domina, esta outra parte, errante e indiscreta, que se apoderou do meu lado fraco, esta parte quer sair, fugir, ir. Estou indo querendo ficar.

    Aproveito este dia, que já é noite, celebrarei meu ritual, esta volúpia ardente e irei, irei por aí feito um avoante de asa partida, faltando-me penas. O baile de máscaras continua, eu num ápice esfumaçado, parto. Parto “sem eiras e beiras”, estros, restos e fadigas. Sigo por um caminho que não se vê, não se pode ver e trilhas estreitas, um chão impregnado de cinzas, de ossos pontiagudos, de mortos.

    Sem beijo doce e quente na face ou nas mãos. Hoje me despeço de ti, na verdade de mim, porque minha máscara de hoje não teve serventia, Ela me aguarda no final da festa, sua fantasia a mais bela da noite, Ela me ronda, me espera, me envolve no seu perfume barato, a morte.