Após ter sua estreia em abril deste ano, no Fest Curta Mossoró, onde ganhou os prêmios de Melhor Filme Potiguar e de Atriz Revelação para Isadora Gondim, o mais novo curta-metragem do diretor potiguar, Davi Revoredo foi indicado ao Troféu Cultura 2022 na categoria audiovisual e está disponível para visualização online.
Com a premissa de contar uma história inspirada na Bíblia, mas transportada para um cenário pós-apocalíptico, Não Nos Deixeis acompanha a história de uma família, constituída por um pai e suas duas filhas, que vivem abrigados em uma pequena casa na zona rural. A trama é passada num cenário misterioso de pós-extinção em massa da população humana. Depois de um longo tempo sobrevivendo apenas entre si, começam a experienciar conflitos internos e inevitáveis entre eles.
“A ideia inicial do filme surgiu em 2017, quando comecei a ver alguns casos de censura e perseguição ideológica a obras e eventos de arte que aconteceram no Brasil; a exemplo do cancelamento da exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Santander Cultural de Porto Alegre, em setembro daquele ano, que tinha foco temático na diversidade sexual, e reunia mais de 200 trabalhos de variados artistas, com obras assinadas por nomes consagrados como Adriana Varejão, Cândido Portinari e Lygia Clark. Esse e outros casos repercutiram na mídia e na opinião pública à época. Foi um momento em que vi uma onda conservadora violenta crescer a níveis alarmantes no país.”, conta Davi Revoredo, que também assina o roteiro do filme.
A história que inspirou o filme é baseada na passagem contida em Gênesis 19:30, a qual mostra Ló e suas filhas, que, fugindo da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra, acabam se abrigando numa caverna. Lá, as filhas têm a ideia de embebedar o pai com vinho para que possam engravidar dele e assim dar sequência à descendência da família.
“De que forma uma história como essa se diferencia das que foram censuradas e perseguidas em 2017? Por que esta parte da história é silenciada em instituições religiosas, em detrimento à passagem que narra a destruição de Sodoma e Gomorra, frequentemente usada para condenar a homossexualidade? Por que não censuram esta e outras histórias que contém moral duvidosa na Bíblia?”. Esses são alguns questionamentos feitos pelo diretor para estimular a reflexão do público com esta obra audiovisual.
No elenco de Não Nos Deixeis estão: Isadora Gondim no papel de Lúcia, Fernanda Cunha interpretando a personagem Simone, e Pedro Queiroga como Ló, sendo a segunda vez que Pedro trabalha com Davi; a primeira foi em “Distorção”, filme lançado em 2019 e pelo qual já foi premiado como Melhor Atuação no Cine Verão – Festival de Cinema da Cidade do Sol em 2020.
Em sua estreia no circuito de festivais, Não Nos Deixeis já ganhou dois prêmios no Fest Curta Mossoró, o de Melhor Filme Potiguar e de Atriz Revelação para Isadora Gondim. Sobre o prêmio ela revelou, “gosto de fazer personagens mais densos, vivendo conflitos drásticos. Aí imagina só que felicidade grande foi me jogar de cabeça nesse trabalho e no fim ganhar um prêmio de atriz revelação e receber em nome da equipe o nosso primeiro prêmio de melhor filme!”
Isadora ainda conta sobre quando fez o teste e leu o roteiro pela primeira vez. “Fiquei com muita vontade de passar pra fazer o papel, porque estava intrigada com uma história bíblica sendo contada de uma perspectiva feminina, acho que isso merece ser mostrado no cinema. Essa narrativa das filhas de Ló é posta como verdade no livro sagrado, mas não tem nada divino nas coisas que acontecem ali entre aquelas pessoas, bem como no filme, se propondo a ser ainda mais provocador e indigesto. Isso é algo que me desafia e me entusiasma como artista”, destacou a atriz.
Fernanda Cunha (atriz do famoso curta potiguar Sideral), por sua vez, destaca a dificuldade em interpretar sua personagem. “Foi um processo prazeroso, porém muito difícil, pois é uma história muito densa sobre total falta de esperança e também sobre buscar sentido num mundo onde ele deixou de existir”. Ela complementa dizendo que acha muito importante trazer esse tipo de assunto no período de desesperança em que vivemos e também de pensarmos as consequências futuras de nossas ações.
O filme foi rodado na região metropolitana de Natal, nos municípios de Parnamirim e Extremoz, com recursos provenientes da Lei Aldir Blanc através da Fundação José Augusto – Governo do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal. Exaltamos aqui o papel da Fundação José Augusto, por ter acreditado nesse filme do jeito que ele realmente é, dizendo o que precisa ser dito; além da Lei Aldir Blanc, sem ela nada disso seria possível: “Ela foi de suma importância para todos que trabalham com cultura de forma independente no Brasil, para muita gente que vive exclusivamente de arte foi a única salvação para não ter que abandonar a carreira completamente durante o período crítico da pandemia.” disse Davi.
SERVIÇO
Exibição online do curta-metragem “Não Nos Deixeis”
link de visualização: https://youtu.be/FUgGHTVjc4Q
link de votação: https://papocultura.com.br/trofeu-cultura-2022/
FICHA TÉCNICA
Elenco: Pedro Queiroga, Fernanda Cunha, Isadora Gondim
Roteiro, direção e montagem: Davi Revoredo
Produção Executiva: Jota Isnard
Direção de produção: Carla Mariane
Assistência de direção: Luiza Oest
Direção de Fotografia e VFX: Johann Jean
Assistência de Fotografia e colorimetria: Julio Schwantz
Direção de Arte: Vitória Ventura
Assistência de Arte: Tainah Nogueira
Platô: Beto Andrade
Preparação de Elenco: Márcia Lohss
Continuidade: Franklin Mateus
Making Of: Angélica Andrade
Som direto, trilha sonora e mixagem de som: Paolo Araújo
Design: Vítor Bezerra
Produtor de Casting: Arlindo Bezerra
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