Últimas histórias

  • Redinha dos meus amores

    Foto e Texto: Alex Gurgel

    Redinha velha cansada

    Muito orgulhosa de si,

    Deita o corpo embriagada

    No leito do Potengi.

    (João Alfredo)

    A praia da Redinha tem uma vasta história ocorrida em suas areias finas, onde o tempo generoso guarda todas as lendas de uma praia habitada por pescadores com suas casas de palha e seus humildes quintais. A primeira referência existente sobre a Redinha, figura no texto de sesmaria, concedida ao vigário do Rio Grande, Gaspar Gonçalves Rocha, por João Rodrigues Colaço, em 23 de junho de 1603.

    Nesse recanto de mar aberto, os portugueses daquela época já conheciam o potencial pesqueiro da praia, que era o antigo porto de pescaria dos capitães-mores, os primeiros colonizadores do lugar.

    Segundo o historiador Olavo de Medeiros Filho, existe um mapa intitulado “Perspectiva da Fortaleza dos Reis Magos”, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal, localizado pelo historiador pernambucano Antônio Gonçalves de Melo, referindo-se a um “Porto de Pescaria”, com a presença de “rede”, no mesmo local onde hoje é a Praia da Redinha.

    O topônimo da praia, de acordo com Luís da Câmara Cascudo, faz referência a uma vila em Pombal, na beira baixa do rio Tejo, em Portugal. “Distrito vila, a margem esquerda do município de Natal. Redinha-de-fora é um local arruado. A Redinha-de-dentro fica na foz do Rio Doce, desaguadouro da lagoa de Estremoz”, diz o mestre Cascudo, no livro Nomes da Terra.

    A igreja de pedras pretas, construída pelos veranistas, em 1954, foi erguida de costas para o mar – sem má fé, mas imperdoável para os pescadores. E é por isso que os pescadores continuam frequentando a capela de Nossa Senhora dos Navegantes, bem mais antiga, construída em 1922 – igrejinha menor, “branca, como uma capelinha panda ao vento”, para usar uma expressão da música “Praieira”, do poeta Othoniel Menezes.

    Na Festa de Nossa Senhora dos Navegantes há duas procissões, com duas imagens: a da capelinha antiga é a imagem da Procissão Marítima, pelas águas do rio Potengi, entre a Boca da Barra e os confins da Base Naval; e a imagem da igreja preta vai por terra, levada pelos veranistas ao longo das ruas e becos da vila.

    O toque de fé e lirismo é o encontro das duas imagens, sob o aplauso fervoroso do povo simples da Redinha, que canta o hino da Santa arrastando a esperança de que, não tendo faltado à sua procissão, será feliz o ano inteiro. Uma velha certeza, mistura de lendas e crenças populares.

    De pedras do mar, também foi construído o Redinha Clube, em 1937, para o deleite festivo dos veranistas e pescadores em épocas de carnaval e durante a Festa do Caju. Durante décadas, o Redinha Clube teve uma importância relevante para a sociedade que frequentava aquele recanto do Potengi.

    Quando visitava Natal, em 1929, o folclorista e escritor paulista Mario de Andrade, de passagem pela Redinha, encantado, disse no seu livro Aprendiz de Turista: “Oculta nessa monotonia de banda do mar, fica a Redinha, praia de verão, bairro em que ninguém sonha pela preguiça do pensamento que atravessa o rio com esse sol.”

  • Sitio Novo — Um novo sítio histórico no Traíri potiguar

    Rasgando a estrada RN 093, depois da cidade de Tangará, a Serra da Tapuia logo aparece majestosa, guardando as casas miúdas onde uma população cuida da agricultura para viver. Essas terras de beira de serra, banhadas pelas águas do Riacho São Pedro, afluente do Rio Potengi, pertenciam ao Capitão Amaro de Barros Lima, um homem rude que desbravou o lugar.

    A cidade de Sítio Novo, distante 120 quilômetros de Natal, fica bem próxima a várias serras, inclusive a de São Pedro, da Pitombeira, da Dona Inês. A cordilheira de serras deixa ainda mais bela à paisagem agresteira. O açude da cidade está espraiado em meio à caatinga, completando um cenário único.

    O acesso a Serra da Tapuia permite a descida e subida de carros. É necessário ter cuidado porque a elevação é íngreme. No trajeto até o castelo, o visitante pode observar várias residências. As pessoas do lugar vivem, essencialmente, do plantio de fruteiras. A partir do povoado da Serra da Tapuia se tem o acesso para ao Castelo de Zé dos Montes.

    Nessas terras, nasceu uma povoação de agricultores tendo à frente o fundador do povoado de Grossos, o senhor Francisco Ferreira Lima, popularmente conhecido como “Seu Chicó”, um homeme do povo. Por iniciativa de dele, a povoação ganhou o nome de “Sítio Novo”. Com o tempo, ergueu-se a capela em homenagem a São Sebastião.

    Durante o mês de janeiro, a cidade se arruma para receber os convidados que vão celebrar o santo padroeiro com procissão, festas mundanas e manifestações populares. A economia local é baseada na agricultura, no plantio de frutas e na produção de mel de abelha.

    É na beira do grande açude que banha a Serra da Tapuia, onde abriga figuras rupestres, datadas de 10 mil anos. A grande montanha já acolheu a nação dos índios Tapuias que deixaram suas marcas nas pedras das cavernas onde se abrigavam do frio e se protegiam de inimigos e animais ferozes. Além das figuras rupestres, há o Castelo de Zé dos Montes que também impressiona os visitantes.

    O castelo fantástico de Zé do Monte na Serra da Tapuia

    Há muito tempo atrás, o menino Zé apanhava lenha próximo ao Serrote dos Caboclos, em Pedro Avelino, quando apareceu a bela imagem de mulher vestida em uma roupa de tecido azulado. Era a Virgem Maria. Ela indicava na rocha estranhos desenhos que só poderiam ser decifrados pelo garoto de 11 anos. A mensagem deixada por ela foi de que a “Deus dá-se o nome de rocha e toda a sabedoria estava no monte”.

    A história surreal está longe de ser reconhecida pela Igreja Católica. Porém, ela contada pelo menino que viveu a fantástica experiência. Hoje, aos 70 anos, chama-se José Antônio Barreto. Na década de 60, passou a pregar no interior do Nordeste o poder das rochas e ganhou o apelido de Zé dos Montes. Até hoje, ele prefere ser chamado pelo apelido.

    Sua história de realismo fantástico concretizou-se através do castelo da Serra da Tapuia, em Sítio Novo, chamando atenção por suas inúmeras torres brancas contrastando com o cinza dos serrotes. Uma passada pelos locais escuros e estreitos pode fazer o visitante se perder nos labirintos dentro do Castelo caso não tenha guia.

    Desafiando os arquitetos urbanos, ele teve a idéia de construir um castelo em meio as rochas. A capela, localizada no centro da construção, é a área de convergência de três grandes pedras. Numa delas, Zé dos Montes mandou esculpir um altar para homenagear Nossa Senhora. Não há energia elétrica, nem água encanada no castelo.

  • Fotógrafo Ambulante: uma profissão que desafia o tempo

    Os fotógrafos ambulantes surgiram nas primeiras décadas do século XX, trabalhando em praças e parques. Eram quase sempre procurados para registrarem momentos especiais, familiares ou para tirar retratos para documentos do tipo 3×4.

    Depois de um longo período sem ter eventos e com a abertura do comércio, mesmo com as restrições necessárias por causa de pandemia, é fácil ver alguns serviços voltando a atividade, inclusive o Fotógrafo Ambulante, um profissional que “quase” se perdeu no tempo com a advento dos celulares com câmeras fotográficas de última geração. Mas, eles ainda estão na ativa usando a criatividade para sobreviver num mundo audiovisual avançado onde o aplicativo Instagram exige rapidez nas fotos instantâneas para se obter milhares de curtidas do seguidos e usuários.

    Trabalhando nas ruas, praças, parques e jardins públicos das cidades brasileiras ao longo de todo o século XX, o fotógrafo Lambe-Lambe (ambulante) pode ser considerado um importante agente responsável pela democratização e pela popularização do retrato fotográfico entre as classes menos privilegiadas de nossa sociedade. “0 retratismo de caráter mais popular teve no lambe-lambe o seu maior aliado”, Observou o escritor Nicolau Sevcenko no livro “Histórias da Vida Privada no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras – 1988.

    Os fotógrafos ambulantes são fáceis de ser encontrados nas festas mais populares como na Festado Boi, que terminou no último domingo (21 de novembro de 2021) ou em festa de padroeiros dos municípios em todo o Nordeste. No evento “Natal em Natal” é comum se deparar com Seu Jonas, um fotógrafo ambulante que está atuando aos pés da grande árvore de natal, em Mirassol. Todas as noites, Seu Jonas leva seu cavalinho de madeira para fazer a alegria da criançada que quer ser retratada por apenas R$ 10,00 uma foto impressa na hora. Ele ainda não se importa se os pais da criança tiram fotos com o celular. “As fotos do celular não têm a mesma qualidade da minha câmera”, revela.

    Seu Jonas atua todos os dias na árvore de natal de Mirassol, em Natal

    Na Festa do Boi também era muito fácil encontrar Seu Marcos, um senhor na casa dos seus 50 anos, pernambucano de Recife, que viaja em busca de festas agropecuárias, de padroeiros e vaqueiradas, carregando um pônei e um boi em miniatura vivos. Ele explica que deixou o cavalo de madeira de lado porque os animais vivos dão mais realismo a fotografia, além de chamar a atenção da garotada. Ele cobrava R$ 20,00 por cada fotografia impressa na hora. Uma fila de pais se formava para fotografar seus filhos, enquanto a companheira de Seu Marcos imprimia a próxima fotografia que era entregue ao cliente em menos de 5 minutos.

    Fotógrafo pernambucano Seu Marcos

    Pelas ondas da Internet, há um documentário muito bom mostrando o cotidiano de alguns fotógrafos ambulantes cearenses. “Câmera Viajante” é um documentário dirigido por Joe Pimentel com duração de 20 minutos que apresenta a essência da fotografia ambulante cearense. Acompanhando 5 fotógrafos ambulantes, Belo, Chico Alagoano, Dedé da Neusa, Isaías, Júlio Santos o documentário retrata o cotidiano da profissão, o olhar por trás das lentes e as tentativas de registrar as emoções nos cliques. Passando pelo processo de venda e atendimento de clientes no mercado fotográfico de eventos, Câmera Viajante traz um filme mais técnico do que artístico

    Registrando os acontecimentos da vida cotidiana nos espaços públicos das cidades, a documentação fotográfica produzida pelo fotógrafo ambulante, é uma opção mais barata em relação aos caros e sofisticados estúdios fotográficos. O fotógrafo ambulante é um profissional que presta os seus serviços para a comunidade, constituindo-se como um importante testemunha da interação social de diferentes grupos no espaço público, atuando socialmente como um elo de ligação entre as diferentes gerações. O fotógrafo ambulante pode ser definido como um guardião da memória e cronista visual de uma determinada comunidade.

    Três documentários brasileiros que abordam a riqueza no universo da fotografia. Procure na Internet ou no seu streaming preferido e prepare a pipoca:

    1. O Sal da Terra (2014 – 110 min): Embora seja uma produção francesa, o documentário acompanha a trajetória do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado durante a expedição do projeto Genesis que retrata regiões e civilizações pouco exploradas em todo o planeta. O longa-metragem foi indicado ao Oscar de melhor documentário no ano de 2015.

    2. Iluminados (2007 – 100 min): A produção retrata o olhar sobre a fotografia de cinema, pelas lentes de alguns dos mais importantes profissionais do ramo no Brasil. Os entrevistados são desafiados a filmar a mesma cena, e as escolhas individuais de movimento de câmera, iluminação e equipamento revelam estilos e fotografias bastante pessoais.

    3. Câmera Viajante (2007 – 20 min): O documentário aborda o trabalho de fotógrafos ambulantes que vivem no sertão do Ceará. A narrativa se constrói a partir da visão de cinco retratistas populares, apresentando surpreendentes diferenças culturais e perspectivas em relação a fotografia.

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  • Mossoró, Um oásis entre o sertão e o litoral

    Fotos e Texto: Alex Gurgel – @alex_gurgel

    Mossoró enfrentou o bando de Lampião e venceu. Oh terra de cabras-machos! Naquele 13 de junho, do ano de 27, Virgulino Ferreira invadiu a cidade e foi combatido por bravos resistentes, liderados pelo prefeito Rodoldo Fernandes e pelo padre Motta, os verdadeiros heróis da saga mossoroense.

    Localizada a 267 km de Natal e a 220 km de Fortaleza, Mossoró é a segunda maior cidade do estado do Rio Grande do Norte. Por sua diversidade e riqueza, Mossoró também é conhecida como a “capital do oeste potiguar”, a “terra do sol”, do “petróleo e do sal”.

    Apesar de localizar-se no sertão, a cidade possui fácil acesso às praias, sendo Tibau a praia mais próxima com menos de 40 km de distância, seguida pelas deslumbrantes praias de Areia Branca como Upanema (48 Km), Ponta do Mel (53 Km) ou Morro Pintado (50 km).

    Os mossoroenses sentem orgulho de suas tradições, de um passado ilustrado de fatos históricos e de suas festas juninas, formando um tripé de atrações, que ao longo dos últimos anos vêm atraindo muita gente para a cidade. A realização de grandes eventos populares vem criando uma identidade cultural que tem chamado a atenção do turista, aqueles que querem conhecer de pertos nossas raízes sertanejas.

    Mossoró também é considerada a capital cultural do estado, possuindo diversos teatros e uma maratona de eventos, como o Mossoró Cidade Junina (uma das maiores festividades juninas do Brasil), e os espetáculos teatrais a céu aberto como o Chuva de Bala no País de Mossoró, Auto da Liberdade e o Auto de Santa Luzia.

    Mossoró tem também um dos maiores shoppings do estado, o Partage Shopping Mossoró (o primeiro do município), que conta com cerca de 140 lojas, praça de alimentação e cinco salas de cinema. O município também conta com hotéis com águas termais e um executivo da rede de hotéis francesa Ibis.

    Corredor cultural

    A grande Avenida Rio Branco é o Corredor Cultural mossoroense, onde o castelo de Branca de Neve e o mundo encantado de Walt Disney fazem parte do complexo Parque da Criança, espaço reservado para a criançada se divertir.

    Casas casadas, coladinhas, bem pintadinhas, que parecem ter surgidas do século 18, formam a praça de convivência, onde barzinhos aconchegantes são “points” para a juventude mossoroense e turistas se encontrem numa atmosfera de olhares e paqueras.

    Até hoje, o feito da resistência é contado com orgulho pelos mossoroenses. Tanto que a cidade construiu um espaço próprio para homenagear aqueles heróis. Trata-se do Memorial da Resistência de Mossoró. A ideia é permitir que as pessoas façam uma viagem no tempo, para conhecer a Mossoró de 1927 através de grandes painéis.

    A moderna arquitetura do Teatro Municipal Dix-Huit Rosado, em contraste com a Estação das Artes Eliseu Ventania, a antiga estação ferroviária que se transformou em polo cultural, completam o Corredor Cultural de Mossoró, que oferece excelentes momentos de lazer e cultura para quem faz uma visita à Avenida Rio Branco.

    Mossoró Cidade Junina

    O evento “Mossoró Cidade Junina” ocorre durante todo o mês de junho. Atualmente, já é o maior festejo junino do Rio Grande do Norte e um dos maiores do Nordeste, disputando o título “Capital do Forró” com Campina Grande e Caruaru. Shows de artistas locais e bandas nacionais fazem parte da programação dessa festa.

    Quando o espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró” termina, o adro da igreja de São Vicente se esvazia com as pessoas indo à Estação das Artes Eliseu Ventania, sede do evento “Mossoró Cidade Junina”, que na madrugada de um sábado qualquer pode reunir cerca de 30 mil pessoas — público este oriundo de várias partes do Estado e do Brasil.

    O projeto “Mossoró Cidade Junina” não deve nada a outras festas juninas de peso, se consolidando como o terceiro maior são-joão do Nordeste. Antes mesmo de sair de casa, a população já fazia a sua parte na festa, acendendo fogueiras e estourando traques pela cidade, toda enfeitada para os festejos juninos.

    O “Mossoró Cidade Junina” não é apenas um evento fechado para quem gosta de forró e ritmos nordestinos. Em mais de 10 anos, o evento se consolidou como um espaço eclético, um lugar reservado para todos os estilos da musicalidade brasileira e internacional.

    Com a proposta de realizar um evento pluralizado, onde todas as tribos se sintam atraídas, fez com que o Mossoró Cidade Junina se transformasse numa grande salada musical para agradar os mais variados públicos com forró, MPB, pop-rock, regue, samba, música eletrônica, entre outros balanços.

    Chuva de Bala no País de Mossoró

    Mossoró já conquistou tradição em apresentar grandes espetáculos ao ar livre. Durante todo o ano são apresentados três grandes eventos ao ar livre: O Chuva de Bala no País de Mossoró (junho), o Auto da Liberdade (setembro) e o Oratório de Santa Luzia (dezembro).

    Contando a história da batalha dos resistentes mossoroenses contra Lampião e seu bando de cangaceiros, no dia 13 de junho de 1927, o espetáculo “Chuva de Bala no País de Mossoró” acontece em frente à Capela de São Vicente, local onde houve a batalha real, com apresentações sempre no mesmo horário e aberto ao público.

    O espetáculo reúne mais de 50 atores em cena, todos locais. A direção da peça, em 2021, foi  assinada pelo mossoroense Marcos Leonardo, que também já participou como ator, figurinista e cenógrafo. O texto é do escritor e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Tarcísio Gurgel.

    Pensado inicialmente em ser apresentado apenas em 2002, durante as comemorações dos 75 anos do ataque, a montagem teatral acabou se incorporando oficialmente aos festejos da cidade. Hoje, a encenação integra o “Mossoró Cidade Junina”, programação com vários dias de evento que inclui concertos de sanfoneiros, concursos de quadrilhas, feiras de artesanato, violeiros, entre outras atrações locais, regionais e nacionais.

    Outras atrações em Mossoró

    A “Cidadela” é uma cidade cenográfica montada ao lado da Capela de São Vicente. Todo ano, há uma programação especial para as crianças, que tem como objetivo resgatar brinquedos e brincadeiras populares como pescaria, gato no pote, pau de sebo, entre outras.

    O evento atrai grupos musicais e atrações itinerantes. O concurso de quadrilhas juninas será outra grande atração. A disputa ocorre numa arena de 1,2 mil metros quadrados, com arquibancadas para 2 mil pessoas. No total, 20 mil integrantes, de 300 quadrilhas, vão apresentar-se ao longo da festa, vestindo coloridas roupas típicas.

    E mais a pitoresca Fórmula Jegue — corrida com o animal símbolo do sertão nordestino que acontece no “jegódromo”, pertinho da área da Feira do Bode, além de um passeio de burro-táxi pela cidade, completando as atrações do Mossoró Cidade Junina.

  • Natal, linda por natureza

    Foto e texto: Alex Gurgel

    “Essa é uma terra de um Deus mar,

    De um Deus mar que vive para um sol,

    E esse sol está muito perto daqui.

    Venha e veja tanto quanto pode se curtir.”

    Estes versos do cantor e compositor Pedrinho Mendes, na música “Linda Baby”, convidam o mundo para conhecer Natal, uma cidade linda por natureza. A capital do Rio Grande do Norte é essencial para que o Brasil seja um país abençoado por Deus e bonito por natureza, como canta Jorge Benjor, em “País Tropical”.

    Todos que conhecem Natal se encantam. A tranquilidade, a hospitalidade do povo e as belezas naturais são características marcantes, além da rica culinária regional e da pulsante cultura popular. Uma das principais estrelas da costa nordestina, Natal espera o turista com um dos mais belos litorais de todo o Brasil.

    Com praias de diferentes características ao longo da sua orla, a cidade oferece lazer e emoção para todos os tipos de visitantes. Ponta Negra é a praia mais movimentada, aconchegante e deslumbrante. É também o principal “point” da noite na cidade. Em Ponta Negra está o Morro do Careca, seu principal cartão postal, dominando a bela enseada da praia. No verão, Ponta Negra simplesmente ferve com turistas do mundo inteiro.

    Seguindo rumo do Litoral Sul de Natal, o visitante vai trilhar a Rota do Sol, passando por Pirangi, Búzios, Tabatinga, Barreta e Pipa. Uma opção para o turista é pernoitar em Pipa e descobrir porque a praia é uma das mais badaladas do Nordeste, com suas noites movimentadas e boa estrutura para hospedagem, além de suas belezas naturais.

    Atravessando a foz do Rio Potengi em busca do Litoral Norte, através da Ponte Newton Navarro, fica a praia da Redinha, sempre cortejada por intelectuais, boêmios e artistas, os quais viam em sua paisagem balneária, entre mangues de rio e mar aberto, um lugar mágico para inspiração e descanso.

    O velho Mercado Público da Redinha conserva uma atmosfera de vilarejo, onde se pode degustar a deliciosa “ginga com tapioca”, tradicional iguaria da culinária natalense. Depois, é seguir para os passeios de buggy nas dunas de Jenipabu, já invadindo o município de Extremoz, na Grande Natal.

    A orla marítima central de Natal reúne quatro praias: Areia Preta, Praia dos Artistas, Praia do Meio e Praia do Forte, que podem ser apreciadas do alto da Ladeira do Sol. Na praia do Forte está localizada a Fortaleza dos Reis Magos, principal monumento histórico-cultural da cidade, que parece preservar a mansidão do mar, tornando a enseada ideal para o banho.

    A Via Costeira é um extenso corredor de praias desertas e grandes hotéis, sempre prontos para receber os turistas de todas as partes do mundo. Do outro lado da Via Costeira, fica o Parque das Dunas com 1.172 hectares de mata nativa, sendo parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Brasileira e exercendo uma grande importância para a qualidade de vida da população da cidade. É um ótimo local para trilhas e a realização de cooper.

    A cidade do Natal

    Conforme o historiador Luís da Câmara Cascudo, Natal nunca foi arrabalde, povoado ou vila, já nasceu cidade, no dia do nascimento de Cristo, em 25 de dezembro de 1599. O município de Natal está localizado no litoral do Rio Grande do Norte, região banhada pelo Oceano Atlântico, com área urbana de 170 quilômetros quadrados, onde residem cerca de 800 mil pessoas.

    Natal tem várias denominações como: “Trampolim da Vitória”, porque daqui partiram os aviões americanos para combater os alemães na Europa, durante a II Guerra Mundial; “Capital Espacial do Brasil”, depois da instalação da Barreira do Inferno, uma base de lançamento de foguetes; “A Noiva do Sol”, pelo clima tropical o ano inteiro, com temperatura média de 26 graus; “Cidade dos Reis Magos”, por causa da chegada das três estátuas vinda de Portugal e inauguração da Fortaleza, no final do século XVI.

    Fortaleza dos Reis Magos

    Guardando imponente a foz do Rio Potengi, a Fortaleza dos Reis Magos é o mais importante monumento histórico de Natal. Mais antigo que a própria cidade, começou a ser construído em 6 de janeiro de 1598, dia dos Santos Reis. Não passava então de uma típica instalação militar do século XVI, uma frágil garantia de segurança para os portugueses, em constante embate contra franceses e índios.

    A Fortaleza dos Reis Magos constitui-se no marco principal do entrelaçamento das culturas européia e nativa, onde se desenvolveu toda a dinâmica social, em seus múltiplos e variados aspectos, dando origem a colonização da Capitania do Rio Grande, servindo, ainda, de referência e apoio às fundações dos Estados do Ceará, Maranhão, Pará e à conquista do Norte do Brasil.

    Sua forma atual, lembrando uma estrela de cinco pontas, surgiu somente em 1614, num projeto do arquiteto militar Francisco Frias de Mesquita. Concluído em 1628, o novo forte ficou pouco tempo nas mãos dos portugueses. Em 1633, foi conquistado pelos holandeses da Companhia das Índias Ocidentais, passando a chamar-se Castelo de Keulen.

    O domínio holandês na região durou duas décadas e, durante este período, o Forte dos Reis Magos serviu não apenas como instalação de defesa, mas também de prisão para brasileiros e portugueses e casa de hóspedes para personalidades, como o príncipe Maurício de Nassau.

    Hoje, além de ser a principal atração turística de Natal, a Fortaleza abriga a mais importante peça da História do Brasil: o Marco de Touros, primeiro a dar posse da terra brasileira aos portugueses, destacando-se como importante pólo no universo turístico-cultural do Estado do Rio Grande do Norte.

    Ponta Negra, magia aos pés do Morro do Careca

    O mar azul turquesa, calmo, de águas mornas e límpidas, vai reverenciando a praia até os pés do Morro do Careca, como se as derradeiras ondas da maré cheia teimassem em banhar mansamente a imponente duna calva em meio à vegetação praieira.

    A bela baía da praia de Ponta Negra sempre encantou pessoas privilegiadas, se deleitando durante horas a fio com a natureza exuberante deste recanto de brasilidade, no sul do Atlântico.

    Antigos moradores da Vila de Ponta Negra ainda semeiam as tradições folclóricas, dançando o Congo de Calçolas em dias de festa e tecendo rendas em bilros de almofadas, nas varandas das casas humildes do lugar.

    Movidos pela resistência, ainda há dezenas de pescadores que jogam suas redes nos primeiros raios de sol, na esperança de pescar um peixe-serra, uma tainha ou algumas sardinhas. A urbanização deu um charme sofisticado à orla marítima, valorizando os verdes coqueirais que dão as boas-vindas ao novo visitante.

    Ponta Negra não é apenas uma linda praia, é um bairro em crescimento, onde revela uma multiplicidade cultural muito intensa, oferecendo tudo que uma cidade precisa ter sem sair da praia: shoppings, cinema, restaurantes, barzinhos, boates, bancos, escolas, academias, locadoras, etc.

    A grande variedade da gastronomia de Ponta Negra é um mundo a parte. À beira-mar, fica os restaurantes oferecendo um cardápio a base de frutos do mar. Diante do mar azul de Ponta Negra tudo é festa, o tempo insiste em não querer correr e os dias de sol ficam muito mais lindos.

    Memorial Câmara Cascudo

    Para o turista conhecer a alma natalense é necessário visitar o “Memorial Câmara Cascudo” e ver de perto a importância do Mestre para a cultura local. Muito do que havia de lendas e tradições brasileiras não se perderam porque Câmara Cascudo, como nacionalista que era, percebeu que havia um tesouro popular no País que ninguém se dava ao trabalho de pesquisar e catalogar.

    Decifrando a personalidade cascudiana, o jornalista Vicente Serejo escreveu: “Com mais de uma centena de títulos entre livros, traduções, opúsculos e artigos publicados no Brasil e em vários países, viveu a vida vendo e ouvindo, lendo e escrevendo, sem nunca pensar em deixar sua terra. Por isso não aceitou o fardo da Academia Brasileira de Letras e nem o convite de Juscelino para ser reitor da Universidade de Brasília. Viveu e morreu na sua aldeia. Genial e humilde. Pobre e feliz”.

    O Memorial Câmara Cascudo tem como objetivo preservar e divulgar a vida e a obra de Luís da Câmara Cascudo, abordando diversos aspectos. O principal destaque é a biblioteca particular de Câmara Cascudo, com cerca de 10 mil volumes de diversos assuntos como folclore, religião, História, biografias e romances.

    A biblioteca é considerada “obra rara” por possuir livros do início do século passado e livros em diversos idiomas. Grande parte dos livros tem anotações de próprio punho de Cascudo e dedicatórias dos autores.  Além dos livros que compõem a biblioteca, encontram-se ainda as correspondências de Cascudo com diversos intelectuais como Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Carlos Drummond, Gilberto Freyre, entre outros.

    O Memorial abriga ainda a exposição permanente “O Mestre Câmara Cascudo” em um total de cinco salas que abordam aspectos estudados pelo Mestre em sua vasta obra literária. O prédio, em estilo neoclássico, é uma construção do século XVIII, erguida para servir de sede ao Real Erário. Foi reconstruído em 1875 para ser à Tesouraria da Fazenda. Já serviu também para uso do Quartel General do Exército durante a ditadura militar.

  • Passa e Fica – Aventuras e cultura em torno da Pedra da Boca

    É verdade que a Pedra da Boca está em território paraibano, mas fica o tempo inteiro com a boca escancarada, sorrindo para o Rio Grande do Norte. O Parque Estadual da Pedra da Boca, principal atrativo turístico da região, pertence ao vizinho estado da Paraíba, no município de Araruna, distante 25 km da Pedra da Boca.

    Com apenas 4 km de distancia, a simpática cidade norte-riograndense de Passa e Fica é porta de entrada para o Parque Estadual da Pedra da Boca e o início de aventuras variadas como escalada, rapel, mountain bike, montanhismo, além de longas caminhadas por trilhas inusitadas, através de fendas entre rochas ou atravessando grutas.

    Pedra da Boca, da Caveira, do Coração, do Carneiro e da Santa são nomes  dados em função do formato das pedras ou de alguma história contada envolvendo o conjunto de serras de pura rocha, onde escondem em seu interior dezenas de cavernas, grutas e ravinas, algumas inexploradas e outras com um rico acervo de escrituras rupestres.

    A Pedra da Santa guarda uma imagem de uma santa num altar, atraindo romeiros em busca de fé. A caverna também está cheia de inscrições rupestre de Tradição Nordeste, datadas de pelo menos 12 mil anos, feitas por tribos indígenas da Nação Tapuia, que habitavam a região de fronteira antes do colonizador português.

    O turismo ecológico, rural, de aventura e cultural, atraem pessoas com objetivos diferentes, levando informações sobre a fauna variada e preservada, além de uma flora abundante, composta por juazeiro, mangueira, jatobá, mandacaru, pau d’arco, entre outras espécies.

    A menos de 2 km de Passa e Fica, o Rio Calabouço e sua “passagem molhada” dividem os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, completando a composição da depressão do Brejo paraibano e a Região Agreste potiguar, onde está localizada a Pedra da Boca.

    Caminhos guiados por Seu Tico


    Passa e Fica oferece boa infra-estrutura para o turista aventureiro, como pousadas e restaurantes, onde a boa mesa e uma longa noite de sono são necessários. Para os aventureiros mais radicais, tem a propriedade do Seu Tico, um simpático senhor que habita o sítio aos pés da Pedra da Boca e desde 1985 vem recebendo visitantes.

    No terreno em volta da casa de Seu Tico, há uma área de camping, um restaurante, banheiros e chuveiros para dar suporte aos aventureiros que passam por lá. A estrutura é humilde e simples, mas oferece o necessário para quem está buscando mais natureza do que conforto.

    De manhã bem cedo, depois do desjejum, Seu Tico reúne as pessoas que estão disposta a enfrentarem as trilhas para dar alguns conselhos antes de seguir pelas veredas da mata. Com tênis, roupas leves, protetor solar, água e cordas, o grupo de aventureiros segue Seu Tico de mata adentro para aventuras descabidas na Pedra da Boca.

    Os municípios de Serra de São Bento, Monte das Gameleiras e Passa e Fica podem ser vistos já na boca. Quem conseguir chegar até o topo, subida quase impossível nos meses de chuva por conta da formação de lodo sobre a rocha, avista Araruna, no lado paraibano, e Nova Cruz, no agreste potiguar.

    Frivolitê: A beleza na ponta dos dedos

    A denominação “frivolité”, essencialmente francesa, é adotada em quase todos os países da Europa; entretanto os italianos nomeiam a técnica de “occhi”. Já os orientais conservam a antiga denominação “makouk”, enquanto nos países de lingua inglesa é chamada de “tatting”. No Brasil, s bordadeiras de Passa e Fica mantêm vivo a frivolité, tipo de renda cada vez mais rara de se encontrar. Em Passa e Fica, a Casa do Artesão ajuda a comercializar a produção.

    A renda rica em detalhes que se executa com uma naveta (espécie de agulha) usando fio de seda, algodão ou linho e exige muita coordenação motora para não errar os pontos. Basta um pequeno descuido para colocar horas de trabalho a perder. A naveta ou navete, espécie de agulha de madeira fabricada artesanalmente pela própria rendeira, é o único instrumento utilizado para ir formando a renda. A agulha artesanal é feita da casca do tronco dos cajazeiros.

    Luzinete Balbino, coordenadora da Associação dos Artesãos, conta que a frivolité fez muito sucesso no São João do Nordeste, feira realizada em 2004 no Anhembi, em São Paulo. A exposição do artesanato de Passa e Fica na feira paulista abriu um novo mercado para os vinte artesãos da Associação.

    Para atender os turistas, os artesãos começam também a pintar as paisagens do município em tecido. A Pedra da Boca serve de tema para decorar panos de prato e panos de bandeja. O desafio agora é conseguir levar os turistas estrangeiros, vindos nos passeios organizados por agências de turismo, a visitar a Casa do Artesão.

    O teatro dançante do grupo Macambirais

    Teatro e dança também formam o cenário cultural do município. O grupo teatral Macambirais é uma companhia de dança e cultura popular, criada em 2001, que utiliza elementos do folclore nordestino para apresentar suas danças e peças teatrais.

    O tradicional forró pé-de-serra, o côco-de-roda, cirandas, maracatus, araruna, caboclinhos, entre outras danças são apresentados pelo grupo fazendo algumas adaptações. O grupo também apresenta dramas, cânticos de romanceiro e autos populares.

    Os organizadores do grupo confessam que o único objetivo era criar uma opção cultural para os visitantes da Pedra da Boca. Porém, com o tempo, foi se percebendo que aqueles garotos tinham um grande potencial artístico e poderiam ser mais bem aproveitados dentro do projeto de valorização cultural do município.

    O grupo expandiu as atividades desenvolvidas inicialmente e terminou sendo parte do Projeto Macambirais, ONG criada em 2003 para educar, qualificar e desenvolver um projeto de inclusão social para a criança e adolescente. O espetáculo “Nordeste Vivo”, uma mostra de 32 danças, tem sido apresentado em diversos Estados brasileiros. Um grande passeio cultural pelas mais variadas manifestações populares e que melhor caracterizam a alma cultural norte-riograndense.

    A Companhia Macambirais foi o único grupo potiguar na Festa do São João do Nordeste, realizada no Anhembi, em São Paulo, e do Pernambuco em Concerto, em Recife. As danças do Macambirais foram apresentadas também nas feiras do “Brasil Mostra Brasil” em João Pessoa, e na FIART, em Natal. Os dançarinos permanecem no Macambirais até completarem 21 anos.

    Quando os viajantes passavam e ficavam

    Conta a lendária história que, no ínicio do século passado, o senhor Daniel Laureano construiu uma casa para moradia com sua família e, ao lado, uma mercearia para abastecer aqueles que trafegavam por uma estrada que ligava Nova Cruz ao brejo paraibano, onde os viajantes passavam para as feiras de gado.

    Essa pequena bodega de beira de estrada vendia todo tipo de quinquilharia, além de oferecer comida e aguardente aos que ali passavam. Aos poucos, o pequeno comércio tornou-se conhecido de todos, que ao passarem pela estrada eram atraídos a entrar na bodega e não queriam sair.

    De acordo com o historiador Câmara Cascudo, no seu livro “Nomes da Terra”, a bodega do senhor Daniel Laureano tomou influência pelas redondezas, dando origem a um pequeno povoado ao seu redor. E para justificar o sucesso do comércio, as pessoas diziam que aquele lugar era o “passa e fica”, e assim surgiu o nome do lugar.

  • Fotografia se aprende fotografando

    Segundo uma pesquisa da BBC de Londres, a fotografia é o segundo produto mais consumido no mundo, só perdendo para o consumo da água. A comunicação visual está em todos os meios, principalmente pela internet aonde a fotografia tomou conta dos principais blogs e das mais famosas marcas de produtos quando a produção de marketing exige uma fotografia que se comunique rapidamente com seu consumidor.

    Já foi dito que uma imagem vale mais do que mil palavras. Porém, é preciso que a pessoa possa ler a imagem e não somente olhar para uma fotografia. Segundo o fotógrafo e advogado goiano Jefferson Luiz Maleski, o escritor e o fotógrafo utilizam as mesmas ferramentas, mas enquanto um descreve uma imagem com mil palavras o outro descreve mil palavras com uma imagem.

    Desde que Dom Pedro II trouxe a fotografia para o Brasil, por volta de 1840, a fotografia conquistou o gosto dos brasileiros ao ponto de hoje, o fotógrafo Sebastião Salgado ser considerado um dos melhores do mundo em sua área. Com o advento das câmeras e celulares digitais ficou muito fácil para qualquer pessoa capturar uma fotografia. Mas, de acordo com fotojornalista canadense Claude Adams, ter uma câmera faz de uma pessoa um fotógrafo assim como ter um bisturi faz de ninguém um cirurgião.

    Quem quer aprender a fazer fotografias tem que estudar para saber como compor uma cena. Os cursos de fotografias são bons para que a pessoa possa ler uma fotografia e até entender as fotos expostas numa exposição fotográfica. Porém, para ser um bom fotógrafo é preciso conhecer o equipamento que tem em mãos para não perder tempo tentando encontrar certa função, ou tentando entender o que a sua câmera fotográfica oferece, independente se ela é do celular, uma câmera compacta digital, ou uma DSLR profissional.

    Para entender a filosofia prática da fotografia tem que seguir os ensinamentos do mestre francês Herry Cartier Bresson quando ele diz: “De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e fugidio. Nós fotógrafos, temos que enfrentar coisas que estão em contínuo transe de se esfumar; e quando já se esfumaram, não há nada neste mundo que faça com que voltem. Evidentemente, não podemos revelar e copiar uma recordação”.

    Em Natal, há uma escola de fotografia, o Engenho de Fotos que há quase 10 anos ensina às pessoas a enxergarem além do básico, formando fotógrafos premiados. Hoje em dia, devido a pandemia, parte das aulas são on line e ao vivo (nada gravado) com aulas práticas presenciais sob orientação de um professor. Normalmente, as aulas práticas de fotografia são realizadas em cartões postais de Natal como Jenipabu, Ponta Negra ou Pirangy.

    Sempre há turmas abertas e para participar. Basta ter uma câmera (simples ou profissional) ou mesmo usando a câmera do celular para as práticas. No Engenho de Fotos se dar muita ênfase para as práticas fotográficas porque fotografia se aprende fotografia já parafraseando o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade quando escreveu em o verso: “Amar se aprende amando”.

    Engenho de Fotos – Escola de Fotografia

    Tele/zap: [84] 9 8896-5436

    Site: www.engenhodefotos.com

  • Redinha, uma praia arredia

    Redinha velha cansada

    Muito orgulhosa de si,

    Deita o corpo embriagada

    No leito do Potengi.

    (João Alfredo)

    Fotos e Texto: Alex Gurgel (@alex_gurgel)

    A Redinha é uma ilha cercada de sentimentos. De um lado, é banhada pelo azul do mar e, do outro, pelas águas do Rio Potengi salgado. Quando andou pelas areias da Redinha, ao lado de Cascudo, o escritor paulista Mário de Andrade ficou encantado com a tranqüilidade infinita do lugar. No livro “Turista Aprendiz”, o poeta modernista relata a monotonia da Redinha, sonhando com a travessia de barco, cruzando o rio num dia de sol forte de verão.

    A praia da Redinha é porto pesqueiro quando cada manhã é recheada de jangadas ao sabor do mar, onde o pescador faz pajelança nas gamboas do Potengi, jogando sua tarrafa e apanhando sua porção de sobrevivência. A Redinha também é território livre para poetas, artistas e boêmios, que buscam inspiração em verso e prosa para cantar os alumbramentos dessa paisagem marinha.

    Para conhecer a Redinha, o visitante deve saborear uma ginga com tapioca, especiaria culinária tradicional no Mercado Público, enquanto observa o burburinho do povo que passa. É preciso celebrar a “Festa do Caju”, no Redinha Clube, quando janeiro chega, anunciando uma nova época de fartura nos quintais e alpendres das casas arejadas

    Para exaltar a alegria da Redinha, em dias de carnaval, o folião deve seguir as troças “Siri na Lata” e “Baiacu na Vara”, além de se esbaldar, todo melado de lama, na irreverência do bloco “Os cão”, na terça-feira gorda.

    A Redinha continua arredia ao progresso, preservando suas tradições e afugentando o fantasma do monumento bestial de concreto, a majestosa ponte Newton Navarro, que leva os turistas pelas entranhas salobras da Boca da Barra até as águas mansas da praia da Redinha.

    É na Redinha que o cronista parnasiano, Vicente Serejo, adotou sua morada e, cuja prosa poética não esconde a paixão pela praia quando escreve: “Redinha boa, Redinha mansa, Redinha cheia de solidão como Pasárgada de Bandeira, lá todo mundo é Irene e ninguém precisa pedir licença”.

  • São Miguel do Gostoso — A praia mais gostosa do litoral potiguar

    “Aqui se faz Gostoso” anuncia a placa na entrada do pequeno município praieiro de São Miguel do Gostoso, distante 120 km da capital potiguar. Localizado no litoral norte, no chamado “Pólo Costa Branca”, a cidade é ladeada de imensos coqueirais e vários quilômetros de praias mansas e quase virgens.
    O certo é que São Miguel do Gostoso está na ponta da língua do turista mais antenado, seja brasileiro ou estrangeiro, que procura por aventuras em lugares intocáveis. A cidade é um dos “points” turísticos do litoral nordestino. Gostoso está localizado na esquina do continente sul-americano, literalmente onde o vento faz a curva.

    Apesar do seu nome inusitado, a população chama carinhosamente o local de Gostoso, esquecendo o arcanjo que contribui com o nome. Gostoso é nome para embelezar os estabelecimentos comerciais e ainda dá nome para quem nasce no município: se for homem é “gostoso”, se for mulher é “gostosa”. Pessoas vindas de outros locais que se estabeleceram em Gostoso são chamados de “gostosenses”.

    Um dos novos destinos do litoral potiguar, São Miguel do Gostoso já se adaptou ao turismo, mas não perdeu o charme de vila de pescadores. Longe de ter a badalação da praia da Pipa, Gostoso ganha em tranqüilidade e preservação. Por causa dos ventos constantes, o lugar atrai também os amantes do windsurf e kitesurfe.

    Quem vai para Gostoso deve se preparar para ficar desconectado do mundo por alguns dias. Ao contrário de outras paias nordestinas, onde a balada faz parte do cardápio, o perfil de São Miguel do Gostoso é exatamente o de um lugar para quem quer desfrutar de sombra, água de coco e praias desertas para longas caminhadas.

    Além das praias urbanas como Ponta do Santo Cristo, Xepa, Cardeiro e Maceió, São Miguel do Gostoso oferece outras praias belíssimas ao lonmgo do seu litoral. Uma delas é a Praia do Tourinho, formada por dunas fossilizadas há mais de dois mil anos.

    No município também está localizada a Praia do Marco. Ela tem este nome porque foi ali que, um ano após o descobrimento do Brasil, os portugueses chantaram o primeiro marco colonizador nas terras brasileiras, durante a expedição do navegador Gaspar de Lemos, em 1501.

    Formada por dunas enormes, a praia do Marco também é conhecida como Dunas do Vespúcio (uma homenagem a Américo Vespúcio, que integrava a expedição de Lemos). Apesar da importância histórica desse marco colonial, o fato é conhecido apenas por estudiosos e historiadores.

    O poético Ministro da Cachaça

    Em meio a barris de cachaça e ao som de discos de vinis antigos, ele recebe seus visitantes recitando versos do poeta paraibano Augusto dos Anjos. O lugar se chama “Urca do Tubarão”, um misto de barzinho, restaurante, museu e discoteca ao ar livre – criado pelas mãos do simpático Edson Nobre.

    O lugar é decorado com várias vitrolas e toca-discos que funcionam muito bem, além de rádios antigos, telefones, máquinas de escrever, uma cadeira de dentista do século passado, uma velha caixa registradora que também funciona e marca o troco em cruzeiros.

    Entre os lançamentos de vinil, o visitante pode escolher de Pink Floyd a Altemar Dutra, de Frank Sinatra a Tonico e Tinoco, de Roberto Carlos a Trini Lopez, de Guilherme Arantes a Elomar. Clássicos e modernos, há música para todos os gostos e ocasiões.

    A Urca do Tubarão vive cheia de turistas brasileiros e gringos que descobriram o paraíso de Gostoso. Edson não é nobre só no nome. Gosta de contar histórias dos que visitam seu espaço. Na região de Gostoso, ele também é o Ministro da Cachaça da região e vendo uma deliciosa aguardente artesanal, genuinamente gostosa. Vale a visita a Urca do Tubarão.

  • A nova cruz e a lenda da anta esfolada

    O frondoso Rio Curimataú era um bom lugar para o descanso dos vaqueiros, vindos da Paraíba, quando passavam com seus rebanhos de gados e aboiando o canto liberto do sertão. No início da colonização do RN, o povoado na beira do rio foi chamado de Urtigal, pela quantidade de urtigas existentes na região. Logo depois, o nome do lugar foi mudado para Anta Esfolada, em virtude de alguns fatos curiosos ocorridos na localidade.

    “Existia no território uma anta com espírito maligno. Em determinado dia um astuto caçador conseguiu prender o animal numa armadilha. Na ânsia de tirar o feitiço da anta, o caçador partiu para esfolar o animal vivo. Mas logo no primeiro talho a anta conseguiu escapar, deixando para trás sua pele e penetrando mata adentro”, escreveu o jornalista Manoel Dantas, no seu livro Homens de Outrora.

    A anta esfolada ficou amedrontando os moradores e o lugar ficou conhecido como “Anta Esfolada” durante muito tempo. Reza a lenda que um missionário jesuíta fez uma cruz com os ramos do inharé (arbusto abundante naquele tempo) e fincou no alto de uma pedra por onde a anta costumava passar. Depois da nova cruz, a anta nunca mais foi vista e a cidade ficou conhecida como Nova Cruz.

    Para preservar a memória da cidade, a Praça do Marco Zero é testemunha silente, onde foi fundada Nova Cruz, nos idos de 1852. De acordo com Manoel Dantas, foi neste local que o frei jesuíta Serafim fincou a cruz. Para o povo da cidade, a nova cruz representa a história que deu vida à cidade, preservando a memória do povo sertanejo que mora na ribeira do Rio Curimataú.

    Passeando pela memória de Nova Cruz

    Quem vem à Nova Cruz, a dica é fazer uma visita a Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Construída no início do século passado, a igreja é um prédio imponente, como seu altar-mor e suas colunas interiores que lembram colunas de igrejas góticas. Além do seu valor arquitetônico, a Igreja Matriz tem o seu valor sentimental, a grande maioria dos nova-cruzenses se batizou, crismou, fez a primeira comunhão e casou.

    No alto do bairro São Sebastião, uma igreja majestosa se destaca com os sinos anunciando as horas mortas da tarde. Para celebrar a devoção do glorioso São Sebastião, a cidade faz festa no dia 20 de janeiro onde uma grande procissão carrega a fé do povo no andor do santo, pedindo um ano de bom inverno. Após a novena, a programação mundana acontece com quermesse e atrações musicais.

    Pela beleza, o prédio da Prefeitura de Nova Cruz é uma atração que vale uma foto. Construído especialmente para ser a sede do executivo municipal, o edifício apresenta traços arquitetônico de art decó, no melhor estilo dos prédios do início do século passado. Localizado no centro da cidade, o imponente prédio merece ser observado e se o visitante tiver sorte, poderá entrar para visitá-lo.

    Construída em fins do século XIX, aproximadamente em 1883, o prédio da Casa da Cultura de Nova Cruz é outro exemplo da conservação do patrimônio arquitetônico da cidade. Antigamente, funcionava a estação ferroviária. Sua arquitetura segue o padrão das demais estações, aplicado pelos ingleses ainda no tempo da antiga Great Western. Hoje, a Casa de Cultura apresenta a fina flor das manifestações culturais da cidade.

    Em Nova Cruz, vários casarios imponentes podem ser vistos em toda a cidade, resquício de uma época quando a cana-de-açúcar era o grande produto agrícola. Localizado por trás da Igreja Matriz, o casarão de “Seu Euzébio” foi erguido no início do século XIX e merece uma visitação para observar a cúpula romana no final da escada e uma grande varanda. Detalhes na fachada com eira e beira.

    Uma festa no campo

    Uma das melhores épocas para visitar o sertão é durante o mês de junho, quando o inverno trás as festas juninas ainda úmidas da chuva. Nesse tempo, o visitante pode colher, na paisagem sertaneja, o encanto das tardes muito bem escondidas nos barreiros na beira das estradas. Quietas, as casinhas cochilam com suas mulheres esperando seus homens cansados de roça.

    Quem vem na estrada potiguar para entrar na cidade, antes de cruzar a ponte que corta o Rio Curimataú, a Fazenda Santa Gertrudes é logo vista, tendo como sentinela permanente a estátua do velho Diógenes da Cunha Lima, patriarca de uma família de políticos e advogados que atuam em terras paraibanas e potiguares. Muito bem cuidada, a fazenda é uma tradicional referência para a identidade do seu povo.

    Em tempos de festa, a Fazenda Santa Gertrudes abriga centenas de vaqueiros que participam de uma cavalgada que cruza os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Forró pé de serra e cachaça boa fabricada na região animam os vaqueiros que participam de um dia inteiro na festa de vaquejada, realizada no pátio da casa grande.

    Para refrescar o passeio pelo sertão, um banho no Açude Pau Barriga é a melhor pedida. O açude é um dos reservatórios d’água mais antigos do Rio Grande do Norte, que sempre abasteceu a cidade até a chegada da adutora. Atualmente, o açude abriga as melhores festas do município e, em tempos de carnaval, é o point da moçada mais jovem.

    Localizado na Fazenda Lapa, o Açude Pau Barriga é uma das grandes atrações turísticas de Nova Cruz que pode encantar o visitante. O local tem um clima agradável e é rodeado de belos visuais. Currais de gado e a casa grande da fazenda são atrações a parte que encantam o visitante pela simplicidade de uma vida no sertão de Nova Cruz.