Foto e Texto: Alex Gurgel
Redinha velha cansada
Muito orgulhosa de si,
Deita o corpo embriagada
No leito do Potengi.
(João Alfredo)
A praia da Redinha tem uma vasta história ocorrida em suas areias finas, onde o tempo generoso guarda todas as lendas de uma praia habitada por pescadores com suas casas de palha e seus humildes quintais. A primeira referência existente sobre a Redinha, figura no texto de sesmaria, concedida ao vigário do Rio Grande, Gaspar Gonçalves Rocha, por João Rodrigues Colaço, em 23 de junho de 1603.
Nesse recanto de mar aberto, os portugueses daquela época já conheciam o potencial pesqueiro da praia, que era o antigo porto de pescaria dos capitães-mores, os primeiros colonizadores do lugar.
Segundo o historiador Olavo de Medeiros Filho, existe um mapa intitulado “Perspectiva da Fortaleza dos Reis Magos”, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal, localizado pelo historiador pernambucano Antônio Gonçalves de Melo, referindo-se a um “Porto de Pescaria”, com a presença de “rede”, no mesmo local onde hoje é a Praia da Redinha.
O topônimo da praia, de acordo com Luís da Câmara Cascudo, faz referência a uma vila em Pombal, na beira baixa do rio Tejo, em Portugal. “Distrito vila, a margem esquerda do município de Natal. Redinha-de-fora é um local arruado. A Redinha-de-dentro fica na foz do Rio Doce, desaguadouro da lagoa de Estremoz”, diz o mestre Cascudo, no livro Nomes da Terra.
A igreja de pedras pretas, construída pelos veranistas, em 1954, foi erguida de costas para o mar – sem má fé, mas imperdoável para os pescadores. E é por isso que os pescadores continuam frequentando a capela de Nossa Senhora dos Navegantes, bem mais antiga, construída em 1922 – igrejinha menor, “branca, como uma capelinha panda ao vento”, para usar uma expressão da música “Praieira”, do poeta Othoniel Menezes.
Na Festa de Nossa Senhora dos Navegantes há duas procissões, com duas imagens: a da capelinha antiga é a imagem da Procissão Marítima, pelas águas do rio Potengi, entre a Boca da Barra e os confins da Base Naval; e a imagem da igreja preta vai por terra, levada pelos veranistas ao longo das ruas e becos da vila.
O toque de fé e lirismo é o encontro das duas imagens, sob o aplauso fervoroso do povo simples da Redinha, que canta o hino da Santa arrastando a esperança de que, não tendo faltado à sua procissão, será feliz o ano inteiro. Uma velha certeza, mistura de lendas e crenças populares.
De pedras do mar, também foi construído o Redinha Clube, em 1937, para o deleite festivo dos veranistas e pescadores em épocas de carnaval e durante a Festa do Caju. Durante décadas, o Redinha Clube teve uma importância relevante para a sociedade que frequentava aquele recanto do Potengi.
Quando visitava Natal, em 1929, o folclorista e escritor paulista Mario de Andrade, de passagem pela Redinha, encantado, disse no seu livro Aprendiz de Turista: “Oculta nessa monotonia de banda do mar, fica a Redinha, praia de verão, bairro em que ninguém sonha pela preguiça do pensamento que atravessa o rio com esse sol.”
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