É verdade que a Pedra da Boca está em território paraibano, mas fica o tempo inteiro com a boca escancarada, sorrindo para o Rio Grande do Norte. O Parque Estadual da Pedra da Boca, principal atrativo turístico da região, pertence ao vizinho estado da Paraíba, no município de Araruna, distante 25 km da Pedra da Boca.
Com apenas 4 km de distancia, a simpática cidade norte-riograndense de Passa e Fica é porta de entrada para o Parque Estadual da Pedra da Boca e o início de aventuras variadas como escalada, rapel, mountain bike, montanhismo, além de longas caminhadas por trilhas inusitadas, através de fendas entre rochas ou atravessando grutas.
Pedra da Boca, da Caveira, do Coração, do Carneiro e da Santa são nomes dados em função do formato das pedras ou de alguma história contada envolvendo o conjunto de serras de pura rocha, onde escondem em seu interior dezenas de cavernas, grutas e ravinas, algumas inexploradas e outras com um rico acervo de escrituras rupestres.
A Pedra da Santa guarda uma imagem de uma santa num altar, atraindo romeiros em busca de fé. A caverna também está cheia de inscrições rupestre de Tradição Nordeste, datadas de pelo menos 12 mil anos, feitas por tribos indígenas da Nação Tapuia, que habitavam a região de fronteira antes do colonizador português.
O turismo ecológico, rural, de aventura e cultural, atraem pessoas com objetivos diferentes, levando informações sobre a fauna variada e preservada, além de uma flora abundante, composta por juazeiro, mangueira, jatobá, mandacaru, pau d’arco, entre outras espécies.
A menos de 2 km de Passa e Fica, o Rio Calabouço e sua “passagem molhada” dividem os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, completando a composição da depressão do Brejo paraibano e a Região Agreste potiguar, onde está localizada a Pedra da Boca.
Caminhos guiados por Seu Tico
Passa e Fica oferece boa infra-estrutura para o turista aventureiro, como pousadas e restaurantes, onde a boa mesa e uma longa noite de sono são necessários. Para os aventureiros mais radicais, tem a propriedade do Seu Tico, um simpático senhor que habita o sítio aos pés da Pedra da Boca e desde 1985 vem recebendo visitantes.
No terreno em volta da casa de Seu Tico, há uma área de camping, um restaurante, banheiros e chuveiros para dar suporte aos aventureiros que passam por lá. A estrutura é humilde e simples, mas oferece o necessário para quem está buscando mais natureza do que conforto.
De manhã bem cedo, depois do desjejum, Seu Tico reúne as pessoas que estão disposta a enfrentarem as trilhas para dar alguns conselhos antes de seguir pelas veredas da mata. Com tênis, roupas leves, protetor solar, água e cordas, o grupo de aventureiros segue Seu Tico de mata adentro para aventuras descabidas na Pedra da Boca.
Os municípios de Serra de São Bento, Monte das Gameleiras e Passa e Fica podem ser vistos já na boca. Quem conseguir chegar até o topo, subida quase impossível nos meses de chuva por conta da formação de lodo sobre a rocha, avista Araruna, no lado paraibano, e Nova Cruz, no agreste potiguar.
Frivolitê: A beleza na ponta dos dedos
A denominação “frivolité”, essencialmente francesa, é adotada em quase todos os países da Europa; entretanto os italianos nomeiam a técnica de “occhi”. Já os orientais conservam a antiga denominação “makouk”, enquanto nos países de lingua inglesa é chamada de “tatting”. No Brasil, s bordadeiras de Passa e Fica mantêm vivo a frivolité, tipo de renda cada vez mais rara de se encontrar. Em Passa e Fica, a Casa do Artesão ajuda a comercializar a produção.
A renda rica em detalhes que se executa com uma naveta (espécie de agulha) usando fio de seda, algodão ou linho e exige muita coordenação motora para não errar os pontos. Basta um pequeno descuido para colocar horas de trabalho a perder. A naveta ou navete, espécie de agulha de madeira fabricada artesanalmente pela própria rendeira, é o único instrumento utilizado para ir formando a renda. A agulha artesanal é feita da casca do tronco dos cajazeiros.
Luzinete Balbino, coordenadora da Associação dos Artesãos, conta que a frivolité fez muito sucesso no São João do Nordeste, feira realizada em 2004 no Anhembi, em São Paulo. A exposição do artesanato de Passa e Fica na feira paulista abriu um novo mercado para os vinte artesãos da Associação.
Para atender os turistas, os artesãos começam também a pintar as paisagens do município em tecido. A Pedra da Boca serve de tema para decorar panos de prato e panos de bandeja. O desafio agora é conseguir levar os turistas estrangeiros, vindos nos passeios organizados por agências de turismo, a visitar a Casa do Artesão.
O teatro dançante do grupo Macambirais
Teatro e dança também formam o cenário cultural do município. O grupo teatral Macambirais é uma companhia de dança e cultura popular, criada em 2001, que utiliza elementos do folclore nordestino para apresentar suas danças e peças teatrais.
O tradicional forró pé-de-serra, o côco-de-roda, cirandas, maracatus, araruna, caboclinhos, entre outras danças são apresentados pelo grupo fazendo algumas adaptações. O grupo também apresenta dramas, cânticos de romanceiro e autos populares.
Os organizadores do grupo confessam que o único objetivo era criar uma opção cultural para os visitantes da Pedra da Boca. Porém, com o tempo, foi se percebendo que aqueles garotos tinham um grande potencial artístico e poderiam ser mais bem aproveitados dentro do projeto de valorização cultural do município.
O grupo expandiu as atividades desenvolvidas inicialmente e terminou sendo parte do Projeto Macambirais, ONG criada em 2003 para educar, qualificar e desenvolver um projeto de inclusão social para a criança e adolescente. O espetáculo “Nordeste Vivo”, uma mostra de 32 danças, tem sido apresentado em diversos Estados brasileiros. Um grande passeio cultural pelas mais variadas manifestações populares e que melhor caracterizam a alma cultural norte-riograndense.
A Companhia Macambirais foi o único grupo potiguar na Festa do São João do Nordeste, realizada no Anhembi, em São Paulo, e do Pernambuco em Concerto, em Recife. As danças do Macambirais foram apresentadas também nas feiras do “Brasil Mostra Brasil” em João Pessoa, e na FIART, em Natal. Os dançarinos permanecem no Macambirais até completarem 21 anos.
Quando os viajantes passavam e ficavam
Conta a lendária história que, no ínicio do século passado, o senhor Daniel Laureano construiu uma casa para moradia com sua família e, ao lado, uma mercearia para abastecer aqueles que trafegavam por uma estrada que ligava Nova Cruz ao brejo paraibano, onde os viajantes passavam para as feiras de gado.
Essa pequena bodega de beira de estrada vendia todo tipo de quinquilharia, além de oferecer comida e aguardente aos que ali passavam. Aos poucos, o pequeno comércio tornou-se conhecido de todos, que ao passarem pela estrada eram atraídos a entrar na bodega e não queriam sair.
De acordo com o historiador Câmara Cascudo, no seu livro “Nomes da Terra”, a bodega do senhor Daniel Laureano tomou influência pelas redondezas, dando origem a um pequeno povoado ao seu redor. E para justificar o sucesso do comércio, as pessoas diziam que aquele lugar era o “passa e fica”, e assim surgiu o nome do lugar.
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