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NOTAS DE AGOSTO

Por Marcos Ferreira

Mossoró, madrugada, 28 de agosto de 2021.

Enfim, para o bem das minhas pupilas e felicidade geral do meu estômago, eis que se encerraram as Olimpíadas de Tóquio. Paciência, Galvão Bueno. Paris é logo ali, como você não cansava de repetir. Salvo algumas situações, prezado leitor e gentil leitora, eu já não suportava a patriotada esportiva do Galvão, nem o frisson da Globo endeusando certos atletas, como fez com o mau perdedor Gabriel Medina, que não trouxe para casa ao menos uma honrosa medalhinha de bronze.

No último dia 24, ainda em Tóquio, iniciaram-se os jogos paraolímpicos na Terra do Sol Nascente. Um detalhe: os atletas com deficiência que disputam esse torneio não estão recebendo nem a metade da pompa e circunstância que a grande imprensa dispensou aos envolvidos na primeira competição.

Por acaso se trata de pessoas menos humanas ou menos brasileiras que as outras? Quem souber a resposta, por gentileza, que fale agora, ou se cale para sempre. Como diz a piada de mau gosto, agosto é o mês do desgosto. Desculpem a rima. Ou o eco, como quiserem. Este mês foi (continua, na verdade) bastante desagradável. Sequer os seus famosos e poéticos luares têm recompensado estas minhas horas insones e mal-humoradas. Não vejo lua nenhuma desta janela.

Mês sombrio, de perdas e danos. Também de muitas patifarias políticas, como é próprio de todo mês, aliás, e de rompantes fascistoides. Viram aquele patético desfile de blindados no dia 10? Que coisa vexaminosa! O que era para ser uma exibição de força, de robustez militar, só deixou ainda mais explícito aos olhos do mundo a insignificância bélica do Brasil. Não se admirem, portanto, se formos atacados qualquer dia desses por alguma superpotência como Níger ou Serra Leoa.

Distante dali, do outro lado das cercas de isolamento, nos grupelhos da indigência mental, o gado retumbante estava ouriçado e batia palmas, querendo lamber as botas dos homens de farda e os sapatos do fascista-mor.

Toda aquela vergonha, prezado leitor e gentil leitora, a pretexto de entregar ao Nosferatu da Casa de Vidro (em grego Nosferatu significa “portador de praga”) um convite para um ensaio pirotécnico, sob o comando da Marinha, previsto para o dia 16. Aí fizeram desfilar por algumas ruas de Brasília o débil comboio de sucatas espirrando fumaça por todos os lados. Mais pareciam carros-fumacê, aqueles veículos utilitários que atuam no combate ao mosquito da dengue.

Vamos de mal a pior, estrepados de verde e amarelo. Quinze milhões de desempregados e o governo do sacripanta brincando de superfaturar compra de vacinas. Por outro lado, torno a dizer, o ramo de centros de velórios e casas funerárias segue esbanjando saúde financeira. O preço do caixão está pela hora da morte. Enquanto isso pessoas carentes comem o pão que o diabo amassou.

E o custo dos combustíveis, onde vai parar? Saibam logo que isso não vai parar. Chupem essa manga azeda, aguentem a escalada inflacionária da Petrobras, preparem os bolsos, quebrem o porquinho de gesso das moedas inferiores a cinquenta centavos. Sim. Dia 12 a gasolina subiu outra vez. Cadê aquele pessoal histérico que dava chiliques nos postos na época do governo Dilma Rousseff?

— Petista! — gritam os bolsominions.

— Não sou petista nem lulista — defendo-me. — O que sou é antifascistas. Não comungo com esse que é o presidente mais canalha da história deste país. Nem na época da ditadura militar, do ponto de vista governamental, tivemos uma administração tão desastrosa. Portanto, ache ruim quem quiser, não sou partidário nem simpatizante desse desgoverno que zomba de famílias enlutadas.

Neste mês, por parte da Câmara dos Deputados, foi desferido um golpe extremamente covarde contra os direitos dos trabalhadores. Votaram a favor de uma nefasta minirreforma trabalhista que representa um atentado à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Com esse desserviço, os parlamentares retiraram do trabalhador direitos como férias, 13° salário e FGTS. Estimulam a contratação de pessoas sem carteira assinada, sem direitos trabalhistas e previdenciários.

Os trabalhadores sofrem redução no pagamento de horas extras, têm o acesso à Justiça prejudicado e dificilmente poderão contar com uma fiscalização trabalhista com plenos poderes para proteger os empregados.

Passo um fio para o jornalista político Bruno Barreto e sou informado de que todos os deputados federais do Rio Grande do Norte, à exceção de Rafael Motta e Natália Bonavides, traíram os eleitores potiguares. Anotem aí, prezado leitor e gentil leitora, os nomes dos quatro judas que votaram contra os trabalhadores: general Eliéser Girão, Carla Dickson, João Maia e Benes Leocádio.

Houve dois covardes que se abstiveram. Aliás, saíram de fininho da votação no intuito de não se comprometerem. Ou seja, tentaram assim lavar as mãos, que continuam sujas da mesma forma. Foram os parlamentares Walter Alves e Beto Rosado. Este último, para nossa vergonha, filho de Mossoró.

Agosto não deixará saudades. Falo por mim, claro, no entanto sei que muita gente deve concordar. Perdemos no dia 11, aos oitenta e quatro anos, o grande ator Paulo José, um dos meus preferidos. Sofria de Mal de Parkinson há mais de vinte anos. Faleceu em decorrência de uma pneumonia. Menos de vinte e quatro horas depois, como se não bastasse, fico sabendo da morte do Tarcísio Meira, vitimado pelo coronavírus. Ele que já havia tomado a segunda dose da vacina.

Tarcísio Meira, casado por cinquenta e nove anos com a atriz Glória Menezes, tinha oitenta e cinco anos de idade, dos quais sessenta e três foram dedicados à dramaturgia brasileira. Não se pode baixar a guarda diante desse vírus. Doença imprevisível. Digo que é cedo para abdicarmos do uso de máscaras. Não há vacina com cem por cento de eficácia. Cada organismo reage a seu modo.

É verdade, porém, que agosto trouxe algumas poucas e boas notícias, como a prisão do ex-deputado ultrarridículo Roberto Jefferson, pedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Sim, Alexandre, o Impávido.

Em Mossoró, felizmente, o programa de vacinação segue a todo vapor. Considerando o entusiasmo e empenho do nosso jovem e dinâmico prefeito Allyson Bezerra, dentro em breve estaremos vacinando até recém-nascidos. Incansável, obstinado em zelar pelo bem dos seus conterrâneos, Bezerra anda de cima abaixo, gastando sola de sapatos pelos quatro cantos de Mossoró com os bolsos cheios de seringas, aplicando ele próprio os imunizantes de que o município dispõe.

— Allyson Mãos de Seringa — disse um gaiato.

O imberbe prefeito, no afã de assistir e proteger a população contra esse terrível vírus, não pode ver um braço dando sopa. Conta-se que semana passada, não fosse pela advertência de um auxiliar que o acompanhava, Bezerra se confundira e já sacara de uma seringa para vacinar a estátua do jornalista Dorian Jorge Freire, situada na praça defronte da Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte.

— Arrocha, prefeito! — gritou um popular.

Bezerra abriu um sorriso amarelo e picou a mula.

Que Deus abençoe o Menino Pobrezinho!

Escrito por Marcos Ferreira

Comentários

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  1. Bom dia, Marcos!

    Bravo!

    Pontuastes, exatamente os assuntos que nos afligem. Não bastassem as ocorrências naturais da vida, ainda temos que gerir os resquícios de ações insanas…
    Parabéns por tão sábias reflexões!

  2. Na maioria das vezes fico tão encantada com sua forma de organizar as palavras… que não consigo dizer nada… como naqueles desenhos animados que fica “ estátua” parada de boca aberta 😂😂
    Fico assim: pasma🤗
    Mas posso dizer q me faz um bem danado ler seus escritos e quando contém essa consciência patriota… só consigo aplaudir
    👏👏👏👏

  3. Boa Noite, meu intrépido escritor!
    Está crônica, ao contrário da anterior, está mais audaciosa, palavras que parecem lanças pontiagudas. Uma semana, doce e envolvente; outra, audaz e afiado como lâmina cortante. Diga-se, de passagem, mas acertadamente, você desfila, cheio de graça e beleza, pelas duas formas! Você é um mestre na arte da escrita e maneja as palavras com maestria ao seu bel-prazer e para o nosso gozo literário!
    Beijos de sua fiel admiradora

  4. Bom dia

    Esse é o Marcos que conhecemos: envereda por todas as vertentes e ” dança ” com a linguagem de um jeito TODO próprio, único e particular. Parabéns, meu nobre escritor por mais um BELÍSSIMO texto.

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