Sobre

CIDADE MARAVILHOSA

Por Marcos Ferreira

escritormarcosferreira@gmail.com

Hoje quero falar com você. Não por necessidade, mas apenas a fim de lhe provocar de algum modo. Ou de me sentir menos solitário neste velho quebra-cabeça que é a escrita. Então resolvi lhe escrever esta cartinha sem revelar o destinatário. Sei, evidentemente, que essa coisa de redigir cartas saiu mais de moda do que honestidade de políticos. Há exceções, fiemos que sim, contudo a política é o coletivo de gatunos e mentirosos. Isso ocorre tanto na direita quanto na esquerda.

Apesar dos pesares, torno a dizer, existem os bons políticos. E esses, naturalmente, estão fora de moda. Neste pacato município, como num conto fantástico, só há políticos bonzinhos, honestos, homens e mulheres comprometidos com a coletividade. Não podemos reclamar de nada dos nossos trabalhadores engravatados. Não! De forma alguma! Aqui não tem obra superfaturada ou rachadinhas.

Precisa ver as nossas ruas e avenidas. São um tapete. Nenhum buraco, nenhuma cratera. Tudo nos trinques, tratado de forma responsável. Talvez eu escreva lhe contando essas coisas somente para lhe fazer inveja. Sei que aí, na sua Pasárgada, a situação está na mais completa normalidade. Ou seja, igual à bandalheira do resto do País. Aqui, não! O povo vive em estado de graça, feliz com os seus representantes. E a cultura?! Ah, meu amigo! A cultura é tratada a pão de ló. Até os escritores, excluído e menosprezados Brasil afora, têm absoluta atenção dos nossos gestores.

Não há, repito, o que maldizer. A saúde pública está esbanjando saúde. O funcionalismo municipal anda com um sorriso de orelha a orelha. A segurança está sempre atenta, no entanto a criminalidade é praticamente zero. Nem sei lhe dizer quanto tempo faz que não registramos um furto ou homicídio.

Representamos um modelo de civilidade. Nosso solo não sabe o que é sangue. O desemprego foi erradicado. Daí que não existem assaltos à mão armada. Muito menos pessoas nos semáforos com cartazes suplicando por comida. Não tem sem-teto, mendigos nem superpopulação de cães e gatos sem a assistência de um castramóvel. Somos um povo cordial, hospitaleiro, de uma pacatez bovina.

Nosso padrão de sociedade é primeiro-mundista. A expectativa de vida nesta província é proverbial, de provocar ciúmes num Matusalém. Venha passar uma temporada em nossa urbe. Você vai se encantar e comprovar como a nossa administração e o nosso povo vivem em perfeita harmonia. É ver para crer.

Escrito por Marcos Ferreira

Abençoada tolerância

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