Carlos Mendonça, arquiteto com abastada e numerosa clientela, conhecia Olívia Xavier desde o tempo em que ela trabalhara de garçonete no Café Sarajevo. Com cerca de vinte e cinco anos de idade, a moça fora admitida num escritório de advocacia e, sem pestanejar, deixou o Sarajevo, onde servira à mesa durante uns dois anos. Na época Olívia era estudante do curso de Direito da Faculdade Estadual de Vila Negra.
Uma tarde, então, quando passava com sua luxuosa picape pelo Centro, Mendonça avistou Olívia na parada de ônibus na lateral do rio. Imediatamente ele baixou o vidro, encostou o veículo rente à calçada e ofereceu carona à ex-garçonete. Por se tratar de alguém conhecido entre os frequentadores do Café Sarajevo, Olívia aceitou a carona sem o menor receio. Carlos Mendonça subiu o vidro da picape e saiu lentamente. Daí a pouco ele indagou onde Olívia morava. Ela respondeu que no final do Conjunto São Pedro. Essa informação foi animadora para Mendonça, pois o endereço de Olívia ficava um tanto próximo da propriedade rural dele. Antes, porém, alegou que necessitava passar rapidamente em casa para buscar o aparelho celular, objeto este que ele de fato havia esquecido.
Era cedo quando Olívia aceitou a carona: cerca de dezesseis horas. O sol já atingia parte dos bancos de alvenaria, de maneira que Olívia, quase sozinha no ponto de ônibus, precisou recuar um pouco. Não se incomodou com o fato de o senhor Mendonça, como ela o chamava, passar em casa antes de levá-la à sua residência:
— Vamos, Olívia, desça um instante para você conhecer minha casa — disse ele. Nesse instante, embora preferisse esperar no carro, ela não quis demonstrar seu desconforto e caiu na lábia do arquiteto. Ele pegou o aparelho que deixara sobre uma estante e começou a mostrar a casa a Olívia de modo simpático, exibindo um leve sorriso no rosto. Por último a convidou a subir a escada e conferir o piso superior, onde se encontravam o quarto dele e outros dois cômodos para hóspedes. Olívia entrou no quarto ainda se sentindo desconfortável por estar nos aposentos íntimo daquele indivíduo com o qual ela não a menor intimidade, exceto conhecê-lo informalmente quando ela trabalhara no Sarajevo.
Ao caminhar naquele quarto para olhar o exterior da residência pela janela, eis que Olívia recebeu um golpe na cabeça. Ela desmaiou e, antes que desabasse no carpete, ele a segurou. Batera nela com o próprio punho, um forte soco desferido contra a nuca de Olívia. Minutos depois, expressando no rosto a dor que sentia no pescoço, entreabriu os olhos e se deu conta de que estava amarada e amordaçada em uma cama.
Avistou Carlos Mendonça diante dela trajando apenas cueca. Ela também não tardou a se dar conta de que se encontrava completamente nua. Usando uma tesoura, ele havia cortado as roupas da moça logo que a amarrara à cama. Olívia esboçou uma reação, buscando se desvencilhar das amarras, todavia aquele esforço era inútil. Sobre a estreita cama com rodinhas, Olívia recebeu uma injeção no braço esquerdo. A tal cama era estreita e com rodinhas, Em menos de dez minutos e ela apagou, desta vez em sono profundo. A cama e o piso estavam forrados com plásticos transparente. Mendonça pegou uma maleta marrom em um armário e dela foi retirando algumas ferramentas cirúrgicas.
A injeção que ele aplicara em Olívia era letal. Com pouco concluiu que ela morrera. Afastou as pernas da vítima e a penetrou com sofreguidão. Os objetos ficaram por um tempo sobre uma banqueta. Sim, fez sexo com o cadáver, moça bonita a quem ele secretamente sempre desejara. Após o orgasmo, o arquiteto juntou as pernas da estudante de Direito e lançou mão dos equipamentos médicos que deixara sobre a banqueta metálica. Daí a pouco começou a deslizar o bisturi entre os seios. Continha o excesso de sangue com ataduras. Em seguida pegou uma espécie de fórceps e escancarou o peito dela.
Carlos Mendonça segurou entre as mãos o coração de Olívia e começou a comê-lo insanamente, como saciasse uma fome ancestral. Não comeu o órgão por completo. Talvez pouco menos da metade. Quando a noite caiu ele já havia limpado toda a cena do crime. O corpo de Olívia estava totalmente embalado em camadas de sacos plásticos e, a olho nu, não era possível encontrar nenhum vestígio daquele ato selvagem.
Depois da meia-noite, sem vizinhos próximos, o cidadão de bem Carlos Mendonça colocou o corpo na carroceria da picape, pegou a BR-304 e o desovou às margens do rio. Voltou para casa e dormiu sem a menor culpa ou remorso.