Os fotógrafos ambulantes surgiram nas primeiras décadas do século XX, trabalhando em praças e parques. Eram quase sempre procurados para registrarem momentos especiais, familiares ou para tirar retratos para documentos do tipo 3×4.
Depois de um longo período sem ter eventos e com a abertura do comércio, mesmo com as restrições necessárias por causa de pandemia, é fácil ver alguns serviços voltando a atividade, inclusive o Fotógrafo Ambulante, um profissional que “quase” se perdeu no tempo com a advento dos celulares com câmeras fotográficas de última geração. Mas, eles ainda estão na ativa usando a criatividade para sobreviver num mundo audiovisual avançado onde o aplicativo Instagram exige rapidez nas fotos instantâneas para se obter milhares de curtidas do seguidos e usuários.
Trabalhando nas ruas, praças, parques e jardins públicos das cidades brasileiras ao longo de todo o século XX, o fotógrafo Lambe-Lambe (ambulante) pode ser considerado um importante agente responsável pela democratização e pela popularização do retrato fotográfico entre as classes menos privilegiadas de nossa sociedade. “0 retratismo de caráter mais popular teve no lambe-lambe o seu maior aliado”, Observou o escritor Nicolau Sevcenko no livro “Histórias da Vida Privada no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras – 1988.
Os fotógrafos ambulantes são fáceis de ser encontrados nas festas mais populares como na Festado Boi, que terminou no último domingo (21 de novembro de 2021) ou em festa de padroeiros dos municípios em todo o Nordeste. No evento “Natal em Natal” é comum se deparar com Seu Jonas, um fotógrafo ambulante que está atuando aos pés da grande árvore de natal, em Mirassol. Todas as noites, Seu Jonas leva seu cavalinho de madeira para fazer a alegria da criançada que quer ser retratada por apenas R$ 10,00 uma foto impressa na hora. Ele ainda não se importa se os pais da criança tiram fotos com o celular. “As fotos do celular não têm a mesma qualidade da minha câmera”, revela.
Na Festa do Boi também era muito fácil encontrar Seu Marcos, um senhor na casa dos seus 50 anos, pernambucano de Recife, que viaja em busca de festas agropecuárias, de padroeiros e vaqueiradas, carregando um pônei e um boi em miniatura vivos. Ele explica que deixou o cavalo de madeira de lado porque os animais vivos dão mais realismo a fotografia, além de chamar a atenção da garotada. Ele cobrava R$ 20,00 por cada fotografia impressa na hora. Uma fila de pais se formava para fotografar seus filhos, enquanto a companheira de Seu Marcos imprimia a próxima fotografia que era entregue ao cliente em menos de 5 minutos.
Pelas ondas da Internet, há um documentário muito bom mostrando o cotidiano de alguns fotógrafos ambulantes cearenses. “Câmera Viajante” é um documentário dirigido por Joe Pimentel com duração de 20 minutos que apresenta a essência da fotografia ambulante cearense. Acompanhando 5 fotógrafos ambulantes, Belo, Chico Alagoano, Dedé da Neusa, Isaías, Júlio Santos o documentário retrata o cotidiano da profissão, o olhar por trás das lentes e as tentativas de registrar as emoções nos cliques. Passando pelo processo de venda e atendimento de clientes no mercado fotográfico de eventos, Câmera Viajante traz um filme mais técnico do que artístico
Registrando os acontecimentos da vida cotidiana nos espaços públicos das cidades, a documentação fotográfica produzida pelo fotógrafo ambulante, é uma opção mais barata em relação aos caros e sofisticados estúdios fotográficos. O fotógrafo ambulante é um profissional que presta os seus serviços para a comunidade, constituindo-se como um importante testemunha da interação social de diferentes grupos no espaço público, atuando socialmente como um elo de ligação entre as diferentes gerações. O fotógrafo ambulante pode ser definido como um guardião da memória e cronista visual de uma determinada comunidade.
Três documentários brasileiros que abordam a riqueza no universo da fotografia. Procure na Internet ou no seu streaming preferido e prepare a pipoca:
1. O Sal da Terra (2014 – 110 min): Embora seja uma produção francesa, o documentário acompanha a trajetória do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado durante a expedição do projeto Genesis que retrata regiões e civilizações pouco exploradas em todo o planeta. O longa-metragem foi indicado ao Oscar de melhor documentário no ano de 2015.
2. Iluminados (2007 – 100 min): A produção retrata o olhar sobre a fotografia de cinema, pelas lentes de alguns dos mais importantes profissionais do ramo no Brasil. Os entrevistados são desafiados a filmar a mesma cena, e as escolhas individuais de movimento de câmera, iluminação e equipamento revelam estilos e fotografias bastante pessoais.
3. Câmera Viajante (2007 – 20 min): O documentário aborda o trabalho de fotógrafos ambulantes que vivem no sertão do Ceará. A narrativa se constrói a partir da visão de cinco retratistas populares, apresentando surpreendentes diferenças culturais e perspectivas em relação a fotografia.
.
Comentários
Carregando...