Noam Chomsky e os “10 princípios da concentração de riqueza e poder”
Noam Chomsky, 93 anos, é o mais importante intelectual dos tempos modernos. Linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano. No documentário O Fim do Sonho Americano (2015 – EUA), ele detalha de forma bastante didática os seus 10 princípios da concentração de riqueza e poder nos EUA.
Apesar de baseados na história americana, esses princípios podem ser aplicados a qualquer país que adota políticas econômicas protecionistas e neoliberais. Nada mais identificado com o que vem ocorrendo no Brasil e a sua república neo-pentecostal nacionalista cívico-militarista miliciana.
1 – Reduzir a Democracia: Confronto entre a pressão por mais liberdade e democracia vindos de baixo e esforços por controle e dominação pela elite vindos de cima. O “excesso” de democracia poderia prejudicar os interesses dos mais ricos.
2 – Moldar a Ideologia: Reação às lutas das minorias por igualdada social. Ofensiva empresarial para tentar reduzir os esforços de igualdade.
3 – Redesenhar a Economia: Potencializar o papel das instituições financeiras, com o aumento nos fluxos de capital especulativo. Os trabalhadores e o trabalho não podem se mover, mas o capital pode.
4 – Deslocar o Fardo: O trabalhador deixa de ser consumidor do que produz. A internacionalização da economia aumenta a concentração de renda. Diminui a tributação para as grandes empresas e o “fardo dos impostos” é deslocado para o resto da população, sob o pretexto de que isso aumenta os investimentos e o emprego.
5 – Atacar a Solidariedade: A solidariedade é muito perigosa e onerosa. O indivíduo tem que pensar apenas em si. Isso não é problema para os ricos e poderosos, mas é devastador para o restante da população. Há um grande esforço para retirar essas emoções humanas da cabeça das pessoas. Vemos isso nos fortes ataques a Seguridade Social e a Escola Pública.
6 – Controlar os Reguladores: A partir dos anos 1970, os órgãos governamentais reguladores da economia são “engolidos” pelo lobby das grandes corporações, que passam a controlar a legislação. O governo passa a ser financiador dessas corporações, para evitar colapsos financeiros. Mais uma vez, o contribuinte paga a conta.
7 – Controlar as Eleições: A concentração de riqueza gera concentração de poder político. Partidos políticos passam a ser controlados pelas grandes empresas. É um golpe nos últimos resquícios da democracia plena.
8 – Manter a Ralé na Linha: As organizações trabalhistas (sindicatos e movimentos trabalhistas) são uma barreira para a tirania corporativista. O “poder das massas” tinha que ser reprimido.
9 – Consentimento na Produção: A indústria da publicidade surge com toda força, com o papel de “fabricar consumidores”. É necessário domar a população mais pobre e criar consumidores desinformados que farão escolhas irracionais, através do controle de suas crenças e atitudes. Isso também funciona nas eleições. Daí o poder das grandes empresas de publicidade nos processos eleitorais em grande parte do mundo.
10 – Marginalizar a População: A maioria da população (70%) não tem como influenciar a política. A concentração de riqueza e poder acaba originando uma população raivosa, frustrada, que odeia as instituições, mas que não consegue agir construtivamente para reagir a isso. A tendência é uma sociedade individualista e com as relações sociais corroídas: “Tudo para mim, nada para os outros”.
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo em 07/01/2018, Noam Chomsky discorre sobre vários assuntos. Merecem destaque, dois pontos em que ele fala sobre redes sociais e fake news, talvez os mais poderosos instrumentos de fabricação de consenso da atualidade e que podem perfeitamente servir como complemento aos seus “10 princípios da concentração de riqueza e poder”:
– O uso das redes sociais por políticos (ele cita o exemplo de Donald Trump): “Os políticos as usam para o bem e para o mal. A técnica foi concebida para vários fins. Primeiro, se desviar de qualquer questionamento ou debate sério. Segundo, controlar sua base eleitoral, que o venera. E por último, manter a atenção da mídia focada nele e em suas extravagâncias diárias”.
– A intenção por trás da produção das fake news: “A intenção é bastante clara: enganar, induzir ao erro e controlar. As fake news são populares, porque as pessoas percebem o poder estabelecido como hostil… Elas desconfiam do que vem das fontes da elite e procuram por algo que possam interpretar como favorável aos seus interesses e atitudes”.
Chomsky costuma afirmar que escreve para o cidadão comum e que só ele pode vencer o isolamento: “Se as pessoas com um poder limitado querem fazer algo, seja vencer o sistema de propaganda ou simplesmente adquirir algum controle sobre suas vidas, têm que criar organizações que lhes proporcionem uma força para contrapor aos principais centros do poder e quem sabe expandir essa força em outras direções”.
Nessa entrevista a’O Estado de São Paulo, o linguista e filósofo reafirma a sua convicção – ou esperança, quem sabe – no poder reativo do cidadão comum: “As técnicas que agora são usadas para influenciar as escolhas do consumidor e as preferências dos eleitores provavelmente vão se desenvolver ainda mais, a menos que o ativismo popular possa restringi-las. Uma tarefa grande e significativa”.
Como um bom ativista, mesmo aos 93 anos, Chomsky ainda não perdeu a sua capacidade de sonhar.
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