É inevitável. Se a gente perde um músico, compositor, cantor de sucesso, se sente na obrigação de escrever sobre ele, ainda mais quando se tratando de um de nossos ídolos e, ainda por cima, um conterrâneo.
Deste modo, sinto-me impelido a escrever sobre Leno, Gileno Osório Wanderley de Azevedo, falecido em 8 de dezembro em consequência de um terrível câncer de pâncreas, o mesmo dia do assassinato de John Lennon e da morte de Tom Jobim.
Leno nasceu em Natal e, filho de militar, gravitou entre nossa capital e o Rio de Janeiro, onde conheceu Renato Barros, líder da banda Renato e seus Blue Caps e, precocemente, antes de atingir a maioridade, começou a compor e fazer sucesso.
Por sugestão de Renato, que namorava a bela modelo Lilian Knapp, formou uma dupla com a moça e explodiu logo no primeiro disco com Pobre menina e Devolva-me, a segunda revisitada e tornada sucesso outra vez no ano 2000 com Adriana Calcanhoto.
Foram quatro discos da dupla, com inúmeros sucessos em composições próprias, versões de sucessos estrangeiros, como de Something Stupid, gravação de Frank Sinatra e Nancy Sinatra e o tema do filme Os guarda-chuvas do amor, de Michel Legrand e composições do amigo Renato Barros. No terceiro disco, em 1972, entra um tal de Raulzito, que se tratava, nada mais nada menos, que Raul Seixas e se inicia uma parceria que rendeu músicas interessantes mas que, infelizmente passaram quase despercebidas na época. Chegou a fazer uma versão dos Beatles, O sol se põe no horizonte (I’ll Be On My Way) e dois dos maiores sucessos de Renato e seus Blue Caps, A irmã de meu melhor amigo e Quando a cidade dorme, são de sua autoria.
Desfeita a dupla, Leno continuou a fazer sucesso com A pobreza, (composição de Renato Barros), A festa de seus 15 anos (composição de Ed Wilson, irmão de Renato) mas já enveredava por caminhos do rock, de mãos dadas com o amigo e parceiro Raul Seixas. Em 1968 gravou um disco conceitual de rock, Vida e obra de Johnny McCartney, que teve problemas com a censura e só foi lançado integralmente em 1995. Voltou a morar em Natal, lançou discos de rock gravando desde Catulo da Paixão Cearense (Luar do sertão) a Walter Franco (a antológica Me deixe mudo) e compositores da terra como João Galvão, Enoch e Babal. Nunca parou de produzir mas ficou famoso mesmo como um ícone da Jovem Guarda e levava uma vida em sua terra natal discreta e com poucas aparições.
Em 2022 foi diagnosticado com câncer de pâncreas, uma das doenças malignas mais traiçoeiras e fatais e, depois de grande sofrimento, nos deixou aos 73 anos.
Tive alguns contatos com Leno e, em uma das vezes, dividi o palco cm ele interpretando a canção É TÃO BOM ESTAR EM NATAL MAIS UMA VEZ, que, no momento, ele disse não lembrar bem da letra. Eu lembrava.
Leno foi um de meus ídolos da Jovem Guarda que, como Antônio Marcos, não teve o reconhecimento devido, mas deixa uma obra plural que com certeza, não cairá no esquecimento. A gravação de Adriana Calcanhoto para Devolva-me, continua tocando bem, da mesma forma de seus grandes sucessos com Lilian.