Últimas histórias

  • Ritual de Espera – As Amigas

    Há uma ventania vindo de fora, ruídos nas portas e as janelas batendo para dentro e para fora, há um cheiro estranho no ar…

    Os quartos estão revirados, a caneta fora do tinteiro e nenhum bilhete preso no ímã da geladeira.

    O bule apitando na cozinha, avisando que o café está pronto, três xícaras postas na mesa e grandes rabiscos de sangue nas paredes…

    Adeus… Adeus… Adeus…

    A ventania agora está muito forte, um assovio estranho no quarto de hóspedes e a torneira do banheiro está aberta, a água neste momento desce as escadas.

    Os lustres quase caídos, as lâmpadas piscando, piscando.

    A casa parece assombrada…

    O cachorro se soltou da corrente, agora o canil está vazio, a grama lá fora está alta e começa neste instante chover, uma chuva fina, constante, agora todas as testemunhas entraram, o quarteirão está vazio, ninguém nas calçadas, só a chuva fina caindo no telhado.

    Ao som de Ravel, vindo do hall, caminho até o sótão, o corredor escuro, dava para sentir as teias das aranhas, o cheiro de algo estranho está no ar… De sangue das paredes, cheio de tédio, de vazio.

    Passo pelas escadas, cada degrau um tormento, outro degrau um suspense, mais um o susto, outro degrau o medo, cheguei até o sótão e meu corpo está pendurado numa corda.

    Não! Não! Não!

    Um corpo jovem e sadio, um corpo que caminhava pelo jardim todas as manhãs, as curvas bem traçadas, um cabelo bem cuidado, as marcas do tempo de criança…

    As mãos ofereceram o ódio e seu pescoço errante aceitou a ideia de brincar de morte…

    Como aconteceu não lembro, eu aguardava minhas amigas melancolia e solidão…

    A chuva cessou, a vizinha bate na porta, veio trazer o totó que tinha fugido do jardim…

  • O Infinito que me habita

    O infinito me recebeu de braços abertos. Este infinito que tanto sonhei, de alguma forma almejei, na minha vida inteira. Uma flexão que mesmo sem rimas, não planejei como seria, determinei que fosse apenas me atirar, sem remorso. E tanto tempo se passou. Tive muitas dúvidas. Eu ainda  não estava  pronta para cair, apenas me derrubei, sem querer. Meu corpo era fraco, delicado demais para se jogar, creio que simplesmente desisti de ser tão frágil e catar cacos seria mais reconfortante. E caindo, desajeitada e um tanto medrosa, fui recitando poesias mentalmente. E quando meu corpo virava, sentia mais forte um vento quente nas costas, aí abria meus olhos e contava as estrelas no céu.

    O céu estava lindo naquele momento. Seria o inferno ali? Daquele modo tão brilhante e bonito? Eu lembrava das palavras bíblicas. Todas. Não poderia ser meu castigo! Estou somente apreciando este infinito que me ronda. E seu abraço é um acalanto. Feito um Santo que me conforta, e me sinto vestida assim.

    E embora sinta que o fogo me queima, um fogo sinistro e forte, em tons alaranjados e azuis. Um fogo que arde em mim enquanto caio. E caindo vou me desfazendo… Feito cócegas na barriga, fogos de artifícios em noites de São João. Talvez o veneno que tomei esteja fazendo efeito, embora misturado com doses de amor. Este infinito que me habita. Ó doce momento das minhas madrugadas.

    Ó Senhor dos meus pesadelos mais secreto e estranhos. Estou realmente caindo, ou simplesmente sonhando outra vez? Este infinito que me beija, que se delicia de mim, e sinto-o feito pêssego em minha pele quente. O seu laço é apertado em minha garganta e dói e mesmo assim, me torno sua Deusa. Com poderes e forças embora finitas, me torno de alguma maneira forte e abstrata. Já não sou mais daqui, mesmo lentamente caindo em um infinito… Feito um enroscar em lençóis macios. E mesmo com minha armadura contra a sofreguidão, sinto meu lado mais escuro melhor, e que ganhara minhas lágrimas de prazer.

    Do meu sofrer. E por que sofro tanto com este cafajeste que me tomas as noites mais tranquilas? Este cavaleiro sem elmo e sem uma capa vermelha, muito menos um cavalo branco! Ó guerreiro sem escudo e honra, por que fazes isto comigo? Já tem o meu coração partido, o que mais queres de mim? Se tú es meu infinito, este doce tormento que habita em mim! Não deveria ter tirado a tampa deste poço maldito.

    A maldição da alucinação se apossa de mim. Sim, o infinito em mim sorri, enquanto vou morrendo de amor.

  • Ainda Sou Uma Menina

    Ainda sou uma menina. Mesmo depois dos vinte. Ainda tenho os sonhos da infância e os desejos juvenis, todos eles trancado dentro de mim. Mesmo ainda tão mansa e não podendo ir lá fora brincar. Então, brinco aqui dentro, nos meus delírios elaborados e desajeitados… E danço, com passos desajustados… Danço simetricamente no meu chão. 

    E a noite, ainda no meu sono de menina, penso nas possibilidades incertas, penso no amor e penso nele… No destino que pulsa freneticamente em mim. Penso na esquina de vento brando, que embaralha meus cabelos no rosto e no cigarro de menta aceso na boca. Ainda sou uma menina. Uma menina travessa, que agarra o travesseiro ao dormir, que cantarola Beatles no banho e que tem alergia a formigas. Que ainda aguarda, com cotovelos vermelhos de tanto ficar na janela, a visita do namorado… Que nunca veio. 

    Quero brincar, de amarelinha, de pique-bandeira e salada mista, quero correr da bola para não ser queimada, quero caminhar desiquilibrada em cima das ladas de leite, e segurando fortemente o barbante em minhas mãos. Quero sonhar com a praia, quero este sentir do som das ondas batendo nas rochas… Ainda quero contar estrelas e beber vinho escondido num copo descartável. Quero me desvirginar… De ideias, de pensamentos toscos, de beijos suaves. 

    Ainda sou menina, mais gosto do balanço do parque e de ouvir o som do violão, de dobrar a bermuda e saltitar para jogar vôlei, de tentar colar na prova de história. Sou apenas uma menina com tantas histórias, mal contadas e outras desfeitas. Ainda quero andar na corda bamba e ir ao samba e sambar! Mesmo ainda tão menina ainda quero conhecer a Dama de Ferro e me deliciar em Paris… Quero fazer tatoo sinistra e ainda poder gingar ao comando de um berimbau, que ainda me arrepia e me leva a pensar na Bahia. E que um dia volto lá. 

    Quero recitar novamente Gilka e tentar fazer rimas… Rimas com palavras bobas, mais sem palavrões. Ainda sou uma simples menina e sei que já não morro por amor e que nunca planejei uma guerra. Sou. 

    O que afinal sou? Quem? Algo me abafa, me acalma e não me deixa lançar meu perfume doce, não me deixa sorrir livremente e não limpo mais o sangue que ainda escorre pelo meu pescoço…E ainda assim, me envolvo no lençol branco e corro pela floresta achando ser um fantasma solitário… Sou o que sou e ainda não me basta, por enquanto, ainda uma menina tentando crescer e não ser tão meiga, tão sem ponteiro ou tic tac. 

    Sou bomba ou apenas o pavio curto? Doce ou amarga? O que estes cabelos brancos querem dizer? E estas rugas que escondem minhas mãos… Porque nem assim eu  consigo te encontrar. Porque sei que já não posso ser sua flor.  Sou agora metade remendada e metade cacos colados. Sou menina crescendo e tentando encontrar o caminho para casa, para o meu berço quebrado e esquecer estes sinônimos de sofreguidão em mim. 

    Ou posso ainda ser amor? “ Eu sei que vou sofrer. A eterna desventura de viver. À espera de viver ao lado teu. Por toda a minha vida…”

  • Querido Deus

    Ainda bem que tens um tempinho para mim, sei que sempre me surpreende me cedendo grandiosos minutos, para ler estas letras tortas e mal colocadas neste pequeno papel. Realmente magicar não é meu dom, mexer com fórmulas secretas, letras e números para serem compostos na medida correta, não consigo manusear tais poções. 

    O mundo está do avesso, por aqui nada muda ou se renova, está tudo na mesma mesmice. Estamos em ano de eleição e todos os nossos candidatos estão com a mesma ladainha. Prometo isto e aquilo, farei isto e aquilo… 

    Tem uma observação importante nisto tudo, eles estão mal educados… Os carros de som estão mais altos, os panfletos são muitos rolando por aí sujando a cidade, espalhados no chão, amassados nas caixas de correios das residências… 

    Pior não é isto, é ver tal candidato negando um prato de comida ao menino carente na rua e ao dobrar a esquina, adentra no melhor restaurante da cidade, almoça um prato de valor mínimo de cinquenta e sete reais, fora a sobremesa e o cafezinho que são pagos a parte. Deus… Isto está correto? 

    Sei meu amado Pai, que quando pensou no ser humano, não foi este que o moldou mentalmente primeiro, e depois de lançados aqui, sei que não era para serem assim, deste jeito medíocre. Eles são bons, de alma boa e transparente. 

    Sou assim também? Faço parte disto sem querer? Sinto que nem sou humana direito, que não sou daqui, mais esta será outra conversa. Mas eles precisam de um castigo, creio eu. Estão fazendo tudo errado, esquecendo da compaixão, esquecendo que pulsa um coração por dentro desta caixa espetaculosa e mágica, que o Senhor deu o nome de  corpo. 

    Acho que o Senhor deu “poder” demais. Eles confundem “poder” com poder, e o dom que nos cedeu foi na medida errada, por ser bom demais, nos deu a mais. Tudo que somos e tudo que temos. Será por isto as coisas agora estão tomando rumos diferentes? Estamos em guerra sem tempo certo para terminar. Estamos com menos verdes, menos águas, menos capacidade de entender, menos dinheiro… Não entendemos o que está tentando nos dizer, nos ensinar. 

    Sei que o povo é infiel ao Senhor, que o povo se vende por uma camisa, uma cesta básica, uma armação de óculos ou um concreto novo na parede da frente da casa, afinal está chegando o Natal e o povo gosta da casa bonita nesta data, meramente para receberem seus familiares e obterem toda aquela comilança, é por isto sim, eles se esquecem do verdadeiro significado. 

    Mas hoje querido Deus, além de agradecer por me ceder um tempinho na sua agenda do tempo, venho humildemente lhe pedir outra coisa também, de novo. 

    Eu agradeço por sempre me conceder mais um dia, e sei que a cada dia me dar, eu posso me renovar. Mas hoje eu gostaria de pedir em nome do povo, por toda esta gente aí fora, apenas “chance”, nos dê mais chance? 

    Acredito que com esta palavra, não precisarei me esconder no laboratório dos meus sonhos para misturar fórmulas na pipeta ou mexer com balões volumétricos… 

    A chance, esta palavrinha tão mágica, pode ser o passaporte dos seres que andam por aqui, feitos zumbis retirantes ou míseros cadáveres que açoitam e que bebem sangue… 

    Virarem realmente “humanos”.

  • O Dia Mundial das Crianças

    Se engana quem acha que o Dia das Crianças é somente um momento de presentear. Este dia tão esperado é o dia em que podemos resgatar e reavivar a relação entre pais e filhos.

    Antigamente as crianças não tinham tantos brinquedos como as de hoje e, por isso, tinham que usar mais a criatividade. Usavam tocos de madeira, pedrinhas, legumes e palitos para fazer animais, além de brincadeiras como amarelinha, cinco Marias, bolinha de gude, cantigas de roda, passa anel, roda pião, empinar pipa, dentre várias outras e, assim, se divertiram por décadas. Com os avanços da modernidade, a tecnologia trouxe brinquedos que não exigem a criatividade das crianças, elas já encontram tudo pronto.

    Uma boa sugestão para comemorar este dia, é a família fazer um levantamento das brincadeiras do tempo de seus pais e de seus avós, aproveitando para se distraírem com seus filhos, ensinando-os outras formas de diversão e as possibilidades de se criar jogos e brincadeiras. Podemos usar também um belo cardápio, ir a restaurantes e lanchonetes já está ficando fora de moda, sejamos criativos! O Dia Mundial da Criança é oficialmente 20 de novembro, data que a ONU reconhece como Dia Universal das Crianças por ser a data em que foi aprovada a Declaração dos Direitos da Criança.

    Porém, a data efetiva de comemoração varia de país para país. Em Portugal, o dia das crianças é festejado no dia 1 de junho, o mês de maio homenageia Maria, mãe de Jesus. O dia da criança foi comemorado, no mundo inteiro no dia 1 de junho de 1950. Logo depois, empresas decidiram criar a Semana da Criança, para aumentar suas vendas. No ano seguinte, os fabricantes de brinquedos decidiram escolher um único dia para esta “comemoração comercial”, então Galdino do Valle Filho teve a ideia de “criar” o dia das crianças.

    Os deputados aprovaram e o dia 12 de outubro foi pelo presidente Arthur Bernardes, por meio do decreto nº 4867, de 5 de novembro de 1924. Mas somente em 1960, quando a Fábrica de Brinquedos Estrela fez uma promoção conjunta com a Johnson & Johnson para lançar a “Semana do Bebê Robusto” e aumentar suas vendas, é que a data passou a ser comemorada. A estratégia deu certo e desde então o dia das Crianças é comemorada a promoção e fizeram ressurgir o antigo decreto.

    A partir daí, o dia 12 de outubro se tornou uma data importante para o setor de brinquedos no Brasil. Na Hungria se comemora no último domingo de maio, no Uruguai no segundo domingo de agosto e no Japão a comemoração possui algumas curiosidades, para os meninos a data se dá no dia 05 de maio, o Tango no Sekku (Dia dos Meninos).

    Nessa data, as famílias exibem capacetes de guerra tradicionais, para que as crianças cresçam fortes e saudáveis. Come-se bolo de arroz recheado de feijões vermelhos e enrolado em folhas de carvalho e bolo de arroz enrolado com folhas de bambu. Já para as meninas, a comemoração é feita no dia 03 de março através das tradicionais festas das bonecas, conhecidas como “Hina Matsuri”.

    As famílias com filhas organizam exposições de bonecas, que representam a antiga corte imperial. “A realidade do Brasil sempre foi de discriminação no que diz respeito aos direitos da criança e do adolescente. No século XIX somente iam para a escola crianças das classes mais abastadas, mas mesmo assim era muito difícil mantê-las estudando em razão das dificuldades da época, como distância e separação da família.

    No século XX surgiram as primeiras escolas para os mais pobres, em face do progresso da indústria e da necessidade de mão de obra qualificada. Nessa época, as crianças eram submetidas a trabalhos pesados nas minas e fábricas, com uma carga horária tão pesada que chegava a treze horas por dia, como a dos adultos. Nessa época, o tempo de aprendizagem começou a ser valorizado em razão da industrialização, e a adolescência passou a ser considerada uma fase da vida. A criança passou a ser vista como um sujeito de direito.

    Ao final do século XX, com a constituição de 1988, em seu artigo 227; o Governo Federal lançou o Estatuto da Criança e do Adolescente, um conjunto de leis com o objetivo de defender os direitos dos pequenos”. No Estatuto, podemos encontrar as obrigações que os mesmos devem cumprir, como: Obedecer aos pais, respeitar os mais velhos, conservar o meio em que vivem e estudar para ter um mundo melhor. Como já dizia Richard Dana “Mais vale sermos expulsos do convívio dos homens que detestados pelas crianças”.

    Eu acho que o melhor presente para a sua criança é a brincadeira, não com brinquedos robóticos e sim nos envolvermos com elas em um momento mágico, este momento será sempre lembrado e renovado em suas vidas e por gerações, não há o perigo de se quebrar ou sair de linha, pense nisto.

  • Diário: Página 113

    Mais um mês. Neste turbilhão de ideias mornas, neste vendaval de acontecimentos e vírus mortal, o que tem sido afável ao seu coração? Ao meu, meu diário. 

    Ele tem se tornado meu fiel aliado. E rabiscos não faltam. Ora uma descrição detalhada dos antigos encontros com as amigas na lanchonete, ora um turbilhão de palavras para elaborar o momento que vira o bonitão do colégio perto de casa ou apontar a vizinha que saíra no lockdown da cidade e sem máscara no rosto.

    Tudo é um bom motivo para enfeitar linhas compridas do diário. Tudo faz parte de um giro frenético na vida ou meros rabiscos mesmo.

    E embora as névoas em meu pensamento escondam palavras bonitas, sou uma adolescente, mesmo com um toco apenas de lápis, acho que ainda sou capaz de escrever um dia sobre amor, não hoje, estou no meio da guerra. Guerra em tentar viver nos afáveis instantes da vida, tudo com sabor meramente amargo e um suave gosto de Gloss de Morango.  Hoje não tenho nem um ou outro, tenho dor.

    Ah! Dor. Sentir dor é o melhor momento para alguém rebelde. E hoje nem preciso muito para afrontar meus pais ou o mundo, basta não usar álcool em gel nas mãos. 

    Adolescentes sentem dor, porque sentem falta de algo. De ficar sozinhos, sentados no quarto olhando quadros borrados na parede, ou na praia ouvindo o som tranquilo das ondas do mar. E até uma simples marola pode acarretar um desafio constante… Pensar em uma saída mais difícil ou talvez mais fácil, não sei. Hoje não, não posso ir à praia.

    E me sinto, muitas vezes, exatamente assim. E não há controle. É forte. Parece nunca ter um fim esta busca do “eu”, esta caçada cruel no coração de uma jovem com mil e uma revoltas… Mesmo mentalmente, mesmo sem querer. Feito tons.

    E tons têm sido escuros. Lágrimas frescas. Insônia doce. E dia de domingo ainda tem sido um dia melhor, poder acordar tarde. E o restante do dia, seria mais uma tentativa cruel de tentar dialogar com estranhos, isto mesmo, família são seres estranhos, Et’s disfarçados, seres esquisitos vindos do além. 

    E nesta pandemia, esta coisa de tentar crescer todos os dias tem sido cansativo. Por que tão rápido? Por que tem de ser assim?  A tormenta constante em mim tem sido uma corda surrada amarrada na garganta. Por isto o silêncio é tão importante para nós esquisitos. Um silêncio num tom ensurdecedor…

    E falando em tons, nem sempre eles são tão escuros assim… Incrivelmente tem dias coloridos, se for manhã de sol gostoso, provavelmente ir à caminhar no parque faz parte de um pequeno prazer. Sentir prazer por uma coisa pequena é normal, não é? E poder passar um dia sendo normal não faz mal. Hoje não. Não posso ir ao parque.

    Hoje não vou tentar acabar com o mundo, ele que lute para acabar comigo. Enquanto isso continuo com palavras incertas, “coisa com coisa” alguma, sem rima boba, porque hoje é o fim. Não do mundo, mas das linhas do meu diário.

  • Desejos

    A solidão ainda é fria, sinto esta velha amiga tão ardente dentro de mim. As paredes da casa vazias me envolvem, e abasteço-me de tragos do passado e singelos goles de lembranças, todas elas… E eu que achava que o amor fazia parte de mim, me enganei profundamente, novamente. Então embriago-me, mesmo sem vinho bom, apenas um teatro febril com a taça vazia na mão. 

    Estou presa no calabouço das minhas delícias, dos pesadelos que sempre consumiram a minh’alma; e ela grita… Grita em tons agudos, atordoando-me. Ficarei presa no meu próprio conto de fada? Estou presa na história de princesa que um dia me deleitei, e não há príncipe e nem sapo. Palavras malditas estão presas na garganta, feto nó apertado… A solidão é capaz de coisas assim, estúpidas… Entra de mansinho e depois não quer ir embora. E quando vai, nem adeus ou um aceno bobo, somente deixa marcas, sofreguidão e desespero. Queria um basta! Desejo poder dormir tranquila, desejo olhar-me no espelho sem um olhar triste e amargo. Desejo não sentir este desamor que nutri minha agonia. Desejo não sentir este dessabor suave e gentil. 

    O monstro sombrio que adormecia dentro de mim acordou e sente fome, sente sede. Sente raiva também! Tentei dobrar meus desejos, e redobrar meu amor, feito origami… Até tentei ajustes e prumos para salvar o que já havia se perdido, e papel quando amassado uma vez, nunca mais se torna igual. “A criação e a destruição são processos interdependentes, existe uma ausência de vida na escuridão da terra que recebe os mortos, mas também é a terra escura que abriga e promove o desabrochar das sementes, que renascem – assim como os mortos nela enterrados – para uma Nova Vida”. A minha solidão ainda é imatura, e aguardo tranquilamente que nos tornemos verdadeiras. E espero ansiosamente que ela me torne uma outra pessoa, que me torne artista, e com esta terapia tão lúcida entre nós, que eu me torne muito mais que meros rascunhos e rabiscos tolos. 

    Quero ser guerreira e engajar com avidez no meu melhor combate, nesta deliciosa guerra que é o viver. Apesar de querer tanto lutar na guerra, queria mesmo, somente paz. Não paz de hastear uma bandeira… Queria não ter dentro de mim estas coisas todas que sinto agora. Este turbilhão de coisas inúteis em minha volta, estas gargalhadas falsas. 

    Quero colo! “Sou uma gota d’água, sou um grão de areia”

  • A Cabana

    A Cabana é um livro escrito pelo canadense William P. Young, lançado originalmente em 2007, primeiro lugar dos mais vendidos do The New York Times e desde então já vendeu dois milhões de cópias, foi publicado em português pela primeira vez em 2008. O livro, que se tornou um best-seller desde seu primeiro lançamento não foi escrito para ser publicado, conta o autor.

                A história havia sido criada como um presente que Young imprimiu para 15 amigos no natal de 2005. Young afirma que muito da história tem a ver com sua própria experiência de vida e que escreveu o livro em uma ocasião que “ele próprio precisava de consolo”. “A Cabana” invoca a pergunta: “Se Deus é tão poderoso e tão cheio de amor, por que não faz nada para amenizar a dor e o sofrimento do mundo?” As respostas encontradas por Mack surpreenderão você, tanto quanto ele.

                Vivemos em um mundo cruel, temos marcas e tristezas de “coisas” que nos aconteceram no passado, este livro governa nossa leitura como uma oração e pode mudar nossa vida, como mudou completamente a de Mack.

                “Quem não duvidaria ao ouvir um homem afirmar que passou um fim de semana com Deus e, ainda mais, em uma cabana?”. Durante uma viagem de fim de semana, a filha mais nova de Mack é raptada e evidências de que ela foi brutalmente assassinada são encontradas numa cabana abandonada. 

                Após quatro anos vivendo numa tristeza profunda causada pela culpa e pela saudade da menina, Mack recebe um estranho bilhete, aparentemente escrito por Deus, convidando-o para voltar à cabana onde aconteceu a tragédia. 

                Apesar de desconfiado, ele vai ao local do crime numa tarde de inverno e adentra passo a passo no cenário de seu mais terrível pesadelo. Mas o que ele encontra lá muda o seu destino para sempre. Até hoje me pergunto o que eu faria se recebesse um bilhete de Deus para um encontro, acharia primeiro não ser verdade, Deus não mandaria um simples bilhete… Como eu me comportaria diante de Deus, Jesus e o Espírito Santo? E você caro leitor, como reagiria? “Se formos como pássaro, cuja natureza é voar, mas se optássemos somente por andarmos e permanecermos no chão. Não deixamos de ser pássaro, mas isso altera significantemente nossa existência de vida”. Vida, morte, fé. “Este livro é sensivelmente transformador”

  • Páscoa

    Para mim, a Páscoa se resume em comer muitos chocolates, para muitas pessoas apenas em comer pouco chocolates e há quem apenas oferece por causa da promoção nos supermercados. A Páscoa verdadeiramente tem outros sentidos maravilhosos. As pessoas a celebram de acordo com aquilo que acreditam e pode haver ou não a ideia religiosa.

    Os símbolos da Páscoa fazem parte da nossa vida. Ovos, coelho, peixe, são alguns dos símbolos dessa data tão especial. O símbolo do coelho tem origens na Alsácia e sudoeste da Alemanha, onde foi mencionado pela primeira vez nos escritos alemães em 1600. Em alguns países os noivos davam um ao outro um ovo pintado simbolizando a perpetuação do amor.

    O Peixe é um dos símbolos mais antigos dos primeiros cristãos, ao se referirem a Jesus Ressuscitado. Na Roma antiga, as mulheres casadas vestiam-se de branco e carregavam o ovo que era dedicado aos seres protetores da agricultura. Os hebreus nao comiam ovos cozidos. Os celtas ofereciam ovos pintados de vermelho, simbolizando o sangue derramado por Jesus. Chineses, há tempos atrás, distribuíam ovos coloridos entre amigos durante a primavera. Os pagãos, em especial os Ucranianos tinham o costume da “arte de decorar ovos”, chamado de “pisanka”.

    Na Idade Média os antigos povos homenageavam Ostera ou Esther, deusa da Primavera, que segura um ovo em sua mão e observa um coelho, símbolo da fertilidade, pulando alegremente em redor de seus pés nus. A deusa e o ovo são símbolos da chegada de uma nova vida e suas sacerdotisas eram ditas capazes de prever o futuro observando as entranhas de uma lebre sacrificada. a versão “coelhinho da páscoa, que trazes pra mim?” É muito mais comercialmente interessante do que “Lebre de Eostre, o que suas entranhas trazem de sorte para mim?”, que é a versão original desta rima.

    E assim segue a vida, a espera desta data tão admirada. O coelho que é realmente é o símbolo mais admirável, esses mamíferos lagomorfos da família dos leporídeos, em geral dos gêneros Oryctolagus e Sylvilagus. Esses pequenos mamíferos encontram-se facilmente em muitas regiões do planeta. Tá bom, porque não dizem que coelhos são animais fofinhos, branquinhos e bonitinhos? Para que confundir a cabeça de uma criança e até mesmo de um adulto como eu? O coelho pode alcançar a velocidade de 100 km/h e pode dar saltos de 3m ou mais, será por isto que conseguem chegar a tempo na Páscoa? Ou será mesmo porque ele é um dos primeiros animais que saem das tocas ao chegar a primavera?

    No português, como em muitas outras línguas, a palavra Páscoa origina-se do hebraico Pessach. Os Espanhóis chamam a festa de Pascua, os Italianos de Pasqua e os Franceses de Pâques e estranhamente em Irlandês Páscoa chama-se Cáisg.  Na Bélgica comemora-se esta data saboreando a carne de carneiro ou agneau, símbolo do sacrifício, diferente de outros países que comem apenas peixe. A Páscoa da Suécia faz lembrar o dia das bruxas americano. Na quinta-feira Santa ou na véspera da Páscoa, as crianças suecas vestem-se de bruxos, visitam seus vizinhos e deixam um cartão decorado para conseguir doce ou dinheiro.

    Na França além dos sinos, eles atravessam a cidade deixando ovos, galinhas, pintinhos e coelhos em chocolate para a alegria das crianças. No Brasil, as crianças montam seus próprios “cestinhos de Páscoa”, enchem-no de palha ou papel, esperando o coelhinho deixar os ovinhos durante a madrugada ou procurar os ovos pela casa na manhã de domingo, é uma tradição e uma incrível brincadeira, aqui em casa sempre fica tudo no “esquema”. Os amantes não ficam de fora não, e em alguns países eles presenteiam a amada com um magnífico ovo de chocolate com desenhos em ouro, Uau! Eu não sabia que o botânico Sueco Linneu, em 1753 deu o nome a árvore do cacau de “Theobroma cacao”, mas certamente sei que esta deliciosa guloseima, este “alimento dos deuses”, o chocolate, deixa minha Páscoa com mais sabor.

    Existem muitas histórias em torno da Páscoa, uma diversidade de maneiras de se passar a semana santa, eu acho que melhor mesmo é comer chocolate e sem moderação. E quanto ao coelhinho ou lebre da Páscoa seja lá como for, antes que eu esqueça, o que trazes pra mim?

  • Noite Estrelada

    A noite hoje está estrelada e sinto que algo me toca, que algo me preenche, este momento rápido de mim e somente de vez em quando isto acontece, um frenesi. 

    E esta é uma noite de excessos, de instantes sem graça alguma, de vazios queridos, mentiras serenas demais, tudo sufoca, minha face está pálida. Tento entender estes pequenos abusos insanos de mim mesma, meus contos mal contados, meus gestos de sofreguidão e loucura, de um Eu fora de mim.

    Ecos suaves invadem meu quarto, estou acordada e posso ouvi-los, posso me ouvir também, meus gemidos tolos. Ecos desconhecidos, frios e ocos, apenas ecos. Talvez, estas estrelas de hoje queiram intimidar meu sonho diário, um sonho absurdo que me aparece toda noite, que me corta a garganta, um pedacinho de mim, de minhas histórias verdadeiras, cortam de mim o nó feito e bem atado dentro de mim, me atordoa e pela manhã, é como se nada tivesse acontecido, feito fio partido de minha insônia.

    Mesmo assim, ainda tento pelas manhãs cantar, dançar, escrever poesias, soar uma vida normal, respirar. As estrelas já são minhas amantes, nesta insônia que nunca vai embora e embora eu tente não sofrer, minhas vontades frias se apoderam de mim, não consigo dormir. Temo ser apedrejada no fim de cada dia. 

    Tomo-me em meu pleno silêncio e desespero, sinto-me dentro daquele espelho quebrado do banheiro, refletindo muitas de mim, cacos poucos. Não me aflito com a visita da morte, esta morte lenta e imbecil. Hoje estou rouca, farta dos meus próprios palavrões, até dos sussurros vastos e esquisitos, das porcarias pensadas por mim, as estranhezas pintadas na parede, meus rabiscos infantis.

    Meus olhos estão bem abertos na escuridão do meu próprio dia, torno-me livre um pouco antes de amanhecer, antes de ter sonhos preguiçosos, antes de ser mansa. Sinto apenas agora um colírio que arde os olhos mal dormidos, queima por dentro e por fora.

    Desencadeia minha corrente de imaginação, não mais me crio, não consigo esconder que estou me desfazendo, cortando o elo que me mantém aqui, por aqui inteira. Minha praia imaginária está deserta, muitas conchas, ondas, brisa mansa e gélida. Já não poderei fazer minhas entranhas transparentes e consertáveis. Sou apenas uma Maria. Apalpando minhas palavras miúdas, minha despedida.

    A ampulheta está no seu tempo corriqueiro. Estou morrendo devagar numa linda noite estrelada. Queria mais tempo, tempo de um relógio moderno, tempo para um tic tac de segundos.