Mais um mês. Neste turbilhão de ideias mornas, neste vendaval de acontecimentos e vírus mortal, o que tem sido afável ao seu coração? Ao meu, meu diário.
Ele tem se tornado meu fiel aliado. E rabiscos não faltam. Ora uma descrição detalhada dos antigos encontros com as amigas na lanchonete, ora um turbilhão de palavras para elaborar o momento que vira o bonitão do colégio perto de casa ou apontar a vizinha que saíra no lockdown da cidade e sem máscara no rosto.
Tudo é um bom motivo para enfeitar linhas compridas do diário. Tudo faz parte de um giro frenético na vida ou meros rabiscos mesmo.
E embora as névoas em meu pensamento escondam palavras bonitas, sou uma adolescente, mesmo com um toco apenas de lápis, acho que ainda sou capaz de escrever um dia sobre amor, não hoje, estou no meio da guerra. Guerra em tentar viver nos afáveis instantes da vida, tudo com sabor meramente amargo e um suave gosto de Gloss de Morango. Hoje não tenho nem um ou outro, tenho dor.
Ah! Dor. Sentir dor é o melhor momento para alguém rebelde. E hoje nem preciso muito para afrontar meus pais ou o mundo, basta não usar álcool em gel nas mãos.
Adolescentes sentem dor, porque sentem falta de algo. De ficar sozinhos, sentados no quarto olhando quadros borrados na parede, ou na praia ouvindo o som tranquilo das ondas do mar. E até uma simples marola pode acarretar um desafio constante… Pensar em uma saída mais difícil ou talvez mais fácil, não sei. Hoje não, não posso ir à praia.
E me sinto, muitas vezes, exatamente assim. E não há controle. É forte. Parece nunca ter um fim esta busca do “eu”, esta caçada cruel no coração de uma jovem com mil e uma revoltas… Mesmo mentalmente, mesmo sem querer. Feito tons.
E tons têm sido escuros. Lágrimas frescas. Insônia doce. E dia de domingo ainda tem sido um dia melhor, poder acordar tarde. E o restante do dia, seria mais uma tentativa cruel de tentar dialogar com estranhos, isto mesmo, família são seres estranhos, Et’s disfarçados, seres esquisitos vindos do além.
E nesta pandemia, esta coisa de tentar crescer todos os dias tem sido cansativo. Por que tão rápido? Por que tem de ser assim? A tormenta constante em mim tem sido uma corda surrada amarrada na garganta. Por isto o silêncio é tão importante para nós esquisitos. Um silêncio num tom ensurdecedor…
E falando em tons, nem sempre eles são tão escuros assim… Incrivelmente tem dias coloridos, se for manhã de sol gostoso, provavelmente ir à caminhar no parque faz parte de um pequeno prazer. Sentir prazer por uma coisa pequena é normal, não é? E poder passar um dia sendo normal não faz mal. Hoje não. Não posso ir ao parque.
Hoje não vou tentar acabar com o mundo, ele que lute para acabar comigo. Enquanto isso continuo com palavras incertas, “coisa com coisa” alguma, sem rima boba, porque hoje é o fim. Não do mundo, mas das linhas do meu diário.