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  • Chega de pesadelo!

    Por Ana Paula Cadengue

    Amanhã, 30 de outubro de 2022, é a eleição mais importante da História do Brasil, quiçá do mundo. O que está em disputa não é a vitória de um partido sobre outro ou só o governo de um dos maiores países do planeta. O que está em jogo é muito mais do que isso. É sobre Humanidade, Respeito, Ciência. É sobre vida.

    A escolha que para muitos não é nada difícil, ainda tem parcela significativa da população que aposta no caos, na desordem, na desunião, no fim das instituições e da civilidade, numa terra arrasada que estamos nos tornando.

    A escolha nem um pouco difícil reúne de um lado um capitão do Exército e político profissional que nunca produziu nada em seus quase 30 anos como parlamentar e representa o que de mais asqueroso e atrasado existe, com exibições diárias e gratuitas de despreparo, prepotência, misoginia, aporofobia, racismo, homofobia, violência e falta de educação, num (des)governo que pratica o desmonte do Estado e a dilapidação do patrimônio brasileiro, rasgando leis, incentivado preconceitos, invasões, queimadas e destruição.

    Do outro lado, uma frente mais do que ampla, congregando ex-presidentes da República, políticos de todas as matizes, professores, intelectuais, artistas e a população mais humilde do país que traz o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva como o nome que representa a esperança do Brasil voltar a ser uma nação e ter direito a um futuro melhor e democrático.

    Amanhã, 30 de outubro de 2022, cada eleitor brasileiro tem em suas mãos o nosso destino e, de certa forma, o da humanidade também.

    Esta eleição que para muitos significa apenas quais e quantas são as vantagens pessoais e financeiras que se possa auferir, para o mundo é muito mais do isso. Bem mais.

    A prestigiosa revista científica “Nature” publicou edital na última terça-feira (25) afirmando que só há uma escolha na eleição do Brasil, e que um segundo mandato para o presidente Jair Bolsonaro (PL) representaria uma ameaça à ciência, à democracia e ao meio ambiente.

    No texto de opinião que tem o título “There’s only one choice in Brazil’s election — for the country and the world”, a revista avalia que “o histórico de Bolsonaro é de arregalar os olhos” e cita que o meio ambiente foi devastado (desmatamento quase dobrou desde 2018) após o presidente retirar proteções legais e desrespeitar direitos indígenas.

    A “Nature” ainda lembra que Bolsonaro preferiu ignorar os alertas da ciência sobre a Covid-19, atuou contra a vacinação e diminuiu o financiamento para ciência e inovação.

    “Nenhum líder político chega perto de ser perfeito. Mas os últimos quatro anos do Brasil são um lembrete do que ocorre quando aqueles que elegemos desmantelam ativamente as instituições destinadas a reduzir a pobreza, proteger a saúde pública, impulsionar a ciência e o conhecimento, proteger o meio ambiente e defender a justiça e a integridade das evidências”, afirma a revista

    Na última quinta-feira (27), foi a vez do jornal norte-americano The New York Times publicar um vídeo opinativo no qual alerta para os riscos de uma eventual vitória de Jair Bolsonaro (PL) sobre Lula (PT) no segundo turno.

    A gravação, de autoria de Agnes Walton e Alessandra Orofino, conta com a participação da ativista indígena Txai Suruí, que denunciou a devastação ambiental da Amazônia durante o atual governo  na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, em Glasgow, na Escócia.

    “Para muitos brasileiros, esta é uma eleição dolorosa entre dois candidatos bastante falhos. Mas, para o futuro da vida humana neste planeta, há apenas uma escolha certa”, diz a publicação.

    A gravação lembra algumas das ocasiões em que Bolsonaro minimizou a importância de combater a devastação do meio ambiente e recorda a guerra deflagrada pelo ex-capitão contra órgãos de controle, como o Ibama e o ICMBio, e sua reiterada postura de ignorar os alertas de desmatamento.

    Mas, não são só os “gringos” que temem um eventual segundo governo Bolsonaro e suas terríveis consequências. A premiada jornalista Eliane Brum, vencedora do 44º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos na categoria Livro-reportagem, com a obra Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, alerta sobre as ameaças que a maior floresta tropical do mundo vem sofrendo e o quanto pode perder em uma possível reeleição de Jair Bolsonaro.

    “Eu quero dizer muito explicitamente que se Bolsonaro se reeleger no domingo a Amazônia vai acabar. Ele matou dois milhões de árvores em menos de quatro anos. A floresta já chegou em 20% de desmatamento em ponto sem retorno, previsto pelos cientistas entre 20 e 25%. Se a Amazônia acabar, as crianças de todos que estão aqui terão um futuro hostil. As crianças do outro lado do mundo terão um futuro hostil. Essa não é a eleição mais importante da vida dos brasileiros, é uma eleição crucial para o planeta”, afirma Brum.

    As jornalistas Elaíze Farias e Kátia Brasil, fundadoras da agência Amazônia Real, também alertam para o momento decisivo que estamos vivendo. “Na nossa região, as violações de direitos nunca cessaram, na verdade, só se agravaram. Todos estamos vivendo ataques violentos e sistemáticos. As consequências imediatas são para quem está na Amazônia, mas atingirá a todos, globalmente, nesta e nas próximas gerações”.

    A questão ambiental é um dos cernes dessa eleição. Nos últimos dias, a ‘Frente Ampla’ que apoia a candidatura do ex-presidente Lula à presidência, ganhou reforços de peso de lideranças de diferentes partes do mundo, além de artistas e músicos consagrados, como o primeiro-ministro da Espanha e líder do Partido Socialista Operário Espanhol, Pedro Sánchez.

    O chefe do governo português, António Costa também apoia o ex-presidente. “O mundo precisa de um Brasil forte, um Brasil que participe das grandes causas da humanidade, como combater a desigualdade, a luta pela saúde, para enfrentarmos as alterações climáticas. O Brasil e o mundo precisam de Lula da Silva.”

    O italiano Roberto Gualtieri, prefeito de Roma, foi mais um a afirmar sua torcida ao ex-presidente em vídeo. “Meu caro amigo Lula. Em Roma estamos torcendo para que você volte a guiar esse grande país amado por todos os italianos. Com sua volta para a presidência, o povo brasileiro retomará o caminho da justiça social, do desenvolvimento, do resgate que tanto merece”, disse.

    Um manifesto assinado em apoio ao candidato da Coligação Brasil da Esperança, assinado por vários ex-dirigentes europeus, como François Hollande, ex-presidente da França, foi divulgado ainda no primeiro turno. “Quando a democracia está em perigo, é preciso juntar os divergentes para vencer os antagônicos. É por isso que nós, ex-chefes de Estado e de governo de diversas tendências políticas, apoiamos a candidatura do ex-presidente Lula à Presidência da República”, dizia o documento.

    Líderes sul-americanos também apoiam a candidatura de Lula, como é o caso de Alberto Fernández, presidente da Argentina, dos presidentes da Colômbia, Gustavo Petro; do México, Andrés López Obrador; da Bolívia, Luis Arce e do Peru, Pedro Castillo.

    Mas, o apoio a Lula e ao que ele representa não se restringe a políticos de todo o mundo. Além de juntar artistas de todas as artes e idades, de Fernanda Montenegro a Flor Gil, Luisa Sonza a Chico Buarque, Anita a Antonio Pitanga, Juliette a Marieta Severo, a campanha contra Bolsonaro conseguiu o que parecia improvável e reuniu os “Vingadores”.

    As mensagens enviadas para os brasileiros através das redes sociais pelos atores que deram e dão vida a personagens como o Homem de Ferro (Robert Downey Jr), Hulk (Mark Rufallo), Thor (Chris Hemsworth), Nick Fury (Samuel L. Jackson) e Wong (Benedict Wong) ganharam até a aliança do Aquaman, herói DC interpretado pelo Jason Momoa.

    Toda essa atenção mostra que a campanha presidencial brasileira é importante para o mundo todo, mas a gente sabe que não diz respeito só ao futuro do planeta. Diz e fala bem mais para cada um de nós que mora e vive e sonha o Brasil. E, apesar de todas as distopias e teorias conspiratórias das tias e tios do zap, o que preocupa mesmo a população é a piora da economia e o aumento da inflação, como mostrou o último levantamento do instituto Genial/Quaest, divulgado na semana passada . O medo da volta da ditadura, de um golpe militar e do autoritarismo também são razões muito sérias para não se votar em Bolsonaro, segundo a pesquisa.

    A fome piorar foi o receio de 8%, o corte no direito dos trabalhadores é o medo de 4%. Outros itens citados foram a volta da violência, a educação piorar, desemprego e fim do Auxílio Brasil. As falas do candidato e a sua agressividade também são motivos para não votar no Messias, assim como a má administração, citada por 16%, e sua atuação durante a pandemia. Outros 7% dos entrevistados afirmaram que Bolsonaro é preconceituoso, racista e homofóbico, enquanto 5% responderam que é porque ele é corrupto e outros 4% porque ele é mentiroso.

    Amanhã, 30 de outubro de 2022, vamos ter que escolher quem a gente quer para iniciar a construção de um Brasil com oportunidades iguais para todos, inclusivo, livre da fome, com mais emprego e salário mínimo sempre acima da inflação, com saúde pública de qualidade e filhos estudando, da creche à universidade. Um país de fé, com respeito ao cidadão e suas crenças e religiões, com democracia e sem armas, onde o amor prevaleça sobre o ódio, de paz, união e alegria. Um país feliz de novo e onde a gente possa voltar a sonhar.  Chega de pesadelo!

  • CPI da morte

    A Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, que avalia a condução da pandemia no Brasil, postergou a leitura do relatório final. Segundo o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz, a votação deve acontecer no próximo dia 26. O senador Renan Calheiros, relator da comissão, distribuiu na terça-feira, 20, aos senadores integrantes da CPI a minuta do relatório final, que contém mais de mil páginas com informações colhidas pelos senadores ao longo dos últimos cinco meses e pede o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro e de outros políticos, empresários e médicos.

    A lista inclui crimes de responsabilidade, crimes contra a saúde pública, além de condutas previstas no Código Penal. São 66 acusados. Só com relação ao presidente da República o documento elenca nove crimes: epidemia com resultado morte, charlatanismo, incitação ao crime, falsificação de documentos, uso irregular de verbas públicas, prevaricação (quando um servidor público deixa de agir diante de uma irregularidade), crimes contra a humanidade, violação de direito social e crime de responsabilidade.

    Segundo o relator, Renan Calheiros, ele pede o indiciamento de Bolsonaro por crimes contra a humanidade em três episódios: os estudos e tratamentos à base de medicamentos sem eficiência comprovada pela operadora de saúde Prevent Senior, na condução da crise de saúde em Manaus e nas ações voltadas aos povos indígenas.

    O detalhe é que o relatório final de uma CPI não propõe acusações diretas à Justiça, mas sim indiciamentos. O trâmite é similar ao de um inquérito policial — as conclusões da investigação são enviadas ao Ministério Público. O nó da questão é exatamente esse. No caso do presidente, o indiciamento precisa ser apresentado à Procuradoria-Geral da República (PGR) — que, pela Constituição, tem a prerrogativa de protocolar ações penais contra o presidente. Imagina só isso caindo no colo do procurador-geral da República, Augusto Aras, mais conhecido como o Engavetador-Geral de Jair Bolsonaro — ou simplesmente por “poste”.

    De corrupção na compra de vacinas ao não interesse por imunizantes — exatamente por falta de lucros no negócio — o saldo dessa CPI é que, entre tanta barbaridade, um plano de saúde decidiu quem deveria ou não morrer — o caso da Prevent Senior. Um dos maiores especialistas em bioética do país, Volnei Garrafa, chegou a dizer em entrevista a um grande jornal brasileiro que testes com a cloroquina e proxalutamida se equiparam ao horror das experiências médica nazistas da Segunda Guerra mundial.

    A CPI da Covid evidenciou o que todos já sabiam: a vida do brasileiro se manteve por um fio desde o início da pandemia. Ficamos à mercê de uma horda de pulhas, ordinários que só se preocuparam em locupletação. Com um agravante: mercadores beneficiários com a morte dos outros.

  • Pária

    Na última terça-feira, 21, o presidente Jair Bolsonaro, sem partido, discursou pela terceira vez na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. E deu o que era esperado: fake news do início ao fim, um discurso de mentiras. Os devaneios desmoralizantes podem até ser úteis aos acéfalos do cercadinho presidencial em Brasília (pela primeira vez foi feita uma live direto da ONU), como também alimentar a grupos do WhatsApp bolsonaristas, mas foi de uma inutilidade sem tamanho. Primeiro, porque tentou imprimir um Brasil que só existe em fantasia, como exemplar na área ambiental, livre de corrupção e com as estatais pulsantes. Mentiras. Na era Bolsonaro o que não falta são vexames em diversas frentes: sanitária, antidemocráticas, estagnação econômica e destruição.

    A manchete do editorial do Jornal O Globo dizia que essa seria a grande chance de Bolsonaro reparar a imagem do País. Não querendo ser pessimista, o jornalismo empresarial não conseguiu mais uma vez aliviar a barra do desgoverno bolsonarista. Até porque o presidente não se ajuda. Enquanto isso o jornalismo empresarial segue com as mãos sujas de sangue de quase seiscentas mil pessoas mortas no Brasil. E o pior: não faz questão de limpá-las.

    Ainda sobre o discurso na ONU, Bolsonaro fez um balanço bem ao seu estilo da pandemia, quando criticou o isolamento social, e se disse contrário à exigência de comprovantes de vacina e insistiu mais uma vez na defesa do tratamento precoce contra a Covid-19. Culpando ainda os governadores e prefeitos pela inflação devido às medidas de lockdown tomadas durante a pandemia. Fontes? Sua própria cabeça.

    Antes mesmo do “grande dia” do discurso, o prefeito de Nova York avisara que Bolsonaro não era bem-vindo. Mas o pedido não foi aceito, e Bolsonaro, juntamente com asseclas, já protagonizavam momentos surreais pelas ruas da Big Apple. Refeições pelas calçadas dos estabelecimentos, pois é proibido o acesso aos restaurantes de pessoas não vacinadas (o presidente do Brasil não só é antivax como faz campanhas contra a vacinação); e o mais esdrúxulo, o ministro da Saúde do Brasil, Marcelo Queiroga, foi filmado apontando o dedo do meio (mandou tomar naquele canto) contra manifestantes que esperavam pela comitiva brasileira no hotel. Ainda aparece nas imagens o chanceler Carlos França fazendo arminha de dentro de uma van.

    E, se ainda existia algo de interessante na imagem do Brasil lá fora, foi por lama abaixo.

    Certo mesmo estava o ex-chanceler e defensor da Terra plana, Ernesto Araújo, quando disse que a atuação do governo bolsonarista faria do Brasil “um pária internacional”. Só estava errado quando disse que isso seria bom para nós brasileiros.

  • A gente cansa

    Cansados. É o que ouvimos ultimamente por onde passamos. E quantos e quantos não reviram conceitos nesses meses de cansaço por tantos desmandos do desgoverno de Jair Bolsonaro? Um sujeito que ainda consegue ser mito em um cercadinho. De loucos, só pode. O mais esculhambado mito político, social e econômico de todos os tempos do Planalto é, sem sombra de dúvidas, o chefe do Executivo mais cansativo da história.

    A fábrica de asnices começa cedinho da manhã em um cercado composto de bestas quadradas e se estende pelo restante do dia com estouros de crimes graves. Cansado, à noite, o brasileiro parece participar de reality show que expõe o pior do ser humano, com objetivo de matar a todos pelo cansaço. Não há mais ânimo sequer para um Jornal Nacional. 

    Não se aguenta mais a ladainha de que não haverá eleições em 2022, um crime que o presidente comete, dos artigos 7º, 8º e 9º da lei 1.079/50, conhecida como Lei de Responsabilidade. Cansamos da tecla Ivermectina, tratamento precoce e corridas atrás de emas com cartelas de comprimidos em mãos. Quem não está com abuso dessas ameaças do uso das Forças Armadas sempre que Bolsonaro se vê encurralado — nas próprias mentiras e crimes praticados por seus filhos e familiares? E dos ataques à imprensa? Cansa vê-lo atribuir toda a crise e o desemprego ao Supremo Tribunal Federal (STF) e aos governadores. O povo está cansado de assistir a esse show de horrores, com um novo episódio a cada dia. Dentre os mais recentes, destacamos a abertura de processo para investigar o ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo Bolsonaro, os togados extrapolam “com atos os limites constitucionais” e compete privativamente ao Senado Federal processar e julgar os ministros em casos de crime de responsabilidade. Que ironia, logo ele para acusar alguém de crime de responsabilidade.

    A gente cansa. Cansa. Infelizmente, muitos cansaram e ficaram pelo caminho, cansaram até a morte, com falta de ar, intubados, por falta de vacina, e não estão mais entre nós pra contar uma história.

  • É golpe!

    O sociólogo Celso Rocha de Barros fez uma análise muito lúcida e interessante no início deste mês sobre o Brasil atual e o caminho conturbado e de incertezas que seguimos. Para Rocha, o certo mesmo é que “se houver golpe, vai ser para roubar”.

    Ele discorre em texto publicado na Folha sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro dizer que “ou a eleição de 2022 terá voto impresso ou ela não vai acontecer” e de como as Forças Armadas e todas as outras instituições da República deveriam ter publicado uma nota conjunta dizendo: “Jair, se der golpe, vai morrer. Abs.”

    Mas nada foi publicado, muito pelo contrário, os comandantes militares ameaçaram dar um golpe de Estado caso a CPI da Covid continue investigando oficiais bolsonaristas que roubaram (ou quase deu certo) dinheiro de vacina. A nota do Ministério da Defesa sobre a CPI e seu silêncio sobre o golpismo do presidente da República, a entrevista golpista do chefe da Aeronáutica, tudo isso é sintoma da degeneração moral que Jair Bolsonaro causou na República brasileira.

    Não à toa, pelos últimos acontecimentos na CPI, não será difícil encontrar marcas de batom nas cuecas do coronel da reserva Élcio Franco, homem de confiança de Pazuello — que há poucos dias apareceu uma grande “mancha” de corrupção em vídeo gravado quando tentava comprar vacinas pelo triplo do preço. Voltando ao coronel da reserva Élcio Franco, ele tem no currículo da CPI uma negociação em que uma mutreta de imunizantes teria acontecido.

    O sociólogo chama a atenção para a turma de 64 que tinha a decência de mentir que o golpe deles era para combater a corrupção. Era uma época em que o vício ainda prestava homenagem à virtude. Ao atacar o presidente da CPI do Senado, as Forças Armadas estão sinalizando, voluntária ou involuntariamente, que protegerão seus corruptos. E se houver golpe, vai ser para roubar.

    Para finalizar um mês de mutretas golpistas, chega o Braga Netto para infernizar nossa democracia. E não temos mais um dia de paz!

  • VENEZUELA

    Nos últimos anos, com certeza, vocês viram ou ouviram falarem que o Brasil não poderia se tornar uma Venezuela. Que “minha bandeira nunca será vermelha”. Retóricas que favoreceram sobremaneira a ascensão do presidente do Brasil Jair Bolsonaro, tornando-o o grande personagem contra os comunistas (leia-se petistas).

    Acontece que agora vivemos um período no Brasil que nos remete em tudo ao tão temido regime, abominável, miserável, do nosso país vizinho.

    Estamos trocando a carne pelo ovo, o arroz pelo macarrão, gás de cozinha pela lenha, e o ministro da economia fala em melhorar a vida dos mais carentes entregando restos de comida dos restaurantes. É a troca da decência pela vigarice.

    Como se não bastasse tamanho desdém contra os menos favorecidos, as agressões a direitos dos servidores públicos, do escandaloso teto de gastos, dos salários estratosféricos pagos no desgoverno, da matança de mais de 500 mil pessoas na pandemia, Bolsonaro agora tenta, descaradamente, calar opositores defendendo o julgamento de civis pela Justiça Militar por ofensas a instituições militares e às Forças Armadas. A informação consta em um parecer protocolado no STF (Supremo Tribunal Federal) e assinado pelo advogado-geral da União substituto, Fabrício da Soller.

    A Advocacia-Geral da União (AGU) baseia-se em pareceres elaborados pelas áreas jurídicas do Ministério da Defesa; do Exército, Aeronáutica e Marinha; e da Secretaria-Geral da Presidência da República.

    O parecer da AGU ocorre em meio à ação promovida no STF pela ABI (Associação Brasileira de Imprensa), que denuncia o silenciamento de jornalistas por meio de ameaças, hostilização, instauração de procedimentos de responsabilização criminal, censura via decisões judiciais, indenizações desproporcionais determinadas pela Justiça e ajuizamento de múltiplas ações de reparação de danos contra um mesmo jornalista ou um mesmo veículo de imprensa.

    Na ação, a ABI argumenta que as práticas são anticonstitucionais. O governo Bolsonaro discorda e pede punição aos críticos.

    “Se houver cometimento de ilícitos penais, mediante dolo ou ausência do dever de cuidado objetivo, deve haver sanção penal, (…) sob pena de conferir-se (…) um salvo-conduto para o cometimento de crimes contra a honra de militares, políticos e agentes públicos”, cita um parecer da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência.

    “Os delitos praticados por civil contra instituição militar são considerados crimes militares e, portanto, de competência da Justiça Militar”, afirmou a AGU.

    Que enrascada em que nos metemos, hein?

  • Genocida impresso

    “Pela volta do voto impresso! Urna eletrônica é coisa de ladrão!”

    Bem, a frase acima tem sido difundida pela legião de devotos do governo federal em defesa do voto impresso, que seria editável (eles acham que a urna eletrônica não tem controle). Ou é inocência ou pilantragem pura.

    O que vocês dizem sobre isso? Ou vocês acham que o brasileiro deixaria uma peste, Abigobal. Zé Mané. Zé Ruela. Abestalhado. Otário da bocona. Mané de bota. Chupa-cabra. Cri-cri. Mal-assombro. Mequetrefe. Frouxo. Rascunho do mapa do inferno. Fi dum que ronca e fuça. Fi da peste. Orelha seca. Pangaré. Catingoso. Fedorento. Peidão. Mistura de jabaculê com cobra-d’água. Cara de tabaco. Tabacudo. Zarolho. Ratoeira. Requengelo. Mal-acabado. Xexeiro. Infeliz das costa oca. Cão dos infernos. Cachorro da moléstia. Sapo-cururu. Chibata. Carai de asa. Asilado. Sebito baleado. Bocoió. Cara de fuinha. Mamulengo. Piranqueiro. Amarrado. Bicho véi leso. Catarrento. Arengueiro. Zambeta. Zureta. Chocho. Peste bubônica. Bexiga lixa. Bexiga taboca. Goguento. Cara de butico. Bexiguento. Troncho. Sobejo. Afolosado. Batoré. Bisonho. Brebote. Espinhela caída. Fuleiro. Folote. Fubento. Mal-amanhado. Miolo de pote. Fi duma égua. Mundiça. Roscói. Truscui. Despombado. Inhaca. Cambão. Encangado com Satanás. Gabiru. Mazela. Gasguito. Gastura no pé do bucho. Bucho de soro. Não tem no cu o que o priquito roa. Catrevagem. Do tempo do ronca. Doido bala. Catraia. Cão chupando manga. Febre do rato. Febre tife. Não vale um Cibazol. Besta amojada. Desmilinguido. Peitica. Ingembrado. Não dá um prego numa barra de sabão. Peguento. Presepeiro. Frangueiro. Topada no dedo mindinho. Cancro. Bicho véi paia. Donzelo. Cruzeta. Apombaiado. Peba. Fuleiragem. Aluado. Cu de novelo. Cu de boi. Miguezeiro. Cabrunco. Farrapeiro. Rafamé. Alma sebosa. Bocó. Mancoso. Morgado. Cabra bom de peia. Bom pra rebolar no mato. Ariado. Bate fofo. Entojo. Abilolado. Xeleléu. Visagem do capeta. Velhaco. Tamborete de cabaré. Sem futuro. Saliente. Seborreia. Pomba-lesa. Empata-foda. Perebento. Ferida lambida. Papangu. Monga. Laurça. Buchada azeda. Mal-ouvido. Grudento. Langanho. Juda. Garapeiro. Fi do cranco. Fi da gota-serena. Fiofó de macaco. Resto de sulanca. Encruado. Cheio de verme. Engelhado. Encardido. Enjeitado. Alcaguete. Jaburu. Caxumbeiro. Virado no satanás. Aperreio no juízo. Filhote de lombriga. Marmota. Não vale o peido duma jumenta. Babão de milico. Papa-figo. Véi do saco. Cafuçu. Garapeiro. Inferno da pedra. Mói de chifre. Quentura do pingo da mei dia. Remelento. Rola-bosta. Genocida, ter sido eleito em 2018?

    Faz-nos rir!

    Adjetivos da paródia nordestina criada pelo advogado de Campina Grande (PB), Olímpio Rocha, da versão de Mariliz Pereira publicada na Folha de S. Paulo, onde a jornalista usa adjetivos sudestinos para compor a imagem de Bolsonaro.

  • Ah, o brasileiro…

    O mês de março seguia como o mês mais mortal, o ápice de mortes e contaminação pelo coronavírus no Brasil. Hospitais chegaram à capacidade máxima, faltaram kits para entubação de pacientes em várias cidades do país, e a vacinação — até hoje — continua em um ritmo alucinante de deficiência, com um número pífio de imunizados. No mês de março ainda estávamos com uma média diária de duas mil mortes, chegando à terrível casa dos 3 mil óbitos em alguns dias. Em abril quebramos esse terrível recorde, e batemos as mais de 4 mil mortes em um único dia.

    No mês de março, um grupo de políticos e empresários, a maioria ligada ao setor de transporte de Minas Gerais, e seus familiares, tomaram a primeira das duas doses da vacina da Pfizer contra a Covid-19, em Belo Horizonte. Eles compraram o imunizante por iniciativa própria e não repassaram ao SUS (Sistema Único de Saúde), como prevê a lei. A segunda dose estava prevista para ser aplicada este mês, trinta dias depois da furada nada triunfal da fila. Nada triunfal por dois motivos: a indecência em furar a fila, e a ‘tromba’ que os senhores e senhoras de pouca vergonha levaram: cada pessoa pagou 600 reais por um placebo. Sim. Placebo. A Polícia Federal afirmou, no último dia 7, que exames realizados em algumas pessoas supostamente vacinadas pela cuidadora de idosos Cláudia Mônica Pinheiro Torres, em Belo Horizonte, a mesma que vacinou os políticos e empresários, demonstram que não houve aplicação de nenhum imunizante contra a Covid-19, e o número de vítimas pode passar de 2 mil.

    Para piorar o resumo da ópera, há informações de que a falsa enfermeira fez a “imunização” no grupo reutilizando seringas usadas anteriormente por uma pessoa soropositiva e eles necessitam realizar exames de detecção de HIV.
    E vocês aí achando que o humano sairá melhor da pandemia, hein? O brasileiro, com toda certeza, não sai.

  • Contando vacinas

    É totalmente compreensível cada vez mais o interesse dos brasileiros por assuntos antes ‘irrelevantes’, como os processos científicos — complicados ou não —, e o que as corporações multinacionais tramam sobre logística, as promessas governamentais conflitantes, a burocracia na regulamentação de vacinas, quais as que estão sendo utilizadas, as que ainda estão por vir, quando, quando, quando?… Às vezes esses questionamentos sobrepõem-se à treta ocorrida no Big Brother, e de tantas futilidades e do caos televisivo que estamos vivenciando, seja ou não iniciado com K. O que se esperava era que a pergunta “quando tomaremos a vacina contra a Covid-19?” fosse viralizada diariamente, afinal estamos à deriva no quesito logística de imunizante.
    Dia desses, nas redes sociais, um Papangu perguntou pela tão sonhada dose da vacina contra o Sars-CoV-2 e, de pronto, um seguidor recomendou que cobrássemos do resto do mundo também. Se pudéssemos cobraríamos, sim. Ora, mas não é melhor começar a cobrança por aqui? Diante do exposto, fomos então pesquisar a quantas anda a tão aguardada imunização mundo afora. E encontramos matéria veiculada na BBC com estudo bem recente da Economist Intelligence Unit (EIU), da revista britânica The Economist, que fez algumas das pesquisas mais abrangentes sobre o assunto, analisando a capacidade de produção mundial juntamente com a infraestrutura de saúde necessária. Isso tudo com o poderio monetário dos países, do poder de compra da vacina. O óbvio: é absurdamente desigual. Segundo a EIU, basta olhar para o Reino Unido e os Estados Unidos, que podem investir muito dinheiro no desenvolvimento delas e, assim, recebê-las primeiro. Os dados ainda apontam outros países igualmente ricos, como Canadá e os da União Europeia.

    Fica comprovado, inclusive, que, por ser superpotência de vacinas, não significa que sua população será vacinada antes dos outros. Exemplo maior seriam as duas das maiores potências mundiais de produção de vacinas, a China e Índia, que suas populações podem não ser totalmente vacinadas até o final de 2022. A resposta para isso é o número de habitantes e da escassez de profissionais de saúde.

    E segundo o estudo, a estimativa é que no Brasil a vacinação em massa só seja atingida na metade do ano que vem. Sim. Porque no estudo somos classificados, a exemplo de México, como país de renda média e que só teremos doses para imunizar grupos prioritários devido aos acordos firmados com os laboratórios em troca da execução de testes clínicos. Na América Latina, como Chile e Argentina, a previsão é que a população será imunizada somente em 2022. Já Paraguai, Guiana, Bolívia, Venezuela e Suriname, iniciando somente em 2023.

    No quesito “sorte”, o povo da Sérvia vai bem. É a oitava nação no mundo com a maior parcela de sua população vacinada, à frente de qualquer país da União Europeia. Isso porque se beneficia da chamada diplomacia da vacina — batalha travada entre a Rússia e a China por influência na Europa Oriental. É um dos poucos lugares onde a vacina russa, Sputnik V, e a vacina da fabricante chinesa SinoPharm já estão disponíveis. Eles podem até escolher brevemente se querem também se vacinar com a Pfizer, Sputnik ou a da SinoPharm.

    Mas, bem mesmo, de vera, está Israel, o país com a maior taxa de vacinação no mundo, com 69.46 vacinados para cada 100 habitantes.

    Inveja grande porque por aqui a ausência de um gestor vai fazendo uma falta danada.

  • Esperança

    A disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, se transformou no grande impasse para que a vacina (não) chegue ao brasileiro. A indecência em transformar a imunização em moeda eleitoral para 2022 só atrapalhou o Brasil até agora.

    Na última semana, enquanto pessoas morriam em Manaus por falta de oxigênio, a protagonista Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) dominada por militares, deu um show ao vivo na TV e aprovou a Coronavac e a vacina de Oxford para uso emergencial. Após o anúncio, um show de horrores liderado pelo ministro da saúde, Eduardo Pazuello, que falava até em judicialização devido a equipe do governo de São Paulo aplicar a primeira vacina aqui no Brasil em Mônica Calazans, enfermeira de 54 anos, há oito meses na linha de frente do combate ao coronavírus no Hospital Emílio Ribas.

    A birra de Pazuello é até compreensiva, pois foram várias tentativas frustradas para adquirir uma vacina para que o governo chamasse de sua. Mas foi exatamente a chinesa que passou a ser a menina dos olhos nos planos do governo. Ironia, ver isso acontecendo com a Coronavac, a vacina que o bolsonarismo fez campanha difamatória, desdenhando da taxa de eficácia, nas redes sociais.

    Essa queda de braço entre os governo federal e o de São Paulo, todos sabem, envolveu até a Índia, na semana passada, que enviaria, segundo Pazuello, dois milhões dos imunizantes, o “de Oxford”, para que o ministério da saúde iniciasse seu próprio show, chegando antes da vacinação anunciada por Doria. Entretanto, a aeronave que seria enviada para o transporte da valiosa carga, só conseguiu uma maquiagem de alguns metros de peça publicitária feita pelo governo. O que deixaria também escancarada a incompetência do ministro de relações exteriores Ernesto Araújo. A peleja, ao que tudo indica, foi resolvida, após uma semana de atraso. A carga tem previsão de chegada hoje ao Brasil.

    Não podemos esquecer que o Doria segue paralelamente atiçando, em shows programados, com frases bem elaboradas sobre a vacinação. “Imunização para todos”, “a vacina é povo brasileiro”, “São Paulo não vai deixar ninguém de fora”… Infelizmente, até agora, não se sabe de números precisos, da quantidade de doses, do tempo e de como chegarão de fato aos cidadãos. Além do descalabro dos “fura filas”, espalhados por todo o Brasil.

    Para nós, nordestinos, a situação é ainda mais dramática, pois até o consórcio composto por governadores, que tinha como alternativa a compra da vacina russa Sputnik V, se frustrou. A Anvisa restituiu ao laboratório União Química a documentação referente ao pedido de seu uso emergencial por não apresentar “requisitos mínimos para submissão e análise.”

    Não esqueçamos: No Brasil, são 98 mortes por 100 mil habitantes. A situação é melhor que o Reino Unido, com 129/100 mil; e Estados Unidos (115/100 mil). Mas não podemos nos comparar com os últimos da tabela. Os líderes, tipo Israel, contabiliza 41/100 mil habitantes; Alemanha, com 9,5 a cada 100 mil pessoas; e China, com a impressionante marca de 0,3/100 mil.

    São muitas perguntas ainda sem respostas. E muitas respostas mentiroras no WhatsApp. Mas, a pergunta mais importante de todas é se a vacina do Butantan é ruim como o governo sempre falou? Sua eficácia é de 50,4%. Você se “arriscaria”? Comente abaixo!

    Nós, papangus, não queremos nem saber de outras: já estamos com os braços esticados esperando pelas vacinas Coronavac ou a de Oxford.
    Esperança. Um vitória da ciência. Tim, tim!