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  • Dudu Galvão protagoniza espetáculo teatral em São Paulo e se prepara para lançar seu primeiro EP

    Por Ana Cadengue

    Imagens: Joao Caldas

    Formado em Artes Cênicas pela UFRN e ex-integrante dos Clowns de Shakespeare – um dos mais importantes coletivos teatrais do país – o ator Dudu Galvão já tem quase 20 anos de carreira profissional, atuando em dezenas de espetáculos com passagem por importantes festivais nacionais e internacionais, temporadas em espaços culturais dentro e fora do país, além de trabalhar com mestres da cena brasileira contemporânea. Seus mais recentes trabalhos em teatro são “Morte e Vida Severina” que estreou neste mês de abril (2022), em São Paulo (Produção Morente Forte), como o protagonista Severino, e a obra “SINAPSE DARWIN” (Produção da Casa de Zoé, Titina Medeiros).

    Dudu Galvão também integrou a famosa montagem de “Sua Incelença, Ricardo III (Clowns), com direção de Gabriel Villela, premiada internacionalmente. Possui formação em dança (clássico e moderno) e acrobacia de solo, bem como é experiente como cantor profissional há dez anos, numa jazz band. No cinema potiguar, protagonizou “Janaína Colorida Feito Céu” e “Sailor”, ao lado de Pedro Fasanaro, curtas premiados mundialmente, além do inédito “A Caixa de Lázaro”, produção local que estreia ainda esse ano, onde também interpreta o personagem protagonista da trama.

    Na música, com cerca de 10 anos de carreira, Dudu está prestes a lançar seu primeiro álbum autoral, intitulado “Minha Casa, Meu Jazz”, um EP com seis faixas inéditas, com produção e direção musical de Eduardo Taufic.

    A gente bateu um papo com Dudu sobre sua carreira e esse momento importante em sua vida.

    CLOWS

    “Acho que posso começar falando sobre essa minha transição, né de sair de um grupo de teatro, dos Clowns… Foi no momento ainda de pandemia que tomamos essa decisão juntos, a partir de percepções de interesses diferentes em que o grupo estava seguindo e eu também. E foi de uma forma tranquila, digamos assim, porque uma partida é sempre difícil, mas foi muito no sentido de buscar outras possibilidades criativas, né? Foi realmente um desejo interno, algo que foi sendo maturado, não tinha outro projeto. Mesmo assim, eu dedico toda a minha toda a minha formação a esse grupo com quem trabalhei durante 15 anos, a essas pessoas que fizeram parte dessa história e eu tenho só gratidão por estar me sentindo privilegiado de hoje poder colher bons frutos.

    TRANSIÇÃO

    Eu sempre me envolvi, acho que talvez de uns cinco, seis anos para cá que eu acabo sendo um pouco mais aberto para me envolver como diretor de movimento e assistente de direção de outros espetáculos em Natal. Além do meu trabalho com música, eu também estava já muito desejoso de me aprofundar e trabalhar com outros grupos, com outros artistas.  Isso me enriquecia muito e eu levava de volta para os Clowns. Um desses projetos que destaco foi o Meu Seridó, né? Que foi minha primeira grande direção de movimento. Me agreguei junto a Titina Medeiros e César Ferrário, um espetáculo belíssimo, que inclusive vai estar aqui em São Paulo em julho.  Depois, eu repeti a dose no Sinapse Darwin, só que no meio do processo pintou a chance de entrar em cena. Já tinha saído do Clowns e foi uma realização maravilhosa um espetáculo que tem aí uma vida grande pela frente e que eu também vou estar junto.

    MÚSICA

    É outro projeto que está finalizando, está agora no processo burocrático, é o lançamento do meu primeiro álbum autoral. Já tem praticamente 4 anos que eu gravei a primeira faixa. E aí dei um gás também na pandemia. Depois da saída do grupo, isso também me facilitou muito ter tempo para dedicar as composições e a entrar em estúdio. Fiz uma parceria linda com Dudu Tawfic e o CD está lindo. É um EP na verdade, com seis canções. Já está pronto para ser lançado. Eu estou fazendo a parte de inscrição nas plataformas e de registro também, já que eu preciso me inscrever como compositor para que eu possa ter segurança na distribuição. Eu estou muito feliz, só deixando essa poeira baixar aqui do Morte e Vida Severina pra começar também a cair de cabeça nesse lançamento que deve acontecer até o final do semestre. Ficou um trabalho primoroso, a minha cara… muito jazz e muita brasilidade, nordestibilidade, misturando aí essas linguagens que eu gosto muito. É uma música muito visual, o Dudu Tawfic conseguiu fazer um arranjo cinematográfico para as músicas e eu estou muito ansioso para lançar isso para a galera.

    MORTE E VIDA

    Essa realização profissional como protagonista de uma grande produção aqui em São Paulo, né? O Morte e Vida Severina tem uma história icônica de premiação internacional e a gente estreou no mesmo palco 56 anos depois e eu ter sido agraciado, escolhido entre centenas de candidatos para viver o personagem principal é um sentimento de… sei lá de… eu posso dizer de abertura de um novo ciclo na minha carreira e também o resultado de muito trabalho. São quase 20 anos que eu sigo assim trabalhando, não para chegar nesse lugar, mas de emprestar o meu corpo, minha voz e minha alma para esse ofício. Então, eu estou absolutamente realizado. A produção é maravilhosa. A gente estreou no último dia 16 e segue em temporada por dois meses e meio até o final de junho no Tuca, numa cidade em que a cultura está voltando a se movimentar de forma mais intensa depois da pandemia flexibilizar um pouco. Sei que isso ainda não terminou, mas a gente consegue agora ter mais circulação de pessoas com a vacina, né? Está um movimento bonito das pessoas voltarem ao teatro, as apresentações lotadas, os nossos ingressos com uma procura muito grande. E é isso. Foi uma identificação imediata em fazer parte desse projeto porque é falar de Nordeste, é João Cabral de Melo Neto, é um grande clássico, né? A gente tem mais dois potiguares na equipe, o diretor musical Marco França e a atriz Badu Moraes, que já mora aqui há cinco anos e é de Parnamirim e está arrasando como todo o elenco maravilhoso, outros nordestinos migrantes.

    SEVERINO

    Não tinha como dizer não quando eu recebi a ligação dizendo que eu tinha sido escolhido para viver o Severino, né? É um personagem muito desafiador. Talvez o maior desafio da minha vida como ator. E com certeza, ele vai sendo moldado com essa temporada, mas já tá aí num lugar muito gostoso essa coisa do merecimento, de você enquanto artista conquistar coisas que te fazem continuar trabalhando. Então, está sendo um momento muito bonito e quero te agradecer também por estar tendo essa oportunidade de falar mais sobre isso.

    Morte e Vida Severina volta ao Teatro Tuca após 56 anos

    A mais popular obra de João Cabral de Melo Neto retornou neste mês de abril ao Teatro Tuca, local em que estreou, em 1965. A nova montagem recebe a direção de Elias Andreato e reúne, no palco, 13 jovens talentos de várias cidades do Brasil, principalmente do Nordeste, e cinco músicos, que darão tom às composições de Chico Buarque, sob a direção musical de Marco França.

    A produção do espetáculo é da Morente Forte Produções Teatrais e envolve uma

    equipe renomada de criativos. O cenário tem a assinatura do artista que nos deixou recentemente, Elifas Andreato; os figurinos, de Fábio Namatame; desenhos de luz de Elias Andreato e Júnior Docini; desenho de som, de Marcelo Claret; e direção de movimento, Roberto Alencar.

    A ideia de produzir Morte e Vida Severina partiu de um sonho da dramaturga e

    produtora Célia Forte que, aos 16 anos, assistiu a peça no extinto Teatro Markanti. E a realidade se fez. “Trazer à baila, nesse momento, a poesia de João Cabral de Melo Neto e as composições de Chico Buarque, num Brasil com tantos ´brasis´, é tão necessário e forte, tão necessário e poético, tão necessário e seco e tão necessário e vivo”, acredita.

    Se esse espetáculo marcou a vida da dramaturga e produtora, a ponto dela ter certeza, ainda na adolescência, que “queria fazer isso da vida”, o diretor do espetáculo, Elias Andreato, tem uma forte relação com o autor. “Fiz minha estreia no teatro amador com a peça O Rio, de autoria de João Cabral de Melo Neto. Essa montagem de Morte e Vida Severina reúne um elenco de jovens talentosos e uma equipe de ´fazedores de arte´ comprometida em criar um espetáculo emocionante em sua essência”, conta Andreato.

    A obra Morte e Vida Severina é um auto de natal pernambucano, publicado em 1954/55, e que teve sua estreia nos palcos na inauguração do Tuca, em 1965. Na época, Roberto Freire era o diretor do teatro e partiu dele o convite para Chico Buarque musicar a obra de João Cabral de Melo Neto, o que acabou se transformando em um sucesso que atravessou fronteiras.

    A peça faz um relato sobre a vida e trajetória árida do povo do sertão nordestino, ainda desconhecidas pela maioria. O sofrimento enfrentado por Severino, na montagem representado por Dudu Galvão, ator natural do Rio Grande do Norte, é um retrato – ainda atual – dos migrantes nordestinos que buscam uma existência mais digna nas grandes cidades.

    Em sua viagem rumo a uma vida melhor, Severino se depara com situações de morte, desespero, de miséria e fome. Ao chegar à capital pernambucana se desilude, pois a realidade que encontra ali não é muito diferente da do sertão. Pensa em suicídio, mas o nascimento de uma criança faz renascer sua esperança, apesar das dificuldades. Assim, a saga nordestina se desenha, revelando a alma de um povo que caminha forte em sua fé.

    Para Dudu, “é um sonho de muito tempo, acontecendo no momento certo. Estrear em São Paulo, voltar a pisar no teatro com essa obra magnífica, sendo meu primeiro protagonista, depois de quase vinte anos de carreira, um nordestino no centro do palco! É muita emoção. Quando recebi a notícia, me senti

    muito honrado em poder dar voz a esse personagem tão icônico e desafiador. Arrumei as malas e saí de Natal com muita alegria no peito”, vibra o potiguar, escolhido entre centenas de artistas que mandaram seu material para as audições no começo deste ano.

    Nesse poema, João Cabral de Melo Neto abusa da linguagem poética sem deixar de lado aspectos sociais e políticos. O texto marca, inclusive, o momento em que a arte é usada para manifestações políticas no país. Os versos são curtos, sonoros (geralmente com sete sílabas) e quase musicais, lembrando as poesias de cordel. A sonoridade, portanto, é um elemento importante da obra. “Imagine um restaurador diante da Monalisa. Me sinto assim mexendo com essa obra de João Cabral e Chico Buarque. Pôr as mãos no sagrado requer muito cuidado, respeito e escuta. Preciso deixar os poetas ecoarem livremente sem que eu os atrapalhe. Deságuo a cada dia e agradeço por esse privilégio”, afirma o diretor musical, Marco França.

    Para a produtora Selma Morente, a temática do texto é urgente e necessária. “Revisitar essa obra em um momento tão difícil e desafiador é dar voz aos tantos Severinos espalhados pelo país, que não fogem só da seca, mas do preconceito, da fome, da exclusão, da marginalização”, acredita Morente.

    O diretor Elias Andreato concorda: “Nesse país tão plural, doloroso e esperançoso, somos todos Severinos em busca de poesia e dignidade”.

    A nova montagem de Morte e Vida Severina emprega, direta e indiretamente, cerca de 150 profissionais e fica em cartaz até o dia 26 de junho no TUCA, em São Paulo.

    Ficha Técnica

    Da obra de JOÃO CABRAL DE MELO NETO

    Músicas de CHICO BUARQUE

    Direção Geral ELIAS ANDREATO

    Direção Musical, Arranjos, Aboios e Lamentos (original) MARCO FRANÇA

    Voz MARIA BETÂNIA

    Poema Seca de DJAVAN

    ELENCO

    DUDU GALVÃO – Severino

    ANDRÉA BASSITT – Cigana 2

    BADU MORAIS – Mulher da Janela

    BEATRIZ AMADO – Retirante e flauta

    FERNANDO RUBRO – Retirante

    GABRIELLA BRITTO – Retirante

    IVAN VELLAME – Retirante

    JANA FIGARELLA – Funeral

    JOÃO PEDRO ATTUY – Coveiro 1

    JONATHAN FARIA – Mestre Carpina

    PABLO ÁSCOLI – Retirante

    PATRICIA GASPPAR – Cigana 1

    RAPHAEL MOTA – Coveiro 2

    MÚSICOS

    BEATRIZ FRANÇA – Contrabaixo acústico e baixo elétrico

    BRUNO MENEGATTI – Rabeca e violão

    DICINHO AREIAS – Sanfona

    RAPHAEL COELHO – Percussão

    RICARDO DUTRA – Viola e violão

    Cenário ELIFAS ANDREATO

    Figurino FABIO NAMATAME

    Desenho de Luz ELIAS ANDREATO e JÚNIOR DOCINI

    Desenho de Som MARCELO CLARET

    Direção de Movimento ROBERTO ALENCAR

    Assistente de Direção Geral JÚNIOR DOCINI

    Assistente Direção Musical, Preparação Vocal, Pianista Ensaiador MARCELO FARIAS

    Assistente de Cenário LAURA ANDREATO

    Cenotécnico – FABIN CENOGRAFIA e EDÉSIO BISPO

    Assistente de figurino – ANDRÉ VON SCHIMONSKY

    Modelista – JULIANO LOPES

    Costura – FERNANDO REINERT e MARIA JOSÉ DE CASTRO

    Operador de Som THIAGO H. SCHAFFER

    Microfonista GABRIEL VILAS

    Operador de Luz JUNIOR DOCINI e RAFA INÁCIO

    Contrarregragem/Camareiros FÁBIO OLLYVER e TONINHO PITA

    Coordenação de Comunicação BETH GALLO

    Assessoria de Imprensa – MORENTE FORTE – THAIS PERES

    Programação Visual LAERTE KÉSSIMOS

    Fotografia JOÃO CALDAS F°

    Assistente de fotografia: ANDRÉIA MACHADO

    Filmagem JADY FORTE

    Redes Sociais e Textos ANA PAULA BARBULHO

    Coordenação Administrativa DANI ANGELOTTI

    Assistência Administrativa ALCENÍ BRAZ

    Assistente de Produção NANA GENOVEZZI

    Administradora da temporada MAGALI MORENTE LOPES

    Produção Executiva MARTHA LOZANO

    Produtoras SELMA MORENTE e CÉLIA FORTE

    Serviço

    Morte e Vida Severina

    TUCA (670 lugares)

    Rua Monte Alegre 1024, Perdizes, São Paulo

    Sexta e sábado: 21h

    Domingo: 19h

    Ingressos:

    Sexta-feira – R$ 80

    Sábado e domingo – R$ 100

    VENDAS: https://bileto.sympla.com.br/event/71954/d/129792/s/809556

    Ou nas bilheterias do TUCA.

    TEMPORADA ATÉ 26 DE JUNHO

    Todas as últimas sextas-feiras haverá sessão em Libras.

  • Invernada

    De Natal a Baraúna, passando por Mossoró, São Rafael, Assú e mais um bocado de cidades no meio do caminho, muita chuva e uma vegetação verdejante. Os garrotes tudo gordinho, como diria meu sogro, agricultor calejado e aposentado há um bom par de anos. Nuvens de todos os tamanhos, calibres e cores. Formas também, já que eu passo boa parte da viagem olhando pro céu. O sol se insinua em alguns momentos e se deixa adivinhar pela mudança na paleta celeste. Carneirinhos se transformam em coelhos que viram porcos, jacarés e unicórnios antes que mudem para verdadeiros temporais. O som dos trovões se sobrepõe ao rock que sai do celular. Eparrê! Saúdo mentalmente pedindo proteção à Iansã enquanto cruzamos o estado e os desafios. Nas paradas para refeições e uso do banheiro, alguns alongamentos tentam minimizar as dores que com certeza virão. Reuniões de trabalho se sucedem aos encontros com amigos. Ou seria o contrário? Bom conhecer pessoas novas, melhor ainda é rever quem gostamos, tomar cerveja, rir desbragadamente, cantar a plenos pulmões, se entregar a abraços. As conversas se atropelam e os assuntos ficam inconclusos como se a aguardar o próximo encontro. Poucas horas de sono, mais estrada e a vontade de chegar num novo lugar. Gosto de correr campo, falar com gente, conhecer histórias. Um sentimento de esperança é percebido junto com a certeza de um bom inverno pro sertanejo. Tempo bom de plantar pra colher na primavera. Pelas minhas andanças, o que mais se planta é o desejo de um amanhã melhor. E eu sinceramente espero que a água das chuvas lave as ruas, almas e mágoas e desemboque num futuro que já vivi. E ainda me lembro.

  • Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô…

    A voz de Jorge Ben – sou dessa época – ressoa na minha cabeça me lembrando que em fevereiro tem carnaval. Se for sincera, diria que ecoa em todo meu corpo. É, exatamente o que você imaginou, a minha carne é de carnaval.

    E, se os tempos não deixam que, assim como Moraes Moreira, “eu viro toca, eu viro moita”, me conformo em virar a foliã do bloco do “ensaia, mas não sai” ou do “eu sozinha” mesmo. As sombrinhas de frevo se juntam às máscaras de papelão colorido e aos colares havaianos enfeitando as paredes do terraço e trazendo um alento à minha alma foliã.

    “Sonhei que estava em Pernambuco/Fiquei maluco/Quando o frevo passou/Mas, quando estava no melhor da festa/Ora, esta alguém me despertou…”. Sei que é clichê, mas nada define melhor minhas últimas aventuras no reino de Morfeu do que o frevo de Antônio Nóbrega.

    Penso em Carnaval e as velhas marchinhas, sambas, frevos e maracatus invadem minha mente. A memória se atropela, subo e desço ladeiras, canto com blocos líricos, me impressiono e divirto com a criatividade das fantasias e adereços, pulso com a energia que vem do chão num mar de gente.

    Não vai ser neste ano que vou cantar “Voltei Recife”, mas a saudade que me pega pelo braço e pernas vai tentar se resignar com mais um ano de espera e de pequenas reuniões ao som das melodias que acalantam minha alma foliã. Porque Carnaval que se preze e se escreve com o C maiúsculo é festa popular e alegria de um povo.

    E já que hoje não tem clarins de Momo aclamando com todo ardor, fica a reverência dos que sabem bem ao que brindam quando gritam Evoé!  “E viva o Zé Pereira/Pois a ninguém faz mal/E viva a bebedeira/Nos dias de Carnaval”.

    Viva o Zé Pereira. E viva o Carnaval!

  • Nem Alice, nem maravilha

    Que princesas que nada, o personagem da literatura infantil com o qual sempre me identifiquei é o coelho, da Alice. Principalmente depois que cresci. “Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!”. A frase que desencadeia toda a maratona no país das maravilhas, me persegue há anos. Bom, pelo menos desde que assumi essa tal de vida adulta.

    Trabalho, casa, menino, marido, cachorro, jardim, papagaio… Falando assim pode até parecer exagero, mas se coloque no lugar de uma mãe/dona de casa/trabalhadora que você vai ver que eu não estou brincando. Fico até de boca aberta quando a mulher no caso tem mais de um filho.

    Gente, é quase insano dar conta de tanta coisa e ser boa nisso. Caprichar no almocinho, comprar as roupas da família – tá bom: lavá-las, passa-las e remendá-las também -, acompanhar as lições da escola, limpar e arrumar a casa, cuidar do jardim, ser uma profissional eficiente, uma companheira dedicada e mãe presente. Ah, e ainda tem que manter a boa estampa.

    Ok. Algumas têm ajuda de diaristas, mães, filhos e até companheiros. Outras de nós nem ligam tanto assim para tudo isso. Ainda há as que jamais saberão quem foi Amélia. Existem também as que se colocam naturalmente no papel. Confesso meu esforço e que não sou me saio lá essas maravilhas.

    “Estou atrasado! Estou atrasado!”. A voz do coelho ecoa no momento em que abro os olhos. E assim que consigo calar a vontade de virar pro lado e não fazer nada, começo a planejar o dia. Pelo menos rascunhá-lo. Nunca fui muito boa com planos mesmo. Me sinto meio Cebolinha…

    Mas, aí já é outra história.

  • 2022

    Por Ana Cadengue

    Imagina, pois, que num navio ou numa frota existe um capitão mais corpulento e robusto que os seus comandados, mas um tanto surdo e curto de vista, também não muito forte no que tange aos conhecimentos náuticos. Os marinheiros estão em disputa sobre o governo do navio, convencido cada qual de que tem direito a assumir o leme, sem jamais ter aprendido a arte de timoneiro nem poder indicar quem foi seu mestre ou a ocasião em que estudou; muito ao contrário, asseveram que isso não é matéria de estudo e, o que mais é, estão dispostos a fazer em pedaços quem quer que os contradiga”.

    A alegoria do navio é uma história contada por Platão no livro A República, mas bem que serve para dar uma ideia do que acontece no verão potiguar que antecede mais uma eleição estadual. Entre convescotes, encontros e comezainas, balões de ensaio, ou melhor, garrafas são lançadas num oceano de interesses e interessados para ver qual consegue chegar à terra firme e lograr seu intento.

    Candidaturas, pré-candidaturas, inclinações, histórias de vida, declarações, provocações e toda e qualquer coisa que renda um mínimo de arrebatamento são usadas nesse arsenal sem fim que a política, assim como o amor e o ódio, alimenta e mantém.

    Esses sujeitos rodeiam o comandante, instando com ele e empenhando-se para por todos os meios para que lhes entregue o timão; e sucede que, não logrando persuadi-lo e vendo que outros lhes são preferidos, dão morte a estes e os lançam pela borda, embotam os sentidos do honrado capitão com mandrágora, vinho ou qualquer coisa e se põem a mandar no navio apoderando-se de tudo que nele existe”.

    Enquanto os marujos conchavam e travam suas lutas, o populacho se vê perdido num mar de notícias e factoides que testam o humor da turba e, qual biruta, podem indicar para onde os alísios levam ou se existe a possibilidade de um inesperado vento forte que mude o rumo ora observado dessa verdadeira nau dos agarrados.

    “Alianças mais amplas e oligarquias representativas”; “Quem vai enfrentar Fátima?”; “De olho na ALRN, parlamentares devem migrar para PSDB em 2022”; “Bolsonaro entre o ‘excelente’ e o ‘fantástico’ no Rio Grande do Norte”; “Não estou MDB. Eu sou MDB” afirma o ex-deputado Henrique Alves”; “A independência de bancada vazia de João Maia”; “Candidatura permanecerá, se for consenso da oposição’, afirma Benes Leocádio”; “Fábio Faria ou Rogério Marinho para o Senado: quem vence a disputa pela preferência de Bolsonaro?”; “Lideranças do MDB impacientes com a lentidão para formação de chapa”; “Henrique defende que Álvaro Dias avalie candidatura ao Governo”; “Presidente do PL João Maia afirma que não apoiará reeleição de Fátima e deputados do seu partido poderão migrar para o PSDB” e “Fábio Faria em Mossoró e Rogério Marinho em São Gonçalo: ministros levam dinheiro aos maiores eleitorados do RN a 2 meses de deixarem os cargos”  são alguns exemplos de marolas nessa aparente calmaria da política potiguar.

    Como se inspirados nas piscinas com ondas, os timoneiros usam seus imediatos para agitar a madorna reinante. “A quem interessa a candidatura do prefeito Álvaro Dias ao governo do RN”; “Governo do estado rebate por meio de nota as acusações feitas pelo ministro Fábio Faria”; “Articulador do Governo Fátima foca em aliança com o MDB: ‘Porque ninguém ganha uma eleição sozinho’”;  “Mineiro desafia Fábio Faria: “por que você não sai candidato a governador do Estado?”; “Jean Paul sobre indefinição de Carlos Eduardo que ora quer ser governador, ora senador: ‘Fica cheirando os dois lados, isso é falta de personalidade’”; “De Jean Paul sobre Rogério Marinho: “Prometeu geração de emprego e só entregou desemprego e desespero. É o pai do desemprego”; “Henrique está sendo escorraçado do MDB”; “Justiça Federal aceita denúncia contra Agripino e mais dois acusados”; “Candidatura de Álvaro Dias a governador não passa de engodo da oposição, e abril mostrará a certeza”.

    Nessa nau catarineta, que há mais de um ano e um dia que vaga pelo mar, apesar de muitos já não terem o que comer e outros sem ter o que manjar, há também os que não se furtam ao desperdício, como a deputada que afirmou poder “engolir agora para cuspir depois”. Ou mesmo o deputado pião, ou seria peão, que patrocina eventos antivacina e espalha notícias falsas sobre “nanobots” que entrariam na corrente sanguínea e seriam capazes de governar o mundo ou matar a todos, escolham.

    Enquanto uns preferem ao mar se jogar, antes que lhe comam os ferozes peixes , um senador da República numa inaudita e aplaudida atitude, como um gajeiro ao anunciar alvíssaras, desvia de memes e fofocas sobre sua sexualidade, contorna preconceitos e quase causa um tsunami ao assumir um “Por que não?”.

    Voltando a Platão e à sua alegoria do navio ou a nau 2022 em nosso sofrido estado, “E assim, bebendo e banqueteando-se, prosseguem a viagem da maneira que seria de esperar num caso desses. Àquele que toma o seu partido e os ajuda a apoderar-se do comando pela persuasão ou pela força chamam-no homem do mar, bom piloto e entendido em náutica, ao mesmo tempo que tacham de inútil ao que não procede assim; e tampouco entendem que o bom piloto deve preocupar-se com o ano, a estação, o céu, os astros, os ventos e tudo mais que se relaciona com a arte se pretende realmente qualificar-se para a direção de um navio – e, estando verdadeiramente qualificado, ele é quem tem dirigi-lo, queiram os outros ou não”.

    Como já dizia o general romano Pompeu, no século I a.C., ao encorajar os marinheiros receosos, “Navigare necesse, vivere non est necesse”. Assim, a revista Papangu incorpora o espírito argonauta e só espera que nessa briga entre rochedos e mares, marujos e capitães, peixes grandes e arraias miúdas, o Rio Grande do Norte não acabe mesmo é morrendo na praia. 

  • Esperançar

    O som do tatibitate infantil, cantigas e risadas que entram pela janela mostram que as férias chegaram trazendo as netas dos vizinhos para uma temporada que parece estar sendo divertida. Sei que são duas meninas, uma com seus 3 anos e outra mais bebezinha. Do meu quarto, enquanto escrevo, acompanho as tão conhecidas brincadeiras de infância e inspiro fundo quando a memória chega com uma avalanche de lembranças e me levam à criança que ainda vive dentro de mim, mas que andava meio escondida nos últimos tempos.

    Ninguém aqui está dizendo que a vida é fácil, mas – vamos combinar – que os últimos anos têm cobrado um preço altíssimo à saúde mental de todos. Bom, pelo menos àquela parcela da sociedade que se preocupa com o entorno, com o local em que vive, as pessoas ao redor. Sinceramente, não consigo ignorar a miséria que avança, desemprego, precarização, perdas de direitos, negacionismo.

    A criança que ainda sou continua se entristecendo diante das desigualdades, se emocionando com a miséria, se indignando com descaso e casuísmos políticos. Sim, sempre fui solidária e tentei me colocar no lugar dos outros. Nunca fui indiferente à dor e sofrimentos alheios e costumo fazer o possível para de alguma forma ajudar, seja com um abraço, um auxílio financeiro, um prato de comida, uma roupa usada, um sapato, divulgando alguma iniciativa, fazendo uma vaquinha, lutando por direitos e contra abusos.

    Quem pensa que as coisas caem do céu não tem a menor ideia de quantos caíram presos e mortos e machucados na luta por direitos hoje considerados até chatos, como a obrigação de votar e escolher os nossos representantes ao invés de aceitarmos a indicação de apaniguados da ditadura. Ou com a exigência de concurso público para cargos e funções públicas que antes só eram ocupados por parentes e amigos do rei.

    Educação pública e gratuita, Sistema Único de Saúde, estabilidade do servidor público concursado, eleições diretas, direitos trabalhistas, salário mínimo com correção anual, regularização profissional, entre outras tantas coisas, são fruto da pressão de movimentos sindicais e populares. São conquistas e não dádivas. Que precisam melhorar, ser aperfeiçoadas, precisam. Arregacemos as mangas, a luta é constante.

    Se menciono tudo isso é porque a criança que mora em mim sempre sonhou com a igualdade social. E continua sonhando. A voz do povo chileno cantando num vídeo que circula por aí me levou às lágrimas porque me reconheci no canto e na esperança. “De pie, luchar/Que vamos va a triunfar/Avanzan ya/Banderas de unidad/Y tú vendrás/Marchando junto a mí/Y así verás/Tu canto y tu bandera florecer…”.

    O final do ano não é o final dos tempos, como diria o Drummond. Que seja, então, um começar de novo, onde, apesar dos que aí estão, há de ser outro dia. Um dia em que sonharemos juntos com um país melhor e mais justo.  E o faremos assim.

  • Maria

    Mal amanhecia, lá ia Maria em sua faina diária. Mulata sestrosa, pés e mãos um tanto quanto toscos, venta larga e um sorriso que tirava qualquer um do sério. Sem contar com a bunda, imponente qual tanajura e de fazer inveja a certas melancias.

    Tinha orgulho do corpo porque era dele que tirava seu sustento. Não que fosse dada a prazeres e dinheiro fáceis. Era lavadeira e também trabalhava como diarista. Dessa lida saía o sustento seu e de seus filhos.

    Após andar um bom par de léguas, pegar dois ônibus lotados e novamente caminhar, Maria chegou ao seu trabalho do dia. Uma pilha de roupa suja esperava a ela e ao sabão. Depois ao ferro.

    “Vixe, dessa vez o povo exagerou”, pensava, enquanto em voz alta perguntava à patroa tão Maria quanto ela, mas que preferia ser chamada pelo correspondente estrangeiro:

    – Teve festa, dona Mary?

    – Não, só umas visitinhas de parentes.

    Enquanto separava os panos de prato, guardanapos e toalhas de mesa sujas de molho de tomate e gordura para colocar de molho, Maria pensava nos acepipes que deviam ter servido para deixar tanta coisa suja.

    Gostava de comida. De comer e de fazer pratos diferentes. Que ninguém viesse com o arroz e feijão de todo dia porque aí só saía arroz e feijão mesmo, junto com um ovinho, que ninguém é de ferro.

    Quando era mais nova, não sabia cozinhar quase nada. Era arroz e ovo, ovo e arroz, arroz com ovo… lembrou ela, se rindo ao pensar nas crianças de que tinha cuidado e que não comiam outra coisa dia após dia por pura falta de habilidade culinária dela.

    Hoje não, já se aventurava entre as panelas. Aprendera por causa dos filhos. Gostava de repetir em casa o que via e comia na casa de quem prestava serviço. Nada muito chique, mas dava para sair um creme de galinha ou mesmo um estrogonofe de carne.

    Ser mãe tinha virado a vida dela cabeça pra baixo. Ou seria pra cima?  Engravidara muito jovem, de uma aventura que não dera certo. Conheceu um rapaz bonito, aceitou convite para sair e depois de algumas bebidas a que não estava acostumada, fora deixada num motel desacordada. O sortilégio resultou num varão.

    A gravidez fora bem aceita pela mãe, também Maria, e pela patroa da época. O menino nasceu sadio e deu início a uma nova fase na vida dela. Agora, já não era sozinha.

    Desde menina aprendera a ganhar a vida na casa dos outros, pensava assim que um dia conseguiria ter sua própria casa. Sempre creu que o sonho não era vão. E não foi. Casou, teve outros filhos, ficou viúva, comprou a casa. Vieram os netos, sua alegria. A aposentadoria não tardou e Maria hoje se dá ao luxo de só cuidar dos seus.

  • Home sweet office

    A escrivaninha ao lado da cama me faz lembrar logo que acordo que produzir é preciso. Atualizar blog, escrever textos para a Papangu na Rede, preparar projetos, terminar uns cursos… É, eu que sempre estive por aí, fui trazida pra casa pela pandemia. Primeiro na versão tupiniquim de lockdown e depois pela perda do emprego. Após um necessário descanso e de muita  reavaliações e projeções e prospecção de desejos, aqui estou: “home sweet office”.

    Se bem que nem tudo é sweet assim. Aprender a administrar seu tempo e suas “personas” é imperativo. Mas, como se chatear por ser interrompida no meio de um texto por uma mãe que acabou de chegar de sua recém-matriculada academia de musculação? Ou pelo filho que também está às voltas com aulas online e vem contar a última da turma, da net, dos jogos? Falar o que para o companheiro que pede opinião sobre o mais novo quadro ou texto?

    Se comparar direitinho, parece bastante com qualquer escritório em que existam colegas de trabalho, as interrupções, ou melhor, as interações fazem parte. A não ser, claro, que você seja o chefão e peça para ninguém incomodar.

    Com a diferença, claro, que na rua eu não ando de pijama. Tenho a impressão de que a maior parte de minhas roupas e sapatos acredita que eu morri. Sei de pessoas que começaram a se arrumar, se produzir, até para deixar o lixo na calçada, ir ao supermercado. Eu? Cortei um bocado de calças para garantir o estoque de shorts. Algumas blusas também passaram por alterações e perderam golas e mangas. Os saltos altos aguardam as poucas ocasiões a que me permito usá-los.

    A parte que atrapalha mesmo nesse tal de home office é quando a casa exige que você dê atenção. Parar uma pesquisa para passar o aspirador ou colocar roupa no varal ou molhar as plantas. Deixar o blog sem atualizações porque é dia das compras mensais ou o almoço mais elaborado. Se perder numa crônica por motivo de filho com fome. Acontece.

    Brinco com Túlio que esse tal de home office só é bom para gente solteira e sem filhos ou para homens casados que não precisam dar um prego numa barra de sabão. Ele ri, se lembrando das delícias e agruras de trabalhar em casa já há mais de 14 anos.

    No Twitter, como que se ouvindo meus pensamentos, Jozimar Júnior e Mário Ivo enaltecem as maravilhas do trabalho “doméstico”. Das vantagens em fazer seu horário ao acesso ao próprio acervo, biblioteca, ferramentas.

    É, estou me acostumando. A parte do cochilo depois do almoço é fantástica. E nem falo em usar meu próprio banheiro sempre que necessário. Uma bênção.  Parar mais cedo porque já atingiu seus objetivos do dia ou porque nada deu certo mesmo e o melhor é assistir a um filminho ou abrir um vinho, contemplar o pôr do sol…

    E, se organizar direitinho, todo mundo tra… balha.

  • Os dias

    Perdi tanta gente querida. Vi tantos sofrendo pela perda dos seus. Lamento constatar que jamais saberemos quantos milhares (milhões?) se foram por descaso, experimentos, negacionismo. Essa pandemia mais que apresentar um vírus novo, descortinou pensamentos e ações que eu julgara já esquecidos. Sempre fui idealista e acreditei na humanidade que deveríamos todos ter. Sou daquelas pessoas que se emocionam fácil e estão sempre querendo ajudar o próximo e os não tão próximos assim. De besta, gritariam alguns. Pode ser, mas não sei ser diferente. Até ensaio vez em quando me dessensibilizar um pouco… sem conseguir. Tento evitar pessoas e situações, não assistir a telejornais nem acessar portais e redes sociais, mas é impossível querer se isolar do que lhe cerca mesmo tendo consciência de que o entorno lhe adoece. Ficar sem notícias quando é exatamente o jornalismo sério, a difusão de fatos e números que, por mais que doam, precisam ser mostrados? E lá vou eu de novo para as redes sociais, sites e portais me engajar no que acredito, dar visibilidade ao que precisa ser mostrado. Tá, tudo bem se permitir uns respiros. Embriagar-se de vida e vinho e cerveja e sol e amigos e risadas aos sábados, esquecer o celular desligado aos domingos, deixar-se levar pela lua ou a música ou um livro ou filme em qualquer dia da semana, olhar as flores, os pássaros, os bebês e crianças que atravessam o caminho. Respirar lenta e profundamente, fechar os olhos, pensar na sua riqueza apesar das dificuldades, sua família, o filho que finalmente foi vacinado, os carinhos e pequenos prazeres como uma tapioca com nata e um café amargo ou um copo de água gelada, um mergulho no mar de verdade e no de emoções que a vida desperta.

  • Reza

    “Santo anjo do Senhor…”. Mal você me abraça e inicio a oração que só aprendi depois que fui mãe. Enquanto ficamos em silêncio, me encho de um amor que de tão grande parece impossível e bem maior do que o mar. “(…) Meu zeloso guardador…”. Lembro de quando te ensinei essas palavras e as dizíamos juntos todos os dias durante anos. Não importava onde eu estivesse, pegava o telefone um pouco antes da hora do meu menino dormir e rezávamos unidos. E nem sei bem como parecia aquela mulher praticamente gritando uma prece no meio de uma multidão de um comício, de um show, de um bar. “(…) Se a ti me confiou a piedade divina…”, continuo, como se ter um filho fosse a própria encarnação desse benfazer e peço saúde e coragem para estar ao seu lado o tempo que for necessário para lhe dar a mão, o colo, uma bronca, o suporte. “(…) Sempre me rege, guarda…”, murmuro alisando seu cabelo e imaginando quantos desafios e aventuras a vida há de te trazer. E amor, muito amor, invoco. Às vezes, dizemos que queríamos parar o tempo. Eu não. Se me fosse concedido, talvez, dar uma espiadinha lá na frente para voltar exatamente a esse ponto e aproveitar tudo com calma, sem sobressaltos, como deve e deveria ser mesmo sem a gente saber do futuro. “(…) Governa e ilumina…”. Ah, filhote, muita luz no seu caminho, alegria, boas risadas, paciência, resiliência. Sei que não é fácil esse momento com uma pandemia de um vírus e outra de ruindade destilada a cada minuto pelo anonimato das redes sociais e o escudo das instituições. Te desejo a esperança de esperançar, a capacidade de contornar as dificuldades, o bom humor para saber que as coisas valem a pena e a leveza do caminhar cada passo dessa estrada linda que é a vida. “(…) Amém!”.